“Então disse Jesus aos seus discípulos: Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me.” (Mateus 16:24)
“Então disse Jesus aos Seus discípulos: Se alguém quiser”; a palavra “quiser” aqui significa “desejar”, exatamente como nesse versículo: “E também todos os que piamente querem viver” [2 Timóteo 3:12]. Isto significa “determinar-se”. “Se alguém quiser ou deseja vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz (não uma cruz — mas a sua cruz) e siga-me”. Desta forma, em Lucas 14:27, Cristo declarou: “E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após mim, não pode ser Meu discípulo”. Assim, carregar a cruz não é opcional. A vida Cristã é muito mais do que a subscrição a um sistema de verdades, ou adoção de um código de conduta ou submissão a ordenanças religiosas. A vida Cristã é essencialmente uma pessoa; experiência de comunhão com o Senhor Jesus, e apenas na proporção em que a sua vida é vivida em comunhão com Cristo, deste modo você está vivendo a vida Cristã, e apenas neste modo.
A vida Cristã é uma vida que consiste em seguir a Jesus. “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-Me”. Oh, que você e eu pudéssemos alcançar a distinção de mais proximidade de nosso caminhar com Cristo! Há uma classe descrita na Bíblia de qual é dito: “Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá” [Apocalipse 14:4]. Mas, infelizmente, há outro tipo, e uma grande classe, que parece seguir o Senhor irregularmente, esporadicamente, com o coração dividido, ocasionalmente, à distância. Há muito do mundo e muito do de si mesmos em suas vidas, e tão pouco de Cristo. Três vezes feliz é aquele, que como Calebe segue o Senhor plenamente.
Agora, amados, o nosso principal empreendimento e desejo é seguir a Cristo, mas há dificuldades no caminho. Há obstáculos no trajeto, e é a eles, que a primeira parte de nosso texto se refere. Você observa que as palavras “siga-Me” vem no final. O EU, o eu permanece no caminho, e o mundo, com seus dez mil atrativos e distrações é um obstáculo; e, portanto, Cristo diz: “Se alguém quiser vir após Mim, (primeiro) renuncie-se a si mesmo, (em segundo lugar) tome sobre si a sua cruz, (em terceiro lugar) e siga-me”. E ali aprendemos a razão por que tão poucos Cristãos professos estão seguindo-O de perto, manifestamente, consistentemente.
O primeiro passo para um seguir diário a Cristo, é a negação de si mesmo. Há uma grande diferença, irmãos e irmãs, entre negar a si mesmo e a assim chamada autonegação. A ideia popular que prevalece tanto no mundo e entre os Cristãos, é a de desistir das coisas que nós gostamos. Há uma grande diversidade de opiniões quanto ao que deve ser abandonado. Há alguns que gostam de limitar isso ao que é caracteristicamente mundano; tal como ir ao teatro, dançar ou outros certos tipos de divertimentos. Mas tais métodos como aqueles apenas promovem o orgulho espiritual, pois certamente eu mereço algum crédito se eu abandono mais do que meus amigos.
O que Cristo fala em nosso texto (e oh, que o Espírito de Deus aplique isto em nossas almas nesta manhã) como o primeiro passo para segui-lO, é a negação do próprio EU, não simplesmente de algumas coisas que são agradáveis ao eu. Não de algumas das coisas que o eu anseia, mas a renúncia do próprio EU. O que isso significa: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me”?
Isso significa, em primeiro lugar, abandonar a sua justiça própria; mas isso significa muito mais do que isso. Isso é apenas o seu primeiro significado. Isso significa recusar-se a descansar em minha própria sabedoria. Isso significa muito mais do que isso. Isso significa deixar de insistir em meus próprios direitos. Isso significa repudiar o próprio EU. Isso significa deixar de considerar os nossos próprios confortos, a nossa própria vontade, o nosso próprio prazer, o nosso próprio engrandecimento, os nossos próprios benefícios. Isso significa findar com o EU. Isso significa, amados, dizer com o apóstolo: “vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim” [Gálatas 2:20]. Para mim o viver é obedecer a Cristo, servir a Cristo, honrar a Cristo, gastar-me para Ele. Isso é o que significa. E, “Se alguém quiser vir após mim”, diz nosso Mestre, “renuncie-se a si mesmo” — deixe o eu ser repudiado, ser finalizado. Em outras palavras, é isso o que temos em Romanos 12:1: “apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus”
O segundo passo em direção a seguir a Cristo, é a tomar sobre si a cruz. “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz”. Ah, meus amigos, viver a vida Cristã é algo mais do que um luxo passivo; é um sério empreendimento. É uma vida que tem que ser disciplinada em sacrifício. A vida de discipulado começa com a auto-renúncia e continua por meio da auto-mortificação. Em outras palavras, o nosso texto refere-se à CRUZ não simplesmente como um objeto de fé, mas como um princípio de vida, como o emblema do discipulado, como uma experiência na alma. E, ouça! Exatamente como é verdade que o único caminho até o trono do Pai por Jesus de Nazaré foi por meio da cruz, assim, o único caminho para uma vida de comunhão com Deus e da coroa final para o Cristão, é através da cruz. Os benefícios legais do sacrifício de Cristo são garantidos pela fé, quando a culpa do pecado é cancelada; mas a Cruz só se torna eficaz sobre o poder do pecado remanescente, na medida em que é efetivada em nossas vidas diárias.
Eu quero chamar a sua atenção para o contexto. Venha comigo por um momento para Mateus 16, versículo 21-22: “Desde então começou Jesus a mostrar aos seus discípulos que convinha ir a Jerusalém, e padecer muitas coisas dos anciãos, e dos principais dos sacerdotes, e dos escribas, e ser morto, e ressuscitar ao terceiro dia. Pedro, tomando-o de parte, começou a repreendê-lo, dizendo: Senhor, tem compaixão de ti”. Isso expressa a política do mundo. Essa é a soma da filosofia mundana da autopreservação e egoísmo. O Senhor Jesus viu na sugestão de Pedro uma tentação de Satanás e Ele o lançou para longe de Si. Em seguida, voltou-se para os Seus discípulos e disse: “Se alguém quiser vir após mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-me”. Em outras palavras, o que Cristo disse foi o seguinte: Estou indo a Jerusalém para a cruz, se alguém quiser ser Meu seguidor, há uma cruz para ele. E, como diz Lucas 14: “E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após Mim, não pode ser Meu discípulo”. Não somente Jesus deve ir a Jerusalém e ser morto, mas todos os que veem após Ele devem tomar sobre si a sua cruz. O “dever” é tão imperativo em um caso como no outro. Mediadoramente, a cruz de Cristo permanece sozinha, mas experimentalmente, ela é compartilhada com todos os que entram na vida eterna.
Agora, então, o que significa “a cruz”? O que Cristo quis dizer quando disse que “E quem não toma a Sua cruz”? Meus amigos, é deplorável que neste último tempo tal questão precise ser respondida; e é ainda mais deplorável que a grande maioria do próprio povo de Deus tenha tais concepções antibíblicas do que significa aquela “cruz”. O Cristão mediano parece considerar a cruz neste texto, como qualquer tribulação ou problema que possa ser colocado sobre ele. Tudo o que venha a perturbar a nossa paz, que é desagradável à carne, ou que irrita nosso temperamento é visto como uma cruz. Um diz: “Bem, essa é a minha cruz”, e outro diz: “Bem, esta é a minha cruz”, e outro alguém diz que outra coisa é a sua cruz. Meus amigos, a palavra nunca é usada desta forma no Novo Testamento!
A palavra “cruz” nunca é encontrada no plural, nem jamais é encontrada com o artigo indefinido em sua frente, “uma cruz”. Observe também que em nosso texto a cruz está ligada a um verbo na voz ativa e não passiva. Essa não é uma cruz que é colocada sobre nós, mas uma cruz que deve ser “tomada”! A cruz significa realidades definidas que materializam e expressam as principais características da agonia de Cristo.
Outros entendem a “cruz” referindo-se aos deveres desagradáveis que eles relutantemente desprezam, ou hábitos carnais que eles negam a contragosto. Eles imaginam que estão carregando a cruz quando, levados ao ponto da consciência, eles se abstêm de coisas intensamente desejadas. Tais pessoas invariavelmente tornam sua cruz como uma arma para atacar outras pessoas. Eles desfilam a sua abnegação e andam insistindo que os outros deveriam segui-los. Tais concepções da cruz são tão Farisaicas quanto falsas, e tão perniciosas quanto erradas!
Agora, como o Senhor me capacitar, deixe-me pontuar três coisas que a cruz significa:
Em primeiro lugar, a cruz é a expressão do ódio do mundo. O mundo odiou a Cristo, e seu ódio foi finalmente manifestado por crucificá-lO. No capítulo 15 de João, sete vezes ali, Cristo refere-se ao ódio do mundo contra Si mesmo e contra o Seu povo. E exatamente na proporção em que você e eu estamos seguindo a Cristo, exatamente na proporção em que nossas vidas estão sendo vividas como Sua vida foi vivida, exatamente na proporção em que saímos do mundo e estamos em comunhão com Ele, assim o mundo nos odiará!
Lemos nos Evangelhos que um homem veio e apresentou-se a Cristo para o discipulado, e solicitou que ele fosse primeiro sepultar seu pai, um pedido muito natural, e, talvez, um muito louvável. Mas a resposta do Senhor é quase desconcertante. Ele disse ao homem: “Segue-me, e deixa os mortos sepultar os seus mortos” [Mateus 8:22]. O que teria acontecido com aquele jovem se ele tivesse obedecido a Cristo? Eu não sei se ele fez ou não, mas se o fizesse, o que aconteceria? O que os seus parentes e seus vizinhos achariam dele? Eles seriam capazes de apreciar o motivo, a devoção que o levou a seguir a Cristo e negligenciar o que o mundo chamaria de um dever filial? Ah, meus amigos, se vocês estão seguindo a Cristo, o mundo pensará que vocês são loucos, e alguns de vocês acharão que é muito difícil suportar calúnias sobre sua sanidade. Sim, há alguns que acham as reprovações da vida mais difíceis do que a perda da morte.
Outro jovem apresentou-se a Cristo para o discipulado e solicitou ao Senhor que ele pudesse primeiro ser autorizado a ir para casa e dizer adeus aos seus amigos, um pedido muito natural, com certeza, e o Senhor apresentou-lhe a cruz: “Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus” [Lucas 9:62]. Afeições naturais encontram os deslocamentos de laços domésticos muito difíceis de suportar; ainda mais difíceis são as cismas de pessoas queridas e amigos por terem sido desprezados!
Sim, a reprovação do mundo torna-se muito real, se estamos seguindo de perto a Cristo. Nenhum homem pode manter-se no mundo e segui-lO.
Outro jovem veio e apresentou-se a Cristo e caiu aos Seus pés e o adorou, e disse: “Mestre, que bem farei?” [Mateus 19:16] e o Senhor apresentou-lhe a cruz. “Vende tudo o que tens e dá-o aos pobres… e segue-me” [Mateus 19:21]. E o jovem se foi, entristecido. Cristo ainda está dizendo a você e a mim, nesta manhã: “E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após Mim, não pode ser Meu discípulo”. A cruz representa o opróbrio, e o ódio do mundo. Mas, como a cruz foi voluntária para Cristo, assim ela é para Seu discípulo. Ela pode ser evitada ou aceita. Ela pode ser ignorada ou “tomada”!
Mas em segundo lugar, a cruz significa uma vida que é entregue voluntariamente à vontade de Deus. Do ponto de vista do mundo, a morte foi um sacrifício voluntário. Volte por um momento para o capítulo 10 de João, começando no versículo 17: “Por isto o Pai Me ama, porque dou a Minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de Mim, mas Eu de Mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la”. Por que Ele entregou, assim, a sua vida? Olhe a frase final do versículo 18: “Este mandamento recebi de meu Pai”. A cruz foi a derradeira demanda de Deus pela obediência de Seu Filho. É por isso que lemos em Filipenses 2, que, Ele “esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens” [Filipenses 2:7]. Versículo 8: “E, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte,” (este foi o clímax, este foi a finalidade do caminho da obediência), “até mesmo a morte de cruz!”
Cristo nos deixou um exemplo para que sigamos os Seus passos. A obediência de Cristo deve ser a obediência do Cristão — voluntária, não obrigatória; contínua, fiel, sem qualquer reserva, até a morte. A cruz, então, significa obediência, consagração, rendição, uma vida colocada à disposição de Deus. “Se alguém quiser vir após Mim, renuncie-se a si mesmo, tome sobre si a sua cruz, e siga-Me”. “E qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após Mim, não pode ser Meu discípulo”. Em outras palavras, queridos amigos, a cruz significa o princípio do discipulado, a nossa vida está sendo acionada pelo mesmo princípio que a de Cristo foi. Ele veio aqui e Ele não agradou a Si mesmo; nem mais eu devo. Ele se fez sem reputação, assim deve ser comigo. Ele prosseguiu fazendo o bem: assim eu devo fazer. Ele não veio para ser servido, mas para servir; assim nós devemos fazer. Ele tornou-se obediente até à morte e morte de cruz. Isso é o que a cruz significa:
Primeiro, a reprovação do mundo — porque nós o contrariamos, elevou-se a sua ira por nos separarmos dele, e estamos caminhando em um plano diferente, porque somos movidos por princípios diferentes daqueles pelos quais ele caminha.
Em segundo lugar, uma vida consagrada a Deus, posta em devoção a Ele.
Em terceiro lugar, a cruz significa o sacrifício vicário e sofrimento. Vá para a primeira Epístola de João, no terceiro capítulo, versículo 16: “Conhecemos o amor nisto: que ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida…”. Esta é a lógica do Calvário. Nós somos chamados à comunhão com Cristo, nossas vidas devem ser vividas pelos mesmos princípios pelos quais Ele viveu, obediência a Deus, sacrifício pelos outros. Ele morreu para que nós pudéssemos viver, meus amigos; nós devemos morrer para que possamos viver.
Olhem para o versículo 25 de Mateus 16: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á”. Isto significa todo Cristão, pois Cristo está falando ali para discípulos. Todo Cristão que tem vivido uma vida egocêntrica, considerando seus próprios confortos, a sua própria paz de espírito, o seu próprio bem-estar, suas próprias vantagens e benefícios — esta “vida” está sendo perdida para sempre — tudo desperdiçado na medida em que a eternidade está em causa; madeira, feno e palha — virará tudo fumaça! Mas, “e quem perder a sua vida por amor de Mim, achá-la-á”, ou seja, quem não viveu esta vida considerando o seu próprio bem-estar, seus próprios interesses, seu próprio benefício, seu próprio progresso, mas sacrificou esta vida, gastando-a no serviço aos outros por amor de Cristo, ele encontrará a vida! Esta vida foi construída com materiais imperecíveis que sobreviverão ao teste de fogo, no dia vindouro. Ele encontra a “vida”. Cristo morreu para que pudéssemos viver; e nós temos que morrer para que possamos viver! “Quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á”.
Mais uma vez, no capítulo 20 de João, Cristo disse aos Seus discípulos: “Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós”. Para que Cristo nos enviou? Para glorificar o Pai; para expressar o amor de Deus; para manifestar a graça de Deus; para chorar por Jerusalém; para ter compaixão do ignorante e daqueles que estão fora do caminho; para labutar tão assiduamente que Ele não tinha tempo nem para comer; para viver uma vida de tal autossacrifício que até mesmo seus parentes disseram: “Está fora de si!” [Marcos 3:21]. E, “como o Pai Me enviou,” diz Cristo, “também Eu vos envio a vós”. Em outras palavras, Eu vos envio para o mundo — do qual vos salvei. Eu vos envio de volta ao mundo para viverem com a cruz estampada sobre vocês. Ó, irmãos e irmãs, quão pouco “sangue” há em nossas vidas! Quão pouco há ali do carregar a Jesus em nossos corpos! (2 Coríntios 4:10).
Nós começamos a “tomar a cruz” em absoluto? Existe alguma surpresa de que estamos seguindo-O a tal distância? Existe alguma surpresa de que temos tão pouca vitória sobre o poder do pecado interior? Há uma razão para isso. Mediadoramente, a cruz de Cristo permanece sozinha, mas experimentalmente a cruz é compartilhada com Seus discípulos. Legalmente a cruz do calvário anulou e lançou fora a culpa, a culpa de nossos pecados; mas, meus amigos, eu estou perfeitamente convencido de que a única maneira de conseguir a libertação do poder do pecado em nossas vidas e obter o domínio sobre o velho homem dentro de nós, é por meio da cruz tornando-se uma parte da experiência de nossas almas! Foi na cruz que o pecado foi tratado legal e judicialmente. É apenas na medida em que a cruz é “tomada” pelo discípulo que ela se torna uma experiência, matando o poder e a contaminação do pecado dentro de nós. E Cristo diz: “qualquer que não levar a sua cruz, e não vier após Mim, não pode ser Meu discípulo”. Oh, que necessidade cada Cristão tem aqui nesta manhã: ficar a sós com o Mestre, e consagrar-se a Ele mesmo, para o Seu serviço!