A Armadura Do Cristão, por A. W. Pink

[Capítulo 6 do livro Practical Christianity • Editado]

 

“No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais. Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes. Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça; E calçados os pés na preparação do evangelho da paz; Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno. Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos.” (Efésios 6:10-18)

 

Na passagem que está diante de nós, Efésios 6:10-18, o apóstolo reúne todo o tema anterior da Epístola em um lembrete urgente sobre as solenes condições sob as quais a vida do Cristão é vivida. Por uma ilustração gráfica, mostra que a vida do Cristão é vivida no campo de batalha, pois não somos apenas peregrinos, mas soldados; não estamos apenas em um país estrangeiro, mas no território do inimigo. Embora a redenção que Cristo adquiriu para o Seu povo seja livre e plena, ainda assim, entre o início de sua aplicação a nós e a consumação final da mesma, há um conflito terrível e prolongado através do qual temos que passar. Esta não é apenas uma figura de linguagem, mas uma realidade severa. Embora a salvação seja gratuita, no entanto, não é obtida sem grande esforço. A luta para a qual os filhos de Deus são chamados nesta vida, é aquela em que os próprios Cristãos recebem muitas feridas doloridas, e milhares de professos são mortos. Agora, como veremos nos versos que se seguem, o apóstolo nos adverte que o conflito tem relação com mais do que inimigos humanos: Os inimigos que devemos encontrar são sobre-humanos e, portanto, a fim de lutar com sucesso contra eles, precisamos de força sobrenatural. Devemos lembrar que o Cristão pertence ao reino espiritual, bem como ao natural, e por isso ele tem inimigos espirituais bem como naturais; e, portanto, ele precisa de força espiritual, bem como de física. Por isso, o apóstolo começa aqui, dizendo: “No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder” (v. 10). A palavra “No demais” denota que o apóstolo havia chegado à sua exortação conclusiva, e as palavras “fortalecei-vos” vincula-se ao que precede imediatamente, bem como ao que agora segue. Todo o quinto capítulo e os versículos iniciais do sexto estão repletos de exortações; exortações estas que dizem respeito a cada aspecto da vida cristã; exortações para a regular em casa, nos negócios, no mundo. Essas exortações são dirigidas ao marido, esposa, filho, mestre, servo, e para que o Cristão as obedeça, ele precisa estar “fortalecido no Senhor e na força do seu poder”. Assim, o chamado que é feito no versículo 10 não é apenas uma introdução ao que se segue, mas também está intimamente relacionado com o que precede.

 

1. “Fortalecei-vos no Senhor”.

 

“No demais, irmãos meus”, após todos os deveres Cristãos, que eu estabeleci diante de vocês no versículo anterior, agora “fortalecei-vos no Senhor, e na força do seu poder”. A palavra “fortalecei-vos” significa reunir forças para o conflito, e fortalecei-vos “na força do Senhor” significa que devemos buscar esta força a partir da única fonte de onde podemos obtê-la. Observem cuidadosamente que não é “fortalecei-vos do Senhor”, nem é “sejam fortalecidos pelo Senhor”. Não, é “fortalecei-vos no Senhor”. Talvez vocês percebam a ideia se eu utilizar esta analogia: assim como um polegar que é amputado é inútil, e assim como um ramo cortado da videira, murcha; desta forma, um Cristão cuja comunhão com o Senhor foi rompida, está em uma condição fraca, infrutífera, inútil. Assim, “fortalecei-vos no Senhor” significa, antes de tudo, buscar com que você mantenha um vivo relacionamento prático e permaneça em constante comunhão com o Senhor. Assim como meu braço deve ser uma parte, um membro em meu corpo, ele deve ser vitalizado e equipado para executar suas funções, desta forma eu devo estar em real ligação com o Senhor, em comunhão diária com Ele, em vivo contato, não em teoria, mas em experiência real. É profundamente importante que, antes de prosseguirmos, compreendamos a exortação encontrada no versículo 10; caso contrário, não haverá força para o conflito. “Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder”. À primeira vista, parece haver uma repetição desnecessária ali; mas não é assim. Um soldado precisa não somente de força corporal para que suporte as suas armas pesadas, para o esforço de longas marchas, e para aquela luta real, mas ele também precisa de coragem; um gigante poderoso que é um covarde não seria tipo nenhum de soldado. As duas coisas principais que são necessárias para alguém envolvido em combates são a força e a coragem, ou vitalidade e um coração valente; e é isso que está em vista no versículo 10 — a última proposição expressa a ideia de ousadia. “Fortalecei-vos”: na fé, na esperança, na sabedoria, na paciência, na fortaleza, em toda graça Cristã. Ser forte na graça é ser fraco no pecado. É extremamente essencial lembrar que precisamos ter a nossa força e coragem renovadas diariamente. Ser forte no Senhor, buscar a Sua força, no início de cada dia, “os que esperam no Senhor renovarão as forças” (Isaías 40:31). Deus não transmite força para que nós armazenemos: Ele não me concederá força na segunda-feira de manhã para perdurar por uma semana. Não, tem que haver a renovação de nossa força, e a força deve ser proveniente do Senhor, por meio dos atos de fé, apropriando-se de Sua “plenitude”. Os inimigos que temos que enfrentar não podem ser superados pela sabedoria e poder humanos. A não ser que prossigamos adiante para o conflito olhando continuamente para Cristo por todos os suprimentos de graça necessários, derivando toda a nossa vitalidade dEle, temos a certeza de ser derrotados.

 

2. “A armadura de Deus”.

 

“Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo” (versículo 11). Nossa primeira necessidade é a de nos estimularmos a resistir à tentação por uma piedosa confiança na graça toda-suficiente de Deus, isto é, obtendo dEle a força que nos permitirá ir adiante e lutar contra o inimigo. Nossa segunda maior necessidade é estarmos bem armados para o conflito em que devemos entrar diariamente. Esta é a relação entre os versículos 10 e 11: “fortalecei-vos no Senhor” e “revesti-vos de toda a armadura de Deus”; em primeiro lugar, instiguem vocês mesmos a resistir à tentação, buscando força no início do dia para o conflito; então, busquem com que tomem para si mesmos, revistam-se de toda a armadura de Deus.

 

O Cristão está engajado em uma guerra. Há uma luta diante dele, portanto, a armadura é urgentemente necessária. É impossível que nós permaneçamos firmes contra as astutas ciladas do Diabo, a menos que usemos as provisões que Deus fez para nos habilitar a resistir. Observem que isto é chamado de “a armadura de Deus”; como a força de que precisamos, não vem de nós mesmos, mas precisa ser fornecida pelo Senhor; assim os nossos meios de defesa não repousam em nossos próprios poderes e capacidades, senão apenas quando eles são vivificados por Deus. Isto é chamado de “armadura de Deus”, por que Ele tanto fornece quanto concede, pois nós não temos nenhuma de nós mesmos; e, ainda assim, enquanto esta armadura é a partir da provisão e concessão de Deus, nós devemos “revestir-nos”! Deus não a coloca em nós; Ele a coloca diante de nós; e é nossa responsabilidade, dever, tarefa, revestir-nos de toda a armadura de Deus. Devo dizer que esta mesma figura da “armadura” é usada três vezes nas Epístolas de Paulo, e eu acredito que encontramos nelas uma referência à Trindade. Eu penso que as “armas da justiça” (2 Coríntios 6:7) assemelham-se mais particularmente a Cristo; as “armas da luz” (Romanos 13:12), mais especificamente ao Espírito Santo, que é Quem imediatamente nos ilumina; e “armadura de Deus” ao Pai, que é o provedor dela.

 

Agora é muito importante que reconheçamos que este termo “armadura” é uma ilustração, uma metáfora, e não se refere a algo que é material ou carnal. É uma expressão figurativa que denota as graças do Cristão: as várias partes desta armadura representam as diferentes graças espirituais que devem proteger as suas várias capacidades; e quando nos é dito “revistam-se” da armadura, isto simplesmente significa que devemos exercitar e pôr em ação as nossas graças. Observem: “Revesti-vos de toda a armadura de Deus”, ou seja, evitando as ciladas do Diabo; ou para usar a ilustração, assim exerçam todas as virtudes Cristãs de forma que nenhuma parte da alma esteja exposta ao inimigo. Aqueles que desejam confirmar a si mesmos se estão na posse da graça, devem observar se eles têm todas as graças de um santo. “Portanto, tomai as graças de um santo”. “Portanto, tomai toda a armadura de Deus (a fim de que) possais resistir no dia mau”. Não há nenhuma defesa contra isso se nós não estivermos armados; ou para usar a figura, não há sucesso em resistir ao Diabo, se nossas graças não estiverem em exercício. Por outro lado, não há nenhuma falha e queda diante disso se nossas graças estiverem saudáveis e ativas.

 

“Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais” (versículo 12). A introdução “porque” tem a força de “Pelo motivo de que”; o apóstolo está desenvolvendo a razão, o que praticamente equivale a um argumento, como a compelir à exortação recém-feita. Porque não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, e não contra insignificantes inimigos humanos não mais fortes do que nós, mas contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século; portanto, a panóplia¹ de Deus é essencial. Isso é expresso para enfatizar o terrível conflito diante de nós. Não é alguém imaginário, e nem inimigos comuns que temos que enfrentar; mas espirituais, sobre-humanos, invisíveis. Os inimigos buscam destruir a fé e produzir dúvida. Eles procuram destruir a esperança e produzir desespero. Eles querem destruir a humildade e produzir orgulho. Eles procuram destruir a paz e produzir amargura e malícia. Eles procuram evitar o nosso gozo das coisas celestiais. Seu ataque não é sobre o corpo, mas sobre a alma.

 

3. “Ficar firme”.

 

“Portanto, tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes” (v. 13). A introdução “portanto” implica na consideração ao fato de que temos que lutar contra esses poderosos inimigos invisíveis sobre-humanos, que nos odeiam com um ódio mortal e que procuram nos destruir; por isso, devemos nos apropriar e utilizar a provisão que Deus fez, para que possamos ficar e permanecer firmes. A primeira proposição do versículo 13 explica as palavras iniciais do versículo 11. No versículo 11 diz: “Revesti-vos”, façam uso de todas as defesas e armas adequadas para repelir os ataques e no versículo 13 diz: “tomai toda a armadura de Deus”; nós “nos revestimos” por “toma-la”, ou seja, por apropriação, tornando-a como nossa. “Para que possais resistir”, resistir é o oposto de ceder, de ser desarmado, derrubado por tentações malignas; isso significa que defendemos o nosso campo, lutamos contra o mal e resistimos ao Diabo. “Para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, ficar firmes”; “ficar firmes” é o oposto de um sono preguiçoso ou uma fuga covarde. No Getsêmani eles não ficaram firmes, mas deitaram-se e dormiram no posto do dever. Não é de admirar que pouco depois eles “O abandonaram e fugiram”!

 

Eu quero que vocês percebam que não somos ordenados a avançar. Somos apenas ordenados a “ficar firmes”. Deus não chamou o Seu povo para uma guerra agressiva sobre Satanás, para invadir o seu território, e procurar tirar dele o que é seu; mas Ele nos disse para ocupar a terra que Ele nos deu. Eu quero que vocês percebam o que teria implicado se este versículo dissesse: “tomai toda a armadura de Deus, e avancem sobre o Diabo, invadam as suas fortalezas, libertem os prisioneiros”. Mas não é assim; o Senhor não deu ordem ou comissão para que as fileiras de Seu povo se engajem no que é agora chamado de “obra pessoal”, “ganhador de alma”, “resgate dos que perecem”.

 

De fato, Ele não deu; a obra de pregar o Evangelho pertence somente aos Seus próprios servos ou ministros pessoalmente chamados e divinamente capacitados. Todas essas atividades febris da carne como nós agora vemos no mundo religioso, não encontram lugar na exortação Divina “havendo feito tudo, ficar firmes”. Esta é a terceira vez nestes versículos que o Espírito de Deus tem repetido a palavra “firmes”, não avancem, não se apressem de lá para cá, como uma pessoa insensata. “Estai, pois, firmes” é tudo o que Deus nos ordena a fazer em nosso conflito com o Diabo. “Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade”.

 

Agora isto coloca diante de nós a primeira das sete peças da armadura do Cristão que é mencionada nesta passagem. Primeiro, permitam-me alerta-los contra a carnalização desta palavra, pensando em algo que seja externo e visível, ou tangível. A figura do “cinto” é extraída de um costume bem conhecido em países orientais, em que as todas as pessoas usam esvoaçantes longas vestes exteriores até aos pés, o que poderia impedir os seus movimentos, ao caminhar, trabalhar ou lutar. A primeira coisa que uma pessoa faz, então, quando prestes a estar ativa, é cingir a veste exterior, que arrasta no chão, ao redor de sua cintura. Quando a peça não está cingida e pende para baixo, indica que a pessoa está em repouso. “Cingir” é, portanto, o oposto de preguiça e facilidade, seguindo a linha da menor resistência. Estejam cingidos com o cinto da verdade; eu acredito que aqui há uma dupla referência ou sentido na palavra “verdade”. Mas, primeiramente, eu quero dedicar-me ao que nós precisamos “cingir”.

4. “O cinturão da verdade”.

 

A couraça é para o coração, o capacete para a cabeça, para que, então, é o “cinturão”? A partir de qual figura é emprestada a referência da cintura ou lombos. Mas a que esta metáfora denota? Claramente, o centro ou norteador de todas as nossas atividades. E qual é este? Obviamente, é a mente. A mente é o norteador da ação; primeiro o pensamento, e, em seguida, a realização do mesmo. 1 Pedro 1:13 nos ajuda aqui: “Portanto, cingindo os lombos do vosso entendimento”. “Tendo cingidos os vossos lombos com a verdade” [Efésios 6:14]; isto não é tanto o nosso abraçar a verdade, quanto a verdade nos abraçando. Assim, a referência espiritual é a guarda e regulação dos pensamentos da mente. A mente “cingida” significa uma mente que é disciplinada; oposta a uma em que os pensamentos são autorizados a correr soltos e selvagens. Mais uma vez; os “lombos” são o lugar de força, assim é a mente. Se permitirmos que os nossos pensamentos e imaginações corram soltos, não teremos comunhão com Deus, e nenhum poder contra Satanás. Se os nossos pensamentos não são trazidos cativos, em obediência a Cristo, o Diabo, em breve ganha uma influência sobre nós.

 

“Tendo cingidos os vossos lombos com a verdade”. Penso que a palavra “verdade” refere-se, em primeiro lugar, à Palavra de Deus: “a tua palavra é a verdade” (João 17:17); Isso é o que deve regular a mente, controlar os pensamentos, dominar as imaginações; deve haver um conhecimento de fé na, amor pela, sujeição à Palavra de Deus. “Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos (a sua mente) com a verdade”. Agora, isto nos sugere a qualidade característica do adversário contra o qual somos chamados a nos armar. Satanás é um mentiroso, e só podemos enfrenta-lo com a verdade. Satanás prevalece sobre a ignorância por meio de engano ou fraude; mas ele não tem poder sobre aqueles cujas mentes são reguladas pela verdade de Deus. “Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sereis meus discípulos; E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:31-32); “libertos” das armadilhas, poder e enganos de Satanás.

 

Penso que a palavra “verdade” aqui tem um segundo significado. Tomemos por exemplo o Salmo 51:6: “Eis que amas a verdade no íntimo”; a “verdade” aqui significa realidade, sinceridade. A verdade é o oposto da hipocrisia, fingimento, irrealidade. É por isso que o cinturão da verdade vem em primeiro lugar, porque se faltar, todo o restante é vão e inútil. A força de toda a graça repousa na sinceridade dela. Em 1 Timóteo 1:5, lemos sobre “a fé não fingida”, que significa verdadeira, genuína, a fé real; em contraste com a fé que é apenas teórica, conceitual, sem vida, inoperante — uma fé que é totalmente murcha diante dos fogos das provações. “A graça seja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo em sinceridade” (Efésios 6:24). Este é outro versículo discriminador, que diferencia um amor real do falso, um amor verdadeiro do infiel. Existem milhares de Protestantes que têm um amor a Cristo semelhante ao dos Romanistas por Sua mãe, Maria; esse é apenas um amor natural, um sentimento da carne, uma emoção carnal. Mas o amor genuíno, espiritual por Ele, esforça-se para agradá-lO; é uma coisa intensamente prática, um princípio de santa obediência. Oh, como precisamos examinar nossas graças e testá-las pelas Escrituras, para ver se a nossa fé e amor são sinceros. Repetimos que a realidade e a sinceridade são a força de toda a graça Cristã. É por isso que o cinturão da verdade vem em primeiro lugar dentre as diferentes peças de armadura.

 

O cinturão da verdade (correspondente ao cinto militar do soldado) significa, assim, a mente que está sendo regulada pela Palavra de Deus, e guardada por uma sinceridade real; e apenas isso nos protegerá contra as tentações de Satanás, da negligência, da malícia e hipocrisia. Só enquanto isso é “revestido” por nós, seremos capazes de “estar firmes contra as astutas ciladas do diabo”: “Estar firmes” é, tanto “resistir” a ele, de forma que ele não nos faça cair. “Revestir-se” do cinturão da verdade significa aplicar a Palavra aos primeiros movimentos de nossas mentes. Isto foi onde Eva falhou: ela havia recebido a Palavra, mas não em amor. Em vez de resistir ao Diabo, ela negociou com ele. Em vez de a verdade refrear as suas imaginações e desejo, ela os expressou. Quão diferente com Cristo! Quando Satanás se aproximou, Ele estava cingido com o cinturão da verdade: Seus pensamentos foram regulamentados pela Palavra, e havia uma sinceridade absoluta em direção a Deus.

 

5. “Couraça da justiça”.

 

A segunda parte ou peça de armadura do Cristão é mencionada no versículo 14: “e vestida a couraça da justiça”. Em primeiro lugar, observem o conector “e”, o que sugere que há uma relação muito estreita entre a mente cingida com a verdade e o coração protegido com couraça da justiça. Todas essas sete peças de armadura não estão tão vinculadas, porém o “e” aqui entre as duas primeiras indica que elas estão inseparavelmente unidas. Agora, obviamente, a couraça da justiça é aquela proteção que precisamos para o coração. Este versículo é intimamente paralelo a Provérbios 4:23: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração”, entendendo o “coração” como as afeições e a consciência.

 

Como havia uma dupla referência à palavra “verdade”, em primeiro lugar à Palavra de Deus, e em segundo à sinceridade de espírito, assim, eu acredito que há uma dupla referência aqui em “couraça da justiça”. Eu penso que isso se refere à justiça que Cristo efetuou por nós, e aquela justiça que o Espírito opera em nós; tanto a justiça que é imputada e a justiça que é comunicada; que é o que nós precisamos, se quisermos resistir aos ataques de Satanás. Nós podemos comparar 1 Tessalonicenses 5:8: “Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor”. Tenho sido bastante impressionado nos últimos tempos em observar a frequência com que a palavra “sóbrio” ocorre nas Epístolas, tanto em sua forma substantiva ou verbal. Sobriedade é o que deve caracterizar e identificar as pessoas de Deus. É o inverso daquela impulsividade superficial que é uma das marcas dos mundanos atuais. É o oposto de frivolidade, e também daquela agitação febril da carne, pelo que tantos estão religiosamente intoxicados e qualquer outra maneira. “Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor”. Aqui, é claro, isso tem o significado secundário do que está em vista em Efésios 6:14; isto é a justiça prática, como a que encontramos em Apocalipse 19:8.

 

Esta segunda parte da armadura, como eu já disse, está inseparavelmente ligada ao cinturão da verdade, pois a sinceridade de espírito e a santidade do coração devem caminhar juntas. É em vão que intencionamos a primeira, se a última está ausente. Onde há genuína sinceridade de espírito, haverá e há, santidade de coração. Revestir-se da couraça da jus-tiça significa manter o poder da santidade sobre as nossas afeições e consciência! Um versículo que nos ajuda a compreender isto é Atos 24:16: “E por isso procuro sempre ter uma consciência sem ofensa, tanto para com Deus como para com os homens”. Aqui você tem uma ilustração de um homem tomando para si, revestindo-se da “couraça da justiça”. Paulo exercitou-se para manter uma boa consciência, tanto em direção a Deus e aos homens e isto exige diligência diária e esforço persistente. Agora, a couraça da justiça deve resistir às tentações de Satanás de impiedade. O cinturão da verdade deve enfrentar as malignas sugestões de satanás que contaminam a mente; a couraça da justiça é necessária para frustrar os seus esforços de corromper as afeições ou contaminar a consciência. Onde há uma consciência que nos reprova, então logo cairemos vitimados por outros ataques do Diabo.

 

6. “Preparação do evangelho da paz”.

 

Passando para a terceira peça da armadura: “E calçados os pés na preparação do evangelho da paz” (versículo 15). Talvez esta seja, dentre as sete peças da armadura, a mais difícil para entender e definir; e ainda assim, se apreendermos à primeira vista, que o Espírito Santo está usando uma figura de linguagem aqui, que a referência é ao que é interno mais do que é externo, espiritual, mas do que ao material, e também que Ele está seguindo uma ordem lógica, não deve haver muita dificuldade em determinar o que se compreende por calçados da paz. Assim como o cinturão da verdade tem a ver com a mente, a couraça da justiça com o coração, desta forma, os calçados para os pés são uma figura daquilo que diz respeito à vontade. À primeira vista isso pode parecer improvável, e ainda assim, se pensarmos por um momento, seria óbvio que o que os pés são para o corpo, a vontade é para a alma. Os pés conduzem o corpo de lugar para lugar, e a vontade é o que dirige as atividades da alma; o que a vontade decide, isto é o que fazemos.

 

Agora, a vontade deve ser regulada pela paz do Evangelho. O que significa isso? Isso, se tornar reconciliado com Deus e em ter boa vontade para com os nossos semelhantes, o Evangelho é o meio ou instrumento que Deus utiliza. É-nos dito em Salmos 110:3: “O teu povo será mui voluntário no dia do teu poder”, o que significa muito mais do que eles serão dispostos a ouvir e crer nas boas novas do Evangelho. Aqui é trazido para o Evangelho, substancialmente, tudo o que estava contido na Lei moral e cerimonial. O Evangelho não é apenas uma mensagem de boas novas, mas um mandamento Divino e regra de conduta: “Porque já é tempo que comece o julgamento (não “começará”, agora, não no futuro) pela casa de Deus; e, se primeiro começa por nós, qual será o fim daqueles que são desobedientes ao evangelho de Deus? (1 Pedro 4:17). Sim, o Evangelho é uma regra para submeter-se, um decreto Divino que exige obediência: “Visto como, na prova desta administração, glorificam a Deus pela submissão, que confessais quanto ao evangelho de Cristo” (2 Coríntios 9:13). Essas palavras são absolutamente sem sentido hoje em nove de cada dez círculos de toda a Cristandade, pois o “Evangelho” não significa nada para eles, exceto “boas novas” — não há nada para estar “em submissão”! Ou seja, em parte, o que eu tenho em mente ao dizer que é transportada para dentro e incorporada ao Evangelho a substância de tudo o que foi encontrado na Lei. Deixe-me colocar de outra forma: todas as exortações contidas nas Epístolas do Novo Testamento não são nada mais do que as explicações e aplicações dos Dez Mandamentos.

 

O Evangelho nos obriga a negar a nós mesmos, tomar a cruz diariamente e seguir a Cristo no caminho da obediência incondicional a Deus. “Calçados os pés na preparação do evangelho da paz” significa, com entusiasmo e prontidão, responder à vontade de Deus. A paz “do Evangelho” advém do caminhar em sujeição aos seus termos pelo cumprimento dos deveres que ele prescreve. Apenas na medida em que somos obedientes a ele, nós experimentalmente desfrutamos de sua paz. Assim, esta terceira parte da armadura deve fortalecer a vontade contra as tentações de Satanás de obstinação e desobediência, e isso, por submissão ao Evangelho. Assim como os pés são os membros que transportam o corpo de um lugar para outro, desta forma a vontade dirige a alma; e assim como os pés devem estar devidamente calçados, se quisermos andar correta e confortavelmente, assim, a vontade deve ser trazida em sujeição à vontade revelada de Deus, se quisermos desfrutar de Sua paz.

 

Que haja entrega completa e diária para consagração de nós mesmos a Deus e, então, nós seremos imunes aos ataques e às tentações de Satanás e da desobediência. Assim como o cinturão da verdade deve nos proteger dos esforços de Satanás para encher as imaginações, assim como a couraça da justiça é a provisão de Deus para nos proteger dos esforços de Satanás de corromper os nossos corações e produzir o que é profano; assim, sendo os pés calçados com a preparação do Evangelho de meios de paz, a vontade sendo trazida em sujeição a Deus, e isto nos protege das tentações de Satanás de desobediência.

 

7. “Escudo da fé”.

 

Vocês observarão que quando chegamos à quarta parte da armadura, o “e” está ausente. As três primeiras estavam unidas, pois aquilo que é indicado por termos figurativos está inseparavelmente ligado entre si, a mente, o coração e a vontade; aí vocês têm o homem interior completo. “Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” (v. 16), eu penso que a palavra “sobretudo” tem uma força dupla. Em primeiro lugar, literalmente, a compreendo como uma preposição de lugar, ou seja, sobre tudo, cobrindo como uma capa, protegendo a mente, o coração e a vontade. Deve haver fé em exercício, se essas três partes do nosso ser interior devem ser guardadas. Em segundo lugar, “sobretudo” pode ser considerado adverbialmente, indicando principalmente: por excelência, supremamente. É uma coisa essencial que vocês devam tomar o escudo da fé, pois Hebreus 11:6 nos diz: “Ora, sem fé é impossível agradar-lhe”. Sim, mesmo se houver sinceridade, amor e uma vontade submissa, ainda assim, sem fé não podemos agradar-Lhe. Portanto, “sobretudo” tomem o escudo da fé.

 

A fé é tudo em todos ao resistir às tentações. Devemos estar totalmente convencidos da inspiração Divina das Escrituras, se seremos reverentes aos seus preceitos e animados por seus encorajamentos; nós nunca atenderemos corretamente as advertências ou consolações Divinas, a menos que tenhamos confiança explícita em sua autoria Divina. Toda a vitória é aqui atribuída à fé “sobretudo”, não é com a couraça, capacete ou espada, mas com o escudo da fé, que somos capazes de apagar todos os dardos inflamados do maligno. Isto parece ser um princípio geral no arranjo do Espírito nas Escrituras, colocar o mais vital no centro: nós temos sete peças da armadura, e o escudo da fé é a quarta! Assim, em Hebreus 6:4, nós temos cinco coisas mencionadas, e no meio está “se fizeram participantes do Espírito Santo”.

 

A fé é a vida de todas as graças. Se a fé não estiver em exercício, o amor, a esperança e a paciência não podem estar. Aqui encontramos a fé sendo comparada a um “escudo”, por que esta se destina à defesa do homem inteiro. O escudo do soldado é algo que ele agarra, e levanta ou abaixa conforme a necessidade. Ele protege toda a sua pessoa. Agora, a figura que o Espírito Santo aqui utiliza em conexão aos ataques de Satanás, é retirada de um dos dispositivos dos antigos em sua guerra, ou seja, o uso de dardos que haviam sido mergulhados em alcatrão e incendiados, a fim de cegar seus inimigos; isto é o que está implícito na metáfora de “apagar todos os dardos inflamados do maligno”; o que está em vista são os esforços de Satanás para impedir o nosso olhar para o alto!

Os ataques do Diabo são comparados a “dardos inflamados”, em primeiro lugar, por causa do furor com que ele os atira. Há intenso ódio em Satanás contra o filho de Deus. Novamente; a própria essência de suas tentações é inflamar as paixões e a angústia de consciência. Ele pretende acender a cobiça, excitar a ambição mundana, inflamar o nosso desejo. Em Tiago 3:6, lemos: “A língua […] é inflamada pelo inferno”, isto significa que os “dardos inflamados” do Diabo a afetaram. A terceira razão pela qual suas tentações são comparadas a “dardos inflamados” é por causa do fim para o qual eles conduzem se não apagados; se as tentações de Satanás forem seguidas até o fim, elas nos lançaram no lago de fogo. A figura de “dardos” denota que as suas tentações são rápidas, silenciosas e perigosas. Agora, tomem o escudo da fé significa: apropriem-se da Palavra e sigam-na. O escudo protege a pessoa como um todo, onde quer que o ataque seja feito, seja em espírito, ou alma, ou corpo; e há na Palavra o que é exatamente adequado a todos, mas a fé deve lançar mão disso e utilizá-la. Agora, a fim de usar o escudo da fé eficazmente a Palavra de Cristo precisa habitar em nós “ricamente” (Colossenses 3:16). Nós temos que ter à mão o que é pertinente para a particular tentação apresentada. Por exemplo, se tentado à cobiça, devo usar: “Não ajunteis para vós tesouros na terra” (Mateus 6:19); quando solicitado por más companhias: “se os pecadores procuram te atrair com agrados, não aceites”; se tentado a aspereza: “Amai-vos cordialmente uns aos outros” (Romanos 12:10). É porque os detalhes das Escrituras têm tão pouco lugar em nossas meditações que Satanás visita-nos tão frequentemente. “Tomando sobretudo o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno”. Como a maioria dos outros termos utilizados, a “fé” tem aqui também um significado duplo. A fé que deve ser nosso “escudo” é tanto um objetivo e um subjetivo. Refere-se, em primeiro lugar, à Palavra de Deus, externamente, a autoridade a qual é sempre obrigatória para mim. Isso aponta, em segundo lugar, para a minha confiança nesta Palavra, o coração prosseguindo na confiante expectativa em seu Autor, e confiando em sua eficácia para repelir o Diabo.

 

8. “Capacete da salvação”.

 

“Tomai também o capacete da salvação” (v. 17). Esta é a quinta parte da armadura do Cristão. Em primeiro lugar, notemos a ligação entre a quarta e a quinta peças indicadas pela palavra “e”, pois isso nos ajuda a definir o que é o “capacete da salvação”; ele está vinculado à fé! Hebreus 11:1 nos diz: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam”, e se compararmos 1 Tessalonicenses 5:8 obtemos a confirmação deste pensamento: “Mas nós, que somos do dia, sejamos sóbrios, vestindo-nos da couraça da fé e do amor, e tendo por capacete a esperança da salvação”. Aqui em Tessalonicenses, portanto, temos a “esperança” diretamente ligada ao “capacete “.

 

Aliás, este versículo é um dos muitos no Novo Testamento, que coloca a salvação no futuro e não no passado! A esperança sempre olha adiante, relacionando-se com as coisas que virão; como Romanos 8:25 nos diz: “Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o esperamos”. Ora, a fé e a esperança são inseparáveis; elas são uma em nascimento, uma em decadência. Se a fé definha, a esperança é apática.

 

Por capacete da salvação, então, compreendo a expectativa do coração das boas coisas prometidas, uma garantia bem fundamentada de que Deus bem fará ao Seu povo aquelas coisas que Sua Palavra apresenta como realização futura. Podemos vincular com isto 1 João 3:3 — a esperança bíblica purifica. Isso liberta do descontentamento e desespero; isso consola o coração, no intervalo de espera. Satanás é incapaz de levar um Cristão a muitos pecados grosseiros que são comuns no mundo, então ele ataca por meio de outras linhas. Muitas vezes, ele intenciona lançar uma nuvem de tristeza sobre a alma, ou produzir ansiedade sobre o futuro. O desânimo é uma de suas armas favoritas, pois ele sabe muito bem que “a alegria do Senhor é a nossa força” (Neemias 8:10), daí os seus esforços frequentes para amortecer os nossos espíritos. Para repelir estes, devemos “Tomai também o capacete da salvação”, ou seja, devemos exercitar a esperança — antecipar o futuro bem-aventurado, olhar em direção ao descanso eterno que nos aguarda; desviar o olhar da terra para o céu!

 

9. “Espada do Espírito”.

 

“E a espada do Espírito, que é a palavra de Deus” (versículo 17). Deus supriu o Seu povo com uma arma ofensiva, bem como as defensivas. À primeira vista isso pode parecer entrar em conflito com o que dissemos sobre os Cristãos não serem chamados para serem agressivo contra Satanás, buscando invadir seu território e arrancá-lo dele. Mas este versículo não se contradiz ao menor grau. 2 Coríntios 7:1 nos oferece a ideia: “Ora, amados, pois que temos tais promessas, purifiquemo-nos de toda a imundícia da carne e do espírito”; este é o lado ativo e agressivo de guerra do Cristão. Nós não devemos apenas resistir aos nossos desejos, mas subjugá-los. É importante notar o quão posteriormente a “espada do Espírito” é mencionada na lista. Alguns têm pensado que ela deveria ter vindo por primeiro, mas ela não é mencionada até o sexto. Por quê? Eu acredito que haja uma razão dupla. Em primeiro lugar, porque todas as outras graças que foram mencionados são necessários para fazer um bom uso da Palavra. Se não houver uma mente sincera e um coração santo, apenas lidaremos com a Palavra de forma desonesta. Se não houver justiça prática, então nós apenas manusearemos a Palavra teoricamente. Se não houver fé e esperança, apenas a usaremos indevidamente. Todas as graças Cristãs que são figurativamente contempladas sob as outras peças da armadura devem estar em exercício antes que possamos manusear proveitosamente a Palavra de Deus. Em segundo lugar, isso nos ensina que, mesmo quando o Cristão tenha atingido o ponto mais elevado possível nesta vida, ele ainda precisa da Palavra. Mesmo quando ele tem sobre si o cinturão da verdade, a couraça da justiça, os pés calçados com a preparação do Evangelho da paz, e tomou para si o escudo da fé e o capacete da salvação, ele ainda precisa da Palavra!

 

A Palavra de Deus é aqui chamada de “a espada do espírito”, pois Ele é o Autor, o Intérprete e Aplicador da mesma. Ele é o único que pode conceder a ela poder sobre nós. Podemos manusear a Palavra, meditar nela, orar sobre ela, e ela não ter nenhum efeito sobre nós, a menos que o Espírito Santo aplique a Sua espada! Se vocês pensarem neste versículo à luz da tentação de Cristo, vocês descobrirão que Ele usou essa espada para defender-Se ao repelir os ataques do Diabo; Ele não estava atacando agressivamente! E bem-aventurado também, é observar isso, como Homem dependente, Ele usou essa arma no poder do “Espírito”; vejam Mateus 4:1, Lucas 4:14.

 

10. “Orar Sempre”.

 

A última peça da armadura é oferecida no versículo 18: “Orando em todo o tempo com toda a oração e súplica no Espírito, e vigiando nisto com toda a perseverança e súplica por todos os santos”. A oração é a única que nos concede a força necessária para usar as outras peças da armadura! Depois que o Cristão tomou para si essas seis peças, antes que ele esteja completamente equipado para sair para a guerra e capacitado para a vitória, ele precisa da ajuda de seu General. Por isso, o apóstolo nos ordena a orar “sempre” com toda a súplica no Espírito. Devemos lutar sobre os nossos joelhos! Somente a oração pode manter vivas as variadas graças espirituais que são ilustradas pelas diversas peças da armadura. “Orando em todo tempo”; em cada temporada; em tempo de alegria bem como de sofrimento, no dia da adversidade, bem como na prosperidade. Não apenas isso, mas “vigiando nisto com toda a perseverança”; este é um dos elementos essenciais da oração que prevalece: a persistência. Vigiem a si mesmos para que não arrefeçam, tornem-se descuidados ou desanimados. Prossigam! O versículo 18 é como se o apóstolo dissesse: “Não se esqueçam de buscar a Deus por esta armadura e façam súplica humilde por Sua assistência; pois somente Ele que nos concedeu estas armas pode nos permitir fazer um uso bem sucedido delas”. Alguns o chamaram de “versículo do todo”. “Orando em todo o tempo com toda a oração… com toda a perseverança e súplica por todos os santos”! Não pensem apenas em vocês mesmos, mas também por seus soldados companheiros, que estão engajados no mesmo conflito!

 

Pergunta: o que o versículo 12 significa? Resposta: não se refere à esfera ou ao local aonde a “luta” em si é realizada, mas enfatiza o fato de que os inimigos que atacam os Cristãos são sobre-humanos. Não devemos interpretar este versículo a partir da linguagem geográfica da Terra; ele não diz: “porque nós temos que lutar contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais”. Não, as regiões celestiais vinculam-se àqueles que atacam os Cristãos, e não com o local onde a luta é realizada. 

_____________
[1] Panóplia: termo de origem grega: “todas as armas”. Designava, na Grécia Antiga, a armadura completa do soldado hoplita, composta pelo escudo, elmo, couraça e cnêmides, pesando entre 22 e 31 kg. De maneira análoga, na Idade Média, o termo é aplicado à armadura dos cavaleiros europeus. Por extensão de sentido, a palavra também é utilizada para definir uma coleção de armas (Wikipédia).
 

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