[Uma Exposição de Provérbios 3:5-6 – Excerto do artigo Orientação Divina]
“Confia no Senhor de todo o teu coração. E não te estribes no teu próprio entendimento em todos os teus caminhos, reconhece-O, e ele endireitará as tuas veredas.” (Provérbios 3:5-6)
Atente bem a ordem aqui: a promessa no final da passagem é condicionada à nossa junção de três requisitos. Em primeiro lugar, devemos ter plena confiança no Senhor. O verbo hebraico para “confiança” aqui significa literalmente “inclinar-se sobre”, isso transmite a ideia de quem está consciente de sua fraqueza e volta-se para descansar em cima de algo mais forte para seu apoio. “Confiança no Senhor” significa contar com Ele em todas as emergências, buscarmos nos fortalecer nEle em todas as necessidades e dizer juntamente como o salmista: “O Senhor é meu pastor, nada me faltará” (Salmos 23:1). Isso significa que nós lançamos todos os nossos cuidados sobre Ele, apropriando-nos fortemente dEle dia após dia e hora após hora; e provando, assim, a suficiência de Sua graça. Isso significa que o Cristão deve continuar como começou, quando nós nos lançamos primeiro a Ele como pecadores perdidos, abandonamos todos os nossos próprios feitos e invocamos Sua misericórdia abundante. Confie também agora em Sua sabedoria, poder e graça!
Mas o que se entende por “confiar no Senhor de todo o teu coração”? Em primeiro lugar, a entrega total de nossa confiança a Deus, sem olhar para qualquer outra ajuda e alívio. Em segundo lugar, é voltar-se para Ele com a simplicidade de uma criança. Quando um pequeno confia, não há raciocínio, mas um acreditar simples das palavras do pai pelo seu sentido primário, estando totalmente seguro de que seu pai vai fazer bem o que ele tem dito; a criança não se preocupa com as dificuldades que podem estar no caminho, mas espera o cumprimento do que foi prometido. Da mesma forma deve ser conosco e as palavras de nosso Pai Celestial. Em terceiro lugar, isso significa que os nossos afetos desejam a Ele: o amor “tudo crê, tudo espera” (1 Coríntios 13:7). Assim, confiar no Senhor “com todo o nosso coração” é a confiança de amor manifesta em um acreditar dependente e esperançoso.
O segundo requisito é: “e não te estribes no teu próprio entendimento”, o que significa que não devemos confiar em nossa própria sabedoria ou contar com os ditames da razão humana. O maior ato da razão humana é renegar sua suficiência e se curvar diante da sabedoria de Deus. Ao nos inclinarmos sobre a nossa própria compreensão estamos descansando em cima de uma cana quebrada, pois ela tem sido deturpada pelo pecado, mas muitos acham mais difícil repudiar sua sabedoria própria do que abandonar a sua justiça própria. Muitos dos caminhos de Deus são “insondáveis” e procurar resolver os mistérios da providência é como o finito tentar compreender o Infinito, e tornar-se não somente culpado do pecado da presunção, mas agir contra o seu próprio bem-estar. Filosofar sobre o nosso destino, raciocinar sobre as nossas circunstâncias, é fatal para o descanso da alma e a paz no coração.
Em terceiro lugar, “reconhece-o em todos os teus caminhos”. Isto significa que, em primeiro lugar, temos de pedir a permissão de Deus para tudo o que fazemos, e não agir sem licença; só então nos comportamos como crianças obedientes e servos reverentes. Significa, em segundo lugar, que buscamos a orientação de Deus em todos os nossos empreendimentos, reconhecendo a nossa ignorância e declarando a nossa completa dependência dEle. “Em tudo… pela oração e súplicas” (Filipenses 4:6). Só assim é que o senhorio de Deus está sobre nós de uma maneira prática. Significa, em terceiro lugar, que buscamos a glória de Deus em todos os nossos caminhos: “tudo quanto fizerdes, fazei tudo para a glória de Deus” (1 Coríntios 10:31). Ah, se nós somente fizéssemos isso, quão diferentes seriam muitos de nossos “caminhos”! Se mais frequentemente pararmos e perguntarmos: Isto será para a glória de Deus? Estaríamos livres de muito pecado e de muita loucura, com todas as suas consequências dolorosas. Significa, em quarto lugar, que buscamos a bênção de Deus para tudo. Aqui está outra regra simples e suficiente: qualquer coisa sobre a qual eu não possa pedir a bênção de Deus está errada!
“E ele endireitará as tuas veredas”! Cumpridas as três condições mencionadas acima, aqui está a consequência certa. A necessidade de ser dirigido por Deus é real e urgente. Sendo conduzidos por nós mesmos, não estaremos em melhor situação do que um navio sem leme ou um automóvel sem volante. Não é sem razão que o povo do Senhor é muitas vezes chamado de “ovelhas”, pois nenhuma outra criatura é tão apta a extraviar-se ou tem essa propensão a desgarrar-se. A palavra hebraica para “endireitar” significa “fazer uma linha reta”. Estamos vivendo em um mundo onde tudo é torto: o pecado tem jogado tudo para fora do lugar e, em consequência, confusão, males e maldições, abundam em torno de nós. Um coração enganoso, um mundo perverso e um Diabo ardiloso estão sempre procurando nos desviar do caminho e de nossa bússola com o intuito de nos destruir. Quão necessário é, então, que Deus “endireite as nossas veredas”.
O que se entende por: “Ele endireitará as tuas veredas”? Isto significa que, Ele vai deixar claro para mim o curso do dever. Que isto seja firmemente assegurado: A “vontade” de Deus estará sempre no caminho do dever, e nunca vai contra ele. Seríamos poupados de desnecessária incerteza e perplexidade se apenas este princípio fosse progressivamente reconhecido. Quando você sente um forte desejo ou “tentação” para fugir de um dever comum, você pode ter certeza que é uma tentação de Satanás, e não a “liderança” do Espírito Santo. Por exemplo, é contrário à vontade revelada de Deus uma mulher estar constantemente participando de reuniões enquanto negligencia seus filhos e sua casa. É fugir de sua responsabilidade o marido que sai sozinho à noite, mesmo em exibição religiosa, e deixa sua esposa cansada em casa para lavar os pratos e colocar as crianças na cama. É um pecado para um funcionário Cristão ler a Escritura ou “falar com as pessoas sobre suas almas” em seu escritório ou no horário comercial.
A dificuldade surge quando parece que temos de escolher entre duas ou mais funções, ou quando alguma mudança importante tem que ser feita em nosso cotidiano. Há muitas pessoas que pensam querer ser guiadas por Deus quando alguma crise chega ou alguma decisão importante tem que ser feita; mas poucas delas estão preparados para atender às exigências como intimamos em nossos parágrafos iniciais. O fato é que Deus estava raramente em seus pensamentos antes da emergência surgir, agradá-lO não era exercido por eles enquanto as coisas estavam indo bem. Mas quando a dificuldade e os problemas lhes acometeram, quando esgotaram as possibilidades de agirem em seu próprio juízo, de repente, eles se tornam muito piedosos, voltam-se para o Senhor, pedindo seriamente a Ele para dirigi-los, e clarear o caminho diante de seus rostos.
Mas Deus não pode ser tratado desta forma. Normalmente essas pessoas fazem uma decisão precipitada e colocam-se em dificuldades ainda maiores, e então eles tentam se consolar com: “Bem, eu busquei a orientação de Deus”. Ah, meu leitor, Deus não se deixa escarnecer assim, se ignorarmos Suas reivindicações sobre nós quando o vento é agradável, não podemos contar com Ele nos livrando quando a tempestade vier. O que temos que ver é que Ele é santo e não vai premiar o ateísmo (chamado por muitos: “displicência”), mesmo que uivem como animais em sua angústia (Oséias 7:14). Por outro lado, se diligentemente buscamos a graça de caminhar com Deus no dia a dia, para que regulamentemos os nossos caminhos por Seus mandamentos, então podemos legitimamente contar com Sua ajuda em qualquer emergência que surja.
Mas como é que um Cristão consciente age quando alguma emergência o confronta? Suponha que ele fica na encruzilhada dos caminhos: dois caminhos, duas alternativas estão diante dele, e ele não sabe o que escolher. O que ele deve fazer? Em primeiro lugar, deixe-o escutar a Palavra mais necessária, que, em regra de aplicação geral, é sempre obrigatória para nós: “aquele que crer não deve se apressar” (Isaías 28:16). Agir a partir de um impulso repentino nunca nos tornará um filho de Deus, e correr na frente do Senhor é a certeza de envolver-nos em consequências dolorosas. “O Senhor é bom para os que esperam por Ele, para a alma que busca a Ele. É bom que um homem tenha esperança, e aguarde em silên-cio a salvação (libertação) do Senhor (Lamentações 3:25-26). Agir com pressa geralmente significa que depois vamos nos arrepender. Oh quanto cada um de nós precisa implorar ao Senhor que diariamente coloque sua mão de refrigério e quietude sobre a nossa carne febril!
Se você perceber que à medida que você continua esperando em Deus, a luta interior entre a “carne” e o “Espírito” continua, e você não tem alcançado o ponto em que você pode dizer honestamente: “Faz da Tua própria maneira, Senhor”, então um tempo de jejum é ordenado. Em Esdras 8:21, lemos: “Então proclamei um jejum ali junto ao rio Ava, para nos humilharmos diante do nosso Deus, a fim de lhe pedirmos caminho seguro para nós e para nossos filhos”. Isto está escrito para nossa instrução, e até mesmo um olhar superficial é suficiente para mostrar o quanto é pertinente para nossa investigação presente. O jejum não é um exercício religioso peculiar aos tempos do Antigo Testamento somente, pois em Atos 13:3 lemos que antes de Barnabé e Saulo serem enviados para sua viagem missionária pela igreja em Antioquia, “jejuando e orando, e impondo as mãos sobre eles, os despediram”. Não há nada de meritório no jejum, mas ele expressa a humildade de alma e o fervor do coração.
A próxima coisa a fazer é reconhecer humilde e sinceramente, diante de Deus, a nossa ignorância, pedindo-Lhe para não nos entregar a nós mesmos. Diga a Ele que você está francamente perplexo e não sabe o que fazer, e que você merece ser deixado nesta situação lamentável. Mas pleiteie diante dEle com base em Suas próprias promessas, e peça-Lhe por amor a Cristo para que Ele seja propício a você neste momento: “Se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá liberalmente, e não o lança em rosto, e lhe será concedido. Peça, porém, com fé, em nada duvidando” (Tiago 1:5-6). Peça a Ele para conceder a sabedoria tão necessária para que você possa julgar corretamente, para que possa discernir claramente o que irá promover o seu bem-estar espiritual e, portanto, glorificá-lO mais.
“Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e o mais Ele fará” (Salmos 37:5). “No intervalo de espera, não consultei carne e sangue”, se você busca companheiros Cristãos por conselho, provavelmente haverá discordância entre dois deles, e seu conselho discordante só vai confundi-lo. Em vez de olhar para a ajuda do homem “Persevere na oração, e na mesma com ações de graças” (Colossenses 4:2).
Como regra geral, é melhor para nós pouco afligirmos nossas mentes acerca de “orientação” — isto é obra de Deus! O nosso negócio é andar em obediência a Ele a cada dia. Ao fazê-lo, é forjada dentro de nós uma prudência que nos preserva de todos os erros graves. “Eu entendo mais do que os velhos, porque tenho guardado os teus preceitos” (Salmos 119:100). O homem que mantém os preceitos de Deus torna-se dotado de uma sabedoria que ultrapassa de longe aquela possuída pelos sábios da antiguidade ou os ensinamentos dos filósofos. “Aos justos nasce luz nas trevas” (Salmos 112:4). O justo pode experimentar os seus dias de escuridão, mas quando a hora da emergência chega a luz deve ser dada a ele por Deus. Sirva a Deus hoje com todo seu ser, e calmamente e com segurança deixe o futuro com Ele. A firme conformidade para com o que é correto deve ser seguida por um claro discernimento daquilo que é errado.
“O Senhor endireitará as tuas veredas”. Em primeiro lugar, pela Sua Palavra: não, de alguma forma mágica, de modo a incentivar a preguiça, nem da forma como se consulta um livro de culinária cheio de receitas para todas as ocasiões, mas ao nos alertar dos caminhos do pecado e da loucura e por dar a conhecer os caminhos da justiça e da bênção. Em segundo lugar, pelo seu Espírito: dando-nos força para obedecer aos preceitos de Deus, levando-nos a esperar com paciência no Senhor por Sua direção em tudo, o que nos permite aplicar as regras das Escrituras Sagradas aos deveres variados de nossas vidas, trazendo-nos à lembrança uma palavra no momento oportuno. Em terceiro lugar, por Suas providências: fazendo amigos falharem conosco de forma que nós somos livrados de nos inclinarmos sobre o braço de carne, frustrando nossos planos carnais de forma que sejamos preservados de naufragar, fechando portas que não seriam boas para nós entrarmos nelas, e abrindo as portas diante de nós as quais ninguém pode fechar!
[Originalmente editado por Emmett O’Donnell para o Monte. Zion Publicações, um ministério de MT. Zion Bible Church,, 2603 Oeste Wright St., Pensacola, FL 32505. www.mountzion.org]