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A Gloriosa Bem-Aventurança Proposta no Evangelho, por A. W. Pink

[Capítulo 14 do livro The Total Depravity of Man • Editado]

 

A entrada do mal no domínio de Deus é, reconhecidamente, um profundo mistério, no entanto, o suficiente é revelado nas Escrituras para nos prevenir de formar pontos de vista errôneos em relação a isto. Por exemplo, é terminantemente contrário à Palavra da verdade apoiar a noção de que a Queda de Satanás e seus anjos ou dos nossos primeiros pais pegaram Deus de surpresa e arruinaram Seus planos. Desde toda a eternidade Deus projetou esta terra como devendo ser o palco sobre o qual ele mostraria as Suas perfeições: na criação, na providência e na redenção (1 Coríntios 4:9). Assim, Ele predestinou tudo o que viria a acontecer neste cenário (Atos 15:18; Romanos 11:36; Efésios 1:11). Deus não é um espectador ocioso, olhando à distância os acontecimentos deste mundo, mas é o próprio Ordenador e Modelador de tudo para a promoção final de Sua glória, não só, apesar da oposição dos homens e Satanás, mas por meio deles, tudo está sendo feito para servir ao Seu propósito. Nem a introdução do mal no universo ocorre simplesmente pela simples permissão do Altíssimo, pois nada pode acontecer em oposição à Sua vontade decretiva. Em vez disso, devemos acreditar que, por razões sábias e santas, Deus predestinou Suas criaturas mutáveis a cair, e, assim, gerar uma ocasião para Ele demonstrar mais e plenamente os Seus atributos.

 

Partindo da perspectiva de Deus, o resultado da provação de Adão não deixa espaço para nenhuma incerteza. Antes de formá-lo do pó da terra e de haver soprado o fôlego da vida em suas narinas, Ele sabia exatamente como a referida provação sucederia. Sim, e ainda mais: Ele decretou que ele deveria comer do fruto proibido. Está claro em 1 Pedro 1:19-20 que nos diz que o derramamento do sangue de Cristo foi, na verdade, “conhecido ainda antes da fundação do mundo” (cf. Apocalipse 13:8). Como Witsius corretamente afirmou em relação ao pecado de Adão: “se ele foi conhecido foi também predestinado, assim Pedro une 'determinado conselho e presciência de Deus’ (Atos 2:23)”. Em plena harmonia com esta verdade, é preciso lembrar que foi o próprio Deus quem colocou no Éden a árvore do conhecimento do bem e do mal! Além disso, o célebre Moderador da Assembleia de Westminster perguntou: “O Diabo não incitou Adão e Eva contra Deus estando no Paraíso? Deus não poderia ter mantido o Diabo fora do Paraíso? Por que Ele não fez isso? Porventura não é manifestamente aparente que era a vontade de Deus que eles fossem tentados, e incitados ao pecado? E por que não?” (W. Twisse, 1653). Deus negou-lhes uma maior manifestação da Sua glória. Assim como se não houvesse noite não poderíamos admirar a beleza do dia, este fundo era necessário escuro no qual a graça e misericórdia Divina pudessem brilhar mais resplandecentes (Romanos 5:20).

 

Tem-se afirmado, mais dogmaticamente, por papistas e Arminianos, que Deus não poderia ter impedido a Queda de nossos primeiros pais, sem reduzi-los a meras máquinas. Argumenta-se que uma vez que o Criador dotou o homem com uma vontade livre ele deve ser deixado inteiramente às suas próprias volições, que ele não pode ser coagido, muito menos compelido, sem destruir sua agência moral. Isso pode parecer um raciocínio sólido, no entanto, é refutado pelas Sagradas Escrituras! Quando Deus declarou a Abimeleque sobre a mulher de Abraão: “também eu te tenho impedido de pecar contra mim; por isso não te permiti tocá-la” (Gênesis 20:6). Assim fica muito claro que não é impossível para Deus exercer Seu poder sobre o homem, sem destruir a sua responsabilidade, pois aqui está um caso onde Ele restringiu a liberdade do homem para fazer o mal e o impediu de cometer pecado. Da mesma forma, Ele impediu Balaão de realizar os maus desejos do seu coração (Números 22:38; 23:2, 20); sim, Ele impediu reinos de fazerem guerra contra Josafá (2 Crônicas 17:10). Por que, então, Deus não exerceu Seu poder para impedir que Adão e Eva pecassem? Porque a Queda deles serviria melhor aos Seus próprios desígnios sábios e benditos.

 

Mas isso faz de Deus o autor do pecado? O Autor culpado, não, pois, como Piscator há muito tempo apontou: “A culpabilidade é uma falha em fazer o que deve ser feito”. É evidente que era a vontade Divina que o pecado entrasse neste mundo, ou ele não teria entrado, pois Deus não somente tinha o poder de evitar isto, mas também nada disso aconteceria, exceto o que Ele decretou. “Ainda que o decreto de Deus fez a Queda de Adão infalivelmente necessária como um evento, contudo isso não se deu por meio de eficiência, ou pela força e coerção sobre a vontade” (John Gill). Nem o decreto de Deus de forma alguma desculpou a maldade dos nossos primeiros pais nem os isentou do castigo. Eles foram deixados inteiramente livres para o exercício da sua natureza, e, portanto, plenamente responsáveis e culpados por suas ações. Enquanto a árvore do conhecimento do bem e do mal e as tentações da serpente para que comessem do fruto foram as ocasiões de seu pecado, contudo eles não foram a causa do mesmo, que estava em seu abandono voluntário da sujeição à vontade de seu Criador e verdadeiro Senhor. Deus não é o autor eficiente dos pecados dos homens, assim como Ele o é naqueles que Ele opera a santidade.

 

Que Deus decretou que o pecado deveria entrar neste mundo foi um segredo oculto em Si mesmo. A respeito disso, os nossos pais nada sabiam, e isso fez toda a diferença no que concerne à sua responsabilidade, pois tivessem sido informados sobre o propósito Divino e a certeza de seu cumprimento por suas ações, o caso havia sido radicalmente alterado. Eles estavam bastante familiarizados com os conselhos secretos do Criador. O que lhes dizia respeito era a vontade revelada de Deus, e esta era totalmente clara. Ele os havia proibido de comer de uma certa árvore, e isso era o suficiente. Porém Ele foi mais longe, o Senhor mesmo advertiu a Adão das consequências terríveis que sucederiam a sua desobediência, a morte seria a penalidade. Assim, a transgressão de sua parte era inteiramente indesculpável. Deus o criou moralmente “vertical”, sem qualquer inclinação para o mal. Ele também não injetou qualquer mau pensamento ou desejo em Eva. Não, “Deus não pode ser tentado pelo mal, e a ninguém tenta” (Tiago 1:13). Em vez disso, quando a serpente veio e tentou a Eva, Deus fez com que ela se lembrasse de Sua proibição! Admire, então, a maravilhosa sabedoria de Deus, pois tendo Ele predestinado a Queda de nossos primeiros pais, ainda assim, em nenhum sentido, era Ele o instigador ou aprovador de seus pecados e sua prestação de contas não sofreu nenhum dano.

 

Nós devemos acreditar nestas duas coisas se não quisermos repudiar a verdade: que Deus predestinou tudo o que venha a acontecer e que de forma alguma Ele é responsável por qualquer maldade um homem, a criminalidade deste sendo de sua total responsabilidade. O decreto de Deus não infringe de modo algum a agência moral do homem, pois nem força nem impede a vontade do homem, embora as ordene e limite suas ações. Tanto a existência e as operações do pecado são subservientes aos conselhos da vontade de Deus, mas isso não diminui o mal da sua natureza ou a culpa do transgressor. “Ainda que Ele não estime o mal como bem, contudo Ele considera bom que o mal exista” (William Perkins, 1587); no entanto, o pecado é “essa coisa abominável” (Jeremias 44:4), que o Santo sempre odiou. Em relação à crucificação de Cristo houve a agência de Deus (João 19:11, Atos 4:27-28), a agência de Satanás (Gênesis 3:13; Lucas 22:53), e a agência dos homens; contudo, Deus não concordou nem cooperou com as ações internas de suas vontades, e Deus cobrou depois a maldade de seus atos (Atos 2:23). Deus governa mal o para o bem (Gênesis 44:8, Salmo 76:10), e, portanto, Ele é tão verdadeiramente soberano sobre o pecado e o Inferno como Ele é sobre a santidade e o Céu.

 

Deus não deseja nada que seja errado: “Justo é o Senhor em todos os seus caminhos, e santo em todas as suas obras” (Salmo 145:17). Ele, desta forma, não permanece em qualquer necessidade de vindicação por nenhuma de Suas insignificantes criaturas. No entanto, mesmo a mente finita, quando iluminada pelo Espírito da verdade, pode-se perceber como essa admissão de Deus do mal neste mundo provoca ocasião, para Ele demonstrar Suas perfeições inefáveis ??de uma maneira e em um grau que de outra forma Ele não poderia magnificar a Si mesmo por trazer uma coisa pura de uma impura, e por assegurar a Si mesmo o louvor dos pecadores redimidos, como Ele não recebe dos anjos não caídos. Horrível e terrível além do que se pode descrever foi a revolta do homem contra o seu Criador, tão terrível e total foi a ruína que ele trouxe consigo toda a sua posteridade. No entanto, a sabedoria de Deus planejou uma maneira de salvar uma parte da raça humana, de tal maneira que Ele é mais glorificado neles do que por todas as suas obras da criação e da providência, e é assim que a miséria dos pecadores torna-se a ocasião à sua maior felicidade; tal é uma maravilha sem fim.

 

Esse caminho de salvação foi determinado e definido nos termos do eterno Pacto da Graça. Era aquele pelo qual cada uma das pessoas Divinas é extremamente honrada. Como o famoso Jonathan Edwards há muito tempo apontou: “Aqui a obra da redenção se distingue de todas as outras obras de Deus. Os atributos de Deus são gloriosos em suas outras obras; mas as três Pessoas da Santíssima Trindade claramente não são glorificadas em nenhuma outra obra como nesta da redenção. Nesta obra cada Pessoa distinta tem Suas partes e ofícios distintos atribuídos a Si. Cada um tem sua importância especial nela agradavelmente às Suas próprias distinções pessoais, relações e organização. O redimido tem um igual interesse e dependência em relação a cada Pessoa nesta questão, e deve igual honra e louvor a cada um dEles. O Pai nomeia e provê o Redentor, e aceita o preço da redenção. O Filho é o Redentor e o preço, Ele redime, oferecendo-se a Si mesmo. O Espírito Santo nos comunica imediatamente ao que foi comprado; sim, e Ele é o bem adquirido. A suma do que Cristo comprou para nós é a santidade e a felicidade. ‘Cristo foi feito maldição por nós… Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito’ (Gálatas 3:13-14). A bem-aventurança dos redimidos consiste na participação da plenitude de Cristo, que consiste na participação naquele Espírito que não é dado por medida a Ele. Este é o óleo que foi derramado sobre a Cabeça da Igreja, que correu para os membros do seu corpo (Salmo 133:2)”.

 

É um grave erro considerar o Senhor Jesus como nosso Salvador, excluindo as operações salvíficas do Pai e do Espírito. Se o Pai não houvesse eternamente proposto a salvação de Seu povo, escolhendo-os em Cristo dando lhes a Ele, se Ele não tivesse entrado em um Pacto eterno com Ele, encarregando-Lhe a encarnar-Se, e os redimir, Seu Amado nunca teria deixado o Céu a fim de poder morrer, o Justo pelos injustos. Assim, vemos que Ele amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito e atribuiu a Ele a salvação da Igreja: “Que nos salvou… segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” (2 Timóteo 1:9). Igualmente necessárias são as operações do Espírito Santo para realmente aplicar aos corações dos eleitos de Deus o bem que Cristo realizou por eles: Ele é quem convence do pecado e lhes concede a fé. Por isso, a sua salvação também é atribuída a Ele: “Mas devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a salvação, em santificação do Espírito, e fé da verdade” (2 Tessalonicenses 2:13). Uma leitura cuidadosa de Tito 3:4-6, mostra as três Pessoas agindo em conjunto, segundo este propósito: “Deus, nosso Salvador” no versículo 4 é claramente o Pai, e “nos salvou pela lavagem da regeneração e da renovação do Espírito Santo” (v.5), “Que abundantemente ele derramou sobre nós por Jesus Cristo nosso Salvador” (v. 6); compare a doxologia de 2 Coríntios 13:14!

É muito abençoador refletir sobre as muitas promessas que o Pai fez a respeito de Cristo. Após a aceitação do Filho dos termos exatos do Pacto da Graça, o Pai concordou em investir Ele com um tríplice ofício, autenticando grandemente assim a Sua missão com o selo do Céu: o profético (Deuteronômio 18:15, 18. Veja também Atos 3:22), o sacerdócio (Hebreus 5:5; 6:20), e o reinado (Jeremias 22:5; Salmos 89:27). Assim, Cristo não veio sem ser enviado. Ele prometeu suprir e preparar o Mediador com o derramamento abundante das graças e dons do Espírito Santo (Isaías 42:1-2. Veja Atos 10:38; Mateus 12:27-28). Ele prometeu fortalecer a Cristo, apoiando-O e protegendo-O na realização da Sua grande obra da redenção (Isaías 42:1, 6; Salmo 89:21). Seu compromisso seria marcado com tais dificuldades que o poder da criatura, ainda que não prejudicado pelo pecado, teria sido inapropriado para Ele: por isso o Pai Lhe assegurou de tudo que lhe era necessário para ajuda e socorro, para conduzi-lO através da oposição e aflições que Ele encontraria. É muito precioso observar como o Filho encarnado repousou sobre essas promessas: Salmo 22:10; Isaías 69:4-7; Salmo 16:1; Isaías 1:6-9.

 

O Pai prometeu levantar o Messias dos mortos (Salmo 21:8; 102:23, 24; Isaías 53:10), e mais abençoado é observar como Cristo lançou mão disto (Salmo 16:8-11). A promessa de Sua ascensão também lhe foi feita (Salmo 24:3, 7; 67:18; 89:27; Isaías 52:13.), da qual o Salvador também se apropriou enquanto ainda na terra (Lucas 24:26). Tendo cumprido fielmente os termos da Aliança, Cristo foi sumamente exaltado por Deus, e feito Senhor e Cristo (Atos 2:36), Deus O assentou à Sua mão direita. Essa é uma salvação por senhorio, uma dispensação comprometida com Ele como o Deus-homem. Aquele a quem os homens coroaram de espinhos, Deus tem coroado de glória e honra. O “governo” está sobre os Seus ombros.

 

Cristo foi assegurado de uma “posteridade” (Isaías 53:10), Sua crucificação não deve ser considerada como uma infâmia a Ele, já que era o próprio meio ordenado por Deus, pela qual Ele deveria propagar uma numerosa descendência espiritual, a isto até Ele se referiu em João 12:24. A “posteridade”, prometida a Cristo ocupa um lugar de destaque no Salmo 89, veja os versos 3, 4, 31-36 e cf. 22:30. Assim, desde o início, Cristo foi assegurado do sucesso de seu empreendimento. Posto que havia duas partes no Pacto, então os eleitos foram dados a Cristo de uma forma dupla. Assim Ele estava a cumprir os seus termos, que foram confiados a Ele como uma carga; mas no cumprimento dos mesmos, o Pai prometeu conceder-lhes a Ele como uma recompensa. No primeiro sentido, eles são considerados como caídos, e Cristo foi responsável por sua salvação, eles estavam comprometidos com Ele, como ovelhas perdidas e desgarradas (Isaías 53:6), a quem Ele deveria buscar e trazer para o rebanho (João 10:16). Neste último sentido, eles são vistos como fruto de Sua agonia, os troféus de Sua vitória sobre o pecado, Satanás e a morte; como Sua coroa de regozijo no dia vindouro (quando Ele deverá ser “glorificado nos seus santos, e para se fazer admirável naquele dia em todos os que creem”, 2 Tessalonicenses 1:10); como a esposa amada do Cordeiro.

 

Finalmente, Deus fez a promessa do Espírito Santo a Cristo. Ele repousou sobre Esse durante os dias da Sua carne, ungindo-O para pregar o Evangelho (Isaías 61:1) e operar milagres (Mateus 12:28). Ele, porém, recebeu o Espírito depois de outra forma (Salmo 45:7, Atos 2:33) e para uma finalidade diferente após Sua ascensão, ou seja, este o Deus-Homem Mediador foi dado a administração das atividades e operações do Espírito em relação ao mundo na providência e em relação à Igreja na graça, João 16:7 deixa claro que o advento do Espírito era dependente da exaltação de Cristo. Cristo também se apropriou dessa garantia antes de partir deste mundo, em Sua partida, Ele disse aos seus discípulos: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai” (Lucas 24:49), o qual foi devidamente cumprida 10 dias mais tarde. Em pleno acordo com o que acaba de ser apontado, ouvimos o Salvador do Céu dizendo: “Isto diz o que tem os sete espíritos de Deus” (Apocalipse 3:1), “tem” para comunicar ao Seu resgatado individualmente, e às Suas igrejas coletivamente.

 

O grande desígnio da descida do Espírito a esta terra é glorificar a Cristo (João 16:14). Ele está aqui para testemunhar-vos a exaltação do Salvador, sendo o Pentecostes o selo de Deus sobre a Messianidade de Jesus. O Espírito está aqui para substituir a Cristo. Isso é inferido de Suas próprias palavras aos Apóstolos: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” (João 14:16). Até então, o Senhor Jesus tinha sido o seu Consolador, mas Ele estava às vésperas de voltar ao Céu; no entanto, Ele graciosamente lhes assegurou: “Não vos deixarei órfãos; voltarei para vós” (João 14:18), isto foi cumprido plenamente no advento se Seu sucessor. O Espírito está aqui para promover a causa de Cristo. A palavra Paráclito (traduzida como “Consolador”, no Evangelho de João) é traduzida como “advogado”, no início do segundo capítulo de sua primeira Epístola, e um advogado é aquele que aparece como representante de outro. O Espírito está aqui para interpretar e reivindicar a Cristo, para administrar por Cristo o Seu Reino e a Sua Igreja. Ele está aqui para fazer bem sucedido o Seu propósito redentor, aplicando os benefícios de Seu sacrifício àqueles em nome dos quais foi oferecido. Ele está aqui para revestir os servos de Cristo (Lucas 24:49).

 

É de primeira importância reconhecer e entender que o Senhor Jesus não só obteve para o povo de Deus a redenção das consequências penais do pecado, mas também garantiu a sua santificação pessoal. Ai! quão pouco isso é enfatizado hoje. Em muitos casos aqueles que pensam e falam da “salvação” que Cristo comprou não acrescentam mais nenhuma ideia à mesma do que a de libertação da condenação, omitindo a libertação do amor, domínio e poder do pecado. Porém este último não é menos essencial, e é uma bênção tão necessária quanto a primeira. É tão necessário para criaturas caídas serem libertas da poluição e impotência moral que elas contraíram, como é o ser liberto das penalidades que tenham incorrido; para que, quando forem reintegradas ao favor de Deus, elas possam ao mesmo tempo ser capacitadas para amar, servir e deleitar-se nEle para sempre. A este respeito o remédio Divino também preenche todos os requisitos de nossa doença pecaminosa (veja 2 Coríntios 5:15; Efésios 5:25-27; Tito 2:14; Hebreus 9:14). Isto é obtido através das operações graciosas do Espírito de Cristo: iniciado na regeneração, continuado ao longo de suas vidas terrenas e consumado no Céu.

 

Não somente o Deus Triuno é mais honrado pela redenção que Ele foi desonrado pela deserção de Suas criaturas, como os do Seu povo também se tornam maiores ganhadores. Como isso também magnifica a Sabedoria Divina! Seria maravilhoso, de fato, se tivessem sido apenas restaurados ao seu estado original, mas é muito mais maravilhoso que eles sejam levados a um estado muito mais elevado de bem-aventurança, que a Queda seja a ocasião de sua exaltação! Seu pecado merecia desgraça, porém a eterna bem-aventurança tornou-se a sua porção. Eles agora são favorecidos com uma maior manifestação da glória de Deus e a um pleno conhecimento do Seu amor do que de outra forma teriam tido, e é nessas duas coisas a sua felicidade consiste principalmente. Eles são levados para uma relação muito mais próxima e afetuosa para com Deus. Eles são agora não apenas criaturas santas, mas herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo. O Filho tomou a sua natureza sobre Ele, e vocês tornaram-se seus “irmãos”, os membros do Seu corpo, sim, Sua esposa. Eles são, assim, providos dos mais poderosos motivos e incentivos para amá-lO e servi-lO do que tinham em sua condição não caída. Quanto mais apreendemos do amor de Deus, mais O amamos em retribuição, por toda a eternidade o conhecimento do amor de Deus em dar Seu Filho amado por nós, e de Cristo ao morrer em nosso lugar, fixará os nossos corações nEle de uma forma que os Seus favores a Adão nunca teriam feito.

 

Agora é no Evangelho que o remédio maravilhoso para todos os nossos males é revelado. Este glorioso Evangelho proclama que Cristo é capaz de salvar perfeitamente aqueles que se achegam a Deus por meio dEle. Ele nos diz que o Filho do homem veio buscar e salvar o que estava perdido. Ele anuncia que os pecadores, até mesmo o maior dos pecadores, são os únicos que são livremente convidados a vir. Ele proclama a libertação aos cativos de Satanás e a abertura das portas para os prisioneiros do pecado. Ele revela que Deus escolheu os maiores pecadores para serem os monumentos eternos da Sua misericórdia. Ele declara que o sangue de Jesus Cristo, Filho de Deus, purifica os crentes de todo o pecado. Ele fornece esperança para os casos mais desesperados. Os prodígios que Cristo realizou sobre os corpos dos homens eram tipos de Seus milagres de graça sobre as almas dos pecadores. Nenhum caso estava além de poder para curar. Ele não somente deu a vista aos cegos e purificou o leproso, mas libertou o endemoninhado e deu vida aos mortos. Ele nunca recusou um único apelo feito à Sua compaixão. Qualquer que seja o passado do leitor, se ele confiar no sacrifício expiatório de Cristo, ele será salvo, agora e para sempre.