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Cristo, o Mediador: O Diálogo Atual para Teologia e Ministério: Uma Aplicação Prática do Capítulo 8 da CFB1689 | Por Justin McLendon

— The Founders Journal • Primavera de 2017 | Nº 108 —

Introdução

 

Ao longo dos últimos anos, surgiram inúmeros livros, conferências e ministérios que buscam fundamentar o ministério pastoral dentro de uma estrutura teológica (não pragmática). Por exemplo, Kevin Vanhoozer e Owen Strachan, em “The Pastor as Public Theologian” [O Pastor como Teólogo Público], convida pastores a verem seu papel ministerial como teólogo principal da igreja.[1]  Todd Wilson e Gerald Hiestand produziram dois recentes livros que convocam os pastores a “ressuscitarem uma antiga visão” e abraçarem seus papéis como teólogos principais da igreja.[2] Claro, muito antes de esses livros serem publicados, Tom Ascol argumentou de forma convincente no jornal Founders que os pastores devem retornar a um ministério teologicamente enraizado.[3]

 

Essas contribuições proporcionam uma refutação abrangente à abordagem do ministério pastoral, que emergiu da cultura popular da “mega igreja” e do movimento moderno de crescimento de igreja.[4] Felizmente, um apelo apaixonado aos pastores para recuperar a visão bíblica e histórica é feito, para que o ministério pastoral seja, antes de tudo, um chamado teológico, e para que os ministros contemporâneos deixem a mentalidade que visa dividir o ministério pastoral e a reflexão teológica. Os pastores são teólogos. Eles podem não ser pastores-eruditos, mas certamente são teólogos, pois formam a doutrina e a prática congregacional. Além disso, são a defesa primária da igreja contra a falsa doutrina que pode se infiltrar no corpo.

 

Uma questão emergente nessas discussões relaciona-se com modelos teológicos para o ministério: se o pastor é o teólogo principal da igreja, como ele deve organizar o ministério para liderar o seu povo de uma perspectiva teologicamente robusta? Em outras palavras, existe um modelo teológico na Pessoa de Jesus que os pastores podem usar para integrar em seus próprios ministérios? As respostas a esta questão foram variadas, mas há uma tendência para fundamentar os deveres ministeriais de um pastor no oficio triplo de Jesus como profeta, sacerdote e rei. Meu propósito é resumir como os teólogos falam de cristãos que agem como profetas, sacerdotes e reis em seu testemunho cristão e a vida da igreja, e também, uma visão geral de como alguns teólogos e líderes da igreja defendem a integração do modelo profeta, sacerdote e rei como uma tipologia ao ministério.

 

Cristãos como Profetas, Sacerdotes e Reis

 

Antes de examinar especificamente a questão dos pastores que consideram os papéis de mediação de Jesus como uma tipologia para o ministério moderno, observar como esses papéis cristológicos estão presentes na vida dos crentes é útil. Por exemplo, John Dagg conectou os ofícios mediadores de Jesus com o caráter cristão. Ele observou:

 

Estes ofícios de Cristo também são adaptados às graças que distinguem e adornam o caráter cristão. As principais dessas, como citadas por Paulo, são a fé, a esperança e o amor. No exercício da fé, recebemos a verdade revelada por Cristo, o Profeta; no exercício da esperança, seguimos a Cristo, o Sacerdote, que entrou no santo dos santos, comparecendo perante Deus por nós; e nos submetemos a Cristo, o Rei, no exercício do amor, que é o cumprimento da lei, o princípio e a soma de toda santa obediência.[5]

 

A percepção de Dagg é notável em seguir a Cristo com uma vida de submissão humildade e santidade pessoal, necessariamente incluindo fé, esperança e amor, e ver essas virtudes através dos papéis mediadores de Cristo prova ser encorajador e instrutivo.

 

Uma breve pesquisa sobre o amplo aspecto do evangelicalismo revela apelos semelhantes aos crentes para que se apeguem às implicações práticas dos papéis mediadores de Cristo. Por exemplo, o teólogo metodista Geoffrey Wainwright sugere que o oficio triplo de Cristo deve ser usado como uma função arquetípica ao longo da vida cristã, e devemos “reter ou reconquistar um contexto vivo na vida devocional e litúrgica da igreja, pois esta imagem e arquétipos persistem e exercem seu poder”.[6] O estudioso do Antigo Testamento e teólogo presbiteriano, Richard Belcher, também vê uma conexão, declarando: “Os ofícios de profeta, sacerdote e rei demonstram como a igreja pode desempenhar a sua missão como o corpo de Cristo”.[7] Assim, na vida devocional individual e na vida do corpo da igreja, ao ofícios mediadores de Cristo funcionam de forma prática na santidade e devoção individuais e congregacionais. Os crentes não devem restringir os méritos do trabalho sacrificial de Cristo apenas à soteriologia; antes, os crentes modelam esses ofícios de várias maneiras pelo poder do Espírito Santo.

 

Em sua popular Teologia Sistemática, Wayne Grudem desenvolve uma análise minuciosa do oficio triplo de Cristo, a partir de perspectivas teológicas e práticas. Ele contrasta a realidade antes da queda de Adão com o futuro reino do crente com Cristo, ao considerar os ofícios dos fiéis como profetas, sacerdotes e reis.[8] Esses papéis mediadores eram o propósito de Deus para o homem, e os crentes podem ter um vislumbre da sua futura realização celestial enquanto aqui na terra, cumprindo esses papéis no corpo de Cristo, observando o uso de Adão e Eva desses papéis antes de caírem no pecado.

 

Grudem entende que, antes da queda, Adão tinha um papel profético, na medida em que “tinha o verdadeiro conhecimento de Deus e sempre falava verdadeiramente sobre Deus e sobre a sua criação”.[9] Além disso, Adão não tinha necessidade de um sistema sacrificial pelo pecado, mas ele e Eva agiam como sacerdotes oferecendo as suas boas obras a Deus com fidelidade e submissão por Sua generosa provisão. Adão e Eva mostraram seu governo real através do seu domínio sobre a criação sob seus cuidados. Em cada uma dessas maneiras, Adão e Eva desfrutaram desses papéis em seu relacionamento antes da queda com Deus, o que de certa maneira fornece um vislumbre da concretização futura ao povo de Deus nos novos céus e na nova Terra.

 

Por causa da queda, no entanto, esses papéis mediadores foram destruídos. De acordo com Grudem, os seres humanos já não serviam como profetas porque “eles criam em falsas informações sobre Deus e falavam falsamente sobre Ele para os outros”.[10] Além disso, o papel de sacerdote foi pervertido devido à ausência da presença de Deus por causa da luxúria do homem pelo pecado, e a sujeição da humanidade às duras realidades de um mundo pós-queda de governantes decadentes e injustos revelou o colapso do papel real. Como Grudem afirma: “a nobreza do homem como Deus o criou — um verdadeiro profeta, sacerdote e rei — foi perdida por causa do pecado”.[11] Embora existisse um ressurgimento de esperança, por vezes, no Antigo Testamento, através de homens piedosos que atuaram nesses papéis, em geral, não houve uma recuperação completa até o ministério de Jesus. Como a Confissão de Fé Batista de 1689 e outros teólogos reformados antes dela, Grudem conecta o papel de Jesus como o profeta perfeito, porque Deus revelou a Sua Palavra completamente através de Cristo. O dom sacrificial de Jesus de Si mesmo e o Seu trabalho de intercessão por Seu povo evidencia os Seus deveres sacerdotais, e Jesus reina agora e por toda a eternidade como Rei dos novos céus e da nova Terra.

 

De acordo com Grudem, os crentes têm um papel participativo nesses ofícios, embora a participação seja subordinada. Atualmente, os crentes realizam o trabalho profético através da proclamação do Evangelho. O trabalho sacerdotal é visto através da participação do crente no “sacerdócio real” (1 Pedro 2:9), oferecendo sacrifícios de louvor a Deus. Finalmente, os crentes atualmente participam da obra real de Cristo através da autoridade dada à igreja. Grudem acredita que esses papéis mediadores atuais prefiguram o que está à frente dos crentes nos novos céus e na nova Terra, onde esses papéis englobarão a atividade normal do povo de Deus.

 

No recente livro de Vern Poythress, The Lordship of Christ [O Senhorio de Cristo] ele descreve a partir da Confissão de Fé de Westminster a espinha dorsal teológica dessa doutrina, argumentando que “a obra de Cristo como Profeta, Rei e Sacerdote é perfeito. Todos que acreditam nEle estão unidos a Ele e recebem os benefícios de Sua obra… sendo unidos a Cristo, os crentes recebem o poder de agir de certa forma como imitadores de Cristo em suas próprias tarefas”.[12] Nesse ponto, Poythress reflete a obra de Grudem na descrição desses três ofícios na vida dos crentes, mas Poythress aplica essas verdades em uma compreensão bíblica da vocação. Ele argumenta: “podemos usar as categorias de profeta, rei e sacerdote em um sentido expandido para ver que muitas atividades humanas envolvem o serviço a Deus que imita as ‘grandes’ versões desses ofícios que aparecem na Escritura”.[13] Com o modelo de profeta, sacerdote e rei usado como aplicação para a construção de um modelo bíblico de vocação, pode-se potencialmente criar uma extensa lista de conexões práticas.

 

Claramente, os teólogos em todo o aspecto evangélico expandem o papel de Cristo como Mediador e suas implicações para a vida da igreja e dos crentes individuais. Na eclesiologia Batista, o sacerdócio dos crentes prova ser uma área de diálogo intimamente relacionada, e essas discussões geralmente se fundamentam no ensino do Novo Testamento sobre as realizações sacerdotais de Cristo por Seu povo. A evidência sugere que os teólogos defendem uma grande variedade de aplicações relativas a essas verdades aos crentes. Além disso, avanços recentes indicam que houve uma mudança para vincular esses benefícios com os deveres pastorais como uma tipologia do ministério.  Brevemente, mencionarei apenas três trabalhos específicos dentro da comunidade Reformada mais ampla.

 

Profeta, Sacerdote e Rei como Tipologia para o Ministério

 

A abordagem de Richard Belcher é ampla e busca integrar esses ofícios ao ministério. Ele sugere: “quando se entende os ofícios de Profeta, de Sacerdote e de Rei e como eles se relacionam com Cristo, isso afeta a pregação e o ensino”.[14]Ele aborda cada um desses ofícios através da lente da responsabilidade e do privilégio dos presbíteros. Os presbíteros cumprem o papel profético através do ensino da Escritura, cumprindo o ministério da oração e o discipulado das gerações futuras. Em seus ofícios sacerdotais, os presbíteros protegem e promovem encontros de adoração e servem o povo de Deus através de orações, pastoreio e encorajamento. Em seus deveres reais, os presbíteros proclamam o reino de Cristo e promovem as táticas bíblicas de engajar a guerra espiritual. Os presbíteros governam o povo de Deus sob a autoridade de Cristo e usam a supervisão para se engajar na disciplina restaurativa. Independentemente de aceitar plenamente tudo o que ele sugere, Belcher desenvolve uma abordagem reflexiva e enriquecedora para integrar os ofícios mediadores de Jesus como uma estrutura tipológica para o ministério dos presbíteros. Em um volume útil, editado com Kevin Vanhoozer, Owen Strachan dedica um capítulo ao modelo profeta, sacerdote e rei como teologia bíblica para o pastorado. Strachan afirma que “o ponto crucial e razoável é que o trabalho dos sacerdotes, profetas e reis nos dá uma compreensão do trabalho do pastor”.[15] Strachan constrói um excelente argumento desses ofícios específicos em seus contextos do Antigo Testamento e usando as Escrituras, faz um paralelo com qualificações e responsabilidades que se espera dos presbíteros da igreja no Novo Testamento. Esses ofícios oferecem aos ministros uma grade teológica em que os ministros podem exercer suas responsabilidades. Strachan escreve com uma perspicaz consciência e enfatiza como o modelo do pastor-teólogo está ausente do ministério contemporâneo. Ele acredita que a Bíblia oferece aos pastores uma estrutura útil que sustenta a longevidade e a fecundidade teológica, e indica os deveres pastorais como proféticos, sacerdotais e reais e que não defende o modismo atual dos ministérios repletos de artifícios. Em vez disso, é uma recuperação de um ministério enraizado na prática bíblica e inquestionavelmente evidenciado através da reflexão histórica. Os ministros da nova aliança servem como sacerdotes ministrando a graça, servem como reis ministrando a sabedoria e servem como profetas ministrando a verdade. Esses ministérios são enfaticamente teológicos, e eles são o trabalho de um teólogo eclesial e público.

 

John Frame e Vern Poythress são os principais contribuintes deste diálogo através do seu trabalho sobre a epistemologia reformada. Sua defesa em favor do “tri-perspectivismo” fornece a variante teológica que alguns precisam para integrar o oficio triplo de Jesus a uma tipologia para o ministério.[16] Falando de modo simples, o tri-perspectivismo é o resumo de como temos conhecimento verdadeiro, e isso vem de três perspectivas: normativas (referentes à lei de Deus), situacional (referente ao mundo) e existencial (referente a si mesmo). Frame argumenta que essas perspectivas são igualmente importantes e fundamentais. Assim, uma não pode existir sem as outras.[17]

 

Quando essa estrutura é aplicada à cristologia através do ofício triplo de Jesus, então, pode-se formar uma tipologia de ministério reconhecendo como cada oficio envolve uma das três perspectivas. Frame acredita que “estes ofícios foram vistos como modelos para os oficiais da igreja: o presbítero que ensina (1 Timóteo 5:17) representa especialmente a autoridade de Deus; o presbítero regente (mesmo versículo) representa o controle de Deus e o diácono representa o ministério sacerdotal da misericórdia”.[18] O oficio profético corresponde ao conhecimento normativo encontrado dentro da Sagrada Escritura. O oficio sacerdotal corresponde ao conhecimento existencial de si mesmo. O oficio real corresponde ao conhecimento situacional do mundo.

 

Belcher, Strachan e Frame não estão sozinhos ao verem o oficio triplo de Cristo como uma tipologia do ministério. Outro exemplo recente é o teólogo J. Todd Billings, que escreve que temos o grande privilégio de testemunhar a verdade em Cristo como profetas; de oferecer com adoração nossas vidas a Deus como sacerdotes de um modo que possa “mostrar e comunicar” o Evangelho; de se opor aos caminhos pecaminosos do mundo que resistem ao senhorio de Cristo, sabendo que compartilhamos a vitória real de Cristo. Mas é sempre Jesus Cristo, que é o Redentor — Jesus Cristo que é o verdadeiro profeta, sacerdote e rei. Enquanto buscamos em nossos ministérios — seja para jovens ou para pessoas em contextos urbanos ou transculturais — ser pessoas acessíveis, dispostas ao serviço e ir ao encontro das pessoas onde elas estão, nunca seremos o verdadeiro profeta, sacerdote e rei para aqueles que nos rodeiam.  Seremos apenas de modo derivado e subordinado, como testemunhas do verdadeiro Redentor, Jesus Cristo.[19]

 

Essas declarações formam a seção final da obra de Billings, onde ele nos convoca à reformulação do ministério através da ótica da união com Cristo. Sua abordagem é uma combinação temperada de submissão à suficiência de Cristo e uma humilde responsabilidade dos ministros para integrar a vida de Cristo no serviço aos outros.

 

Um Caminho Adiante

 

Por um lado, devemos agradecer pelo renovado interesse em recuperar um fundamento teológico para o ministério pastoral. Por outro lado, a igreja sofreu tempo suficiente debaixo do modelo superficial do discurso ministerial moderno. Muitas vezes, as versões televisivas do Cristianismo são embaraçosas, na melhor das hipóteses, e blasfemas na pior das hipóteses, e em um mundo que muda rápido, a igreja precisa de uma recuperação do ministério que valorize a perspicácia teológica. Assim, elogio os autores mencionados pelos seus esforços porque os pastores podem se beneficiar de tal encorajamento. Além disso, devido à recente atenção ao modelo pastor-teólogo e aos diálogos que ele tem produzido, pode-se esperar uma maior reflexão da geração emergente de ministros que se formam em seminários teologicamente fortes. Embora sejam mudanças louváveis, existem questões legítimas sobre essa abordagem. Ainda há questionamentos sobre a adequação ou não dessa tipologia como o melhor resumo da ênfase do Novo Testamento.

 

Na reunião anual de 2016 da Evangelical Theological Society [Sociedade Teológica Evangélica], Timothy Paul Jones apresentou um artigo de pesquisa intitulado “Profetas, Sacerdotes e Reis Hoje? Problemas Teológicos e Práticos com o Uso do Triplex Munus como uma Tipologia de Liderança”.[20] Jones argumentou que o oficio triplo é de fato uma rica estrutura bíblica que merece uma investigação séria, mas, afinal, os pastores não devem apropriar-se do modelo, profeta, sacerdote, rei para a construção do ministério.

 

Ao longo de sua apresentação, Jones falou de uma concepção comum de profeta, sacerdote e rei que foi desenvolvida em treinamento pastoral e redes de plantação de igrejas. Alguns defensores acreditam que esses papéis podem ser separados e doados para cada líder que possuem as melhores habilidades. Por exemplo, o corpo de presbíteros de uma igreja deve cumprir o papel profético por causa de seus deveres de ensinar e proclamar a Palavra; os conselheiros e os ministros dos cuidados devem receber os papéis sacerdotais, e os deveres reais devem pertencer aos diáconos, aos organizadores da igreja ou mesmo a um corpo presbíteros, dependendo de como suas responsabilidades são distribuídas. Como Jones observa, essencialmente a tipologia do profeta, sacerdote e rei é reduzida ao conjunto de habilidades e às necessidades da igreja.[21]

 

Em sua crítica a essa abordagem, Jones primeiro apresentou uma análise teológica e exegética substancial do desenvolvimento desses ofícios ao longo do Antigo Testamento. Ao afirmar o cumprimento de Cristo desses ofícios como o Mediador entre Deus e o homem, Jones se concentra em uma nova visão da aliança do sacerdócio onde o serviço ao povo de Deus é visto como uma tutela. Os ministros da Palavra de Deus são encarregados da vida consagrada da devoção e do serviço. Nesta estrutura, a justiça é buscada e as boas novas do reino são proclamadas.

 

Embora eu concorde com a crítica de Jones, acho que outro fator importante deve ser abordado se os pastores adotarem essa tipologia. Pode não haver nada inerentemente errado com os pastores que compreendem seus papéis através dos papéis mediadores de profeta, sacerdote e rei, mas os pastores que adotam essa tipologia para construção de um ministério devem mostrar como ela se relaciona com o pastoreio bíblico. Os papéis do profeta, do sacerdote e do rei já são tirados da compreensão bíblica do pastor como pastor de ovelhas. Em outras palavras, embora seja necessário encorajar os pastores a abraçarem uma administração teológica de seus ministérios, devemos exortá-los a fazê-lo enquanto “pastoreiam o rebanho de Deus” que está entre eles (1 Pedro 5:2). O papel do pastor inclui tudo o que os autores acima pretendem através do uso da tipologia do oficio triplo. Como eu entendo, um perigo de adotar essa tipologia pode ser a profissionalização do ministério. Se o trabalho profético permanece isolado do trabalho sacerdotal devido a conjuntos de habilidades e complexidades da igreja local, então o trabalho real parecerá severo e não será bem-vindo. Em outras palavras, o perigo dessa metodologia é que alguém poderia adotá-la e perder o pastoreio bíblico, uma vez que o pastoreio bíblico se devidamente compreendido incluirá necessariamente cada um desses ofícios.

 

A contribuição de Timothy Witmer é crucial nesta discussão. Em sua obra The Shepherd Leader [O Pastor Líder], ele argumenta que os pastores bíblicos agem de quatro maneiras primárias: os pastores conhecem, alimentam, lideram e protegem as suas ovelhas.[22] Todo papel que um pastor deseje praticar através da lente da tipologia de profeta, sacerdote e rei é vista como deveres normais do pastor. Através da “matriz compreensiva para o ministério” de Witmer, os pastores conhecem as suas ovelhas, e isso dá aos pastores a sabedoria necessária para as alimentar, liderar e proteger. Para ser claro, uma proposta de tipologia de profeta, sacerdote e rei para o ministério poderia afirmar que esses papéis conceitualizam a nutrição, liderança e proteção, mas minha única preocupação é, que, a maneira que o pastor ministra, continue sendo através da lente clara do Novo Testamento, de como os pastores devem pastorear.

 

É fácil ser desencorajado com a proliferação da impiedade em nossos dias. Dependendo de para quais estatísticas olhamos, o Cristianismo está, na melhor das hipóteses, “em um modo de espera”, e na pior das hipóteses, está em declínio nos Estados Unidos. Enquanto as igrejas deviam dar uma atenção considerável aos fatores que contribuem para a condição atual de nosso testemunho, uma coisa é clara na Escrituras, os pastores devem pastorear os seus rebanhos até que o Sumo Pastor volte. Quando Ele aparecer naquele dia glorioso, Jesus Cristo, o grande Mediador entre Deus e o homem, reunirá a Sua noiva que Ele tem ministrado através dos Seus pastores. Enquanto isso, os ministros devem abraçar a realidade de seu chamado teológico para serem pastores que conhecem, lideram, alimentam e protegem as ovelhas. Esses deveres são aperfeiçoados através do oficio triplo de Cristo, e eles de alguma forma são administrados por meio dos deveres pastorais. Afinal, todos os redimidos compartilham as alegrias e os benefícios do oficio triplo de Cristo.

 

 


[1] Kevin Vanhoozer e Owen Strachan, The Pastor as Public Theologian: Reclaiming a Lost Vision [O Pastor como Teólogo Público: Recuperando uma Visão Perdida] (Grand Rapids, MI: Baker Academic, 2015).

[2] Gerald Hiestand e Todd Wilson, The Pastor Theologian: Resurrecting an Ancient Vision [O Pastor Teólogo: Ressuscitando uma Visão Antiga] (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2015). Além disso, Hiestand e Wilson seguiram com um volume editado que aborda o pastor teólogo da perspectiva de construtores da liderança da igreja. Veja Gerald Hiestand e Todd Wilson, Becoming a Pastor Theologian: New Possibilities for Church Leadership [Tornando-se um Pastor Teólogo: Novas Possibilidades para a Liderança da Igreja] (Downers Grove, IL: IVP Academic, 2016).

[3] Tom Ascol, “The Pastor as Theologian” [O Pastor como um Teólogo]. Founders Journal. Inverno 2001, 1-10.

[4] Pode-se também incluir os ministérios de Mark Dever (9 Marks) e Brian Croft (Practical Shepherding) como exemplos de incorporação de reflexão teológica intencional dentro da igreja a partir de uma perspectiva de pastoreio. Além disso, pode-se ver o útil tratamento de Al Mohler em “O Pastor como Teólogo”, em A Theology for the Church [Uma Teologia para a Igreja], editado por Daniel L. Akin (Nashville, TN: 2007), 927-934.

[5] J. L. Dagg, Manual de Teologia (Editora Fiel).

[6] Geoffrey Wainwright, For Our Salvation: Two Approaches to the Work of Christ [Para a Nossa Salvação: Duas Abordagens à Obra de Cristo] (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1997), 173.

[7] Richard Belcher, Prophet, Priest, and King: The Roles of Christ in the Bible and Our Roles Today [Profeta, Sacerdote e Rei: Os Ofícios de Cristo na Bíblia e os Nossos Ofícios Hoje] (Phillipsburg, NJ: P & R Publishing, 2016), 160.

[8] Wayne Grudem, Teologia Sistemática: Uma Introdução à Doutrina Bíblica (Editora Vida Nova).

[9] Ibid.

[10] Ibid.

[11] Ibid.

[12] Vern Poythress, The Lordship of Christ: Serving our Savior all of the Time, In all of Life, With all of our Heart [O Senhorio de Cristo: Servindo ao Nosso Salvador em Todo o Tempo, em Toda a Vida, com Todo o Nosso Coração] (Wheaton, IL: Crossway, 2016), 130.

[13] Ibid.

[14] Belcher, Prophet, Priest, and King [Profeta, Sacerdote e Rei], 165.

[15] Owen Strachan, ‘Of Prophets, Priests, and Kings: A Brief Biblical Theology of the Pastorate’ [Sobre Profetas, Sacerdotes e Reis: Uma Breve Teologia para o Pastorado], em The Pastor as Public Theologian: Reclaiming a Lost Vision [Pastor como Teólogo Público: Recuperando uma Visão Perdida] (Grand Rapids, MI: Baker, 2015), 39.

[16] John Frame, “A Primer on Perspectivalism” [Um Manual sobre Perspectivismo], http://frame-poythress.org/a-primer-on-perspectivalism/. Às vezes, o ‘tri-perspectivismo’ é chamado de ‘multi-perspectivismo”.

[17] John Frame, The Doctrine of the Knowledge of God [A Doutrina do Conhecimento de Deus] (Phillipsburg, NJ: Presbyterian & Reformed, 1987), 163.

[18] Frame, Um Manual sobre Perspectivismo, parágrafo 34.

[19] J. Todd Billings, Union with Christ: Reframing Theology and Ministry for the Church [União com Cristo: Reformulando a Teologia e o Ministério para a Igreja] (Grand Rapids, MI: Baker, 2011), 165.

[20] Eu moderei esta sessão e Jones graciosamente ofereceu a todos os participantes uma cópia de seu artigo. As referências ao seu argumento são do artigo que ele forneceu. O áudio da sessão pode ser encontrado em etsjets.org.

[21] Timothy Paul Jones, ‘Prophets, Priests, and Kings Today? Theological and Practical Problems with the Use of the Munus Triplex as a Leadership Typology’ (palestra, Encontro Annual ETS, San Antonio, TX, 15 de Novembro de 2017), 3.

[22] Timothy Z. Witmer, The Shepherd Leader: Achieving Effective Shepherding in Your Church [O Pastor Líder: Alcançando um Pastoreio Efetivo em Sua Igreja] (Phillipsburg, NJ: Presbyterian & Reformed, 2010).