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As Duas Eras

Este texto é um trecho do livro “Os 5 Pontos do Amilenismo“, por Jeffrey D. Johnson. Este livro atualmente está à venda em nosso site.

Esses dois estágios do reino de Deus (estágio um, inauguração, e estágio dois, consumação) podem ser vistas nas duas eras (ou períodos maiores de tempo) de que se fala no Novo Testamento: esta presente maligna e a era vindoura (Gálatas 1:4; Efésios 1:21). A primeira vinda introduziu a era vindoura, e a segunda vinda acabará com essa atual era maligna. Mas o que são essas duas eras ou períodos de tempo?

A Presente Era Maligna

Esta presente era maligna, segundo as Escrituras, é o período de tempo que se estende desde a queda de Adão até a segunda vinda de Cristo (Mateus 28:20). A presente era da maligna é o período de tempo em que a escuridão, a escravidão, a injustiça, o pecado e a morte reinam sobre a terra. A era maligna atual perdurará enquanto houver pecado no mundo.

Segundo Cristo, os descrentes nascem neste mundo caído como “filhos desta era” (Lucas 20:34, CSB), e segundo Paulo, os filhos desta era são mantidos cativos ao poder “do presente século mau” (Gálatas 1:4-5). Essa era maligna atual, consequentemente, é o reinado do reino das trevas sobre os povos e as nações desta era (Apocalipse 18:3).

A Era Vindoura

Se esta era maligna atual é o período de tempo em que o mal habita na terra, então a era vindoura é o período em que a justiça habitará na terra (2 Pedro 3:13). E embora a era vindoura não será plenamente realizada até a criação da nova terra, onde somente a justiça habita, as primícias da era vindoura já foram introduzidas nessa presente era maligna. Desde a primeira vinda de Cristo, como demonstrado por sua própria ressurreição, o poder da era vindoura entrou no mundo. E como o poder do Cristo ressuscitado continua a transformar pecadores mortos em novas criaturas (2 Coríntios 5:17), o poder da era vindoura continua a operar nesta presente era maligna.

O poder da era vindoura, portanto, está sendo manifestado na terra dentro dos corações dos crentes (Tito 2:11-13). Aqueles que foram unidos, pela fé, ao Rei da glória “E provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes da era vindoura” (Hebreus 6:5). Eles foram libertados do domínio e reino das trevas e transportados para o reino do amado Filho de Deus (Colossenses 1:13). Em outras palavras, o poder e as bênçãos da era futura já começaram em parte na vida dos crentes (Lucas 17:20-21; João 18:36).

Escatologia Inaugurada

A inauguração do poder da era vindoura nesta presente era maligna é um antegozo do céu. É uma porção do poder, da justiça e da glória do estado eterno. Anthony Hoekema identificou isso como a escatologia inaugurada. “A escatologia inaugurada”, segundo Hoekema, “implica que a escatologia de fato começou, mas não está de forma alguma terminada”.[1] A escatologia inaugurada é o Cristo ressuscitado introduzindo dentro das vidas de seus seguidores as primícias do estado eterno (isto é, o éschaton).

Eras que se Sobrepõem

Embora o poder do futuro já tenha sido inaugurado, o poder das trevas não é uma coisa do passado. O poder e o domínio desta presente era maligna ainda tem um controle sobre todos os filhos das trevas. Isso tem várias implicações:

Primeira, isso implica que embora o poder do reino dos céus esteja presente na vida dos crentes, ele ainda não se manifestou sobre os reinos deste mundo. O mundo nada sabe sobre a vida, o poder, a liberdade e a paz do reino de Deus. As nações e governantes desta era permanecem na escuridão e sob o domínio de Satanás.

Segunda, isso implica que a era maligna atual e a era que está por vir estão atualmente sobrepostas. Entre a primeira e a segunda vinda de Cristo, as duas eras são paralelas. Embora a era vindoura tenha sido introduzida, a presente era maligna ainda não expirou completamente.

E terceira, isso implica, segundo W. J. Grier, que “o mundo celeste e a esfera terrestre agora são estados paralelos, aos quais o crente pertence”.[2] Em outras palavras, os crentes se encontram vivendo em dois reinos ao mesmo tempo. Por um lado, os crentes são cidadãos do reino dos céus e já experimentaram o poder da era vindoura. Por outro lado, os crentes ainda vivem neste mundo caído e experimentam os efeitos e influências atuais do reino das trevas.

Os crentes experimentam a tensão entre as duas eras de duas maneiras: (1) em suas próprias vidas e (2) no do mundo em que vivem.

Primeira, em suas próprias vidas, os crentes experimentam os efeitos malignos desta presente era má em seus corpos decadentes enquanto experimentam os efeitos redentores da era vindoura em suas mentes e corações renovados. Os crentes não apenas lutam contra os desejos pecaminosos, eles sentem os efeitos contínuos do pecado em seus corpos em decadência. Embora seu homem interior seja renovado dia após dia à imagem de Cristo, seu homem exterior está perecendo (2 Coríntios 4:16). Portanto, porque “a nossa cidade está nos céus”, disse o apóstolo Paulo, “esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Filipenses 3:20-21).

Segunda, experimentamos a tensão entre as duas eras enquanto vivemos como cidadãos do céu e deste mundo. Esta era maligna atual não passará até a segunda vinda de Cristo. Até lá, fomos enviados ao mundo como ovelhas ao meio de lobos (Mateus 10:16). Embora vivamos neste mundo, não somos deste mundo. E, embora não sejamos deste mundo, ainda vivemos neste mundo por enquanto. E porque não somos deste mundo em que vivemos, somos odiados por este mundo (João 15:19, 17:16). Nós, como Cristo predisse, somos odiados por todas as nações (Mateus 24:9).

No entanto, nós que cremos estamos certos de “que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada” em nós (Romanos 8:18), “porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós um peso eterno de glória mui excelente” (2 Coríntios 4:17).

Assim, gememos junto com a criação debaixo da perseguição e da maldição desta presente era maligna. Como disse Paulo:

Porque a ardente expectação da criatura espera a manifestação dos filhos de Deus. Porque a criação ficou sujeita à vaidade, não por sua vontade, mas por causa do que a sujeitou, na esperança de que também a mesma criatura será libertada da servidão da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação geme e está juntamente com dores de parto até agora. E não só ela, mas nós mesmos, que temos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, esperando a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo (Romanos 8:19-23).

 

Dois Reinos (Jurisdições)

Continua…

 


[1] Hoekema, The Bible and the Future, 18.

[2] Grier, The Momentous Event, 54.