Tendo feito um relato sobre a instituição e a ordem das igrejas evangélicas, que são de Instituição Divina, é necessário que nós também declaremos a sua adequação e suficiência a todos os propósitos para os quais o Senhor Jesus Cristo designou tais igrejas; porque, se há qualquer verdadeiro fim próprio dessa natureza que não pode ser alcançado em ou por qualquer instituição de igreja nesta ou naquela forma, deve-se admitir, então, que nenhuma tal forma é designada por Deus. Sim, é necessário não apenas que tal instituição como pretendida àquela origem Divina seja não apenas não contraditória ou inconsistente com tal finalidade, mas que efetivamente conduza a ela, e em sua posição necessária a este propósito. Isso, portanto, é o que buscaremos agora investigar, ou seja, se esta instituição e forma de igrejas evangélicas em congregações individuais são adequadas a todos esses fins para os quais tais igrejas foram designadas; o que elas devem ser em consideração à sabedoria de Jesus Cristo, o seu autor e fundador, ou devem ser completamente descartadas de sua pretensão. Nem há qualquer argumento mais convincente contra qualquer pretensa instituição, regra, ou ordem de igreja do que esta ser obstrutiva às almas dos homens em alcançar os fins apropriados de sua instituição como um todo. Posto que, de forma geral, o que estes propósitos são já foi anteriormente declarado; eu aqui não os repetirei, ou voltarei a abordá-los, mas apenas destacarei a consideração daqueles que são geralmente pleiteados como não possíveis nesta forma de igrejas em congregações locais, apenas, ou daqueles que pelo menos não são apropriadas à sua finalidade.
1. O primeiro destes é o amor mútuo entre todos os Cristãos, todos os discípulos de Cristo. Por discípulos de Cristo refiro-me somente àqueles que professam fé em Sua Pessoa e Doutrina, e O ouvem, ou são guiados por Ele somente, em todas as coisas que referem-se ao culto a Deus, e suas vidas nEle. Se houver alguns chamados Cristãos que nestas coisas escolhem outros guias, chamam a outros ministros, os ouvem em seus apontamentos, nós devemos cortá-los de nossa presente consideração; embora existam importantes funções exigidas de nós em relação a eles também. Mas o que se alega é necessário à constituição de um verdadeiro discípulo de Cristo. Para todos o Seu grande comando é o amor mútuo entre eles mesmos. Isso que Ele chama de uma maneira especial “o Seu mandamento” e “um novo mandamento”; como por outras razões, porque Ele havia dado o primeiro grande exemplo disso em Si mesmo, como também desvelou os motivos para isso e as razões para isso, sobre o que a humanidade anteriormente estava obscurecida até então. E tal peso Ele colocou sobre esse comando, que Ele declara que a manifestação da glória de Deus, Sua própria honra, e a evidência a ser dada ao mundo de que somos Seus discípulos, de fato dependem da nossa obediência a isso.
Expressar e exercitar esse amor, em todos os seus atos e deveres, entre os Seus discípulos, foi uma finalidade de Sua nomeação para que eles andassem em relação de igreja uns com os outros, neste amor que é o vínculo da perfeição. E a perda desse amor, como o de seu devido exercício, não é menos uma perniciosa parte da apostasia fatal das igrejas do que o é a perda da fé e adoração: pois, a esse respeito a Cristandade, como normalmente é chamada, se torna o maior palco de ódio, raiva, ira, derramamento de sangue, e desolações mútuas que há no mundo todo; de modo que não temos nenhuma maneira de responder à objeção dos judeus ao argumentarem contra nós sobre as promessas Divinas de amor e paz no reino do Messias, mas pela admissão de todas essas coisas surge uma rebelião contra Seu governo e reino. Agora, esse amor em seu exercício é eminentemente preservado nesta finalidade de Igrejas particulares; pois,
(1) O princípio do ajuntamento deles em tais sociedades, além da fé em Cristo Jesus, é o amor para com todos os santos; pois a sua união, sendo com alguns deles, como tais, somente, eles devem ter um amor para com todos os que o são assim. E nenhum deles se ajuntaria em tais sociedades se o seu fazê-lo em qualquer coisa prejudicasse o seu amor por todos os discípulos de Cristo, ou o impedisse em qualquer de suas operações. E a comunhão destas igrejas entre si é, e deve ser, como a que todas elas se constituem como que um só corpo e uma igreja comum; como veremos posteriormente. E é um dever principal delas o estimularem-se, em todos os seus membros, a um exercício contínuo de amor para com todos os santos de Cristo, conforme a ocasião exigir; e se eles são defeituosos nesse amor católico, a culpa é deles, [sendo] contrária à regra e ao propósito de sua instituição.
(2) Para a expressão constante e exercício desse amor são necessários, [1] objetos presentes adequados a todos os atos e deveres do mesmo; [2] A descrição e prescrição desses atos e deveres; [3] Regras para os corretos desempenho e exercício deles; [4] O fim a ser alcançado em seu cumprimento. Todas estas coisas o Senhor Jesus providenciou aos Seus discípulos na constituição e regra dessas igrejas. E o devido atendimento a eles, Ele designou como o exemplo, julgamento e experiência do amor deles por todos os Seus discípulos; ao passo que eles podem pretender tal amor, ainda assim alega-se que eles não sabem como e nem onde expressa-lo e exercê-lo, especialmente quanto aos variados deveres mencionados na Escritura como pertencentes a isso, Ele providenciou este caminho, em que não se pode ignorar os deveres de amor exigido deles, nem os objetos, normas adequadas, e fins para a sua prática. Exigiria muito tempo discorrer sobre essas coisas em particular. Eu apenas adicionarei (o que é facilmente defensável) que o amor evangélico jamais será recuperado e restaurado em sua glória primitiva até que as Igrejas ou congregações particulares sejam reformadas e convertidas ao exercício do amor sem fingimento que é exigido de todos os seus membros entre si; pois enquanto os homens vivem em inveja e malícia, detestarão e odiarão uns aos outros, ou enquanto eles vivem em uma negligência aberta de todos os deveres que o Senhor Jesus Cristo ordenou para que fossem observados em relação aos membros da sociedade a que eles pertencem, como um penhor e prova de seu amor por todos os Seus discípulos, tal coisa não pode ser alcançada. E assim é na maioria das assembleias locais, que, em meio a suas queixas de violação do amor e união, pela retenção da comunhão de alguns homens em algumas partes do culto Divino com eles, ainda, além dos deveres comuns da civilidade e da vizinhança, não conhecem nem praticam qualquer coisa deste amor, alegria e comunhão espirituais que devem haver entre eles, como membros da mesma igreja.
Não nos vangloriamos de quaisquer realizações deste tipo, — nós sabemos o quão pouco alcançamos daquele amor ardente que floresceu nas primeiras igrejas; mas isso dizemos, que não há nenhuma maneira de recuperá-lo, senão por essa instituição e ordem de igrejas particulares que propomos, e, κατ? τ?ν δοθε?σαν δ?ναμιν, real aderência a elas.
Mas, pretensões quanto ao contrário são pleiteadas com veemência, e os clamores quanto a este fim são altos e muitos: pois, esta forma, diz-se, de estabelecimento de congregações locais é aquilo que tem causado divisões intermináveis??, e perdido todo o amor e afeição Cristã entre nós, sendo acompanhados de outras consequências perniciosas, como os adversários mais retóricos disso são malmente capazes de declarar; nem o próprio Tértulo poderia fazê-lo, se ele estivesse ainda vivo; pois, por esse meio, os homens não se encontrando, como costumavam fazer, na administração do sacramento e oração comum, todo o amor é perdido entre eles. Eu respondo:
1 – Essa objeção, tanto quanto eu sou capaz de observar, é maioritariamente gerida por aqueles que parecem saber muito pouco sobre a natureza e deveres daquele amor que o nosso Senhor Jesus Cristo ordena no Evangelho, nem dão qualquer evidência considerável de seu viver, andar e agir no poder dele. E, quanto a que eles se imaginam sob esse nome, ao passo que é evidente a partir da prática comum que isso não se estende mais longe, senão até a passividade nas coisas civis e indiferentes, com algumas expressões de bondade em seus folguedos e festins, e outras sociedades joviais, em que não estamos interessados.
2 – Essa objeção reside não contra a coisa em si mesmo, absolutamente — a saber, que todas as igrejas de instituição Divina são congregacionais, o que, somente, é agora pleiteado — mas contra o ajuntamento de tais sociedades ou congregações nessa condição das coisas que agora prevalecem entre nós. Mas, enquanto isso depende de princípios ainda não declarados e confirmados, a consideração desta parte da oposição deve ser encaminhada a outro lugar. Direi apenas no momento, que este é o maior e mais potente motor na mão de Satanás, e dos homens de interesse secular corrupto, para reter toda a reforma da igreja no mundo.
[…]
3 – Não encontramos que uma participação conjunta nas mesmas ordenanças, ao mesmo tempo, no mesmo ambiente, é em si mesmo ou um efeito, ou evidência, ou dever do amor evangélico, ou qualquer outro meio para a preservação ou promoção do mesmo; pois isso foi diligentemente observado no Papado, quando todo o verdadeiro amor, fé e adoração evangélicos foram perdidos. Sim, esse tipo de comunhão e colaboração, adicionadas a uma dependência implícita na autoridade da igreja, foram substituídos em seu lugar; e multidões estiveram satisfeitas com elas, como aqueles que as estabelecem em sua negligência a todas as outras graças e seu exercício. E, eu gostaria que não fosse assim entre outros que supõem que eles têm todo o amor que lhes é exigido, se eles estiverem livres de tais variações escandalosas com seus próximos, a ponto de torná-los inadequados para a comunhão.
4 – Se este for o único meio de amor, como os homens o mantém em direção a qualquer um que não seja de sua própria comunidade, considerando que eles nunca se encontram no sacramento da Ceia do Senhor? E se eles podem viver em amor com os de outras comunidades, por que eles não o fazem com aqueles que tendo a mesma fé e sacramentos com eles, encontram-se para o exercício do culto Divino, em tais congregações como as que já descrevemos? Portanto —
5 – A divergência que pretensamente seria causada pela criação destas congregações particulares é uma parte daquela variância que Cristo veio trazer ao mundo: “Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; e assim os inimigos do homem serão os seus familiares” (Mateus 10:34-36). Ele foi o Príncipe da Paz; Ele veio para fazer a paz entre Deus e os homens, entre os próprios homens, judeus e gentios; Ele não ensinou nada, ordenou nada que em sua própria natureza tivesse a mínima incoerência com a paz, ou oferecesse semblante de desavença: mas Ele declara o que aconteceria e viria, por meio do pecado, das trevas, da incredulidade e inimizade quanto à verdade, o que continuaria em alguns sob a pregação do Evangelho; enquanto outros de seus parentes mais próximos abraçariam a verdade e profissão dele. […]. A mesma verdade evangélica pregada, os mesmos sacramentos administrados; e considerando que tanto os princípios da forma, e as pessoas deles que se reúnem em corporações distintas para a celebração do culto Divino, conduzem ao amor e à prática do mesmo em todas as suas funções conhecidas, todos os males que ocorrem nesta forma congregacional devem ser cobrados da inimizade, ódio, orgulho e interesse secular dos homens; o que não está em nosso poder sarar.
2. Outra finalidade do estabelecimento desta instituição é que a igreja seja a “coluna e firmeza da verdade” (1 Timóteo 3:15), ou seja, que ela deve ser o principal meio exterior de apoio, conservação, declaração pública e propagação da doutrina ou verdade do Evangelho, especialmente em relação à Pessoa e ofícios de Cristo; que os apóstolos acrescentam à esta afirmação nas próximas palavras. A instituição de igreja que não corresponde a este propósito não é de instituição Divina; todavia, o ministério daquelas igrejas é eminentemente adequado.
Existem três coisas necessárias para cumprir este dever, ou exigidas para esta finalidade, para que a igreja seja a coluna e baluarte da verdade:
(1) Que ela preserve a verdade em si mesma, e na profissão de todos os seus membros, contra todos enganadores, falsos mestres e erros. Isso o apóstolo dá em encargo especial aos anciãos da igreja de Éfeso, acrescentando as razões disso (Atos 20:28-31). Isto é de uma forma especial confiado aos oficiais da igreja (1 Timóteo 5:20; 2 Timóteo 1:13-14). A isso o ministério dessas igrejas é próprio e adequado. A inspeção contínua que eles têm e devem ter quanto a todos os membros da igreja, adicionado àquela circunspecção e julgamento das doutrinas pregadas por eles mesmos a todo o corpo da igreja, adéqua-os para este trabalho. Este é o meio fundamental (em questão, o único meio externo), que o Senhor Jesus Cristo determinou para a preservação da verdade do Evangelho neste mundo, em que a Igreja é a coluna e firmeza da verdade. Eu desconheço como isso pode ser feito onde as igrejas adotam aquele modo de agir e constituir que os oficiais delas não podem ter inspeção imediata ou jurisdição tanto sobre o conhecimento, opiniões ou práticas dos membros de sua igreja, nem o corpo da igreja conhece, sobre algum fundamento evidente, o que o seu principal oficial crê e ensina. Por este meio a verdade foi preservada nas igrejas dos primeiros dois séculos, as quais não tinham oficiais, senão os que eram estabelecidos em igrejas locais, de modo que nenhum erro considerável foi introduzido dentre elas.
(2) Que cada igreja cuide para que a mesma verdade seja plenamente conservada, bem como a profissão dela, em todas as outras igrejas. Sua comunhão entre si (e sobre isso, posteriormente) é construída sobre a sua ?μολογ?α comum, ou a profissão da mesma fé. Este, portanto, é seu dever, e sempre foi a sua prática, cuidar para que a verdade seja plenamente preservada; pois caso houvesse uma mudança na fé de qualquer um deles, eles sabiam que seria a dissolução da sua comunhão. Portanto, quando qualquer coisa dessa natureza ocorria, assim como houve na igreja de Antioquia na pregação sobre a necessidade da circuncisão e observância da lei, por meio de que as almas de muitos dos discípulos foram subvertidas, a igreja em Jerusalém, ao ser notificada e tomar conhecimento sobre isso, ajudou-os com as suas advertências e conselho. E nos diz Eusébio, que, após a primeira promulgação das heresias e frenesis de Montano, os fiéis, ou igrejas na Ásia, reuniram-se com frequência em diversos lugares para examinar suas pretensões e condenar seus erros; pelo que as igrejas na Frígia foram preservadas (Hist. Eclesiástica, livro V. cap. 14). Assim, o mesmo foi feito depois, no caso de Samosatenus em Antioquia, em que a igreja foi libertada da infecção de sua heresia perniciosa (livro VII. cap. 27, 28, 29). E esse cuidado ainda compete a cada Igreja local, caso ela demonstre ser a coluna e firmeza da verdade. E da mesma maneira Epifânio, relatando sobre a origem da heresia do Noetus, um Patripassiano1, afirma que os santos presbíteros da Igreja o chamaram e perguntaram a opinião dele várias vezes; pelo que, sendo convencido antes do presbitério sobre os enormes erros, ele foi expulso da igreja: “?λλ? μεταξ? το?των (quando ele começou disseminar seus erros) ?π? τ?ς περ? α?τ?ν ?νηχ?σεως ο? μακ?ριοι πρεσβ?τεροι τ?ς ?κκλησ?ας προσκαλεσ?μενοι α?τ?ν ?ξητ?ζον περ? το?των ?π?ντων? – ? δ? τ? πρ?τα ?ρε?το ?π? το? πρεσβυτερ?ου ?γ?μενος, Epiphanius, Hæres. cont. Noet. Hær [Epifânio, Contra as Heresias]. xxxviii. seção 57.
Assim é que a doutrina da igreja, quanto ao seu conteúdo, foi preservada completa durante os dois primeiros séculos, e um pouco depois. Na verdade, como quando os israelitas saíram do Egito, veio junto com eles uma “muita mistura de gente” (Êxodo 12:38), que caiu por “cobiçar” a carne quando eles chegaram ao deserto (Número 11:4), para o perigo de toda a congregação. Semelhantemente, quando o Cristianismo foi primeiramente pregado e recebido no mundo, além daqueles que abraçaram sinceramente, e foram acrescentados à igreja, havia uma grande mistura de judeus obstinados, como os Ebionitas; de gregos filosóficos, como os Valentinianos e Marcionitas; de impostores evidentes, como Simão, o Mago e Menandro; os quais, todos eles, fingiram ser Cristãos, mas caíram em concupiscência, e extremamente perturbaram e deixaram as igrejas perplexas esforçando-se para seduzi-las às imaginação deles. No entanto, nenhuma das suas abominações poderia forçar uma entrada em suas próprias igrejas, as quais, por manter a sua instituição, foram preservadas. Mas quando esta instituição e ordem da igreja foi alterada, e outra gradualmente introduzida em seu lugar, erros e heresias obtiveram novas vantagens, e entraram nas próprias igrejas, as quais antes embora as atacassem eram frustradas, pois:
1 – Quando a prerrogativa e preeminência de uma única pessoa na igreja começou a estar em estima, não poucos falharam em suas tentativas de igualá-lo, retaliando eles mesmos a igreja, fazendo de seu trabalho o inventar e propagar heresias perniciosas. Assim fez Thebuthis em Jerusalém (Eusébio, livro IX, cap. 22); e Valentinus, Tertul e Valentine (cap. IV); e Marcion em Roma (Epifânio. Haeres. XIII). Montano caiu em sua velhice na mesma consideração; assim o fez Novaciano em Roma (Eusébio, livro VI. cap. 43, e Ário em Alexandria. Por isso há aquela censura deles, por Lactâncio, livro IV. cap. 30: “Ii quorum fides fuit lubrica, cum Deum nosse se et colere simularent, augendis opibus et honori stu-dentes, sacerdotium máximo affectabant, et uma victi potioribus, secedere cum suffragatori-bus maluerunt, quam eos ferre præpositos quibus concupierant ipsi ante præponi”.
2 – Quando qualquer um de seus bispos da nova constituição, seja patriarcal ou diocesana, caía em heresias, o que fizeram com frequência, chegando a incorrer nelas muitas vezes, tinham muitas vantagens para difundir o seu veneno para o corpo inteiro de suas igrejas, e certos interesses políticos para a sua promoção, de modo que as próprias igrejas foram completamente infectadas com estas heresias. É verdade, o corpo das pessoas em muitos lugares se opuseram a eles, retiraram-se e separaram-se deles; mas não se pode negar, contudo, que esta foi a primeira forma e os meios através dos quais as igrejas deixaram de ser a coluna e firmeza da verdade. Tantos erros destrutivos foram recebidos dentro delas, que elas foram atacadas exteriormente somente enquanto elas se firmaram na primeira instituição. E se não tivessem as igrejas, no decorrer do tempo, completamente perdido seu estado e ordem primitivos, por aglomerarem-se em um papado, sob a dissimulação da igreja ser universal, a fé em si nunca poderia ter sido tão completamente corrompida, depravada e perdida entre eles, como ela foi, em consequência disso.
(3) Propagar o Evangelho é da mesma maneira necessário a ela. Isso, eu reconheço, mais imediatamente diz respeito ao dever de pessoas em qualquer ordem de igreja do que a própria ordem em si; pois esse deve ser o trabalho de algumas pessoas em particular, que se dedicam aos seus ministérios, como era nas primeiras igrejas, 3 João 5-8.
Semelhantemente pode ser dito de qualquer outra finalidade reconhecidamente pública da instituição de igrejas. Se a forma como defendida não for consistente com todas elas, e os meios adequados para os atingir, se não forem adequadas ao seu cumprimento, que sejam descartadas. Insistirei somente em mais uma.
3. Nosso Senhor Jesus Cristo deu essa instituição às Suas igrejas, estabeleceu-as nessa ordem, como que o Seu interesse, reino e religião fossem propagados ao mundo, sem pré-juízo ou desvantagem a nenhum dos interesses legítimos dos homens, especialmente, sem qualquer oposição ou até interferência com a autoridade ou o magistrado civil, que é ordenação de Deus; e nenhuma forma de igreja que assim o faz é de Sua instituição. Portanto, devo declarar brevemente quais são os princípios daqueles desta forma, nestas coisas, que são os princípios da forma em si que eles professam:
(1) A primeira asserção geral quanto à essa finalidade é esta: O Senhor Jesus Cristo não ensinou nenhuma doutrina, nem nomeou qualquer ordem em Sua igreja, nem deu-lhe algum poder, que se opõem ou sejam inconsistentes com qualquer governo justo neste mundo, de que espécie for, sobre aqueles a quem o governo é distribuído em razão e prática. Sua doutrina, na verdade, se opõe a toda injustiça em e sobre todos os homens, magistrados e outros; mas não se opõe à regra legal de magistrados que são homens injustos. E esta oposição é apenas doutrinária, confirmada com promessas e ameaças de coisas eternas, recusando-se e desprezando todos os auxílios exteriores de força e contenção. Esta regra nós consentimos ao julgamento de todas as igrejas e sua instituição, se elas estão de acordo com a mente de Cristo.
Mas, enquanto o Senhor Jesus Cristo não ensinou e nem ordenou, nada que seja contrário ou inconsistente com qualquer tipo de governo que seja justo. Se governantes ou magistrados proibirem a observância do que Ele comandou, designou e nomeou, então, pesa sobre Ele ou sobre a Sua forma, de modo que Seus discípulos não podem, não ousam e nem irão cumprir essa proibição, e serão acusados por isso de sedição e de oposição aos governantes, assim, eles tratam de forma negativa o próprio Cristo, pelo que eles prestarão contas; pois, ao passo que “todo o poder lhe é dado no céu e na terra” [Mateus 28:18], todas as nações são a Sua herança, todas as pessoas estão à Sua disposição absoluta, e é o Seu prazer estabelecer o Seu reino na terra, sem o que a própria Terra não teria continuado. Ele não poderia lidar mais gentilmente com os governantes justos deste mundo (e Ele fez isso porque o governo justo é a ordenança de Deus) do que ao ordenar todas as coisas assim, que se eles recebem a Sua lei e doutrina ou não, nada deve ser feito em oposição a eles ou à regra deles.
[…]
(2) Em particular, o Senhor Jesus Cristo não ordenou nenhum poder ou ordem em Sua igreja, nenhum ofício ou dever, que permaneça em necessidade da autoridade, sanção ou força civil para preservá-lo, ou torná-lo eficaz quanto à sua finalidade apropriada. É suficiente retirar qualquer coisa de uma pretensão de ser um desígnio de Cristo em Sua igreja, se isso não for suficiente ao seu próprio fim adequado, sem a ajuda do magistrado civil. Qualquer instituição de igreja que é constituída pela autoridade humana, ou não pode funcionar sem ela, não é pertence a Cristo. Essa ordenança que existe em sua própria natureza Divina, ou melhor, que assim se auto supõe, na medida em que não é eficaz à finalidade sem o auxílio da autoridade humana, não é de Cristo, pois Ele não precisa disso. Ele não pedirá a assistência da autoridade civil para governar sobre as consciências dos homens, no que diz respeito ao seu viver para Deus e ao vir para o gozo dEle mesmo.
A forma de exigir a sanção da autoridade civil quanto às ordens e determinações eclesiásticas começou com a utilização de conselhos gerais nos dias de Constantino; e quando isso foi desenvolvido e aprovado, na medida em que era determinado nos sínodos, seja quanto à doutrina ou quanto ao governo da igreja, deveria ser confirmado pela autoridade imperial, com penalidades em tudo o que pudesse contradizer tais determinações. É lamentável considerar que destruição mútua foi feita entre os Cristãos baseados sobre os vários sentimentos de sínodos e imperadores. No entanto, esta forma agradou os dirigentes da igreja tão bem, e — como eles pensavam —, os aliviou de tantos problemas, que até agora foi incrementado entre eles, de forma que finalmente, eles não deixaram nenhum poder sobre a religião ou sobre as pessoas religiosas em relação ao magistrado civil, senão o que deveria ser exercido na execução dos decretos e determinações da igreja.
É necessário, a partir desta instituição de igrejas independentes, que elas tenham a sua subsistência, continuação, ordem e eficácia de tudo o que elas realizam e fazem como igrejas, a partir do próprio Cristo; pois, enquanto tudo o que somos e fazemos é celestial, espiritual, e não é deste mundo, assim, isso não se estende a nenhuma de todas as coisas que estão sob o poder do magistrado (ou seja, a vida e os corpos dos homens, e todos os interesses civis pertencentes a eles), e nada influencia, senão o que nenhum poder de todos os magistrados sob o céu podem alcançar (ou seja, as almas e as consciências dos homens), nenhum problema pode surgir disso a algum dos governantes do mundo, nenhuma contestação sobre o que eles devem e o que não devem confirmar; o que têm causado grandes transtornos entre muitos.
(3) Em especial, também, não há nem pode haver nesta instituição de igreja a menor pretensão de poder ou autoridade a ser desempenhada em direção ou sobre as pessoas de reis ou governantes, o que poderia contestar o seu direito ou impedir o exercício de sua justa autoridade; pois, como Cristo não concedeu tal poder à igreja, assim, é impossível que qualquer pretensão disso seja estabelecida em uma congregação particular, especialmente sendo reunidas sobre este princípio. De forma que não há nenhum poder eclesiástico propriamente dito, senão que é assim estabelecido, e a isso nenhuma concordância, acordo ou associação de muitas igrejas podem adicionar um novo, maior, ou outro poder ou autoridade para elas além do que elas tinham antes isoladamente. […].
Estes princípios, eu digo, são suficientes para assegurar a Religião Cristã, e o estado, ordem e poder das igrejas instituídas nela, a partir de todas as reflexões sobre a inconsistência com o governo civil, ou de homens influentes buscando sua mudança ou ruína.
A soma é: permita que a estrutura exterior e ordem do governo justo seja de que tipo for, não tenha nada inconsistente com ele, nada estabelecido sobre ele, nada fazendo em oposição a ele, pois isto é designado por Jesus Cristo, ou pertence à instituição de igreja que Ele ordenou e estabeleceu.
Apenas dois aspectos devem ser adicionados a estes princípios: que nós não podemos ver a distinção entre o estado civil e a igreja de forma a torná-los indiferentes um ao outro; pois,
Em primeiro lugar, é o dever inquestionável dos soberanos e governadores do mundo, sobre a pregação do Evangelho, receberem a sua verdade e prestarem obediência aos seus mandamentos. E considerando que todo poder e ofícios devem ser indicados por Deus, de quem são todas as normas dos ministros, eles são obrigados, no exercício das suas funções, a aprovar, suprir e proteger a profissão e professores da verdade, ou seja, a Igreja, e isso de acordo com os graus e medidas que julgarem necessárias.
Em segundo lugar, é dever da igreja, materialmente considerada, isto é, de todos aqueles que são membros desta organização, em qualquer reino ou comunidade, ser útil e subserviente, mesmo como Cristãos, a essa regra, que está sobre eles como os homens, em todas as formas e por todos os meios, que as leis, usos e costumes dos países aos quais eles pertencem. Todavia estas coisas são frequentemente faladas.
Há outras diversas considerações pelo que pode ser evidenciado que esta ordem e instituição de igrejas evangélicas não apenas são consistentes com todos os governos justos no mundo (digo, que é assim em sua constituição, embora, como todas as outras formas, ela é suscetível à má administração), porém ela é mui útil e subserviente à sua justa administração, sendo absolutamente incapaz de mistura em si, como tal, em qualquer dessas ocasiões de assuntos do mundo ou estatais que possam criar a menor dificuldade ou problema aos governantes.
Com os demais, não é assim. Sabe-se que a própria constituição da igreja papal, como se afirma nos cânones, é incompatível com os justos direitos dos reis e governantes, e frequentemente, no exercício de seu poder, destrutivo às suas pessoas e domínios. E nisso concordou o prelatício da instituição da igreja da Inglaterra, enquanto ela continuou em comunhão com eles, e apegou-se a sua dependência em relação à Igreja Romana; pois, embora, eles tiveram todo o seu poder original a partir dos reis deste reino, como os registros e as leis disso expressamente afirmam: “que a Igreja da Inglaterra foi fundada em episcopado pelo rei e pelos seus nobres”, ainda assim, eles alegaram essa adição de poder e autoridade, em virtude de seu ofício de onipotência papal, na medida em que eles eram líderes em detrimento do governo desta nação, sob o pretexto de manter o que eles chamavam de “direitos da Igreja”. […].
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[1] Patripassiano: Um monaquiano. Alguém que nega distinção entre as três Pessoas em um só Deus, e afirma que há apenas uma Pessoa divina, que em sua natureza eterna foi denominado o Pai, mas na sua encarnação o Filho, e que o Pai sofreu na paixão como e no Filho. O termo ocorre pela primeira vez na literatura em um tratado de Tertuliano sobre o assunto 200 d. C. [Fonte: Century Dictionary and Cyclopedia, via FineDictionary.com – N. R.].