Tem havido um grande debate sobre se A Confissão de Fé Batista de Londres de 1677/1689 (CFB1689) é uma confissão útil para as igrejas Batistas. Alguns têm argumentado que essa confissão é detalhada demais para uma congregação inteira afirmar, e sugerem uma confissão mais curta como a Confissão de New Hampshire [New Hampshire Confession] ou o Resumo de Princípios [Abstract of Principles]. Eles dizem que somente as congregações mais teologicamente unificadas poderiam sustentar uma confissão tão robusta e que ela é especialmente um obstáculo em situações de plantação de igrejas. Eu ouvi dizer que uma confissão enciclopédica como a CFB1689 proibiria novos convertidos e cristãos imaturos de se unirem a uma igreja local que a confessa. Mas eu gostaria de argumentar que uma igreja local pode fielmente manter uma confissão robusta como a Confissão Batista de 1689 sem tropeçar em nenhum dos erros mencionados acima. Recomendo a seguinte maneira de se subscrever a CFB1689, embora eu também reconheça que alguns fiéis Batistas Reformados discordarão de mim em alguns desses assuntos, e por mim, tudo bem.
1. Os Batistas acreditam que uma igreja local deve ser uma “igreja de professos”. Ou seja, todos que têm uma profissão de fé credível atendem ao requisito mínimo para ser membro da igreja (Romanos 10:9-10). Uma profissão credível envolve uma verdadeira articulação do evangelho, juntamente com evidências de fé sincera e arrependimento do pecado, o que resulta em uma vida santa. A Segunda Confissão Batista de Londres ensina que uma profissão confiável de conversão sólida é pré-requisito para a membresia (26.2). Batistas também acreditam que aqueles que fazem uma profissão de fé credível devem ser biblicamente batizados antes de se unirem à uma igreja local. As Escrituras dizem: “Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo” (1 Coríntios 12:13). Mas além desses dois requisitos universais de (1) uma profissão de fé credível e (2) o batismo bíblico, pode haver uma grande discordância sobre muitas coisas entre os membros de uma igreja local, mesmo no que diz respeito a doutrinas confessionais, e ainda assim a igreja ainda pode desfrutar da unidade no Evangelho de Cristo e em Seu Espírito.
2. Eu recomendo uma “subscrição de unidade” à Confissão de Fé Batista de 1689 entre todos os membros da igreja. O livro de Romanos ensina um sistema robusto de doutrina, que é um resumo da verdade bíblica, todo o conselho de Deus. Paulo escreveu Romanos para a igreja em Roma, esperando que os presbíteros ensinassem seu conteúdo e que toda a igreja o cresse e praticasse.
No final da epístola, em Romanos 16:17, Paulo diz: “E rogo-vos, irmãos, que noteis os que promovem dissensões e escândalos contra a doutrina que aprendestes; desviai-vos deles”. De que “doutrina” Paulo está falando? Ele está falando da robusta doutrina de todo o livro de Romanos, que aborda toda doutrina da fé. Observe que Paulo não diz para “evitar” aqueles que “não entendem” ou “não afirmam positivamente e com precisão todas as doutrinas” contidas no livro de Romanos. Paulo, em vez disso, diz para “evitar” aqueles que “promovem dissensões” ou “escândalos contra” as doutrinas em sua epístola aos Romanos. Assim, a igreja de Roma podia aceitar novos crentes que ainda precisavam crescer em sua compreensão do que Paulo havia escrito, embora todos devessem estar crescendo em direção a uma compreensão plena de todas as doutrinas do livro de Romanos. Contudo, todos os membros tinham que concordar em manter a unidade em Cristo e na igreja. Portanto, não foi permitido a eles “promover dissensões” ou “escândalos contra” qualquer coisa no livro de Romanos. Fazer isso significaria que eles deveriam ser evitados.
Eu sugiro que as igrejas deveriam subscrever uma confissão enciclopédica, como a CFB1689, da mesma maneira:
1. O objetivo da subscrição para a membresia é que todos os membros da igreja concordem de todo coração com toda a confissão de fé. Os membros que se juntarem devem entender que os mestres da igreja estarão constantemente chamando-os a abraçar a plenitude da confissão, que é a compreensão da igreja do que seja todo o conselho de Deus.
2. Mas, no mínimo, todos os membros da igreja devem concordar em não ensinar algo que seja contra a confissão de fé, distribuir literatura contrária a ela ou fazer campanha de oposição a ela nas redes sociais, etc.
3. Eles devem concordar em não causar divisões ou conflitos na igreja sobre qualquer coisa na confissão de fé.
4. E eles não devem ser obstinados em sua oposição a qualquer coisa na confissão de fé, mas devem cultivar um espírito ensinável, e estarem dispostos a aprender com aqueles que ensinam todo o conteúdo da confissão de fé.
Isso permite uma grande diversidade doutrinária juntamente com uma robusta confissão doutrinária. Um não-calvinista, por exemplo, que discorda do CFB1689, mas que tem um espírito ensinável, e não é obstinado em oposição à confissão da igreja, é livre para se unir à igreja. Da mesma forma, um pedobatista, que acredita em batizar crianças, mas que foi ele mesmo batizado biblicamente como um crente, e está aberto a aprender com a Palavra de Deus, e a mudar sua posição sobre o batismo para a posição explicada pela CFB1689 também é livre para juntar-se. Uma profissão simples de fé em Cristo, juntamente com um espírito de unidade ensinável em Cristo, é tudo o que é necessário para a membresia da igreja.
Essa maneira de subscrição está enraizada na lei moral de Deus, que proíbe um espírito faccioso e exige unidade em Cristo. Um espírito divisivo é assassino, ladrão, enganoso, cobiçoso, etc., mas Deus nos ordena a estarmos unidos em Cristo em amor. As Escrituras advertem: “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o” (Tito 3:10). Aqueles que têm o Espírito de Cristo podem certamente discordar de doutrinas secundárias sem causar discórdia na igreja por causa de seu amor por Cristo e uns pelos outros.
Naturalmente, todas as igrejas fiéis têm procedimentos para discutir e mudar suas confissões de fé, que são descritas em suas constituições ou estatutos. As confissões não são infalíveis e estão sempre sujeitas a correção pela Palavra de Deus. Os membros que seguem os procedimentos acordados para debater e mudar uma confissão de fé com um espírito humilde não são, nem minimamente, divisores, desde que o façam em amor, com humildade e graça.
3. Eu recomendo uma “subscrição completa” para os oficiais da igreja. A “subscrição completa” para oficiais, presbíteros e diáconos significaria que eles afirmam toda doutrina na confissão de fé de uma igreja. Paulo estabeleceu o padrão para os anciãos na igreja proclamando “todo o conselho de Deus” (Atos 20:27). A confissão de fé de uma igreja é o entendimento da igreja de “todo o conselho de Deus”. A igreja como um todo adota sua confissão, em parte como um controle da autoridade pastoral para que os pastores não sejam livres para ensinar o que quiserem, mas somente o que toda a igreja concorda que seja o significado da Bíblia. A Escritura como confessada pela igreja é o que os anciãos são encarregados de crer e ensinar (cf. 2 Timóteo 1:13-14).
Os diáconos também são obrigados a “guardar o mistério da fé numa consciência pura” (1 Timóteo 3:9). “A fé” é o corpo total da verdade revelada (cf. Judas 3), e a compreensão da igreja sobre a verdade da Bíblia é encontrada em sua confissão de fé. Assim, os diáconos, como líderes na igreja, devem subscrever totalmente a confissão de fé de uma igreja.
Todos os oficiais da igreja devem se comprometer pessoalmente a adotar e defender a confissão de fé da igreja. Se um oficial da igreja mudar de opinião em qualquer momento de seu mandato, ele deve comunicar sua mudança de opinião aos presbíteros e estar humildemente disposto a se retirar do cargo, se necessário. Ele certamente estará livre para permanecer como membro da igreja, desde que ele não cause divisão devido às suas discordâncias com a confissão.
Assim, há um caminho para uma igreja confessar a sua compreensão de “todo o conselho de Deus” e ainda abrir espaço para uma grande dose de discordância teológica e para aqueles que têm uma profissão de fé em Cristo simples, mas sincera. Isto é, na verdade, o que eu acredito que a Escritura requer que a igreja faça: confesse todo o conselho de Deus com um espírito piedoso de unidade no essencial, liberdade no não-essencial e amor em todas as coisas.
Mais leituras sobre o Confessionalismo e a Confissão de Fé Batista de 1689:
A Confissão de Fé Batista de 1689 em Inglês Moderno (Formato impresso)
O Imperativo Confessional, por Carl Trueman (Resenha)
B.H. Carroll e o Confessionalismo Robusto, por Tom Ascol
The Confession of 1689 and Covenant Theology, por Jeff Johnson