[Capítulo 12 do livro A Guide to Fervent Prayer • Editado]
“Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória, ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém” (Judas 1:24-25)
“Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar”. Em uma análise mais aprofundada da conexão desta oração, a seguinte pergunta é crucial: quem são estes que o Senhor Jesus, preserva assim? Nem todo mundo que professa crer e ser um seguidor Seu, como fica claro a partir do caso de Judas Iscariotes, é preservado por Deus da apostasia. Então quem é que Ele preserva? Sem dúvida, Deus preserva aqueles que fazem um esforço genuíno para obedecer às exortações encontradas em versos 20-23, que foram discutidos no final do capítulo anterior. Estes verdadeiros crentes, tão longe de estarem contentes com o seu conhecimento atual e realizações espirituais, sinceramente se esforçam para continuar a edificarem a si mesmos em sua santíssima fé. Estes verdadeiros amigos de Deus, muito longe de serem indiferentes ao estado de seus corações, zelosamente vigiam suas afeições, a fim de que o seu amor para com Deus seja preservado em estado puro, saudável e vigoroso pelo exercício regular dos atos de devoção e obediência. Estes verdadeiros santos, longe de terem prazer em flertar com o mundo e entregarem-se aos seus desejos carnais, têm seus corações envolvidos em “odiar até a túnica manchada pela carne”. Estes verdadeiros discípulos oram fervorosamente pela ajuda do Espírito Santo, no desempenho de todas as suas funções, e são profundamente solícitos para com o bem-estar dos seus irmãos e irmãs em Cristo. Tais são os que, apesar de toda sua fraqueza e fragilidade, serão preservados, pelo poder e graça de Deus, da apostasia.
Dois Princípios de Interpretação Necessários Para a Compreensão Desta Oração
É de vital importância para um bom conhecimento das Escrituras observar a ordem em que a verdade está ali estabelecida. Por exemplo, encontramos Davi, dizendo: “Apartai-vos de mim, malfeitores, pois guardarei os mandamentos do meu Deus”. Isso ele disse antes de fazer a seguinte oração: “Sustenta-me conforme a tua palavra” (Salmo 119:115-116). Não teria havido nenhuma sinceridade na oração a Deus para auxiliá-lo a menos que ele já houvesse se determinado a obedecer os preceitos Divinos. É uma zombaria horrível que alguém peça a Deus para sustentá-lo em um curso de sua vontade própria. Primeiro deve vir o propósito e resolução santa de nossa parte, e, em seguida, a busca da graça capacitadora. É de igual importância para a correta compreensão das Escrituras que tenhamos um cuidado especial para não separarmos o que Deus uniu, desprendendo uma frase de seu contexto de qualificação. Muitas vezes lemos a citação: “Minhas ovelhas jamais perecerão”. Enquanto que isto é substancialmente correto, essas não são exatamente as palavras usadas por Cristo. Isto é o que Ele realmente disse: “As minhas ovelhas ouvem [atenção!] a minha voz, e eu conheço-as [aprovação], e elas me seguem [contrariando as suas inclinações naturais]; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer [os atentos e obedientes], e ninguém as arrebatará da minha mão” (João 10:27-28).
A Fé é o Meio Instrumental de Nossa Preservação
“Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar”. Nestas palavras, descobrimos a primeira grande razão por trás da oração do apóstolo Judas, ou seja, a capacidade Divina de preservar os santos da apostasia. O leitor perspicaz perceberá nas observações acima, que a questão de como Cristo preserva o Seu povo tem sido antecipada e respondida. Ele faz isso de uma maneira muito diferente daquela em que Ele mantém os planetas em seus cursos, isto Ele faz pela energia física. Cristo preserva Seu próprio povo pelo poder espiritual, pelas operações eficazes de Sua graça em suas almas. Cristo preserva o Seu povo e não em um curso de autossatisfação imprudente, mas de autonegação. Ele os preserva, e os inclina a observar Suas advertências, a praticar Seus preceitos e seguir o exemplo que Ele nos deixou. Ele os preserva, concedendo-lhes perseverar na fé e santidade. Nós, que somos Seus estamos “guardados pelo poder de Deus através da fé” (1 Pedro 1:5), e a fé diz respeito aos Seus mandamentos (Salmo 119:66; Hebreus 11:8), bem como às Suas promessas. Cristo realmente é “o autor e consumador da nossa fé” (Hebreus 12:2), mas nós somos os únicos que devem exercer essa fé e não Ele. No entanto, pelo Espírito Santo, Ele está operando em nós “tanto o querer como o efetuar, segundo a sua boa vontade” (Filipenses 2:13). Assim como a fé é o meio instrumental pelo qual somos justificados diante de Deus, a nossa perseverança na fé é o meio instrumental pelo qual Cristo nos preserva até a Sua vinda (1 Tessalonicenses 5:23; Judas 1).
Depois de exortar os santos quanto aos seus deveres (vv. 20-23), Judas, em seguida, dá a entender para quem eles devem olhar para a sua capacitação e para obterem a bênção sobre seus esforços: “Àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar”. Seus leitores devem colocar toda a sua dependência por preservação no Senhor Jesus. Ele não diz isso a fim de verificar a sua diligência, mas, sim, para incentivar a sua esperança de sucesso. É um grande alívio para a fé saber que “poderoso é Deus para o [nós] firmar” (Romanos 14:4). John Gill começa seus comentários sobre Judas 24, dizendo: “O povo de Deus está sujeito a cair em tentação, em pecado, em erros e até mesmo em apostasia final e total, se não fosse pelo poder Divino”. Sim, eles são dolorosamente sensíveis tanto de suas inclinações más quanto por sua fragilidade, e, portanto, eles frequentemente clamam ao Senhor, “Sustenta-me, e serei salvo, e de contínuo terei respeito aos teus estatutos” (Salmos 119:117). Enquanto leem sobre Adão em um estado de inocência sendo incapaz de guardar-se de cair, e também os anjos no céu, eles sabem muito bem que criaturas imperfeitas e pecadoras como eles são não podem guardar a si mesmas. O caminho para o céu é estreito, e há precipícios de ambos os lados. Há inimigos por dentro e por fora buscando a minha destruição, e não tenho mais força em mim mesmo do que o pobre Pedro teve quando Ele foi posto à prova por uma empregada [Marcos 14:66-70].
Estas Metáforas que Descrevem a Fraqueza Inerente dos Cristãos São Indicadores para que Direcionemos a Nossa Fé para Deus
Quase todas as figuras usadas na Bíblia para descrever um filho de Deus enfatizam a sua fraqueza e desamparo: uma ovelha, um ramo da videira, uma cana quebrada, um pavio que fumega. É somente quando nós, experimentalmente, descobrimos a nossa fraqueza que aprendemos a valorizar mais altamente Aquele que é capaz de nos guardar de cair. Há algum dos meus leitores tremendo e dizendo: “Eu temo que também eu pereça no deserto”? Isto não acontecerá, se a sua oração for sincera quando você clamar: “Dirige os meus passos nos teus caminhos, para que as minhas pegadas não vacilem” (Salmos 17:5). Cristo é capaz de protegê-lo, pois Seu poder é ilimitado e Sua graça infinita. Que força isso deve dar para o guerreiro exausto! Davi consolou-se com isto quando ele declarou: “não temeria mal algum, porque tu estás comigo” (Salmo 23:4). Esta Epístola fala de duas salvaguardas dos eleitos: uma antes da regeneração, e outra depois. No verso de abertura Judas os chama de “aos chamados, santificados em Deus Pai, e conservados por Jesus Cristo”. Eles foram separados para a salvação do Pai em Seu decreto eterno (2 Tessalonicenses 2:13), e “conservados”, antes de serem chamados eficazmente. Que fato maravilhoso e abençoado é este! Mesmo enquanto vagavam longe do aprisco, sim, enquanto eles estavam desprezando o Pastor de suas almas, Seu amor os observava (Jeremias 31:3) e Seu poder os livrou de uma sepultura precoce. A morte não pode ceifar um pecador eleito até que ele tenha nascido de novo!
Cristo Não Eleva as Nossas Esperanças Meramente para Frustrá-las
O que acaba de ser pontuado deve deixar muito claro que não há qualquer dúvida sobre o desejo da vontade do Senhor para preservar o Seu povo. Se Ele os guardou da morte natural, enquanto estavam em um estado não-regenerado, muito mais Ele irá livrá-los da morte espiritual agora que Ele os fez novas criaturas (cf. Romanos 5:9-10). Se Cristo não estivesse disposto a “fazer abundar toda a graça” em relação a Seu povo (2 Coríntios 9:8), para “guardar o meu [deles] depósito até àquele dia” (2 Timóteo 1:12), para “socorrer os que são tentados” (Hebreus 2:18), e “salvar perfeitamente os que por ele se chegam a Deus” (Hebreus 7:25), Ele certamente não nos atormentaria afirmando em cada passagem que Ele é capaz de fazer essas coisas. Quando Cristo perguntou aos dois cegos, que lhe suplicavam que Ele tivesse misericórdia deles: “Credes vós que eu possa fazer isto” (Mateus 9:28), Ele não estava sugerindo uma dúvida em suas mentes quanto à Sua prontidão para dar-lhes a vista; antes Ele estava evocando a sua fé, como o versículo seguinte torna evidente. As palavras, “àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar”, é uma expressão geral, incluindo não só a sua força e vontade, mas a Sua bondade e generosidade, que Ele já exerceu e continuará a exercer para a preservação do Seu povo.
Cristo é Comprometido pelo Pacto à Obrigação de Preservar Seu Povo da Apostasia Total e Final
É verdade que o poder de Cristo é muito maior do que o que Ele exerce efetivamente, pois o Seu poder é infinito. Ele estava tão disposto, que poderia guardar completamente o Seu povo do pecado; mas por razões sábias e santas Ele não o faz. Como Seu precursor João Batista declarou aos fariseus e saduceus: “mesmo destas pedras, Deus pode suscitar filhos a Abraão” (Mateus 3:9). Cristo poderia ter comandado uma legião de anjos para livrá-lO de seus inimigos (Mateus 26:53), mas Ele não quis. O exercício do Seu poder era e é regulado pelo propósito eterno de Deus; Ele exerce Seu poder somente na medida em que Ele estipulou fazê-lo pelo Seu envolvimento na Aliança. Assim, as palavras “Àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar” tem referência não a todo tipo de queda, mas de ser vítima de erros fatais daqueles “homens ímpios” mencionados no versículo 4, de ser desencaminhado por sofismas e exemplos de mestres heréticos. Como o pastor das ovelhas de Deus, Cristo foi responsabilizado de preservá-las, não de impedi-las de se afastarem, mas de que fossem destruídas. É dos pecados grosseiros citados no contexto, quando unidos à obstinação e impenitência, que Cristo preserva o Seu povo. Estes são “pecados de soberba” (Salmo 19:13), em relação aos quais, se alguém os comete e continua impenitente, são pecados imperdoáveis (assim como o suicídio). Em outras palavras, é da apostasia total e final que Cristo guarda todos os Seus.
Como um Salvador onipotente, Cristo foi comissionado à obra de preservação de Seu povo. Eles foram dados a Ele pelo Pai, com esse fim em vista. Ele é, em todos os sentidos, qualificado para esta tarefa, considerando tanto Sua Divindade quanto a Sua humanidade (Hebreus 2:18). Toda a autoridade foi dada a Ele no céu e na terra (Mateus 28:18). Ele é tão disposto quanto competente, pois é a vontade do Pai que Ele não perca nenhum daqueles que fazem parte do Seu povo (João 6:39), e é nisto que Ele se deleita. Ele tem um interesse pessoal neles, pois Ele os comprou para Si mesmo. Ele é responsável pela sua custódia. Ele, portanto, os preserva de serem devorados pelo pecado. O nosso Salvador não é débil, mas alguém que é revestido de onipotência. Isso se manifestou, mesmo durante os dias de Sua humilhação, quando Ele expulsou demônios, curou os enfermos, e acalmou a tempestade por Sua ordem e autoridade. Evidenciou-se, quando por um único pronunciamento Ele fez aqueles que vieram prendê-lO caírem para trás por terra (João 18:6). Isso foi extremamente demonstrado em Sua vitória pessoal sobre a morte e a sepultura. Esse mesmo poder onipotente é exercido em ordenar todos os assuntos do Seu povo, e em dirigir continuamente suas vontades e ações em toda a sua peregrinação terrena. Da Sua vinha Ele declara: “Eu, o Senhor, a guardo, e cada momento a regarei; para que ninguém lhe faça dano, de noite e de dia a guardarei” (Isaías 27:3).
A Gloriosa Recepção com a Qual Cristo Recebe e Apresenta o Redimido
“E apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória”. Aqui está a segunda razão que levou a essa explosão de adoração. Cristo não só protege o Seu povo aqui, mas tem provido felicidade para sua vida futura. Tal é a Sua graça e poder que Ele faz bem para todos aqueles a quem Deus propôs e prometeu. A apresentação de Seu povo para Si mesmo é individual e corporativa. A primeira é no momento da morte, quando Ele leva o crente para Si mesmo. Bem-aventurança indizível é esta, imediatamente após o crente deixar o seu corpo, o seu espírito é conduzido à presença imediata de Deus, e o próprio Salvador o admite no céu e o apresenta diante do trono. O espírito desencarnado, livre de toda a corrupção e mácula, é recebido por Cristo para a glória de Deus. Ele irá aperfeiçoar este espírito resgatado de um pecador justificado (Hebreus 12:23), diante de Si mesmo com grande complacência de coração, de modo que ele refletirá Suas próprias perfeições. Ele vai honrá-lo grandemente, enchê-lo com glória, expressar-lhe o máximo de Seu amor, e alegrar-Se com ele. Cristo recebe cada espírito lavado pelo Seu sangue com Seus abraços eternos após sua morte, e os apresenta, com alegria, perante a Sua glória.
Nossa presente passagem também aguarda com expectativa o momento em que Cristo apresentará publicamente o Seu povo corporativamente para Si mesmo, quando o Cabeça e Salvador, que “amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela” vai “apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e irrepreensível” (Efésios 5:25, 27). Este será o certo e triunfante resultado do Seu amor, pois será a consumação da nossa redenção. A palavra Grega para apresentar (Nº 2476, em Strong e Thayer; cf. apresentar [present], Nº 3936, em Efésios 5:27) pode ser usada no sentido de colocar ao lado de. Tendo purificado a Igreja de toda a sua poluição natural, a preparou e adornou para o seu lugar destinado como a companheira da Sua glória, Ele, formal e oficialmente, a tomou para Si mesmo. Esta declaração eufórica irromperá: “Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-lhe glória [a Deus]; porque vindas são as bodas do Cordeiro” (Apocalipse 19:7). Cristo terá feito a Igreja formosa com Suas próprias perfeições, e ela será cheia de beleza e esplendor, como uma esposa ataviada para o seu marido. Ele, então, dirá: “Tu és toda formosa, meu amor, e em ti não há mancha” (Cânticos 4:7). Ela será “a filha do rei é toda ilustre lá dentro; o seu vestido é [será] entretecido de ouro”. É a ela que se diz: “Então o rei se afeiçoará da tua formosura” (Salmo 45:13, 11), e Ele será para sempre a satisfatória porção de sua alegria.
As Escrituras também indicam que na alvorada da ressurreição, Cristo também apresentará a Igreja ao Seu Pai (2 Coríntios 4:14), e dirá exultante: “Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu” (Hebreus 2:13; cf. Gênesis 33:5; Isaías 8:18). Nenhum será perdido (João 6:39-40; 10:27-30; 17:12, 24)! E todos serão perfeitamente conformes à Sua santa imagem (Romanos 8:29). Ele nos apresentará diante de Deus para Sua inspeção, aceitação e aprovação. Diz Albert Barnes:
Ele nos apresentará no tribunal do céu, diante do trono do Pai eterno, como Seu povo resgatado, como recuperados das ruínas da Queda, como salvos pelos méritos de Seu sangue. Eles não serão apenas ressuscitados dentre os mortos por Ele, mas pública e solenemente apresentados a Deus como Seus, ??como restaurados a Seu serviço e como tendo um título no Pacto da Graça para a bem-aventurança do céu.
É Cristo tomando o Seu lugar diante de Deus como o Mediador triunfante, possuindo os “filhos”, como dom de Deus para Ele, confessando Sua unidade com eles, e Se deleitando com os frutos do Seu trabalho. Ele lhes apresenta “irrepreensíveis”, justificados, santificados e glorificados”. A maneira pela qual Ele faz isso será “com alegria”, pois Ele então: “verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito” (Isaías 53:11). Em Judas 15 aprendemos sobre o destino que aguarda os apóstatas; aqui vemos a felicidade designada para os remidos. Eles brilharão para sempre na justiça de Cristo, e Ele encontrará a Sua complacência na Igreja, como participantes de Sua bem-aventurança.
Uma Grande Doxologia é Atribuída a uma Pessoa Divina de Perfeições Infinitas
“Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém”. Chegamos a uma consideração da natureza e Objeto desta oração. É uma doxologia, uma expressão de louvor; e embora seja breve, as verdades Divinas sobre o qual incide são imensas. Vendo que o Senhor está vestido com glória e beleza (Jó 40:10), devemos atribuir continuamente essas excelências a Ele (Êxodo 15:11; 1 Crônicas 29:11). Os santos devem publicar e proclamar as perfeições de seu Deus: “Cantai a glória do seu nome; dai glória ao seu louvor” (Salmo 66:2). Isto é o que fizeram os apóstolos, e devemos imitá-los. Aqui Ele é adorado por Sua sabedoria. Há algo aqui que pode apresentar uma dificuldade para jovens teólogos que aprenderam a distinguir entre os atributos incomunicáveis ??de Deus, como Sua infinitude e imutabilidade, e Seus atributos comunicáveis, como a misericórdia, a sabedoria, e assim por diante. Vendo que Deus dotou algumas de Suas criaturas, com sabedoria, como Ele pode ser chamado de “único sábio”? Primeiro, Ele é superlativamente sábio. Sua sabedoria é tão vastamente superior à dos homens e dos anjos que que em comparação com ela a sabedoria das criaturas é loucura. Em segundo lugar, Ele é essencialmente sábio. A sabedoria de Deus não é uma qualidade separada de Si mesmo como acontece conosco. Há muitos homens que estão longe de serem sábios; mas Deus não seria Deus se Ele não fosse onisciente, sendo naturalmente dotado de todo o conhecimento e sendo Ele mesmo a fonte de toda a sabedoria. Em ter-ceiro lugar, Ele é originalmente sábio, sem derivação. Toda a sabedoria vem de Deus, por-que Ele possui toda a sabedoria em Si mesmo. Toda a verdadeira sabedoria das criaturas é apenas um raio de Sua luz.
O objeto glorioso desta doxologia não é outro senão o Mediador do Pacto da Graça. As razões para assim honrarmos a Ele são a onipotência e onisciência que Ele possui, que são gloriosamente demonstradas na Sua salvação da Igreja. Em vista do que é predicado dEle no versículo 24, não deve haver a menor dúvida em nossas mentes que “o único Deus sábio” do versículo 25 não é outro senão o Senhor Jesus Cristo, pois é Seu domínio particular como um Pastor, a preservação de Sua Igreja da destruição e apresenta-la em glória ao Pai. Além disso, o epíteto acrescentado: “Salvador nosso”, confirma o assunto. Aqui a Divindade absoluta é atribuída a ele: “o único Deus”, como também é em Tito 2:13 (onde o texto Grego seria mais precisa e literalmente traduzido como: “o grande Deus e Salvador nosso, Jesus Cristo”), 2 Pedro 1:1 (onde o Grego deve ser traduzido como, “de nosso Deus e Salvador Jesus Cristo”, testemunha as notas marginais da KJV e ASV), e muitos outros lugares. Cristo, o Filho é “o único Deus”, embora isto não exclua o Pai e o Espírito. Provavelmente Ele está aqui designado como tal em contraste com os falsos e insensatos “deuses” dos corruptores heréticos mencionados no contexto. Devo acrescentar que em comparação, o Soberano Deus Triuno da Sagrada Escritura, que é mais gloriosamente representado no Deus-homem Jesus, o Cristo (que agora reina como o Senhor absoluto do universo), o deus fictício dos Unitários, dos modernistas do século XX, e da maioria dos Arminianos também é tolo e pueril.
Cristo é o Único Apto Para a Obra Atribuída a Ele
Cristo é poderoso e suficiente para tudo aquilo que concerne à Sua mediação redentora que é aqui magnificada. Ele é adorado como Aquele que triunfantemente completará o trabalho que Lhe foi dado para fazer, um trabalho que nenhuma mera criatura, não, nem mesmo um arcanjo, poderia realizar. Ninguém, exceto Aquele que é Deus e homem poderia atuar como Mediador. Ninguém senão uma Pessoa Divina poderia oferecer uma satisfação adequada à justiça Divina. Ninguém, exceto o possuidor de mérito infinito poderia fornecer um sacrifício de valor infinito. Ninguém, exceto Deus poderia preservar ovelhas no meio de lobos. Em Provérbios 8, especialmente os versículos 12, 13, 31 e 32, Cristo é denominado “sabedoria”, e é ouvido falando como uma pessoa distinta. Ele foi anunciado como o “Mara-vilhoso Conselheiro” (Isaías 9:6). Ele designou a Si mesmo “sabedoria” em Lucas 7:35. Ele é expressamente chamado de “sabedoria de Deus” (1 Coríntios 1:24), “no qual estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento” (Colossenses 2:3). Sua sabedo-ria aparece em Sua criação de todas as coisas (João 1:3), em Seu governo e sustentação de todas as coisas (Hebreus 1:3), e por isso o Pai “mas deu ao Filho todo o juízo” (João 5:22).
A sabedoria consumada de Cristo foi manifestada durante os dias de Sua carne. Ele publi-cou aos homens os segredos de Deus (Mateus 13:11), Ele declarou: “o Filho por si mesmo não pode fazer coisa alguma [que, à luz do contexto seguinte significa que Ele não faz nada, independentemente da vontade do Pai], se o não vir fazer o Pai; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente” (João 5:19, 30, 28). Cristo, assim, afirma uma igualdade de competências entre Ele e Seu Pai. Ele “não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem” (João 2:25). Aqueles que O ouviram ensinar “se maravilhavam, e diziam: De onde veio a este a sabedoria, e estas maravilhas?” (Mateus 13:54). A sabedoria única de Cristo apareceu em responder de forma a calar os seus inimigos: “nunca homem algum falou assim como este homem” (João 7:46), testemunharam aqueles que foram enviados para prendê-lO. Ele então confundiu Seus críticos de modo que Mateus testemunha: “E ninguém podia responder-lhe uma palavra; nem desde aquele dia ousou mais alguém interrogá-lo” (Mateus 22:46). Uma vez que, portanto, Ele é dotado de onisciência, não encontraremos nenhuma falha com qualquer um de Seus lidares para conosco. Vamos sim levar a Ele todos os nossos problemas; vamos confiar nEle de maneira absoluta, colocando-nos e todas as nossas atividades em Suas mãos.
Os Maiores Louvores São Devidos ao Senhor Jesus Cristo
Visto que Ele é “Ao único Deus sábio, Salvador nosso”, o único, suficiente e bem sucedido Salvador, vamos louvá-lO como tal. Como aqueles nos céus lançam as suas coroas diante do Cordeiro e exaltam Suas perfeições incomparáveis??, assim devemos fazer nós que ainda estamos na Terra. Uma vez que Cristo Se sujeitou a tal desonra indizível e humilhação por amor a nós, sim, suportou sofrimentos até a morte, e morte de cruz, quão prontamente e de coração devemos honrar e magnificar a Ele, clamando com o apóstolo: “A Ele seja glória e majestade, domínio e poder”! Glória é a exibição de excelência de tal forma que obtenha a aprovação de todos os que a virem. Aqui, a palavra significa uma alta honra e consideração que é devida a Cristo por causa de Suas perfeições, pela qual Ele ultrapassa infinitamente todas as criaturas e coisas. Majestade refere-se a Sua dignidade exaltada e grandeza Divina que fazem Ele ser honrado e preferido além de todas as Suas criaturas, tendo recebido um nome que está acima de todo nome (Filipenses 2:9). Domínio é a regra absoluta ou propriedade que é adquirida pela conquista e mantida pela força ou poder superior ao de todos os rivais. Isto o Deus-homem exerce de tal forma que “não há quem possa estorvar a sua mão, e lhe diga: Que fazes?” (Daniel 4:35). Ele já esmagou a cabeça de Sa-tanás, Seu inimigo mais poderoso (Gênesis 3:15), e lançou o seu reino do mal no caos. “E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo”, em Sua morte na cruz (Colossenses 2:15). Poder, aqui, significa a autoridade de governar, que é derivada do direito legal. Porque Cristo “sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Filipenses 2:8-9), Deus o Pai exaltou ao lugar de autoridade e regente uni-versal (Mateus 28:18), onde agora reina como “Rei dos reis e Senhor dos senhores” (Apo-calipse 19:16). Este governo universal, Cristo ganhou como um direito legal por Sua perfeita obediência como o segundo Adão (Gênesis 1:26-28). Como o Deus-homem, Cristo não só possui os méritos de autoridade e domínio sobre a terra em relação a todas as Suas criaturas, mas também sobre todo o universo que Ele mesmo criou.
Rei Jesus Reina Agora e Para Todo o Sempre
“Ao único Deus sábio, Salvador nosso, seja glória e majestade, domínio e poder, agora, e para todo o sempre. Amém”. Observe bem a palavra em itálico. Radicalmente diferente foi o conceito inspirado de Judas de tantos “estudantes de profecia” que adiam o reinado de Cristo para uma futura era “milenar”. É ao mesmo tempo, as presentes e infinitas dignidades do Mediador que estão aqui em vista. Ele já foi “coroado de glória e de honra” (Hebreus 2:9). A Majestade é Sua hoje, pois Ele é exaltado “acima de todo o principado, e poder” po-is Deus “sujeitou [e não “sujeitará”] todas as coisas a seus pés” (Efésios 1:21-22). O domínio também é exercido por Ele agora, e com a força pela qual Ele obteve o domínio Ele está atualmente “sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hebreus 1:3). Mesmo agora, o Senhor Jesus está assentado sobre o trono de Davi (Atos 2:29-35), “tendo subido ao céu, havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências” (1 Pedro 3:22). Assim Ele reinará, e não apenas por mil anos, mas para sempre. Amém. E assim Judas conclui a mais solene de todas as Epístolas com este hino de santa exultação sobre a presente e eterna glória do Cordeiro.