Adoração, por A. W. Pink

Uma das falácias mais graves e destruidora de almas dos nossos dias é que as almas não-regeneradas são capazes de adorar a Deus. Provavelmente o maior motivo deste erro ter ganhado tanto terreno é a ignorância generalizada que prevalece sobre a…

 

A Genuína Natureza da Verdadeira Adoração

 

As pessoas imaginam que se participarem de um culto, comportarem-se com reverência, juntarem-se ao canto dos hinos, ouvirem respeitosamente o pregador e contribuírem para a oferta, elas realmente adoraram a Deus. Pobres almas iludidas, uma ilusão que se agrava pelo ofício sacerdotal enxertado no pregador moderno. Contra esta ilusão estão as palavras de Cristo em João 4:24, que são surpreendentes em sua simplicidade e pungência: “Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade”.

 

Adoração Vã e Falsa

 

“Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, Mas o seu coração está longe de mim; em vão, porém, me honram, ensinando doutrinas que são mandamentos de homens” (Marcos 7:6-7). Estas palavras solenes foram ditas pelo Senhor Jesus aos escribas e fariseus. Eles vieram a Ele com a queixa de que Seus discípulos não se conformavam com as suas tradições e práticas relacionadas com lavagens cerimoniais e limpezas. Em Sua resposta, Cristo expôs a inutilidade de sua religião…

 

Estes escribas e fariseus estavam levantando a questão do cerimonial “lavar as mãos”, enquanto seus corações permaneciam sujos perante Deus. Ah, caro leitor, as tradições dos antigos podem ser diligentemente atendidas, suas ordenanças religiosas observadas estritamente, suas doutrinas devotamente mantidas, e ainda a consciência nunca ter sido examinada na presença de Deus por uma razão pecaminosa. O fato é que a religião é um dos maiores obstáculos para que a verdade de Deus abençoe as almas dos homens.

 

A verdade de Deus é dirigida a nós levando em conta que Deus e o homem estão tão apartados quanto o pecado está da santidade, portanto, a sua primeira grande necessidade é a purificação e a reconciliação. Mas a palavra “religião” se deriva do pressuposto de que os homens depravados e culpados podem ter relações com Deus, podem se aproximar dEle, sim, através do culto e de servi-lO. Em todo o mundo, a religião humana é baseada na falácia de que o homem pecador e caído pode ter relações com Deus. A religião é o principal meio usado por Satanás para cegar os homens quanto à sua condição verdadeira e terrível. É o anestésico do diabo para fazer pecadores perdidos se sentirem confortáveis e tranquilos enquanto encontram-se culpados e distantes de Deus. Ela esconde Deus deles em Seu verdadeiro caráter, como um Deus santo que é “tão puro de olhos, que não pode contemplar o mal” (Habacuque 1:13).

 

Uma inundação de luz é lançada sobre este lado do nosso tema se ponderarmos com atenção o terrível incidente registrado em Mateus 4:8-9. “Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”. O Diabo procura adoração. Quão poucos na Cristandade estão cientes disso, ou percebem que as principais atividades do inimigo são exercidas no âmbito religioso!

 

Ouça o testemunho de Deuteronômio 32:17: “Sacrifícios ofereceram aos demônios, não a Deus; aos deuses que não conheceram”. Isso se refere a Israel, nos primeiros dias de sua apostasia. Ouça novamente 1 Coríntios 10:20: “Antes digo que as coisas que os gentios sacrificam, as sacrificam aos demônios, e não a Deus. E não quero que sejais participantes com os demônios”. Oh, que a luz lance fora as idolatrias e abominações do paganismo! Ouça novamente a 2 Coríntios 4:4: “Nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus”. Isto significa que Satanás é o inspirador e o líder da religião do mundo. Sim, ele busca adoração, e é o principal promotor de toda falsa adoração.

 

A Exclusividade da Verdadeira Adoração

 

“Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (João 4:24). Este “importa” é definitivo; não há alternativa, não há escolha neste assunto. Não é a primeira vez que temos esta palavra muito enfática no Evangelho de João. Existem dois versículos notáveis ??em que ocorre anteriormente. “Não te maravilhes de te ter dito: Necessário vos é nascer de novo” (João 3:7). “E, como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado” (João 3:14). Cada uma dessas três “necessidades” é igualmente importante e inequívoca. A primeira faz referência a Deus Espírito, pois é Ele quem regenera. A segunda refere-se à obra de Deus, o Filho, pois Ele é quem fez expiação pelo pecado. A terceira faz referência a Deus, o Pai, pois Ele é que busca adoradores (João 4:23). Esta ordem não pode ser alterada, a saber, que somente aqueles que nasceram do Espírito, e que estão descansando sobre a obra expiatória de Cristo são os que podem adorar o Pai.

 

Citando novamente as palavras de Cristo para os religiosos dos Seus dias: “Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim; em vão me adoram”. Ah, meu leitor, o mundano pode ser um filantropo generoso, um religioso sincero, um denominacionalista zeloso, um membro de igreja devoto, um assíduo participante da comunhão, mas ainda assim ele não é mais capaz de adorar a Deus do que um homem mudo é de cantar. Caim tentou, e falhou. Ele não era irreligioso, ele “trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor” (Gênesis 4:3). Mas “para Caim e para a sua oferta não atentou” [Gênesis 4:5]. Por quê? Porque ele negou a sua condição arruinada e sua necessidade de um sacrifício expiatório.

 

A fim de adorar a Deus, Deus deve ser conhecido, e Ele não pode ser conhecido à parte de Cristo. Muito pode ser pregado e crido acerca de um “Deus” teórico ou teológico, mas Ele não pode ser conhecido à parte do Senhor Jesus. Disse ele: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim” (João 14:6). Portanto, é um faz de conta, uma ilusão fatal do pecado, uma farsa ímpia, fazer com que as pessoas não-regeneradas imaginem que elas possam adorar a Deus. Enquanto o pecador permanece longe de Cristo, ele é o “inimigo” de Deus, um filho da ira. Como, então, ele pode adorar a Deus? Enquanto ele permanece em seu estado não-regenerado ele está “morto em delitos e pecados” [Efésios 2:1]; como, então, ele pode adorar a Deus?

 

O que acaba de ser dito acima é quase universalmente repudiado hoje, e repudiado em nome da religião. E, repetimos, religião é o principal instrumento usado pelo diabo para enganar almas, pois ele insiste — seja a “religião budista” ou a “religião cristã” — que o homem, ainda em seus pecados, pode relacionar-se com, e aproximar-se do Deus três vezes santo. Negar isso é provocar a inimizade e chamar sobre si a oposição de todos os meros religiosos. Sim, foi exatamente isso que levou Cristo a ser odiado impiedosamente pelos religiosos de Seus dias. Ele refutou suas afirmações, expôs sua hipocrisia e então provocou a sua ira.

 

Para os “príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo” (Mateus 21:23), Cristo disse: “Em verdade vos digo que os publicanos e as meretrizes entram adiante de vós no reino de Deus” (Mateus 21:31), e no final de seu discurso isto é acrescentado: “pretenderam prendê-lo” (v. 46). Eles cuidavam das coisas exteriores, mas seu estado interno foi negligenciado. E, por que os “publicanos e as meretrizes” entrariam no reino de Deus antes deles? Porque nenhuma pretensão religiosa estava em seu caminho; eles não tinham profissão hipócrita para manter a todo custo, nenhuma reputação piedosa para preservar. Sob a pregação da Palavra eles foram condenados por sua condição perdida, por isso tomaram seu verdadeiro lugar diante de Deus e foram salvos. Somente tais podem ser adoradores.

 

A Natureza da Verdadeira Adoração

 

“Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade” (João 4:24). Adorar “em espírito” é usado para contrastar com os ritos e cerimônias carnais imponentes do Judaísmo. Adorar “em verdade” se opõe às superstições e ilusões idólatras dos pagãos. Adorar a Deus “em espírito e em verdade” significa: de forma adequada à revelação plena e definitiva que Deus já fez de Si mesmo em Cristo. Significa adorar espiritual e verdadeiramente. Significa dar a Ele a homenagem de um entendimento iluminado e o amor de um coração regenerado.

 

Adorar “em espírito e em verdade” se opõe a uma adoração carnal que é exterior e espetacular. Isto impede toda a adoração de Deus por meio dos sentidos. Nós não podemos adorar Quem é “Espírito”, por olhar para a arquitetura ornamentada e vitrais, ouvindo os estrondos de um órgão caro, pelo cheiro bom do incenso ou pelo “contar” de contas. Nós não podemos adorar a Deus com nossos olhos e ouvidos, ou nariz e mãos, pois eles são “carne” e não “espírito”. “O adorem em espírito e em verdade” exclui tudo o que é do homem natural.

 

Adorar “em espírito e em verdade” lança fora toda a adoração social. A alma é a sede das emoções, e muito do chamado culto na atual Cristandade é apenas social. Histórias tocantes, apelos comoventes, oratória emocionante de caráter religioso, são todos calculados para produzir isso mesmo. Hinos bonitos por um coro bem treinado, entoados de tal forma a levar a lágrimas ou a êxtases de alegria podem comover a alma, mas não vão e nem podem afetar o homem interior.

 

A verdadeira adoração é a adoração de um povo redimido, ocupado com o próprio Deus. O não-regenerado olha para a “adoração” como uma reverência que Deus exige deles, e algo que não lhes dá nenhuma alegria quando eles a praticam. Muito diferente é com aqueles que foram nascidos de cima e redimidos pelo precioso sangue. A primeira vez que a palavra “redimido” ocorre na Escritura é em Êxodo 15, e é lá também, pela primeira vez, que vemos um povo “cantando”, louvando, adorando o próprio Deus. Lá, nas margens distantes do Mar Vermelho, a nação que tinha sido tirada da casa da servidão e libertada de todos os seus inimigos estava unida em louvor a Jeová.

“Adoração” é a nova natureza no crente posta em atividade, voltando-se para a sua fonte Divina e celeste. É o que é “espírito” (João 3:6) voltando-se para Aquele, que é “Espírito”. É aquele que é a “obra” de Cristo (Efésios 2:10) voltando-se para Ele, que nos recriou. São os filhos de forma espontânea e com gratidão voltando-se em amor em direção ao seu Pai. É o novo coração gritando: “Graças a Deus pelo Seu dom inefável” (2 Coríntios. 9:15). São pecadores, purificados pelo sangue, exclamando: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo” (Efésios 1:3). Isso é adoração; a garantia de nossa aceitação no Amado, adorando a Deus por Ele ter nos dado a Cristo, e por Ele nos ter feito para estarmos em Cristo.

 

É digno de nossa atenção observar que a única vez que o Senhor Jesus falou sobre o assunto da adoração foi em João 4. Tanto Mateus 4:9 e Marcos 7.6-7 foram citações do Antigo Testamento. Com efeito, devemos aplicar os nossos corações para descobrir que a única ocasião em que Cristo fez observações diretas e pessoais sobre a adoração foi quando Ele estava falando, e não para um homem religioso como Nicodemos, nem mesmo aos seus apóstolos, mas, para uma mulher, uma adúltera, uma samaritana, uma semi-pagã! Verdadeiramente os caminhos de Deus são diferentes dos nossos.

 

Para aquela pobre mulher nosso bendito Senhor declarou: “A hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem” (João 4:23). E como é que o Pai “busca” adoradores? O contexto não nos ofereceu a resposta? No início do capítulo, o Filho de Deus é visto em uma jornada (vv. 3-4). Seu objetivo era buscar uma de Suas ovelhas perdidas, revelar-Se a uma alma que não O conhecia, para apartá-la das concupiscências da carne, e encher seu coração com a Sua graça que traz contentamento; e isto, a fim de que ela pudesse atender aos anseios do amor Divino e dar em troca o louvor e a adoração que só um pecador salvo pode dar.

 

Quem pode deixar de ver na jornada que Ele rumou a Sicar a fim de encontrar essa alma desolada e ganhá-la para Si mesmo, que nós temos um prenúncio mais abençoado desta ainda maior viagem que o Filho de Deus empreendeu, deixando a paz do céu, felicidade e luz, vindo a este mundo de contendas, escuridão e miséria. Ele veio aqui para buscar os pecadores, não só para salvá-los do pecado e da morte, mas para dar-lhes de beber e desfrutar do amor de Deus como nenhum anjo pode apreciá-lo; para que a partir de corações transbordantes com a consciência de sua dívida para com o Salvador e gratidão pelo Pai ter dado o Seu Amado Filho para eles; percebendo e aceitando a Sua excelência superlativa, eles podem derramar perante Ele o incenso de louvor. Isto é adoração, e a lembrança do amor buscador de Deus e do sangue redentor de Cristo são as nascentes da mesma.

Um dos exemplos mais abençoados e belos registrados no Novo Testamento do que é a adoração, encontra-se em João 12:2-3: “Fizeram-lhe, pois, ali uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. Então Maria, tomando um arrátel de unguento de nardo puro, de muito preço, ungiu os pés de Jesus, e enxugou-lhe os pés com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do unguento”. Como alguém já disse: “Ela não veio para ouvir um sermão, apesar do Príncipe dos pregadores estar ali; pois sentar-se aos Seus pés e ouvir a Sua Palavra não era agora seu objetivo, abençoada como esta era, estava em seu devido lugar. Ela não veio para atender aos santos embora preciosos santos estavam lá; a comunhão com eles, embora fosse abençoada, não era agora seu objetivo. Ela não veio, depois de uma semana de trabalho árduo, para refrescar-se; embora nenhum deles conhecia melhor as fontes abençoadas do refrigério que estão nEle. Não, ela veio para derramar sobre Ele o que ela tinha por muito tempo guardado, que era o mais valioso do que todos os seus bens terrenos. Ela não pensou sobre Simão, o leproso, sentando-se ali como um homem purificado; ela passou pelos apóstolos; passou também por Marta e Lázaro, sua irmã e irmão na carne e em Cristo. O Senhor Jesus encheu seus pensamentos, Ele ganhou o coração dela e absorvia agora todos os seus afetos. Ela tinha olhos para ninguém a não ser para Ele. Adoração e honra eram ali os seus únicos pensamentos, de modo a derramar a devoção do seu coração diante dEle”. Isso é adoração.

 

O tema da adoração é muitíssimo importante, no entanto, é algo sobre o qual muitos têm ideias muito vagas. Lemos em Mateus 2, sobre os magos “abrindo os seus tesouros” para os apresentarem a Cristo (v. 11). Trouxeram-lhe ricas “dádivas”. Isso é adoração. Não é algo que vem para receber dEle, mas para render-Lhe. É o derramamento da adoração do coração. Oh! que nós possamos trazer para o Salvador “ouro, incenso e mirra”, ou seja, adorá-lO por causa da Sua Divina glória, Sua perfeição moral, a Sua morte perfumada.

 

O objeto de adoração é Deus, o inspirador da adoração é Deus. Somente pode satisfazer a Deus o que Ele próprio produziu. “Senhor… tu és o que fizeste em nós todas as nossas obras” (Isaías 26:12). É somente à medida que o Cordeiro é exaltado no poder do Espírito que os santos são levados a clamar: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus meu Salvador” (Lucas 1:46-47). A ausência geral e evidente do que é a adoração é “em espírito e em verdade” é devido a uma ordem de coisas sobre as quais o Espírito de Deus não preside, onde o mundo, a carne e o diabo têm livre atuação. Todavia, mesmo em círculos onde o mundanismo, nas suas formas mais grosseiras, pelo menos, não é tolerado, e onde a ortodoxia exterior ainda é preservada, há, quase sempre, uma ausência notável desta unção, desta liberdade, desta alegria, que são inseparáveis ??do espírito da verdadeira adoração. Por que isso? Por que em várias igrejas, casas de reuniões, assembleias de irmãos, onde a letra da Palavra de Deus é ministrada, agora tão raramente encontram-se esses transbordamentos de coração, essas explosões espontâneas de adoração, este “sacrifício de louvor”, que deve sempre ser encontrado entre o povo de Deus? Ah, a resposta é difícil de encontrar? É porque há um espírito de tristeza em seu meio. Isto, meus irmãos, é a razão pela qual há tão pouca vida, refrigério e adoração sendo produzida no ministério de Cristo hoje.

 

Obstáculos à Adoração

 

O que é adoração? Louvor? Sim, porém é mais; a adoração é aquela que flui de um coração que está totalmente certo da excelência dAquele diante de quem ele se curva, expressando a sua mais profunda gratidão pelo Seu dom inefável. Está ao mesmo tempo evidente que o primeiro obstáculo para a adoração de um filho de Deus é a falta de certeza. Enquanto eu entreter dúvidas quanto à minha aceitação em Cristo, enquanto eu permanecer em um estado de incerteza quanto a saber se os meus pecados foram expiados no Calvário, não posso, realmente, louvá-lO e adorá-lO por Sua morte por mim; eu não posso realmente dizer: “O meu amado é meu, e eu sou dele” [Cânticos 2:16]. É um dos dispositivos favoritos do inimigo manter os Cristãos no “Pântano do Desânimo”, sendo assim o seu objetivo que Cristo não receba deles a homenagem de seus corações…

 

Outro grande obstáculo para a adoração é a incapacidade de julgarmos a nós mesmos pela santa Palavra de Deus. Os sacerdotes de Israel não permaneciam no altar de bronze no átrio exterior do tabernáculo. É preciso salientar que, antes de passar para o lugar santo, para ali queimar o incenso, eles eram obrigados a lavar-se na pia. A aproximação até a pia de bronze fala do julgamento implacável do crente de e sobre si mesmo (cf. 1 Coríntios 11:31). A utilização desta água aponta para a aplicação da Palavra a todas as nossas obras e formas.

 

Ora, assim como os filhos de Arão eram obrigados, sob pena de morte (Êxodo 30:20) a lavarem-se na pia antes de entrarem no santuário para queimar o incenso, assim importa que o Cristão de hoje tenha as impurezas de seu caminho removidas antes que ele possa achegar-se adequadamente a Deus, como um adorador. A falha nesse ponto traz a morte, ou seja, eu permaneço sob o poder contaminante das coisas mortas. As impurezas do caminho são o resultado da minha passagem através de um mundo que é separado da vida de Deus (Efésios 4:18). Se estas não forem removidas, então eu continuo sob o poder da morte espiritual, e a adoração se torna impossível. Isso é totalmente demonstrado em João 13, onde o Senhor disse a Pedro: “Se eu não te lavar, não tens parte comigo”. Quantos Cristãos há que, por falta de colocar seus pés nas mãos de Cristo para a limpeza, são impedidos de exercer suas funções e privilégios sacerdotais.

Um outro obstáculo fatal à adoração precisa ser mencionado, que é o mundanismo, o que significa que as coisas do mundo obtêm um lugar na afeição do Cristão, seus caminhos se tornam “conformes com este mundo” (Romanos 12:2). Um exemplo disto é encontrado na história de Abraão. Quando Deus o chamou para deixar a Caldéia e ir para Canaã, ele comprometeu-se, pois ele foi apenas até Harã (Gênesis 11:31, Atos 7:4) e se estabeleceu ali. Harã estava a meio caminho para casa, o deserto ficava entre ela e as fronteiras de Canaã. Mais tarde, Abraão respondeu plenamente ao chamado de Deus e entrou em Canaã, e ali, “ele edificou um altar [que fala de adoração] ao Senhor” (Gênesis 12:7). Mas não há nenhuma menção de construção de qualquer “altar” durante os anos que morava em Harã! Oh, quantos filhos de Deus hoje estão comprometidos, habitando a meio caminho de Casa, e em consequência, eles não são fiéis. Oh, que o Espírito de Deus assim opere em e sobre todos nós para que a linguagem de nossas vidas, bem como a de nossos corações e lábios, possa ser “Digno é o Cordeiro”, digno de consagração de todo o coração, digno de devoção irrestrita, digno desse amor que se manifesta ao guardar os Seus mandamentos, digno de adoração verdadeira, que assim seja por amor do Seu nome.
 

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