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A Natureza da Igreja Evangélica

[Um Compêndio de Teologia Doutrinária • Livro 2 — Capítulo 1 • Editado]

Havendo tratado do objetivo da adoração e distinguido a adoração interior e exterior; e tendo considerado a adoração interior, uma vez que encontra-se no exercício das várias graças; eu agora avanço para considerar a adoração exterior, pública e privada, e primeiramente o culto público; e como o culto público é realizado socialmente na igreja, começarei considerando a natureza de uma igreja evangélica, e definindo-a. A palavra “igreja” tem vários significados, assim pode ser adequado conhecê-los, a fim de estabelecermos o verdadeiro sentido dela, como agora eu discursarei sobre,

1. Primeiro, alguns a consideram como um lugar de adoração, e chamam tal lugar com esse nome; mas de forma errada, no mínimo, muito impropriamente. Há um ditado notável de um dos antigos, até mesmo do segundo século: “Não é o lugar, mas a congregação dos eleitos, que eu chamo de a Igreja”1. Na verdade, qualquer lugar de culto era anteriormente chamado casa de Deus; de modo que o lugar onde Jacó e sua família adoraram, tendo construído um altar para Deus, foi chamado Betel ou a Casa de Deus (Gênesis 35:1), de modo semelhante o tabernáculo de Moisés é chamado de: a Casa de Deus em Siló (Juízes 18:31), e o templo construído por Salomão de: a Casa do Senhor (1 Reis 6:1, 2, 37). Mas nenhum deles jamais foi chamado de igreja.

Os papistas, de fato, chamam um edifício construído para o culto religioso de uma igreja; e assim fazem alguns protestantes; eu poderia acrescentar, alguns protestantes dissidentes também; alguns chamam o ir a um lugar de culto público de “ir à igreja”; embora com grande impropriedade. Deve ser de nosso conhecimento, que alguns dos antigos pais usavam a palavra neste sentido metonímico e impróprio, para o lugar onde a igreja se reunia para o culto, e algumas passagens das Escrituras existem para advogar este uso deles; mas tais parecem ainda não ser claras e suficientes, não em Atos 19:37, pois a palavra ιεροσυλους, não deve ser apreendida como “ladrões de igrejas”, mas “sacrílegos”; como designa não edifícios construídos para o culto Cristão; mas os templos dos pagãos, como o de Diana, em Éfeso; mas o que pode parecer mais plausível e pertinente, são algumas passagens em 1 Coríntios 11:18, 20, 22: “Porque antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na igreja”, etc., isto é considerado e depois explicado: “De sorte que, quando vos ajuntais num lugar… Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus” (vv. 20, 22). Tudo isso, na verdade, supõe um lugar de reunião; embora não seja o lugar, mas a assembleia que se reuniu nele, que é chamada de igreja; e seu ajuntamento na igreja pode intencionar dizer não outros, além de alguns dos membros vindo e se reunindo com o restante da igreja; e επι το αυτο, que significa “em um só lugar”, pode designar, não a unidade do lugar, mas a unanimidade das pessoas que estão nele, também não há oposição entre suas casas e o local de reunião; e isso só é mencionado para mostrar que teria sido muito mais adequado e decente que eles houvessem comido e bebido em suas próprias casas, do que na presença da assembleia e igreja de Deus, para o seu escândalo, censura e menosprezo; pois não o lugar, mas as pessoas que se encontram nele, seriam propriamente os objetos de desonra. No entanto, é certo que existem inúmeros locais da Escritura que não podem ser compreendidas como sendo qualquer edifício ou construção material feitos de pedra, tijolo ou madeira2; como quando se diz: “chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja” (Atos 11:22), seria absurdo compreender a igrejas neste sentido bem como em tantos outros.

2. Em segundo lugar, a palavra εκκλησια, sempre usado para “igreja”, significa uma “assembleia” convocada e reunida3, e às vezes é usada para uma assembleia que foi legal ou ilegalmente convocada; pois o ajuntamento das pessoas que se reuniram no alvoroço feito pelos artífices em Éfeso, é chamado de “ajuntamento era confuso”, e sugeriu ser algo ilegal; e quando o escrivão da cidade lhes disse que o assunto deveria ser averiguado em “legítima assembleia”; e quando ele disse isso “despediu a assembleia” (Atos 19:32, 39, 41), nestas passagens a palavra comumente usada é a mesma que é usada para “igreja”; e esta pode ser considerada geralmente, ou como uma assembleia particular de pessoas.

2a. Em primeiro lugar, como uma assembleia geral, chamada de “a universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus” (Hebreus 12:23) e que incluem todos os eleitos de Deus, que estiveram, estão ou estarão no mundo; os quais formarão o estado puro, santo e imaculado da Jerusalém Celestial, na qual ninguém estará senão aqueles que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro. E estes consistem nos redimidos do Cordeiro, e é esta “igreja” que Cristo “comprou” com o seu próprio sangue; e que compõem a sua esposa, a “igreja” que Ele “amou”, e entregou a Si mesmo por ela, para a lavar e limpar, e a apresentar a Si mesmo igreja gloriosa, sem mancha nem ruga. Este é o “corpo”, a Igreja, do qual Cristo é a “cabeça”; e na qual ele é o único oficial, sendo Profeta, Sacerdote e Rei da mesma; esta sendo, não a sede de uma governo humano, como uma igreja em particular é. E esta Igreja é apenas “uma”, embora as igrejas particulares sejam muitas; a isso pode ser aplicado as palavras de Cristo: “Porém uma é a minha pomba, a minha imaculada” (Cânticos 6:9) e é esta que às vezes é chamada pelos teólogos de, a igreja “invisível”; mas isto não significa que todo o número dos eleitos de Deus não seja visível para Ele, e conhecido por Ele: “O Senhor conhece os que são seus” [2 Timóteo 2:19]; e a eleição de pessoas em particular pode ser conhecida por elas mesmas, pela graça que lhes é dada; e um julgamento de amor, pode concluir-se dos outros, que são os escolhidos de Deus, e estão escritos no livro da vida. Entretanto quanto a todas as pessoas em particular, e o número delas, nunca foram ainda vistos e conhecidos; João teve uma visão deles de uma forma visionária, e eles serão todos real e efetivamente vistos, quando a Nova Jerusalém descerá do Céu, da parte de Deus, bela como noiva adornada para o Seu esposo; o que será na segunda vinda de Cristo, e não antes; até chegar esse momento, esta Igreja será invisível. Por vezes se distingue internamente a igreja em “triunfante e militante”, toda a família chamada pelo nome de Deus no Céu e na terra. A Igreja triunfante consiste dos santos na glória, a quem Cristo tomou para Si mesmo, para estar com Ele onde Ele está; e esta está aumentando continuamente. A Igreja militante é composta de pessoas no estado atual, que pode ser dito como sendo “um exército com bandeiras” (Cânticos 6:4), esta é formada de tais que se tornam voluntários no dia do poder de Cristo; e colocam toda a armadura de Deus, e combatem o bom combate da fé; e, neste estado, continuará até ao fim do mundo.

Há um outro sentido no qual a Igreja pode ser chamada de “católica” ou “geral”, uma vez que pode ser constituída de todos em qualquer era, e em cada uma das regiões do mundo, que têm a verdadeira fé em Cristo, e O têm como sua Cabeça, e são batizados em um só Espírito em um só corpo; possuem um só Espírito, um só Senhor, uma só fé, um só batismo e um só Deus e Pai de todos, e são chamados em uma só esperança da sua vocação, essa é tomada não somente dos que fazem uma profissão visível de Cristo, mas de todos estes que são verdadeiramente participantes da Sua graça; apesar de não terem feito uma profissão aberta de fé nEle de uma maneira formal; e esta é a igreja que Policarpo chamou de “toda a Igreja Católica em todo o mundo”4; e Irineu: “A Igreja espalhada pelo mundo inteiro até os confins da terra”5 e Orígenes: “A Igreja de Deus debaixo do céu”6, e esta é a igreja construída em Cristo, a Rocha, contra a qual as portas do inferno não prevalecerão; tal igreja Cristo sempre teve e terá; e isto pode acontecer, quando não há nenhuma congregação visível da igreja, ou uma igreja em particular reunida de acordo com a ordenança evangélica; é referindo-se a isto que o apóstolo parece falar, quando ele diz: “A esse glória na igreja, por Jesus Cristo, em todas as gerações, para todo o sempre” (Efésios 3:21). Mas,

2b. Em segundo lugar, a igreja pode ser considerada como um conjunto particular de santos reunidos em um só lugar para o culto religioso. Assim foi com a primeira igreja em Jerusalém que foi chamada de “toda igreja”, que se reunia em um lugar ao mesmo tempo (Atos 1:14-15; 2:1; 4:32, 15:22), e a igreja de Antioquia foi convocada pelos apóstolos, a qual contaram o que Deus havia feito para com eles (Atos 14:27), e essas igrejas, tempos depois, continuaram a se reunir em um só lugar; toda a igreja de Jerusalém, com a destruição da cidade, se deslocando para a cidade chamada Pella, além do Jordão, que era adequada para receber os Cristãos que pertenciam a ela7; e 250 anos depois de Cristo, a igreja de Antioquia se congregava em uma casa8. E assim a igreja em Corinto (1 Corinto 14:23; 5:4), e a igreja dos discípulos de Trôade se reunia no primeiro dia da semana para partir o pão (Atos 20:7), destes havia muitos em uma província; como as igrejas da Judéia, além daquela que estava em Jerusalém, e as igrejas da Galácia (Gálatas 1:2, 23), e as sete igrejas da Ásia (Apocalipse 1:4), e as igrejas da Macedônia (2 Coríntios 8:1), a igreja em Cencréia, um porto de Corinto, que era distinta da igreja de lá, assim como todas estas igrejas eram distintas umas das outras; de modo que aquele que era de uma igreja, não pertencia à membresia de uma outra; como Epafras é dito ser “um de vocês”, isto é, um membro da igreja de Colossos, membro peculiar e ministro daquela igreja, e não de outra (Colossenses 4:12). E esta é a natureza da igreja que está sendo aqui tratada; e pode ser considerada “essencialmente”, quanto aos que a compõe e à sua forma; e “organicamente”, quanto a sua ordem e poder ou como corpo de pessoas, tendo os seus próprios oficiais.

2b1. “Essencialmente” considerada, quanto aos que a compõe e à sua forma, em que ela consiste.

2b1a. Em primeiro lugar, em relação à questão dela, tanto quanto à quantidade e qualidade. Quanto ao número, Tertuliano9 pensava que três pessoas eram suficientes para constituir uma igreja; o que pode parecer ser confirmado por Mateus 18:20: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome” etc., isto pode ser suficiente para reunirem-se, orar juntos e edificar uns aos outros; mas um processo judicial formal de uma igreja, em caso de ofensa, como foi instruído em alguns versículos anteriores, parece exigir mais; visto que o agressor e as partes ofendidas não podem resolver as coisas por eles mesmos, mas uma ou duas pessoas devem ser tomadas, se forem tomadas mais duas pessoas, ao todo perfazem quatro pessoas envolvidas nesta questão; se a reconciliação não pode ser feita, o assunto deve ser levado perante a igreja, que deve ser composta por um número maior do que as partes envolvidas na causa, isto é, não pode ser composta por menos do que outras seis pessoas, agora ao todo temos dez pessoas, que era o número necessário para formar uma congregação entre os judeus10. E uma igreja considerada organicamente, ou como tendo seus próprios oficiais, parece exigir mais; a igreja de Éfeso foi iniciada com doze homens, ou aproximadamente isso (Atos 19:7), mas uma igreja deve consistir de não mais pessoas do que as que podem reunir-se em um lugar, onde todos possam ouvir, e todos sejam edificados; e se ela crescer tanto quanto puder, em seguida, ela deve ser dividida em comunidades menores; como uma colmeia de abelhas, quando cresce até possuir muitos enxames; este parece ser o caso da igreja em Jerusalém; que, após a partida daqueles que foram convertidos no dia de Pentecostes, e na dispersão da igreja por causa da perseguição, formou várias igrejas na Judéia, e há registro da primeira menção delas.

Mas para não me demorar mais sobre este ponto, passarei às características daqueles que compõe uma igreja evangélica, pois especialmente estes merecem mais atenção.

Em geral, pode-se observar, que todos aqueles que possuem vidas e conversações imorais, que possuem princípios deturpados em relação às doutrinas do Evangelho, não são pessoas adequadas para serem membros de uma igreja evangélica; nenhuma pessoa impura, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores, têm, ou deveriam ter qualquer herança, parte ou porção no reino de Deus, à medida que este pode significar, como algumas vezes o faz, uma igreja evangélica estabelecida; e embora possa haver tal segredo, que possa ser ocultado, contudo os tais quando descobertos devem ser excluídos; e tais pessoas, por isso, devem ser afastadas da igreja, como os homens maus, e como aqueles que andam desordenadamente, estão afastados dela, e como aqueles que têm aderido às falsas doutrinas, devem ser rejeitados; então, certamente tais não devem ser conscientemente admitidos na constituição original de uma igreja de Cristo, ou seja, não devem ser inicialmente recebidos na comunhão de uma igreja de Cristo. As pessoas que compõe uma igreja evangélica visível são descritas:

2b1a1. Como pessoas regeneradas. “Aquele que não nascer da água e do Espírito” [João 3:5], isto é, da graça do Espírito de Deus, “não pode entrar”, certamente ele não entrará, e, se conhecido, não deveria ser permitida a sua entrada, “no reino de Deus”, isto é, em uma igreja evangélica estabelecida; ninguém deve entrar na igreja, senão aqueles que são gerados de novo para uma viva esperança da herança celestial, e que, como crianças recém-nascidas, desejam o leite racional da Palavra e às ordenanças, para que assim possam crescer, tendo provado que o Senhor é bom; ou, em outras palavras, de quem “temos por justo sentir isto deles”, e, num julgamento de amor e de critério, esperamos que seja concluída a boa obra que Deus começou neles; tais foram os membros da igreja em Filipos (Filipenses 1:6-7).

2b1a2. Como aqueles que são chamados. Uma igreja é uma congregação daqueles que são chamados dentre outros, pela graça de Deus; tanto as palavras hebraicas e gregas ???? e εκκλησια, significam um conjunto de pessoas convocadas e juntamente estabelecidas; de modo que os membros da igreja em Roma são denominados: “chamados para serdes de Jesus Cristo” (Romanos 1:6), tais que são chamados para fora do mundo, e da comunhão com os homens, “para a comunhão de Jesus Cristo”, assim temos que os membros apropriados de uma igreja evangélica, são aqueles são chamados para fora de um estado de escravidão do pecado, Satanás e da Lei, para a liberdade do Evangelho; e das trevas para a maravilhosa luz; e são chamados com uma santa vocação, e chamados para serem santos, e não apenas pelo ministério externo da Palavra, mas para santidade de vida e de conversação; aqueles que nunca foram eficazmente chamados pela graça de Deus, nem apresentam qualquer aparência disto, são, portanto, incapazes de se tornarem membros de igrejas; pois,

2b1a3. Os membros das igrejas não somente são chamados para serem santos, mas na e pela chamada eficaz se tornam realmente santos, pelo menos, são julgados como sendo assim, por uma amorosa descrição dada a eles; de modo que os membros das igrejas em Roma, Corinto, Éfeso, Filipos e Colossos, são descritos como “santos” e pessoas “santificadas”, e como “templos santos”, construídos para habitação de um Deus santo; portanto, eles são chamados de “igrejas dos santos”, porque elas se constituíam dos tais; e Cristo, que é Rei e Cabeça da Igreja, é chamado de “Rei dos santos” (1 Coríntios 14:33; Apocalipse 15:3).

2b1a4. Eles são descritos como os “fiéis em Cristo Jesus”, ou crentes nEle: assim, no artigo da Igreja da Inglaterra, uma igreja é definida como: “Uma congregação de fiéis, na qual a pura Palavra de Deus é pregada, e os sacramentos devidamente administrados”. Apenas homens fiéis ou crentes em Cristo, podem ter comunhão com os santos na igreja; e ninguém, senão estes podem ter comunhão com Cristo; pois ele habita nos corações dos homens pela fé, e os homens vivem pela fé e somente os tais têm direito às ordenanças de Cristo, e podem recebê-las e serem beneficiados por elas; a não ser que eles creiam com todo o coração, eles não têm direito ao Batismo; e, a menos que eles tenham fé em Cristo, eles não podem discernir o corpo do Senhor na Ceia; nem o Evangelho é pregado com qualquer proveito para eles, pois não está misturado com a fé; de modo que eles são de todas as formas impróprios para tornarem-se membros da igreja; e, portanto, lemos que aqueles que se juntaram à primeira igreja de Jerusalém eram crentes (Atos 4:14, veja Atos 2:41, 47). Assim,

2b1a5. Aqueles que foram acrescentadas à igreja em Jerusalém são descritos como: “aqueles que se haviam de salvar” [Atos 2:47]; de sorte que todos aqueles que creem e são batizados, serão salvos, de acordo com Marcos 16:16. E, além disso, estes foram adicionados pelo próprio Senhor, assim como para Ele, e, portanto, devem ser salvos por Ele com uma salvação eterna. E aqueles que são admitidos à comunhão da igreja, deveriam ser tais que, num acórdão de caridade ou em um critério amoroso, pode-se esperar que eles sejam os escolhidos de Deus, os redimidos de Cristo, aqueles que são chamados, santificados e justificados, e assim serão para sempre salvos.

2b1a6. Eles devem ser pessoas com algum conhecimento competente das coisas Divinas e espirituais, e julgarem a si mesmos; pessoas que possuem não só o conhecimento de si mesmos, e de seu estado perdido por natureza, e do caminho da salvação por Cristo; mas que têm algum grau de conhecimento de Deus em Sua natureza, perfeições e obras; e de Cristo, na sua Pessoa, como o Filho de Deus; de Sua própria Divindade; de Sua encarnação; de Seus ofícios, como Profeta, Sacerdote e Rei; da justificação pela Sua justiça; do perdão pelo Seu sangue; da satisfação pelo Seu sacrifício; e de Sua intercessão eficaz: e também do Espírito de Deus, da Sua pessoa, ofícios e operações; e das importantes verdades do Evangelho, e das Doutrinas da Graça; ou, de que outra maneira a igreja poderá ser “a coluna e firmeza da verdade”?

2b1a7. Os membros de uma igreja evangélica devem ser homens de vidas e conversação santas; santidade tanto de coração quanto de vida tornam-se a casa de Deus, e daqueles que fazem parte da mesma; ninguém deve ter um lugar nela, senão os tais (veja Salmos 15:1-2; 24:3-4).

2b1a8. Aqueles que são admitidos na comunhão da igreja particular de Cristo devem ser legitimamente batizados com água, isto é, por imersão, sobre sua profissão de fé; assim os três mil penitentes, depois de terem recebido de bom grado a Palavra, foram batizados; e após isto, e não antes, foram acrescentados à igreja, assim a primeira igreja em Samaria consistia de homens e mulheres batizados por Filipe, após acreditarem no que ele disse a respeito do reino de Deus, e também Lídia e a sua casa, e o carcereiro e sua casa, foram batizados após sua profissão de fé, e assim puseram a fundação da igreja em Filipos; e à igreja de Corinto foi iniciada com as pessoas que, ouvindo a palavra, creram e foram batizadas; e a igreja de Éfeso foi formada inicialmente por alguns discípulos batizados em nome do Senhor Jesus (Atos 2:41; 8:12; 16:15, 33; 18:8; 19:5), Semelhantemente os membros das igrejas em Roma, Galácia e Colossos eram pessoas batizadas (Romanos 6:3-4; Gálatas 3:27; Colossenses 2:12). Mas,

2b1a9. Não seus filhos com eles, os quais não foram nem batizados nem admitidos à membresia das igrejas; nenhum exemplo de ambos pode ser obtido a partir da Escritura, eles não são membros por direito de nascimento11; pois “o que é nascido da carne é carne” [João 3:6], eles são carnais, corruptos e impróprios para a comunhão da igreja: nem eles se tornam membros pela fé de seus pais. Até mesmo a fé deles não os torna membros da igreja, antes que eles façam uma profissão dela, e entreguem-se a si mesmos a uma igreja, e sejam por ela recebidos. Os homens devem ser fiéis antes de serem batizados; e eles devem ser batizados antes de se tornarem membros; e eles não podem ser membros até que se candidatem a uma igreja, e sejam admitidos por ela. Os bebês, que nascem, não estão aptos para se tornarem membros, porque nascem não-regenerados, profanos e impuros pelo seu primeiro parto, e devem nascer de novo, antes de se tornarem aptos para o reino de Deus, ou para a membresia de uma igreja evangélica; sua santidade federal, assim falada, é uma mera quimera, e não é apoiada por 1 Coríntios 7:14, eles não são capazes de compreender e de responder às perguntas feitas a eles; nem de darem-se a si mesmos a uma igreja; nem de consentirem e concordarem com ela, a natureza deles não está familiarizada com a igreja, e ao que concerne a um membro desta, tanto quanto no que se refere a dever ou privilégio; nem eles são capazes de responder ao objetivos da comunhão da igreja: a mútua edificação dos membros e a glória de Deus; e os tais que pleiteiam pela membresia deles fazem disso um pobre empreendimento; não os tratando como membros, nem os admitindo à ordenança da Ceia, nem vigiando-os, reprovando-os, admoestando-os, e os colocando sob censura; o que quando crescidos é requerido deles, fossem eles membros.

2b1b. Em segundo lugar, uma igreja particular, pode ser considerada quanto à “forma” da mesma; que consiste no consentimento mútuo e acordo, em sua aliança e confederação recíproca.

2b1b1. Deve haver uma união, uma coalizão de um certo número de pessoas para estabelecer uma igreja, uma única pessoa não pode criar uma igreja; e estas devem estar unidas, como os símiles de um tabernáculo, templo, casa, corpo e um rebanho de ovelhas, aos quais uma igreja é muitas vezes comparada; o tabernáculo foi feito com dez cortinas, e é uma tipo da igreja de Deus; mas uma cortina não fez um tabernáculo, nem todos as dez individual e separadamente tomadas; mas havia algumas laçadas e colchetes, com o que foram acopladas; e sendo assim unidas compuseram o tabernáculo. O Templo de Salomão, que era um outro tipo de igreja evangélica, foi feito de grandes e custosas pedras; essas pedras usadas não estavam como foram encontradas na pedreira, nem mesmo quando lavradas, ajustadas e deitadas isoladamente por si só fizeram o templo, antes elas foram postas e coladas, e a lápide veio sobre elas. Assim as almas verdadeiramente graciosas, embora sejam pela graça separadas da pedreira comum da humanidade, e sejam lapidadas pelo Espírito de Deus, e pelo ministério da Palavra, tornam-se componentes aptos para a igreja de Deus, mas não constituem uma, até que estejam “bem ajustados” [Efésios 2:21], e assim cresçam para templo santo do Senhor. A Igreja é chamada de a casa de Deus, uma casa espiritual, construída de pedras vivas, santos vivos; mas estes, mesmo que sejam tão animados e vívidos, não formam uma igreja, a menos que sejam edificados juntos, “para morada de Deus” [Efésios 2:22]. A igreja de Cristo é muitas vezes comparada a um corpo humano; que não possui um único membro, mas muitos; e estes não coexistem separadamente, mas são membros uns dos outros; eles são “bem ajustados, e ligado pelo auxílio de todas as juntas” [Efésios 4:16]. E às vezes é chamada de rebanho, o rebanho de Deus; e apesar de ser um pequeno rebanho, ainda assim uma única ovelha não constitui um rebanho, nem duas ou três ovelhas dispersas; mas algumas ovelhas reunidas, alimentando-se em um pasto, sob os cuidados de um pastor.

2b1b2. Esta união de santos em uma igreja estabelecida, é representado por estarem “juntos” e como que colados12 (ver Atos 5:13; 9:26); isto se refere a espíritos tão unidos, como se fossem apenas um só espírito; de modo que os membros da primeira igreja Cristã eram “um só coração e uma só alma”, sendo “unidos em amor”; e tornando-se membros esforçados para “guardar a unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (Atos 4:32; Colossenses 2:2; Efésios 4:3).

2b1b3. Esta união entre eles é feita por consentimento voluntário e consenso; uma sociedade Cristã, ou uma igreja de Cristo, é como todas as sociedades civis, fundadas em acordo e por consentimento; assim é com as sociedades do mais alto para o mais baixo; reinos e estados foram originalmente formados sobre este plano; todo mundo corporativo, como uma cidade, é fundado no mesmo plano; em que há privilégios a serem desfrutados e funções a desempenhar; e nenhum homem tem o direito a um, sem consentir com o outro, e nas sociedades inferiores, nenhum homem pode ser admitido nelas, nem receber qualquer benefício delas, a menos que ele consinta com as regras e os artigos em que aquela sociedade se fundamenta. Todas as relações civis, exceto as relações naturais entre pais e filhos, que decorre da lei da natureza, são por consenso e convênio; como a de magistrados e súditos, de senhores e servos, de marido e mulher; este último por ser uma relação íntima e feita com consentimento, pode servir para ilustrar a relação entre a igreja e seus membros acrescentados a ela, e a maneira pela qual eles são acrescentados, isto é, por consentimento (ver Isaías 62:5).

2b1b4. À medida que a constituição original de igrejas é por consentimento e confederação, semelhantemente a admissão de novos membros para elas acontece sobre o mesmo pé de igualdade: as igrejas primitivas nos tempos dos apóstolos, “se deram primeiramente ao Senhor” [2 Coríntios 8:5], como um corpo, concordando e prometendo andar em todos os Seus mandamentos e preceitos, e ser obediente às Suas leis, como Rei dos santos; “e depois a nós”, os apóstolos, pastores, guias e líderes, para serem ensinados, alimentados, guiados e dirigidos por eles, de acordo com a Palavra de Deus; e uns aos outros também, “pela vontade de Deus”, buscando fazer o que estava ao seu alcance, para promover a edificação do próximo e a glória de Deus, e assim todos esses que foram adicionados a eles, o foram por consentimento mútuo, como sempre deve ser.

Nenhum homem deve ser forçado a unir-se a uma igreja, ou por quaisquer métodos se forçadamente trazido a ela, nem ele pode forçar a si mesmo a unir-se a uma igreja; ele não tem o direito de entrar em uma igreja e sair dela quando ele quiser; tanto de uma parte quanto da outra, seu ingresso e saída da igreja, deve ser por consenso. Um homem pode candidatar-se para ser membro de uma igreja, mas cabe à igreja se se eles vão ou não recebê-lo. Assim Saulo foi examinado antes de juntar-se aos discípulos, isto é, ele propôs ser um membro com eles, mas a princípio foi recusado, por eles temiam que ele não era um verdadeiro discípulo, por causa de sua conduta anterior; mas quando eles tiveram um testemunho a seu respeito pela boca de Barnabé, e tendo percebido que ele era um participante da graça de Deus, e são na fé de Cristo, eles o admitiram e ele estava com eles saindo e entrando. E é razoável que a igreja concorde nestes pontos, assim como às pessoas que são recebidas em sua comunhão; não só por um testemunho de suas vidas apropriadas, mas ao dar um relato do que Deus tem feito por suas almas, e a razão da esperança que há nelas; bem como expressando o seu acordo com eles em relação aos seus artigos de fé.

2b1b5. Algo deste tipo pode ser observado em todas as sociedades religiosas; desde o início, elas eram caracterizadas por acordo e confederação; assim foram as primeiras sociedades religiosas nas famílias, e sob a dispensação patriarcal, que nasceram pelo acordo das famílias, e o comum acordo entre elas, que encontravam e se uniam para o culto público e para invocar o nome do Senhor (Gênesis 4:26), de modo que a igreja judaica, embora nacional, em algum sentido, por outro lado era constituída por confederação; Deus prescreveu para eles leis no deserto, e eles pactuaram e consentiram em obedecê-las (Êxodo 24:7), Ele os declarou como o Seu povo, e eles O declararam como o seu Deus; e depois, e não antes, eles foram chamados de “igreja” (Atos 7:38) e por isso a igreja evangélica foi descrita na profecia, como a que deve ser constituída e crescer por acordo e pacto (Isaías 44:5; 56:6-7; Jeremias 50:5).

Tudo isto concorda com a linguagem do Novo Testamento; donde parece ser verdade, que era por consentimento e concordância que as primeiras igrejas foram formadas, como anteriormente foi observado, e não o contrário; e nada além de mútuo consentimento pode fazer um homem tornar-se um membro da igreja, não a fé, o coração não pode ser conhecido até que um homem o declare e o professe; nem uma profissão de fé aberta, que, embora seja necessária para o seu ingresso, não declara um homem como membro de uma igreja mais do que de outra, nem dá direito mais a uma do que a outra; a não ser que ele dê a si mesmo a uma igreja, e professe seu desejo de andar com ela em sujeição ao Evangelho de Cristo; nem o Batismo, embora seja um pré-requisito para a comunhão da igreja, não faz de um homem um membro de uma igreja, como não fez o eunuco; nem ouvir a Palavra, pois os homens ignorantes e incrédulos podem entrar em uma assembleia e ouvir a Palavra (1 Coríntios 14:24), sim, as pessoas podem ouvir a Palavra corretamente, ter fé e a professarem e serem batizadas, e ainda assim não serem membros da igreja; é apenas por consentimento mútuo que isso pode acontecer. As pessoas devem candidatar-se a uma igreja, e darem-se a ela, para andarem juntos, em observância das ordenanças de Cristo e dos deveres da Religião; e a igreja deve voluntariamente recebê-los no Senhor. E,

2b1b6. Esse acordo mútuo é razoável, pois como “andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?” (Amós 3:3), e a menos que as pessoas voluntariamente se deem a uma igreja e ao seu pastor, eles não podem exercer nenhum poder sobre elas, na qualidade de igreja; eles não têm nenhuma referência quanto à vigilância e cuidados deles; nem eles têm o direito de fazer isso, a não ser que “sujeitem-se uns aos outros no temor de Deus” [Efésios 5:21]; eles não têm poder para repreender, advertir ou censurá-los na qualidade de igreja; nem pode o pastor exercer autoridade pastoral sobre eles, a não ser por meio de consentimento eles concordem em ceder a isso; nem podem esperar que ele cuide de suas almas como quem deve prestar contas por pelas, não tendo o pastor nenhum compromisso com eles por qualquer um de seus atos. Agora,

2b1b7. É esta confederação, por consentimento e acordo é a causa formal de uma igreja; é isto que não só distingue uma igreja do mundo, e de todos os professos que andam por aí, um sendo interiormente, e o outro exteriormente, mas de todas as outras igrejas particulares; assim a igreja em Cencréia não era a mesma com a igreja em Corinto, mas, não porque havia alguma distância entre elas, mas porque ela consistia de pessoas que haviam se entregado a ela, e não para a igreja em Corinto; e assim eram membros de uma e não de outra; “um dos vossos”, como Onésimo e Epafras eram da igreja de Colossos, e não de outra (Colossos 4:9, 12). De tudo o que se segue é,

2b1b8. Que uma igreja de Cristo não é paroquial, ou seja, os homens não se tornam membros da igreja por habitarem na região de uma paróquia; pois os muçulmanos e os judeus podem morar na mesma paróquia. Nem é diocesana; pois nunca lemos de mais igrejas sob o pastoreio de um único bispo ou pastor, embora possa ter havido, onde as igrejas eram grandes, mais bispos ou pastores em uma única igreja (Filipenses 1:1). Nem provincial, pois lemos de igrejas em uma província; como das igrejas da Judéia e da Galácia e da Macedônia. Nem nacional; não, longe disto, não somente lemos de mais igrejas em uma nação, mas mesmo de igrejas em casas (Romanos 16:5; 1 Coríntios 16:19; Colossenses 4:15; Filemom 1:2). Nem presbiteriana; pois nunca lemos de uma igreja de presbíteros ou anciãos, apesar de haverem presbíteros ordenados nas igrejas; pois parece que havia igrejas antes que houvesse presbíteros ou anciãos nelas (Atos 14:23).

Mas, uma igreja evangélica visível particular é congregacional; e até mesmo a Igreja da Inglaterra, que é nacional em si mesma, define uma “igreja visível como sendo uma congregação de fiéis”. E, de fato, a igreja nacional dos judeus era em certo sentido congregacional; às vezes é chamada de “congregação” (Levítico 4:13-15) eles eram um povo separado de outras nações, e peculiarmente santos ao Senhor; eles se encontraram em um lugar, chamado de “tenda da congregação”, e ofereciam seus sacrifícios em um altar (Levítico 1:3-4; 17:4-5), e três vezes no ano todos os seus homens apareciam juntos em Jerusalém; e além disso, como Lightfoot13 observa, havia homens estabelecidos em Jerusalém, que eram representantes de toda a congregação, e eram eles que sacrificavam por eles. As sinagogas também, embora não sejam de instituição Divina, foram encorajadas pelo Senhor, e tinham uma grande semelhança com as sociedades congregacionais; e é a palavra que responde a “congregação” na versão Septuaginta que é usada para uma assembleia Cristã no Novo Testamento (Tiago 2:2), a que pode ser adicionado que tais congregações e assembleias como igrejas evangélicas foram profetizadas que assim deveriam ser nos tempos do Evangelho (veja Eclesiastes 12:11; Isaías 4:5).

A igreja dos santos, assim, essencialmente constituída, com membresia e forma, tem neste estado poder de admitir e rejeitar membros, como todas as sociedades têm; e também de escolher os seus próprios oficiais; o que, quando feito, eles vêm a ser uma igreja organizada e completa.


Notas:

[1] Topon ton topon, alla para ayroisma twn eklektwn ekklhsian kalw, Clemente de Alexandria. Stromat. l. 7. p. 715.

[2] “Ecclesia est verum templum Dei, quod non est em parietibus, sed em corde et fide hominum qui credunt em eum et vocantur fideles”, Lactâncius de vera sap, l. 4. C. 13.

[3] “Ecclesia, ut omnes norunt, Graeca vox est, quae apud nos coetum, concionem, congregationem — que significat hujusmodi erant particulares dictae ecclesiae, ut Laodicaea”, &c. Aonii Palearii Testimonium, c. 10. p. 321.

[4] Apud Eusébio de Cesaréia. História Eclesiástica. l. 4. c. 15.

[5] Adv. Haeres. l. 1. c. 2 e 3.

[6] Apud Eusébio de Cesaréia. l. 6. c. 25.

[7] Eusébio de Cesaréia. História Eclesiástica. l. 3. c. 5.

[8] Ib. l. 7. C. 30.

[9] Deut. Batismo, c. 6.

[10] Misn. Sanhedrin, c. 1. s. 6.

[11] “Fiunt, non nascuntur Christiani”, Tertuliano. Apologia c. 18.

[12] kollasyai autoiv, “proprie notat glutine coadunare, e etc. metaphorice estruturalmente arctiorem conjunctionem, e etc. quia quae sunt glutine coadunata, arcte conjuncta sunt, adhaerent tenaciterque, ut non facile queant separar”, Stockius in voce.

[13] Temple-service, cap. 7. s. 3.