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Diligência Necessária, por R. M. M’Cheyne

“Por isso, amados, aguardando estas coisas, procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz.” (2 Pedro 3:14)

 

 

I. A descrição dos crentes aqui dada: “aguardando estas coisas.”

Assim Paulo: “Não atentando nós para as coisas que se veem, mas para as que se não veem” (2 Coríntios 4:18). Os não-convertidos dentre vocês olham para as coisas visíveis. Todos os seus pensamentos, conversa, esperanças e medos, são tomados sobre as coisas temporais e do sentido. Mas aqueles de vocês que tiveram ungidos os olhos e corações iluminados pelo Espírito Santo, olham para além dos limites do tempo. Porém o olhar que se fala aqui é mais do que o mero conhecimento: é o olhar do desejo, do desejo sincero. Isto é chamado de “olhando e desejando ardentemente”. É como o olhar de uma criança por um pai ausente, quando ela olha e corre para encontrá-lo. Isto é como o olhar de uma noiva para a vinda do noivo. Quais são estas coisas?

1. A segunda vinda do Senhor. Os escarnecedores dizem: “Onde está a promessa da Sua vinda?” [2 Pedro 3:4]. “Mas o dia do Senhor virá”, versículo 10. “Aguardando, e apressando-vos para a vinda do dia de Deus”, versículo 12. O grande evento deste dia é a vinda de Jesus nas nuvens do céu. O mundo não está olhando para isso, mas os que são de Cristo estão olhando para essas coisas. O mundo pensa que Cristo está bem longe, e espera que Ele nunca volte. Eles acreditam, de algum modo, que o Filho de Deus foi uma vez nascido de uma mulher, e foi deitado na manjedoura em Belém; que Ele andou sobre as montanhas da Galiléia, e fez muitos milagres, que Ele morreu e foi para Seu Pai. E eles esperam não mais vê-lO: Eles pensam que o mundo está bem sem Ele. Certo estou de que, se Ele fosse voltar a este lugar, a maioria dos seus habitantes se lamentaria sobre Ele. Mas Ele virá, e como um ladrão na noite. Ele não retarda a Sua promessa, ainda que alguns a têm por tardia: “Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir” (Atos 1:11). “Quando se manifestar o Senhor Jesus desde o céu com os anjos do seu poder, com labareda de fogo, tomando vingança dos que não conhecem a Deus e dos que não obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo; os quais, por castigo, padecerão eterna perdição” [2 Tessalonicenses 1:7-9]. “Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre Ele” [Apocalipse 1:7]. Propriamente assim, Amém. “Aguardando estas coisas”. Se vocês são de Cristo em absoluto, vocês estão desejando tal bem-aventurada esperança. Muitos homens fiéis e tementes a Deus acreditam que o dia está próximo; e quem se aventurará a dizer que podem não estar certos? O dia do Senhor virá como um ladrão na noite. Será que uma noiva anseia muito pela vinda do dia das núpcias? O mesmo acontecerá com vocês que amam a vinda de Cristo.

2. A prova de fogo: “os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão, e a terra, e as obras que nela há, se queimarão”, “Havendo, pois, de perecer todas estas coisas”. O mundo escarnecedor não se importa com essas coisas. Eles não as desejam nem as esperam. Eles leem sobre elas na Bíblia como se eles lessem um conto fantástico, ou uma tragédia; eles não leem delas como realidades próximas. O céu azul, eles pensam, sempre deverá ocupar a terra com seu calmo arco celeste; os elementos deverão continuar sua guerra esportiva, o vento soprando do leste, e então, a oeste; a brisa de verão mudando com a explosão do inverno. A terra verde, eles pensam, ainda continuará com o seu tempo de plantio e colheita, verão e inverno. Suas casas e torres, eles esperam, devem durar por muito tempo; dão às suas terras seus próprios nomes. Ah, irmãos! vocês podem dizer que estão à procura de algo mais do que apenas isso, amanhã será como este dia, e muito mais abundante? Mas aqueles de vocês que são ensinados por Deus se importam com essas coisas. Vocês esperam e desejam este dia terrível. Vocês estão sempre olhando para cima para ver quando os céus pegarão fogo, e passarão; quando a mão que os estendeu como uma tenda para habitar, deverá enrola-los como um pergaminho. Vocês estão esperando o dia em que os céus passarão com grande estrondo, e os elementos, ardendo, se desfarão??. Vocês estão sobre a terra como se estivessem sobre uma casa em ruínas, a qual está prestes a desmoronar. Vocês olham para suas montanhas, árvores e campos, sabendo que em breve serão queimados, e todos os seus trabalhos, suas casas, palácios e torres, tão logo serão uma pilha fumegante. Não admira que Jesus disse: “Eles não são do mundo”. A maravilha é, irmãos, que estamos por tanto tempo no mundo.

3. Os novos céus e terra: “Mas nós, segundo a sua promessa, aguardamos novos céus e nova terra, em que habita a justiça” (2 Pedro 3:13). A promessa dos novos céus e da terra está contido em Isaías 65:17; novamente em Isaías 66:22, e novamente em Apocalipse 21:1: “E vi um novo céu, e uma nova terra”. O que esse mundo glorioso será eu não sei dizer. Trovões e nuvens jamais escurecerão o céu; nenhum relâmpago; nem ventos de aflição soprarão a leste; nem nevoeiros pestilentos; nem violenta tormenta. Não haverá mais maldição; espinhos e cardos em nenhuma parte serão encontrados; o paraíso será restaurado. Pode ser tudo isso, eu não sei dizer; mas uma coisa é certa: “Ali habita a justiça”, “E não entrará nela coisa alguma que contamine, e cometa abominação e mentira; mas só os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro” [Apocalipse 21:27]. Os ímpios serão desarraigados. Todo o mundo não se importa com estas coisas. Vocês não acreditam que deverão alguma vez ser unidos em feixes, e lançados fora. Vocês não creem que existe um mundo onde vocês serão separados dos seus amigos e vizinhos crentes. Mas nós olhamos para tais coisas. Nós olhamos para um momento em que vocês não mais nos desprezarão, e difamarão o nosso nome, quando vocês não mais nos odiarão e nos injuriarão, um mundo onde vocês jamais existirão, “em que habita a justiça”.

II. O dever aqui ordenado: “Procurai que dele sejais achados imaculados e irrepreensíveis em paz”.

O dever aqui ordenado é a diligência; uma tão viva diligência nisto para que quando Cristo se manifestar, possa encontrar vocês em paz, sem mácula e irrepreensíveis. Duas coisas estão implícitas neste comando.

1. Sejam diligentes para que estejam em Cristo. A fim de ser encontrado em paz, sem mácula e irrepreensível, um homem deve ser encontrado em Cristo. Se alguém está fora de Cristo, ele não está em paz com Deus, nem é sem mácula e irrepreensível. Há apenas uma maneira de ser imaculado e irrepreensível diante de Deus, que é por estar em Cristo. Por natureza, “Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” [Romanos 3:10-12]. Estão todos maculados por seu coração continuamente mau; e suas vidas ímpias são continuamente uma mancha diante de Deus. Sejam diligentes para serem encontrados em paz.

(1) Procurem isto como a única coisa necessária: “Uma coisa pedi ao Senhor” [Salmo 37:4]. A maioria nesta congregação tem algum desejo de ser salvo. Vocês não gostariam de ser lançados no inferno, vocês gostariam de ser recebidos na glória; mas poucos de vocês querem ser diligentes, ou querem se esforçar pelo Reino de Deus. Tenham seus corações tão absortos nisso, de forma que esta seja a sua principal preocupação ao dormir e acordar. Ah, se vocês soubessem o valor de Cristo, se fossem diligentes para serem encontrados por Ele em paz.

(2) Não negligenciem nenhum meio. Quando um homem é diligente na busca de alguma coisa terrena, ele não negligencia nenhum meio para chegar ao seu fim desejado. Quando um comerciante está buscando boas pérolas, ele vai de mercado em mercado. Quando um mendigo está buscando a sua comida, ele vai de porta em porta; uma centena de recusas não o desanimarão; ele ainda bate na próxima porta. E assim, se vocês verdadeiramente levam isto a sério, vocês não negligenciarão nenhum meio: A Bíblia, a oração, a oração em grupo, ministros fiéis e amigos piedosos.

(3) Renunciem a tudo que lhes embaraça. Quando um homem é diligente em coisas mundanas, ele desiste completamente daquilo que estragaria o seu sucesso. Se um homem está completamente decidido a fazer uma viagem, ele deixa sua cama de manhã cedo. Se um homem está correndo por sua vida, ele logo joga fora todo peso. Então, se vocês são diligentes na busca de Cristo; se o seu andar e negócio embaraçam vocês; se algo lhes traz tanto cuidado a ponto de vocês verem que isto será a sua ruína, vocês desistirão disto. Se qualquer companhia é prejudicial a vocês, corrompe a sua seriedade, atrapalha as suas orações e desperdiça o seu tempo precioso, vocês renunciarão. Se algum ídolo lhes aparta de Cristo, lance-o fora. Sejam diligentes, para que possam ser encontrados por Ele em paz. Herodes não desistiria de sua Herodias.

2. Sejam diligentes para permanecerem em Cristo: “Guardai-vos de que… descaiais da vossa firmeza” [2 Pedro 3:17]. Permanecei nEle, filhinhos, para que, quando Ele se manifestar tenhais confiança, e não sejais confundidos por Ele na sua vinda. (1) Não permitam nenhuma culpa sobre sua consciência. A culpa estraga nossa comunhão com Cristo, esconde o rosto reconciliado, traz nuvens, ocultamentos, carrancas. Sejam diligentes diariamente para que venham como vocês vieram no princípio. Aquele que perseverar até o fim, este mesmo será salvo. (2) Sejam diligentes para crescerem na graça. Uma árvore que cresce é uma árvore viva. Quando uma árvore deixa de crescer, corre risco de ser cortada. Assim é com um crente. Obtenham mais conhecimento, fé e amor. (3)  Busquem diariamente ser semelhantes a Jesus. Nós não somos justificados pela nossa santificação, e ainda sem a santificação não podemos ter paz permanente ou comunhão [com Deus]. Somos justificados inteiramente pela vida e morte do Senhor Jesus; no entanto, quando justificados, Ele nos transformará em Sua imagem, de modo que tão logo sejamos justificados devemos ser mais santificados. Estudem a santidade, se vocês desejam ter paz agora, e ser encontrados por Cristo em paz. Os crentes mais santos são cada vez mais felizes.

III. Motivos para a diligência.

1. A maioria é muito descuidada: a maior parte de vocês está vivendo como se o Salvador não houvesse de vir, nem os céus, nem a terra estivessem destinados ao fogo. As pessoas desta cidade são como o povo de Sodoma, elas estão à vontade no pecado. Embora tenham fartura de pão, têm abundância de ociosidade. A maioria dos crentes são muito descuidados, não se importam com o Esposo; portanto, sejam vocês diligentes. Deixem o seu descuido, tornem-se mais diligentes. Tremam para que não sejam contaminados com o descuido geral e sono. É uma doença infecciosa.

2. É necessária toda a sua diligência. O justo apenas se salva. Vocês vivem em um mundo de inimigos, seu próprio coração, as tentações do mundo, as ciladas do diabo. Poucos chegam ao céu sem quedas desesperadas. Se vocês estivessem viajando em países alpinos, entre rochas e precipícios, vocês veriam a sua necessidade de diligência, para não caírem e quebrarem seus ossos. Essa é a sua jornada agora.

3. O tempo é curto: “Então nem uma hora pudeste velar comigo?” [Mateus 26:40]. Se vocês ainda têm que ir a Cristo, o tempo é curto. Vocês são como um viajante que tem um longo caminho à sua frente, e dormiu até o dia passar. Ele deve dobrar seu ritmo, e assim é com vocês. Se vocês estão em Cristo, o tempo é curto também. Vocês são como uma sentinela em guarda. Sua hora é curta; não caiam no sono, mas mantenham-se acordados. Vigiai, porque não sabeis nem o dia nem a hora.

4. Sua diligência será inútil se vocês encontrarem-se com Cristo sem Cristo. Quando o noivo chegou, as virgens insensatas saíram para comprar; mas elas estavam muito atrasadas. Muitos de vocês começarão a procurar quando for tarde demais. Quando vocês levantarem os olhos no inferno, ou quando Jesus vier, vocês clamarão, “Senhor, Senhor”; Mas toda a diligência será, então, tarde demais. Quando o barco deixou a costa, é em vão correr para embarcar. Agora, sua diligência pode ser para um bom propósito. Ainda há lugar, a porta agora está aberta. “Sejais diligentes, para que sejais achados por Ele em paz.”

Dundee, 14 de maio de 1843.