A Bem-Aventurança da Eleição de Deus, por A. W. Pink

[Capítulo 10 do livro The Doctrine of Election • Editado]

 

Em primeiro lugar, a doutrina da eleição magnifica o caráter de Deus. Ela exemplifica a Sua graça. A eleição torna conhecido o fato de que a salvação é dom gratuito de Deus, gratuitamente concedido a quem Ele quer. Isso deve ser assim, pois aqueles que a recebem são eles próprios não diferentes e nem melhores do que aqueles que não a recebem. A eleição permite que alguns vão para o inferno, para mostrar que todos mereciam morrer. Mas a graça vem como um arrastão e atrai de uma humanidade arruinada um pequeno rebanho, para ser por toda a eternidade o monumento de soberana misericórdia de Deus. Ela exibe Sua onipotência. A eleição torna conhecido o fato de que Deus é todo-poderoso, governando e reinando sobre a terra, e declara que ninguém pode resistir com êxito à Sua vontade ou frustrar Seus propósitos secretos. A eleição revela Deus quebrando a oposição do coração humano, subjugando a inimizade da mente carnal, e com poder irresistível atraindo os Seus escolhidos para Cristo. A eleição confessa que “nós O amamos porque Ele nos amou primeiro”, e que nós cremos, porque Ele nos fez mui voluntários no dia do Seu poder (Salmos 110:3).

 

A doutrina da eleição atribui toda a glória a Deus. Ela não permite qualquer crédito para a criatura. Ela nega que o não-regenerado seja capaz de predizer um pensamento reto, gerar uma afeição correta ou originar uma volição certa. Ela insiste que Deus deve operar em nós tanto o querer como o efetuar. Ela declara que o arrependimento e a fé são eles próprios dons de Deus, e não algo que o pecador contribui para o preço da sua salvação. Sua linguagem é: “Não a nós, SENHOR, não a nós”, mas “Àquele que nos amou e nos lavou de nossos pecados em seu próprio sangue”. Esses parágrafos foram escritos por nós há quase um quarto de século, desde então, e até o dia de hoje nós nem os rescindimos nem os modificamos.

 

O Senhor faz distinções entre os homens culpados de acordo com a soberania de Sua graça. “Porque eu não tornarei mais a compadecer-me da casa de Israel, mas tudo lhe tirarei. Mas da casa de Judá me compadecerei”. Judá não havia pecado também? Não poderia o Senhor ter desistido de Judá? Na verdade, Ele poderia justamente tê-lo feito, mas Ele se deleita na benignidade. Muitos pecaram, e justamente trouxeram sobre si mesmos o castigo devido pelo pecado: eles não creem em Cristo, e morrem em seus pecados. Mas Deus tem misericórdia, de acordo com a grandeza do Seu coração, de muitos que não podem ser salvos em qualquer outro fundamento, senão desta misericórdia imerecida. Alegando Seu direito real, Ele diz: “Terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia”. A prerrogativa de misericórdia é exercida pela soberania de Deus, esta prerrogativa que Ele exerce, Ele concede a quem Ele quer, e Ele tem o direito de fazê-lo, já que ninguém tem qualquer direito sobre Ele (C. H. Spurgeon: “A Salvação é Propriedade do Senhor”, um Sermão em Oséias 1:7).

 

O que foi exposto acima torna suficientemente claro que não é coisa leve rejeitar esta parte abençoada da verdade eterna; não, é uma questão mui solene e séria fazer isso. A Palavra de Deus não nos é dada para selecionarmos e escolhermos, para destacarmos as partes que apelam para nós, e desprezar tudo o que em si não elogia a nossa razão e sentimentos. Ela nos é dada como um todo, e por ela cada um de nós ainda será julgado. Rejeitar a grande verdade que estamos aqui tratando é o cúmulo da impiedade, repudiar a eleição de Deus é repudiar o Deus da eleição. É uma recusa a se curvar diante de Sua elevada soberania. É o pregador corrupto opondo-se contra o santo Criador. É o orgulho presunçoso que insiste em ser o determinante de seu próprio destino. É o espírito de Lúcifer, que disse: “Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono… Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo” (Isaías 14:13-14).

 

Em segundo lugar, a bem-aventurança dessa doutrina aparece em que tudo é importante no plano da salvação. Considere isto, primeiro, do lado Divino. A apresentação Escriturística desta grande verdade é indispensável se os atos distintivos do Deus Triuno em matéria de salvação devem ser reconhecidos, honrados e confessados. A salvação não procede de uma só Pessoa Divina, mas igualmente das três Pessoas Eternas. Jeová, então, ordenou as coisas de forma que cada Um na Divindade deve ser magnificado e glorificado igualmente. O Pai é tão real e verdadeiramente o Salvador do Cristão como é o Senhor Jesus, e assim também é o Espírito Santo, note como o Pai é expressamente designado “Deus, nosso Salvador” em Tito 3:4, como distinto de “Jesus Cristo, nosso Salvador” no versículo 5. Mas isso é ignorado e perdido de vista, se esta doutrina preciosa for omitida. A predestinação pertence ao Pai, a propiciação ao Filho, a regeneração ao Espírito. O Pai originou, o Filho efetuou nossa salvação, e pelo Espírito ela é consumada. Repudiar o primeiro é retirar o próprio fundamento.

 

Considere isso, agora, do lado humano: a eleição está na própria base da esperança de um pecador. Por natureza, todos são filhos da ira. Na prática, todos se desviaram. O mundo inteiro tornou-se culpado diante de Deus, todos estão expostos à ira, e se deixados a si mesmos estariam envolvidos em uma ruína comum. Eles são “barro da mesma massa”, e continuando sob a mão formadora da natureza seriam todos “vasos para desonra” (Romanos 9:21). Quem quer que seja salvo, é pela graça de Deus (Romanos 11:4-7). Jesus Cristo, o redentor dos pecadores, Ele mesmo é o Eleito, como descrito pelo profeta (Isaías 42:1). E todos os que alguma vez serão salvos, são eleitos nEle, dados a Ele pelo Pai, escolhidos nEle antes da fundação do mundo. Foi para realizar a salvação que Deus entregou o Seu Filho unigênito, e que Jesus Cristo assumiu a nossa natureza e deu Sua vida em resgate.

 

É para chamar os eleitos que as Escrituras são dadas, que os ministros são enviados, que o Evangelho é pregado, e que o Espírito Santo está aqui. É para realizar a eleição que os homens são ensinados por Deus, atraídos pelo Pai, regenerados pelo Espírito Santo, feitos participantes da fé preciosa, dotados com o espírito de adoção, de oração e de santidade. É em consequência de sua eleição que os homens são feitos obedientes ao Evangelho, são santificados pelo Espírito, e tornam-se santos e irrepreensíveis diante de Deus. Se não houvesse eleição Divina, não haveria salvação Divina. E isso não é uma afirmação meramente arbitrária de nossa parte: “E como antes disse Isaías: Se o Senhor dos Exércitos nos não deixara descendência, teríamos nos tornado como Sodoma, e teríamos sido feitos como Gomorra” (Romanos 9:29). Pecadores perdidos não podem se salvar. Deus não tinha nenhuma obrigação de salvá-los. Se Ele Se agradou em salvar, Ele salva a quem quer.

 

A eleição não apenas está no fundamento da esperança de um pecador, mas também acompanha cada passo do progresso do Cristão para o Céu. Traz-lhe as boas novas de salvação. Ela abre seu coração para receber o Salvador. Ela é vista em cada ato de fé, em cada dever sagrado, e em cada oração eficaz. Ela o chama. Ela o vivifica em Cristo. Ela adorna a sua alma. Ela o coroa com justiça, vida e glória. Ela contém em si a garantia preciosa que “aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Filipenses 1:6). Não havia nada neles que levou Deus a escolhê-los como Seu povo; e Ele então lida com eles, para não permitir que qualquer coisa neles ou a partir deles leve-os a reverter essa escolha. Como Romanos 8:30 então definitivamente indica, a predestinação envolve glorificação e, portanto, garante o suprimento de todas as necessidades dos escolhidos entre os dois.

 

Em terceiro lugar, a bem-aventurança dessa doutrina aparece em seus elementos essenciais. Destacaremos três ou quatro dos principais dentre estes. Em primeiro lugar, a honra superlativa de ser escolhido por Deus. Em todas as escolhas que a pessoa faz, coloca um valor sobre o escolhido. Pois, ser selecionado por um rei a um ofício, ou ser chamado para algum emprego pelo Estado, será algo que dará dignidade para um homem. Assim ocorre nos assuntos espirituais. Foi um elogio especial sobre Tito que ele havia sido “escolhido das igrejas” (2 Coríntios 8:19). Mas que o grande Deus, o potentado bendito e único, escolha essas criaturas miseráveis, desprezíveis, inúteis e vis como nós somos, excede todo o entendimento. Pondere em 1 Coríntios 1:26-29, e veja como isso está ali colocado. Como a escolha de Deus deve nos maravilhar. Como ela deve nos humilhar. Observe como essa ênfase honrosa é colocada sobre o Senhor Jesus: “Eis o meu servo, a quem escolhi” (Mateus 12:18); assim sobre Seus membros também: “por causa dos eleitos que escolheu” (Marcos 13:20).

 

Mais uma vez; a consequente excelência disso. Eles são os eleitos: os que Deus escolheu, e isso não lhes confere necessariamente uma excelência elevada, valiosa, honrosa? Os escolhidos de Deus, devem ser excelentes; é o ato de Deus que os torna assim. Observe a ordem em 1 Pedro 2:6: “pedra angular, eleita e preciosa”, preciosa porque eleita. Pegue o mais eminente dos santos de Deus, e qual é o seu maior título e honra? Este: “Por amor de Davi, meu servo, a quem escolhi” (1 Reis 11:34). “Enviou Moisés, seu servo, e Arão, a quem escolhera” (Salmos 105:26). Paulo “este é para mim um vaso escolhido” (Atos 9:15). “Mas vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido” (1 Pedro 2:9), ou seja, eleitos. Essa expressão é retirada de “sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos” (Êxodo 19:5). Isso implica o que é precioso a Deus: “Visto que foste precioso aos meus olhos, também foste honrado, e eu te amei” (Isaías 43:4).

 

Mais uma vez, observe a plenitude desse alto privilégio. “Bem-aventurado aquele a quem tu escolhes, e fazes chegar a ti, para que habite em teus átrios” (Salmos 65:4); sim, ele é “abençoado para sempre” (Salmos 21:6), ou como o Hebraico o apresenta: “separado para bênçãos”, isto é, separado ou nomeado para nenhuma outra coisa, senão para bênçãos. Como o Novo Testamento expressa: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo; como também nos elegeu nele” (Efésios 1:3-4). Eleição, então, é a fonte do tesouro de toda bem-aventurança. Os eleitos são escolhidos para uma maior aproximação e união a Deus que é possível para as criaturas, para a maior comunhão com Ele próprio. Considere também o tempo em que Ele nos escolheu, Paulo o datou: “o princípio” (2 Tessalonicenses 2:13). Deus nos amou desde que Ele era Deus, e enquanto Ele for Deus, Ele continuará a nos amar. Deus é desde a eternidade e Ele continua sendo Deus pela eternidade (Salmos 90:2), e Seu amor por nós é muitíssimo antigo: “Com amor eterno te amei” [Jeremias 31:3]. E o Seu amor é como Ele mesmo: sem causa, imutável, infinito.

 

A bem-aventurança da eleição aparece novamente na comparativa raridade dos eleitos. A escassez de homens desfrutando algum privilégio o magnifica, como no caso da preservação de Noé e sua família: “a arca; na qual poucas (isto é, oito) almas se salvaram” (1 Pedro 3:20). Que contraste foi isso, em relação a todo o mundo “dos ímpios”, pois todos pereceram! O mesmo fato e contraste foram enfatizados por Cristo em Lucas 12: “Porque as nações do mundo buscam todas essas coisas” (v. 30), ou seja, as coisas temporais e carnais, e Deus concede as tais para eles. Mas, em oposição a isso, o Senhor diz: “Não temais, ó pequeno rebanho, porque a vosso Pai agradou dar-vos o reino” (v. 32). Seu propósito era mostrar a mais grandiosa misericórdia de Deus, visto que tão poucos são reservados aos favores espirituais e eternos, enquanto todos os outros têm apenas coisas materiais e temporais como a sua porção.

 

Como esse fato solene deve afetar os nossos corações. Volte seus olhos, caro leitor, sobre o mundo de hoje, e olha para ele, o que você contemplará? Você não é compelido a dizer sobre a atual geração, em todas as nações semelhantemente, que Deus as deixou a caminhar “em seus próprios caminhos?”. Não devemos concluir tristemente sobre os homens e mulheres desta época que “todo o mundo está no maligno” (1 João 5:19)? O número escasso dos que são de Deus, são, na verdade poucos semeados, um pequeno punhado colhido em comparação com toda a grande safra da humanidade. E que não seja esquecido que o que aparece agora diante de nossos olhos, é apenas a realização daquilo que foi preordenado na eternidade. Não há um Deus frustrado e derrotado no trono do universo. Ele tem o Seu caminho “na tormenta e na tempestade” (Naum 1:3).

 

E mais uma vez nós dizemos o quão profundamente esse contraste surpreendente deve afetar nossos corações. “Pois alguns serem escolhidos e salvos, quando uma multidão, sim, a generalidade dos outros devem padecer a perecer, como isso aumenta a misericórdia e a graça da salvação para nós; pois Deus, em Sua providência ordenou muitos meios exteriores para resgatar alguns, os quais Ele nega aos outros, que perecem. Como isso deve afetar as pessoas que são preservadas? Quanto mais quando essa é “uma tão grande salvação” (Thomas Goodwin). Isso aparece a partir do que eram tipos e meras sombras disso nos tempos do Antigo Testamento, como no caso de somente a única e pequena família de Noé sendo poupada do dilúvio universal. Assim, também, pelo exemplo de Ló, retirado de Sodoma pela mão dos anjos. E por quê? “Sendo-lhe o Senhor misericordioso”, diz Gênesis 19:16. Observe que profundo senso e valorização que Ló teve sobre o mesmo: “Eis que agora o teu servo tem achado graça aos teus olhos, e engrandeceste a tua misericórdia que a mim me fizeste, para guardar a minha alma em vida” (Gênesis 19:19).

 

Porém, há mais isso a ser considerado: a nossa libertação de uma condição de semelhante miséria e ira, como a que pertence ao não-eleito, que não está mencionada nos casos acima. Noé era “homem justo e perfeito em suas gerações” (Gênesis 6:9), e Ló era “justo” e “enfadado da vida dissoluta dos homens abomináveis” (2 Pedro 2:7-8). Eles não eram culpados daqueles pecados terríveis pelos quais Deus enviou aos seus semelhantes a inundações e incêndios. Mas quando nós somos ordenados para a salvação, estamos diante de Deus em uma condição de semelhante corrupção e culpa como toda a humanidade. Foi apenas o decreto soberano de um Deus soberano que determinou o nosso ser trazido para fora de um estado de pecado e ira, para um estado de graça e justiça. Quão estupenda, então, foi a misericórdia de Deus para conosco, em fazer esta diferença (1 Coríntios 4:7) entre aqueles em quem não havia “nenhuma diferença” (Romanos 3:22)! Oh! que amor, que obediência de todo o coração, que louvor são devidos a Ele.

 

Em quarto lugar, a bem-aventurança dessa doutrina aparece em que uma verdadeira apreensão da mesma é um grande promotor da santidade. De acordo com o propósito Divino, os eleitos são destinados a uma santa vocação (2 Timóteo 1:9). Na realização desse propósito, eles são real e efetivamente trazidos à santidade. Deus os separa de um mundo ímpio. Ele escreve no coração deles a Sua Lei e afixa neles o Seu selo. Eles são feitos participantes da natureza Divina, sendo renovados à imagem dAquele que os criou. Eles são uma habitação de Deus, seus corpos se tornam o templo do Espírito Santo, e eles são conduzidos por Ele. Uma mudança gloriosa é, portanto, neles operada, transformando seu caráter e conduta. Eles lavam as suas vestiduras e as branqueiam no sangue do Cordeiro. Para eles, as coisas velhas já passaram e tudo se fez novo. Esquecendo-se das coisas que atrás ficam, eles prosseguem para as coisas que estão diante. Eles são reis e sacerdotes para Deus e, ainda serão adornados com coroas de glória.

 

Há aqueles que, em sua ignorância, dizem que a doutrina da eleição é uma doutrina licenciosa, que a crença nela é avaliada como algo que leva a produzir descuido e uma sensação de segurança enquanto se vive em pecado. Essa acusação é uma reflexão blasfema sobre o seu autor Divino. Esta verdade, como nós mostramos longamente, ocupa um lugar de destaque na Palavra de Deus, e esta Palavra é santa, e toda ela útil para a instrução na justiça (2 Timóteo 3:16). Todos e cada um dos apóstolos criam e ensinavam essa doutrina, e eles foram os promotores de piedade e não incentivadores da vida relaxada. É verdade que esta doutrina, como todas as outras Escrituras, pode ser pervertida por homens ímpios e colocada em mau uso, mas até agora, enquanto militando contra a verdade, isso apenas serve para demonstrar a temível extensão da depravação humana. Nós também admitimos que homens não-regenerados podem intelectualmente defender essa doutrina e, em então, firmarem-se em uma inércia fatal. Mas nós enfaticamente negamos que uma recepção dela, de coração, produzirá qualquer efeito tal como este.

 

Que fé, obediência, santidade são as consequências inseparáveis e frutos da eleição é inequivocamente claro a partir das Escrituras (Atos 13:48; Efésios 1:4; 1 Tessalonicenses 1:4-7, Tito 1:1), e tem sido totalmente estabelecido por nós nos capítulos anteriores. Como pode ser de outra forma? A eleição sempre envolve regeneração e santificação, e quando uma alma regenerada e santificada descobre que ela deve a sua renovação espiritual unicamente à soberana predestinação de Deus, o que ela pode ser, senão verdadeiramente agradecida e profundamente grata? E de que outra maneira ela pode expressar sua gratidão, do que em um santo caminhar de obediência frutífera? Uma apreensão do amor eterno de Deus por ela necessariamente despertará nela um amor sensível a Deus, e onde quer que este exista, haverá um esforço sincero para agradá-lO em todas as coisas. O fato é que um sentido espiritual da distintiva graça de Deus é o mais poderoso motivo de constrangimento para a piedade genuína.

 

Se entrássemos em detalhes sobre os principais elementos da santidade neste capítulo, isso seria prorrogado por tempo indeterminado. Uma devida atenção ao fato de que não havia nada em nós que moveu Deus a fixar Seu coração sobre nós, e que Ele nos previu como criaturas arruinadas e merecedores do inferno, humilhará as nossas almas como nada mais o fará. A compreensão espiritual que todos os nossos interesses estão inteiramente à disposição de Deus, operará em nós uma submissão à Sua vontade soberana como nada mais pode. O fato de percebemos que Deus colocou Seu coração sobre nós desde a eternidade, nos escolhendo para ser Seu tesouro peculiar, operará em nós um desprezo pelo mundo. O conhecimento de que outros Cristãos são os eleitos e amados de Deus evocará amor e bondade por eles. A garantia de que o propósito eterno de Deus é imutável e assegura o suprimento de todas as nossas necessidades comunicará consolo sólido em cada tribulação.
 

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