Colossenses 2:16-17 Proíbe a Observância do Dia do Senhor?

“Portanto, não permitam que ninguém os julgue pelo que vocês comem ou bebem, ou com relação a alguma festividade religiosa ou à celebração das luas novas ou dos dias de sábado. Estas coisas são sombras do que haveria de vir; a realidade, porém, encontra-se em Cristo.”
(Colossenses 2:16-17, NVI).

 

À primeira vista, essa é a passagem bíblica que fala mais fortemente contra um “sabbath” no Novo Testamento, e devemos dar a ela todo o peso que ela merece. Não temos o direito de torná-la menos direta do que é; devemos tratá-lo com cuidado e seguir aonde quer que ela nos conduza. Qualquer outra atitude, mina as nossas reivindicações de que a Palavra de Deus é inspirada e inerrante.

Quando olhamos para esse texto, em um primeiro momento ele parece indicar que não existe qualquer observância de nenhum sabbath para os crentes da Nova Aliança, e isso é um problema para todos nós que professamos acreditar que mesmo agora há um dia para ser santificado ao Senhor. Não podemos fingir que esse texto não existe; não podemos fechar os olhos para ele ao ler o capítulo; não podemos ignorar isso enquanto fazemos nossa exegese. Ele merece todo o peso que damos a todos os outros textos das Escrituras, e devemos seguir seus ensinamentos. Desejo de todo o coração ser obediente à Palavra de Deus e ser fiel a tudo o que ela diz.

Mas os primeiros olhares ou leituras superficiais do texto nem sempre são as melhores ou as mais respeitosas maneiras de lidar com a passagem e a sua doutrina. De fato, esse tipo de abordagem superficial do texto bíblico pode ser enganoso e produzir conclusões incorretas. Todo texto das Escrituras deve receber um tratamento exegético cuidadoso. Para a maioria dos batistas calvinistas, é fácil ilustrar esse princípio. Acreditamos que a intenção de Deus em enviar Seu Filho era efetuar a redenção para Seus eleitos. E, no entanto, existem vários textos no Novo Testamento que parecem ensinar, à primeira vista, que Cristo morreu por todos os homens indiscriminadamente. Devemos lidar com esses textos com cuidado e cautela antes de aceitarmos a doutrina da redenção particular. Nós não ocultamos esses textos, mas fazemos a exegese deles em seus contextos, dando o devido peso às várias considerações hermenêuticas. O resultado é que estamos convencidos de que nosso entendimento a respeito da extensão da morte de Cristo é consonante com essas Escrituras.

O mesmo precisa ser verdade a respeito de passagens como Colossenses 2:16-17. Chegamos às Escrituras com nossas próprias deficiências, nem sempre entendemos a linguagem, a cultura ou a progressão teológica, e devemos sempre nos perguntar: “Estou lendo isso corretamente? É possível que me faltem informações que possam me ajudar a entender melhor essa passagem?”. Por causa de perguntas como essas, precisamos trabalhar arduamente com as palavras de Paulo. Nunca devemos deturpar o ensino da Bíblia.

Por uma questão de brevidade, os termos-chave em nosso texto são “festividade religiosa, celebração das luas novas e dias de sábado”. Paulo diz que eles são sombras do que está por vir, pois a realidade chegou a nós em Cristo. Por esse motivo, os colossenses não devem permitir que ninguém os julgue com relação a essas coisas, as quais eram como sombras. À primeira vista, essa é uma declaração clara contra qualquer observância continuada do sabbath, e uma vez eu pensei ser esse o caso. Mas, ao ler uma nota de rodapé no comentário de Lightfoot sobre esse capítulo, algo importante chamou a minha atenção.

Sete vezes na Bíblia, esses mesmos três termos são usados juntos e, em todos os casos, referem-se ao número total dos dias religiosos obrigatórios para Israel. Os textos são 1 Crônicas 23:31 (27-31), Neemias 10:33, 2 Crônicas 2:4 e 31:3, Isaías 1:13-14, Ezequiel 45:17 e Oséias 2:11. Em todos esses casos, as palavras se referem à plenitude das observâncias relacionadas ao tempo, ordenadas a Israel. À luz de Levítico 23, sabemos que havia outros sabbaths além do sétimo dia — os dias associados às festas eram designados como sabbaths, independentemente de em qual dia da semana eles caíam. É por isso que a palavra “sábados” [sabbaths], refere-se a todos os dias, ao sétimo dia e a todo o resto dos sabbaths, que deveriam ser observados por Israel.

Quando leio Colossenses 2:16 e 17, e vejo essas palavras juntas, lembro que o apóstolo Paulo foi completamente treinado na teologia do Antigo Testamento. Ele conhecia não apenas em termos técnicos gerais, e tendo sido treinado por estudiosos de primeira linha, estava familiarizado com todos os seus meandros e detalhes técnicos da teologia do Antigo Testamento. Quando vejo esses textos reunidos nesse exato lugar, dou-lhe crédito o suficiente para reconhecer que ele os usa exatamente da mesma maneira que são usados ​​em qualquer outra passagem das Escrituras inspiradas. Como eles são formam um grupo em todas essas outras passagens, todas as regras de exegese apoiam a visão de que eles também formam um grupo aqui.

E assim podemos dizer com Paulo, nos termos mais fortes: “todo dia associado à Antiga Aliança se foi. Não devemos celebrar festivais, luas novas ou sábados — o sétimo dia, a festa da páscoa, a festa dos tabernáculos etc. Eles se foram. A substância é Cristo. Quando Ele veio, nós entramos na plenitude trazida pela Sua vinda. Quando olhamos para Colossenses 2:16-17 à luz da analogia das Escrituras, e vemos que a linguagem técnica exata é usada em outro lugar para descrever um grupo de dias específico do Antigo Testamento, nosso problema está resolvido. O apóstolo não está falando sobre o fim absoluto da guarda de qualquer dia; ao contrário, ele fala da revogação de todos os dias judaicos. Os gentios e até os cristãos judeus não tinham absolutamente nenhuma obrigação de observar esses dias instituídas pela Antiga Aliança.

Podemos dizer, à luz da analogia das Escrituras, que temos um dia diferente, um dia que expressa a plenitude de nossa redenção em Cristo. Temos o primeiro dia da semana, um dia que traz à memória a Nova Criação em Csto através de Sua ressurreição dentre os mortos. Vamos observá-lo para a glória de Deus.

 

Título original: Resolving Problems in Colossians 2:16-17 • Tradução: Fernando Angelim • Revisão: William Teixeira
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