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Graça Por Graça, por C. H. Spurgeon

Graça Por Graça, Sermão Nº 2087. Pregado na manhã do Dia do Senhor, dia 5 de maio de 1889. Por C. H. Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington.

 

“Mas nós não recebemos o espírito do mundo, mas o Espírito que provém de Deus, para que pudéssemos conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus.” (1 Coríntios 2:12)

 

O curso de nossa raça caída tem sido uma sucessão de fracassos. Sempre que houve um progresso aparente, isso foi seguido por uma queda real. Em sempre crescente escuridão a mente humana parece decidida a precipitar-se em suas lutas por uma falsa luz. Quando os homens têm sido tolos, eles dançaram em um delírio de pecado. Quando eles têm sido sóbrios, eles se entregaram a uma sabedoria fantasma de si próprios, o que revelou sua insensatez mais do que nunca. É uma história triste, a história da humanidade! Leia-a à luz da Palavra de Deus e ela trará lágrimas de seu próprio coração.

 

A única esperança para o homem era de que Deus pudesse intervir. E Ele interveio, como se Ele começasse uma nova criação, ou operado uma ressurreição desde o reino da morte. Deus adentrou na história humana e aqui as luzes brilhantes começaram. Onde Deus está operando em graça Divina, o pecado abundante é vencido, a esperança começa e o bem se torna perceptível. Este melhor estado é sempre notoriamente o efeito de uma ruptura no curso natural das coisas, um resultado sobrenatural que nunca seria visto neste miserável mundo, se ele fosse deixado sozinho. Vejam ali, a avalanche correndo pela encosta da montanha íngreme, tal é a humanidade entregue a si mesma.

 

Eis que Deus em Cristo Jesus lança-Se no caminho. Ele então se interpõe como a ser atingido sob as rochas a cair. Mas, amados, Ele Se levanta do sepultamento terrível. Ele para a avalanche em seu terrível caminho. Ele arremessa para trás a massa enorme e muda todo o aspecto da história. Nesta interposição Divina, da qual a Bíblia nos dá o melhor registro — o qual, eu espero, a nossa experiência tenha adicionado um feliz apêndice — nós contemplamos e adoramos a toda poderosa graça de Deus. Na interposição da onipotente graça notamos que o Senhor assim opera como para preservar Sua própria glória. Ele cuida para que nenhuma carne se glorie em Sua Presença.

 

Ele poderia ter usado o poder do maior, mas Ele não o fez. Ele poderia ter instruído o homem pela própria sabedoria do homem, mas Ele não o fez. Ele poderia ter declarado o Seu Evangelho com a excelência do discurso humano, mas Ele não o fez. Ele tomou por Suas ferramentas não a armadura de um rei, mas a canção de um pastor. E, Ele colocou Seu tesouro da verdade, não no vaso de ouro do talento, mas nos vasos de barro dos espíritos humildes. Ele não fez com que os homens falassem por Ele sob o falar de um gênio, mas enquanto eles têm sido movidos pelo Seu Espírito Santo. O Senhor dos Exércitos salvará os homens, mas Ele não dará aos homens um metro de espaço para ostentação. Ele lhes concederá uma salvação que deve humilhá-los no pó e levá-los a saber que Ele é Deus e além dEle não há outro.

 

“O Senhor dos Exércitos formou este desígnio para denegrir a soberba de toda a glória, e envilecer os mais nobres da terra” [Isaías 23:9]. A interposição graciosa de Deus revela a Sua soberania, Sua sabedoria, Seu poder, Seu amor, Sua graça. Mas ela não revela nada aos homens que possa admitir um pensamento arrogante.

 

O Senhor nosso Deus tem trabalhado de forma paralela com a Sua interposição central, que é vista na cruz onde Jesus desvelou o modo de Jeová de revelar poder na fraqueza. É em tal contexto que Paulo diz: “Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado” [1 Coríntios 2:2]. Ele sabia que não havia mais nada a saber. O plano da cruz é vencer a morte pela morte, remover o pecado pelo suportar da pena, operar poderosamente por sofrer terrivelmente e glorificar a Si mesmo pela vergonha. O madeiro sobre o qual Cristo morreu foi o abismo de opróbrio, e o clímax do sofrimento. Mas também foi o foco da graciosa interposição de Deus. Ele, ali, glorificou a Si mesmo em conexão, não com honra e poder, mas com vergonha e morte.

 

O grande autossacrifício de Deus é a grande vitória da graça Divina. Amados, é mais doce pensar que todos os caminhos de Deus aos homens estão em harmonia com este caminho da cruz e que a cruz é o padrão do método constante do Senhor ao realizar Seus desígnios da graça, mais pela fraqueza do que pela força, pelo sofrimento, em vez de pelo esplendor da Sua majestade. Permitam-me acrescentar também que esta forma a qual Deus tomou, pela qual Ele salva os homens e glorifica a Si mesmo, é inteiramente adequada para a condição daqueles que Ele salva. Se a salvação fosse pela excelência humana eu nunca poderia ter sido salvo. Se o plano de salvação exigisse aquilo em que um homem pudesse corretamente gloriar-se, como ela poderia ter vindo a pecadores sem força ou bondade?

 

Tal Evangelho não teria sido Evangelho para nós, por isso estaria muito fora do nosso alcance. Os planos de Deus são planos viáveis, apropriados para a fraqueza de nossa raça caída. Em Cristo, Ele vem para o homem ferido onde ele está e não pede a ele, em sua condição desfalecida, para vir até uma certa parte do caminho. A graça não começa a meio caminho em diante do alfabeto, mas é o Alfa da nossa esperança.

 

É minha agradável tarefa, embora em grande fraqueza, expor a excedente gratuidade da graça de Deus e, assim, colocar diante de vocês uma porta aberta, para que você que nunca entrou possa corajosamente fazê-lo. E para que você, que já entrou, possa sentar-se no interior e cantar para o louvor da glória de Sua graça, na qual Ele fez você “aceito no Amado”. Meu texto fala dos dons de Deus dados gratuitamente a nós e do caminho pelo qual podemos recebê-los e conhecer a sua excelência e valor; em todas estas três coisas isso nos mostra que tudo é por graça Divina, isso é dado de graça, isso é recebido por meio da graça, isso é compreendido por graça. “A graça reina”, e a graça somente.

 

Esta manhã eu falarei, em primeiro lugar, sobre as coisas que são dadas gratuitamente por Deus. Em segundo lugar, sobre o poder de recebê-los, que também é dado, uma vez que é dito como “recebido”. E, em terceiro lugar, sobre o conhecimento disso, que também é dada pelo Espírito. Quando tivermos estabelecido estas três coisas, teremos percorrido através de um amplo domínio da soberana graça.

 

 

I. Primeiro, então, AS COISAS DE DEUS SÃO DADAS GRATUITAMENTE. Todas as bênçãos da salvação são um presente. Toda a herança do Pacto é um dom. Tudo o que vem por nosso Senhor Jesus para salvar e santificar os homens é um presente. Um presente não é um retorno de compra por dinheiro. Nós não somos solicitados, em qualquer sentido, a trazer um preço a Deus a fim de comprar o perdão, a justificação ou a vida eterna. Quando a noção de compra é por um instante insinuada, é apenas para mostrar mais claramente o quão livre é a bênção: “Vinde, comprai, sem dinheiro e sem preço, vinho e leite” [Isaías 55:1]. Deus concede livremente a Sua graça, sem esperar nada em troca, senão que nós tão livremente recebamos como Ele gratuitamente concede.

 

E mesmo esta livre recepção é uma parte do dom que Ele nos concede. Não estejam sensíveis à sua bolsa, o dinheiro é inútil quanto à compra da salvação. Não estejam procurando em seu caráter, ou em suas resoluções para encontrar alguma pequena recomendação, nem as moedas do comerciante nem as da justiça própria são boas aqui. A graça de Deus seria insultada por ser posta em leilão, ou colocada à venda. “O dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor” [Romanos 6:23].

 

Ela é um dom e não um prêmio. Há prêmios celestes a serem conquistados, a serem buscados e obtidos por meio da ajuda Divina. Há uma recompensa de galardão para a qual estamos a olhar e uma coroa pela qual nos esforçamos, mas a graça Divina que perdoa os pecados e opera a fé não é um prêmio por esforço, mas sim um presente para aqueles sem força. “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” [Romanos 9:16]. Jeová terá misericórdia de quem tiver misericórdia, e Ele terá compaixão de quem Ele terá compaixão, de acordo com o beneplácito de Sua própria vontade. A salvação não é concedida aos homens como resultado de tudo o que são, ou fazem, ou resolvem ser; é o dom imerecido do Céu. Se fosse por obras, não seria por graça Divina. Mas é pela fé, para que seja da graça Divina somente. As bênçãos da salvação nos são gratuitamente concedidas por Deus, portanto, elas não são um empréstimo, entregues a nós por um tempo e para que um dia sejam devolvidas. Nossa herança celestial não é realizada em regime de locação, mediante condições de pagamento anual, é uma propriedade livre sem ônus a todo homem que pela fé colocou o pé sobre ela. Conceder uma coisa e tomar uma coisa é para criancinhas em suas brincadeiras. E mesmo entre elas isto é alvo de ridicularização. Mas os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento de Sua parte. Quando Ele o concedeu, a ação é feita plenamente e nunca pode ser revertida. Ó crente, se o seu pecado é apagado, ele nunca pode ser escrito novamente! Deus declarou que Ele perdoou as nossas transgressões. E, então, Ele acrescenta: “E jamais me lembrarei de seus pecados e de suas iniquidades” [Hebreus 10:17].

 

Não há brincar leviano em conexão com o amor eterno de Deus e Seus atos gloriosos. Se você tem Deus, você O tem por uma segurança eterna da qual ninguém pode privá-lo. “Porque este Deus é o nosso Deus para sempre” [Salmos 48:14]. A melhor parte que Jesus dá à Sua amada não nos será tirada. As coisas de Deus são todas elas dons, sem condição legal anexada a elas o que tornaria o seu mandato um pagamento, em vez de dom absoluto. Nós não podemos dizer que as bênçãos da salvação, como o perdão, a justificação e a vida eterna são dons com um “se” no meio deles, tornando-os incertos. Não, o dom de Deus não é a vida temporária, mas, “a vida eterna”.

 

Vamos permanecer por um minuto sobre o fato de que as bênçãos salvíficas são os dons de Deus. Alguns desprezam a obra da salvação e as bênçãos que a acompanham. Mas, certamente, eles não sabem o que eles desprezam. Cada parte da salvação, desde a seu Alfa até ao seu Ômega, é precioso no mais elevado grau, pois é de Deus. Este é o dom do Rei celestial, o dom do Soberano Todo-Poderoso cuja mão faz o dom de valor inestimável. Se o próprio Senhor vos deu esta ou aquela bênção, você deve valorizar o dom como proveniente de uma tal mão! Aquilo que seu pai lhe deu, preserve. Pois há uma santidade no dom do amor. O que o seu melhor amigo lhe deu, use, e por causa dele valorize-o como o símbolo de amizade. Mas o que o seu Deus lhe deu, estime acima de todas as outras coisas, Seu toque o perfumou com fragrância inexprimível.

 

Valorizem cada parte da obra da graça Divina porque veio de Deus e conduz a Deus. Os dons de Deus são sempre dignos por causa Doador. Deus não dá bugigangas e falsificações, os Seus dons são de ouro maciço e tesouro perene. Os dons da graça Divina têm uma qualidade de divindade sobre eles; todos eles são semelhantes a Deus. O Senhor deposita um estilo Divino. A Sua graça é semelhante ao restante de Sua natureza. Quão abençoado você é, se você está divinamente perdoado e divinamente justificado! “É Deus quem os justifica. Quem os condenará?” [Romanos 8:33-34]. Jeová é a sua força e seu cântico. Ele também tornou-se a sua salvação [Êxodo 15:2]. Eu gosto de pensar em todas as bênçãos da graça Divina que recebi como vindas de Deus. Porque cada misericórdia, então, torna-se profética de outras mais. Deus é imutável, e, portanto, o que Ele tem dado Ele dará novamente. “Ainda há mais a seguir”, é uma maneira popular de colocar uma grande verdade. O córrego que começou a fluir nunca deixará de fluir. Quanto mais o Senhor concede, mais se pode esperar. Toda bênção não é somente uma misericórdia em si, mas é um aviso de mais misericórdias. Quando obtemos a maioria das misericórdias de Deus, que podemos segurar, somos, por Sua grandeza, ampliados para receber ainda mais. A realização gera expectativa e expectativa aumenta a realização. Cada misericórdia, enquanto vem, abre espaço para outra maior do que ela, assim como a parte mais estreita da cunha abre caminho para a sua parte mais larga.

 

Cada misericórdia carrega mil misericórdias em seu coração. John Bunyan disse que as flores de Deus florescem duplamente; elas não apenas florescem em dobro, mas elas florescem sete vezes. E em cada uma dessas flores, vem uma semente que renderá setenta vezes sete. Portanto, sejam encorajados. A menor das coisas que foram dadas gratuitamente por Deus traz após si, uma cadeia infinita de mais elos dourados de amor. A semente da salvação, a glória e a vida eterna, é pequena como um grão de mostarda, mas aquele que a tem, recebeu o que nem a Terra nem o Céu podem conter plenamente. Que misericórdia é uma única misericórdia! Eu não consigo falar a vocês sobre os dons de Deus. Vocês devem considerar sobre o assunto. Aquilo que vem da própria mão de Deus deve estar muito mais em nossa mente.

 

Vou permanecer por um minuto ou dois sobre a palavra “gratuitamente”. “O que nos é dado gratuitamente por Deus”. Ouçam, vocês que ainda nunca encontraram a graça Divina. Cantem enquanto vocês escutam, vocês que a encontraram e agora a estão fruindo. “Dado gratuitamente”. “Bem”, você diz, “a palavra ‘dado’ é o suficiente para expressar o significado, não é?”. Sim, seria o suficiente, se os homens estivessem dispostos a entender. Mas a palavra adicional “gratuitamente” destina-se a tornar o significado duplamente nítido. Quando dizemos “graça”, não há necessidade de dizer livre graça, não é? No entanto, existem algumas pessoas que estarão convenientemente surdas, se puderem. Queremos falar deste modo para que elas não somente possam nos entender, mas para que não possam entender mal, mesmo que tentem. O texto é muito expressivo: “O que nos é dado gratuitamente por Deus”.

Como a salvação é “dada gratuitamente”? Ela vem de Deus, sem compulsão. Se um homem for parado na estrada com: “Seu dinheiro ou sua vida”, ele dá o seu dinheiro. Mas não é dado livremente. Agora, ninguém pode forçar a misericórdia de Deus, bendito seja o Seu nome, não há necessidade de pensar em uma coisa dessas. Deus dá livremente, ou seja, mesmo sem a persuasão. Deus nunca foi persuadido a ser gracioso. Ele está pronto para perdoar e Sua graça nos compele a aceitar misericórdia. Nossa oração não move o coração de Deus a nos amar, mas prova que estamos nos movendo para amá-lO. É porque Ele é misericordioso que Ele nos faz orar. Você não tem, pobre pecador, que comover um Deus disposto a estar disposto a perdoar; a conversão está na Sua vontade, não em sua vontade: “porque tem prazer na sua benignidade” [Miquéias 7:18].

 

Ele convence Jafé a habitar nas tendas de Sem, mas Jafé não precisa convencer o Senhor a recebê-lo. A fonte do Divino amor derrama suas correntes de graça em todas as estações, sem pressão. Não há necessidade de pisar as uvas da misericórdia para forçar a extração de seu suco animador. Os caminhos do Senhor derramam gordura, destilando espontaneamente como o orvalho e a chuva.

 

Sim, a graça de Deus é tão livre em suas dádivas que elas vêm sem sugestão. Um homem pode ser generoso de coração e ainda assim ele pode precisar de uma dica para estabelecer em sua mente o alívio aos necessitados. Mencione uma instituição de caridade para ele e informe-o de que ela está em necessidade e suas moedas estão vindo. Mas ele precisa de um incitador. Ninguém incitou a graça de Deus. Ninguém jamais sugeriu qualquer ato de generosidade para com Deus, de Seu próprio coração o pensamento vem de Si mesmo. Os dons de Sua graça estavam em Seu antigo propósito eterno e de Sua própria boa vontade. Ele gratuitamente nos instrui como orar por aqueles dons que Ele no passado propôs conceder. A nossa oração não instrui o Senhor; ela apenas mostra que Ele, em certa medida, nos instruiu.

 

Ele dá gratuitamente no sentido da espontaneidade absoluta. Ele também concede sem murmuração. Nós conhecemos homens que dizem: “Bem, acho que devo dar alguma coisa. Mas essas reivindicações vêm muitas vezes terrivelmente. Minha bolsa está sempre sendo puxada. Mas acho que eu não posso sair disso sem uma contribuição”. Ele dá como se ele estivesse se separando de seu sangue. Seus dedos tremem e demoram muito tempo sobre o xelim, o qual tem que ser extraído tão forçadamente como se fosse um dente. Alguém se maravilha que a imagem da rainha fica sobre ele após ter sido segurada com tal pressão?

 

Mas o Senhor dá a grandeza do Seu coração, tanto quanto sem um traço de má vontade. Mesmo quando o presente foi o Seu próprio Filho, Ele livremente O entregou. Nunca há um rancor na mente do Senhor para com aqueles que se debruçam sobre Ele mui grandemente e mais frequentemente. “Lança em rosto” [Tiago 1:5]. Muitos que dão, aproveitam a oportunidade para censurar, dizendo: “Eu não acho que você deveria estar nesta situação. Você deve ter sido um desperdiçador e não tão diligente quanto deveria ter sido, ou não estaria me pedindo”. E assim por diante, até que eles tenham tomado a compensação integral de seu xelim em relação à pobre criatura que se sente obrigada a suportar o castigo.

 

Deus dá liberalmente e não adiciona nenhuma tristeza àqueles que humildemente buscam a sabedoria em Suas mãos. Oh, o esplendor da generosidade de Deus! Ele está pronto para salvar; esperando para distribuir. Seu deleite é conceder a Sua bondade. O preço foi pago há muito tempo na cruz do Calvário e foi consumado. Desde que o grande Sacrifício foi apresentado, todas as bênçãos da graça Divina são gratuitamente dadas a nós por Deus com uma voluntariedade que mostra que Seu coração as acompanha.

 

Mais uma vez, vocês sabem que nós usamos a palavra “livremente”, no sentido de fartura. Dizemos de tal e tal pessoa, “Seu banquete foi oferecido com uma mão livre”, ou podemos dizer: “Ele ajuda seus vizinhos pobres mui livremente”. Ou seja, seus dons são sem restrições. Os benefícios concedidos por alguns são como as disposições de uma casa de correção, pesadas por onças¹. Mas a livre graça não se limita por cálculos, nem obriga o requerente por estimativas. Como uma dona de casa de mãos generosas faz provisões liberalmente, assim o Senhor provê mais do que a necessidade demanda. As meras migalhas da mesa do Senhor seriam suficientes para alimentar multidões. O Senhor não dá o Seu Espírito por medida estreita, nós não somos limitados nEle. Venha você santo ou pecador necessitados, quanto mais você possa segurar, melhor o Senhor Se agradará de você. E se, sentado à Sua mesa, você se sente como se pudesse comer tudo o que está sobre ela, não hesite em experimentar, pois você será cordialmente bem-vindo.

 

A sua capacidade falhará muito antes da provisão. O Senhor deseja que você abra a boca e Ele vai enchê-la; é mais fácil para Ele conceder do que para você abrir a boca. Ele encoraja e requer que vocês tragam grandes petições consigo quando vierem diante de Seu propiciatório. Venham e recebam “o que nos é dado gratuitamente por Deus”. Eu não sei se eu tornei a minha intenção tão clara quanto eu gostaria. Mas isso eu ponho diante de vocês: Deus dá a Sua graça gratuitamente no sentido mais enfático. Sua graça soberana é de Si mesmo: “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” [Romanos 9:16]. Ele não é obrigado a ser gracioso pela força de nossa insistência, mas Ele muitas vezes concede àqueles que nunca Lhe solicitaram, como está escrito: “Fui achado daqueles que não me buscavam” [Isaías 65:1]. Ele chama, pelo Seu poder Divino, aqueles que antes não estavam dispostos a vir a Ele. Um bom exemplo é Saulo de Tarso, que recebeu luz e Divina graça, quando ele estava no ato de perseguir os santos!

 

Deus dá a Sua graça tão gratuitamente quanto o sol, que, assim que sobe de suas câmaras no leste “semeia a terra com pérola oriental”. Veja quão livremente ele visita a pequena flor que segura o seu cálice para tê-lo cheio de sol! Como ele espreita o interior do caminho da floresta, onde, junto ao ribeiro, a samambaia ama a sombra. Se a cotovia voa para encontra-lo ou a toupeira escava na terra para escapar de sua luz, o sol brilha sobre todos igualmente. Ele enche os céus e inunda a terra com o brilho que é de sua natureza difundir. O Senhor vem, por promessa, àqueles que O buscam. Mas Ele também vem em soberana graça para aqueles que não O procuram.

 

Ele está vindo nesta manhã para alguns de vocês que não O procuram. Pois Ele é como o orvalho que não espera pelo homem, nem se demora pelos filhos dos homens. Vocês viveram do campo e disseram que viriam e ouviriam Spurgeon nesta manhã. Mas vocês não sabiam que o Senhor estava prestes a salvá-los. Entreguem-se ao decreto da graça Divina, da qual sou o oficial nesta manhã. Entreguem os seus corações ao amor todo-poderoso. E quando vocês o fizerem, perceberão muito do “que nos é dado gratuitamente por Deus”.

 

Agora, vamos falar sobre o que são essas coisas. Elas são completamente imensuráveis, isso “que nos é dado gratuitamente por Deus”. Devo dizer-lhes o que elas são em uma palavra? DEUS. Deus nos dá Deus. Deus o Pai dá a Si mesmo aos indignos filhos dos homens. Ele Se torna seu Pai e seu Amigo. Ele lhes dá a Sua sabedoria, Seu poder, Seu amor, Sua imutabilidade. Ele dá a Si mesmo aos homens para ser a sua possessão para sempre. Na adoção, Ele dá a Sua paternidade e concede-lhes a filiação, de modo que eles podem clamar: “Pai nosso, que estás no Céu”. Ele dá-lhes perdão e aceitação. Ele concede-lhes respostas para suas orações em dez mil maneiras. Ele lhes dá Sua providência para guia-los e liderá-los. Ele dá-lhes tudo o que precisam para a vida, e, em seguida, Ele dá-lhes uma herança com Ele para sempre no mundo vindouro. Ele que nos deu Jesus, com Ele também nos dá livremente todas as coisas.

 

Amados, o Filho de Deus também dá a Si mesmo. “O qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim” [Gálatas 2:20]. “Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro” [1 Pedro 2:24]. Jesus dá ao Seu povo o Seu sangue para lavar os seus pecados, a Sua justiça para cobri-los com beleza, a Sua intercessão para pleitear sua causa e Sua entronização para garantir a sua vitória. Ele dá o Seu amável cuidado para preparar um lugar para eles no Céu. Ele dá a Sua ressurreição para ressuscita-los do túmulo e Sua união com eles para preservá-los através dos perigos da vida. Nós somos casados com Ele e assim Ele dá livremente o amor de Seu coração para nós. Mesmo Sua coroa, Seu trono e Céu Ele dá livremente aos Seus eleitos. Oh, que dom da graça é dado gratuitamente a nós por Deus! “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito” [João 3:16]. Ele é dom inefável de Deus. Ninguém pode expressar isso, pois ninguém pode abrangê-lo dentro dos limites do pensamento.

 

O Espírito Santo também Se dá livremente para nós. Ele é o “livre Espírito”, e nunca mais livre do que quando Ele Se dá para iluminar, vivificar, converter, consolar e santificar Seu povo. Ele nos leva ao arrependimento e à fé. Ele nos conduz ao conhecimento e à santidade. Ele preserva e perfeitamente nos conforma à imagem de Cristo. Assim, vejam um resumo das coisas que nos são dadas gratuitamente por Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo.

 

Tudo é vosso, os dons gratuitos de Deus. Agora, se Paulo, quando estava escrevendo como apóstolo, falou sobre essas coisas não como o que ele tinha conquistado ou merecido, mas como DONS GRATUITOS para ele, você e eu, miseráveis pecadores que somos, podemos muito bem estar felizes em aceitar esses presentes inestimáveis nos mesmos termos. Estamos felizes em pensar que estes dons são colocados à nossa porta, sem nada a pagar e nada por fazer, senão simplesmente aceitá-los como “o que nos é dado gratuitamente por Deus”. Eu tenho usado uma linguagem simples, mas o meu tema é sublime. Que o Senhor o abençoe!

 

 

II. Nosso segundo tópico é: O PODER DE RECEBER DESSES DONS TAMBÉM É DADO GRATUITAMENTE. Alguns de vocês estão dizendo: “Eu vejo muito claramente que a salvação é um dom de Deus, mas como eu posso consegui-la? Como posso apreender essas bênçãos e fazê-las minhas?” Caro amigo, o texto diz: “recebemos […] o Espírito que provém de Deus”. O poder com que nós recebemos esses dons que Deus dá gratuitamente, é o poder do Espírito Santo. E isso, também, nós não compramos ou merecemos, mas livremente o recebemos.

 

O poder de apegar-se a Cristo não está em nossa natureza, em sua própria força ou bondade. Nosso estado é o de morte, e a morte não pode compreender a vida. Deus, o Espírito Santo, deve nos dar a vida antes que possamos subir da sepultura de nossa depravação natural e lançar mão de Cristo, que é a nossa vida. Não está na natureza humana não regenerada mesmo o ver o reino de Deus, e muito menos o entrar nele. “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus” [1 Coríntios 2:14]. O poder de receber as coisas de Deus não está em elevados dons ou realizações. Nós não podemos pensar que um Homero, ou um Sócrates, ou um Platão seriam capazes de obter as coisas de Deus mais facilmente do que os homens comuns. A genialidade não é de nenhuma ajuda à graça Divina. De fato, grande talento e grande aprendizado muitas vezes perdem o caminho aonde a humildade viaja com facilidade. Não sentem-se e digam: “Eu sou um miserável estupido e não posso ser ensinado por Deus”. Ou, “Eu sou um humilde camponês ou uma pobre mulher cuidando da casa de outros. Eu não consigo compreender essas coisas preciosas”. Não é assim. Leiam as palavras de Paulo no primeiro capítulo desta Epístola: “Porque, vede, irmãos, a vossa vocação, que não são muitos os sábios segundo a carne, nem muitos os poderosos, nem muitos os nobres que são chamados” [1 Coríntios 1:26]. O poder de receber as bênçãos de Deus não está no talento em absoluto, mas ele está no Espírito de Deus. Você acha que se tivesse uma longa mão, você poderia alcançar a graça de Deus? Não; mas se você tiver uma mão atrofiada, aquela graça Divina pode chegar até você. Você supõe que se tivesse um olho nítido poderia ver o Senhor? Sim, mas se você não tem olhos, senão um cego, o Senhor pode abri-lo e dar-lhe vista. A graça não está vinculada às habilidades raras do gênio, nem aos conhecimentos preciosos da experiência, nem às altas realizações da aprendizagem. Nenhuma pequena criança pode dizer: “Eu não posso receber as coisas de Deus, porque eu sou muito jovem”. Pela boca dos meninos e das criancinhas de peito tiraste o perfeito louvor [Mateus 21:16]. As pessoas que tiveram uma experiência longa e instrutiva estão muitas vezes tão longe de graça Divina como se nunca tivessem experimentado nada. Pessoas que obtiveram graus na universidade podem ainda ser tão ignorantes quanto os Hotentotes² a respeito das coisas celestiais. O poder de receber permanece sendo do Espírito Santo e o Espírito Santo não encontra o bem em nós, mas o traz para nós.

 

“Bem”, diz alguém, “mas certamente temos que passar por um período de grande angústia e aflição para que possamos receber as coisas de Deus”. Muitas vezes os homens sofrem muito com um sentimento de culpa e medo da punição antes de lançar mão de Cristo. Mas eles não lançam mão de Cristo por esta experiência. O homem ferido não é restaurado por suas dores, o homem faminto não é alimentado por sua fome. O poder de lançar mão de Cristo é um poder espiritual, que deve ser dado do alto. Ele não se encontra escondido no interior, mas é implantado pelo Senhor, de fora. Nenhum processo de disciplina, ou educação, ou evolução pode capacitar um homem a lançar mão das coisas de Deus. Ele deve nascer de novo do alto e seu coração deve ser aberto para receber a graça de Deus. Um homem não pode receber nada, a menos que seja concedido a ele que recebê-lo e este dom é o Espírito Santo.

 

O poder receptivo não é concedido pela emoção humana, nem pelo poder de oratória do pregador a quem o homem escuta. Possivelmente alguns pensaram: “Se eu pudesse ouvir fulano de tal pregar, então eu seria capaz de acreditar”. Afastem esse pensamento, vocês acreditarão em Jesus Cristo, quando o Espírito Santo levar vocês a verem como o seu Salvador é digno de sua confiança. Vocês nunca crerão nEle, se estiverem olhando em si mesmos pelo poder de acreditar, em vez da própria verdade em si e daquele Espírito que pode tornar a verdade clara para vocês e operar em vocês o querer e o efetuar a boa vontade de Deus. Venham, então, queridos corações, que se sentem tão entorpecidos e mortos e tão sem força que não podem fazer nada, lembrem-se bem confiantemente que o Espírito Santo pode permitir que vocês recebam todos os dons de Deus. Que Ele possa abençoar neste momento a verdade para vocês, e sentirão a influência suave, doce de arrependimento derretendo-os às lágrimas por causa do pecado; vocês sentirão algo vos dizendo que em Cristo há exatamente o que vocês precisam e vocês sentirão uma resolução formando-se em seu coração: “Eu vou obtê-lO se Ele puder ser obtido”. Então vocês chegarão a uma decisão solene no presente momento: “Eu O terei agora. Vou agora mesmo descansar em Jesus, que morreu pelos ímpios. De uma vez por todas, eu voltarei os meus olhos para a cruz e olharei para Aquele que pendura-se nela e confiarei o peso de minha alma sobre Ele”.

 

Essa é a forma como a obra é feita. Você pode não saber no momento que a força motriz é o Espírito de Deus, porém ninguém mais opera isso em nós, senão o Espírito Santo. Nós não vemos o Espírito nem ouvimos a Sua voz, nem reconhecemos a Sua Pessoa no momento. Mas, sendo esvaziados do eu, pela graça de Deus, e conduzidos a aceitar as coisas que nos são dadas gratuitamente por Deus, somos espiritualmente enriquecidos e depois percebemos que foi tudo por Divina graça, pelo dom gratuito do Espírito de Deus. Uma coisa que eu gostaria de dizer antes de deixar este ponto: lembrem-se que há dois espíritos, há o Espírito de Deus e o espírito do mundo. Este último está ativo em toda parte e os crentes o sentem que ele é seu inimigo, ele opera o mal e apenas o mal. Somente o Espírito de Deus pode salvar; o espírito do mundo arruinará a todo os que se rendem a ele. Eu vos advirto contra o espírito desta era, o espírito do mundo. Não se coloquem sob a influência do espírito do mundo. Pois mesmo que vocês sejam verdadeiramente salvos, a sua influência pestilenta vos ferirá. Vocês estão buscando a salvação? Mantenham-se afastados do espírito do mundo, tanto quanto possível. E vocês não terão tarefa fácil, pois seu contágio será encontrado em homens que professam a religião, mas ardilosamente a minam. E é prevalente em livros que fingem reverenciar o Senhor enquanto O traem. O mundo religioso é mais perigoso, de longe, do que o mundo sensual. Ele veste a pele de ovelha, mas tem toda a ferocidade do lobo. Vocês não podem esperar que o Espírito de Deus os abençoe se vocês se rendem ao espírito do mundo. Não se misturem com o que é duvidoso. Há obras de ficção atualmente em abundância, cuja tendência é contaminante, o mundo está encharcado com elas. Evite-as como se fossem um banho de ácido. Se vocês querem encontrar a vida eterna, vão para onde o Espírito de Deus opera: examinem as Escrituras e ouçam a verdade de Deus, através da qual o Espírito de Deus normalmente opera. E associem-se com aqueles em quem o Espírito de Deus habita. Ouçam a pregação que vem de Deus, pois somente essa vos conduzirá a Ele. Vocês logo conseguem dizer de que tipo é a pregação, eu não acho que vocês precisam permanecer dez minutos antes que descubram se ela está de acordo com o espírito do mundo, ou no poder do Espírito de Deus. Esses dois espíritos opostos estão travando uma batalha feroz nesta hora. E lamento dizê-lo: muitos que professam piedade estão contaminados com o espírito do mundo. Acautelai-vos, para que vocês sigam o espírito correto, pois ao fazê-lo encontrarão as coisas que Deus nos deu gratuitamente, e com elas a glória e imortalidade e vida eterna. Agora, eu finalizei o que eu gostaria de fazer, se eu fiz com que vocês sentissem como a salvação é gratuita. Eu gostaria que vocês soubessem que não somente os dons da Divina graça são mui livres, mas que a própria mão com que tomamos o dom é sensibilizada pela graça de Deus. A doação imerecida provê não apenas o dinheiro, mas a bolsa na qual o levamos para casa. Deus não dá somente a bênção para o coração, mas o coração para receber a bênção. Aleluia!

 

 

III. Meu último tópico é este: O CONHECIMENTO DESTES DONS É DADO GRATUITAMENTE.

 

Isto é assim, no menor e mais comum sentido, uma vez que o conhecimento das coisas dadas gratuitamente por Deus é comunicado às nossas mentes por meio da Revelação contida nas Escrituras inspiradas. Estes Escritos Sagrados estão abertos a todos e todos são convidados a examina-los. Leiam a Palavra de Deus e vocês saberão literalmente quais são os dons gratuitos de Deus aos homens. Mas esta forma de conhecimento não é suficiente; não podemos conhecer as coisas de Deus salvificamente por mera leitura, nem podem elas ser ensinadas a nós por um livro. A cabeça aprende por natureza, mas o coração deve aprender pela graça Divina. A maneira de conhecer as coisas de Deus é pelo que está escrito na Palavra de Deus, sendo também escrito no coração pelo mesmo Espírito que escreveu o livro.

 

Eu ouvi sobre o arrependimento, mas eu nunca conheci o arrependimento até que me arrependi. Ouvi falar sobre fé, mas eu nunca conheci a fé até que eu acreditei. Ouvi falar sobre perdão, mas eu nunca conheci o perdão até ser lavado no sangue do Cordeiro. Eu li sobre a justificação pela fé, mas nunca fui justificado até que, pela fé, eu recebi o Senhor Jesus para ser minha justiça. A apropriação pela fé concede uma apreensão pelo entendimento; o fruir experimental cria o verdadeiro conhecimento. Amados, vão ao Espírito Santo e peçam-lhe para que vocês sejam capazes de tomar as coisas que Deus dá livremente e quan-do as possuírem, vocês as conhecerão.

 

Se vocês ainda desejam conhecer mais da preciosidade infinita dos dons de Deus, está é uma sábia ambição. E será plena e livremente satisfeita pelo Espírito Santo. Recorram a Ele, pois Ele é o grande Mestre. Não há Instrutor como Ele é. Seu conhecimento supera todos os outros, pois Ele conhece a mente de Deus. Nenhum homem pode comunicar-lhes o que ele não conhece e ninguém conhece a mente de Deus, senão o Espírito de Deus. O Espírito Santo conhece o infinito e o insondável. E, portanto, Ele é capaz de ensinar o que vocês não podem aprender em outro lugar. A mente e o significado de Deus em todo o dom da graça, o Espírito pode desvelar para vocês. Não existe nenhum ensino eficaz, exceto se vocês são ensinados pelo Espírito de Deus. Todos os outros ensinos são superficiais e, portanto, temporários e vãos. Mas o Espírito Santo fala à alma e escreve as linhas da verdade nas tábuas de carne do coração, de modo que elas nunca podem ser apagadas. Se vocês quiserem conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus, o Espírito Santo deve levá-los para o interior secreto da sagrada casa do tesouro.

 

Por meio da mesma ajuda Divina, vocês devem ser habilitados a alimentarem-se dessas coisas preciosas e ter um pleno gozo nelas. As coisas de Deus, como eu já disse antes, são mais conhecidas por um fruir pessoal delas. Quem pode conhecer a comida e bebida, exceto por meio de viver delas? Quando vocês conseguem se alimentar da Escritura, quando vocês conseguem sugar o tutano da doutrina, quando vocês conseguem extrair o suco de uma promessa Divina, quando vocês são nutridos e florescem pelo ensino inspirado; então o Senhor vos fez livremente conhecer as bênçãos de Sua Aliança. Oh, que o Espírito Santo seja para vocês como a lâmpada sete vezes ramificada, alegrando os seus olhos com a Sua luz e, como os pães mostrados para nutrir seu coração! E depois que Ele possa levá-lo para dentro do véu e fazer você ver o propiciatório e toda a glória do Senhor, o seu Deus!

 

Oh, experimentar esta bênção: “E todos os teus filhos serão ensinados do Senhor”! [Isaías 54:13]. Que nós sejamos ensinados por meio do fruir real e comunhão celeste, para que possamos entrar em santa familiaridade com as coisas preciosas que nos são gratuitamente dadas por Deus. Eu não sei se quero ouvir alguma palestra sobre o pão. Eu sei que quero saber tudo sobre essa forma de alimentação, porque eu o como todos os dias. Mesmo assim, precisamos de pequena conversa sobre as bênçãos do Pacto, porque elas são a porção contínua de nossas almas, a nossa força em todas as fases da nossa peregrinação para o Céu e nosso cântico, em antecipação do descanso eterno.

Meus queridos irmãos e irmãs, vão para esta universidade do Céu. Os termos são “nada a pagar”, ainda que a educação esteja além de todos os outros. Bendita escola, na qual os pecadores são feitos santos e santos são levados a crescer à semelhança de Jesus! Tudo é tão livre nesta universidade como na primeira escola de fé humilde onde o pecador aprende o arrependimento e aventura-se a confiar em Seu Salvador. A vida eterna é um dom de Deus em sua primeira respiração. E ainda é o dom de Deus em seu mais alto desenvolvimento. Quando vocês estiverem diante do trono do Altíssimo, ficarão ali por Divina graça somente. Durante todo o tempo, a partir do abismo de pecado até a porta do Céu, sem uma pausa, toda a estrada é pavimentada com a Divina graça.

 

Nós não começamos com graça e depois prosseguimos confiando em obras; nós, a princípio, não recebemos gratuitamente e, em seguida, temos que viver na dependência de um salário suado. Não! Ainda, ainda, ainda, Ele opera em nós o querer e o efetuar e nós amavelmente nos esforçamos sob Sua orientação Divina enquanto somos fortalecidos pelo Seu poder Divino. A graça coloca os alicerces, e:

 

“A graça deve coroar todo o labor,

Através dos dias eternos;

Ela estabelece no Céu a pedra mais elevada,

E bem merece o louvor.”

 

De quem é tudo isso? Escutem-me por poucos minutos. Eu falo para aqueles de vocês que conhecem o que é dado gratuitamente por Deus. Aprendam com essas coisas a serem humildes. Se vocês conhecem alguma coisa, vocês têm sido ensinados. Se vocês possuem qualquer coisa, foi dado a vocês. Vocês são um filho da caridade. As vestes sobre vocês são fornecidas pelo favor do Senhor. O pão na boca é o suprimento de Seu amor. Um santo orgulho é uma contradição nos termos. “E que tens tu que não tenhas recebido?” [1 Coríntios 4:7].

 

No próximo lugar, sejam generosos. Eu não posso acreditar em um santo avarento. Aqui, novamente, há uma contradição em termos. Todas as coisas lhes são dadas gratuitamente; vocês irão acumulá-las? “De graça recebestes, de graça dai” [Mateus 10:8]. Aquele que revira a moeda no bolso para toma-la tão pequena quanto sempre que puder antes que ele a dê, é uma pobre criatura. Ele pega o menor troco no Sábado para que ele possa dar-lhe no Domingo. Ele é um santo, é? Deixem que acreditem em sua santidade quem puder. O filho de Deus deve ter coração generoso. Ele deve entregar-se porque Jesus se entregou por nós. Vocês devem ter um grande coração, pois vocês servem ao grandioso coração de Cristo que lhes deu todas as coisas para que desfrutem gratuitamente.

 
Em seguida, estejam dispostos a transmitir o que sabem. Se o Espírito de Deus fez-lhes conhecer o que nos é dado gratuitamente por Deus, tentem contar para mais para alguém. Não ajam como se vocês tivessem uma patente, ou um monopólio e quisessem que a graça Divina seja um segredo. Vocês mesmos não têm o dom de Deus se vocês não têm nenhum desejo de que os outros o tenham. O primeiro instinto de um homem convertido é tentar converter a outros. Se vocês não têm nenhum desejo de levar outros para o Céu, vocês mesmos não estão indo para lá.

 

Experimentem e transmitam esse conhecimento na maneira em que vocês o receberam. Vocês o receberam pelo Espírito Santo. Então vão e o ensinem não com ensinos de palavras de sabedoria humana, mas no poder do Espírito de Deus. Ontem à noite, eu me senti tão doente que eu pensei que eu não seria capaz de pregar hoje. Mas eu me animei com esta reflexão: se você não conseguir enriquecer a ilustração, se você não conseguir exibir nenhuma beleza de estilo, não importa, você pode dizer a verdade de Deus que salva a alma em palavras simples e o próprio Deus o fará. Espírito Santo, abençoe minhas débeis palavras nesta manhã! Tu podes fazê-lo e Tu terás todo o louvor.

 

Vão para a sua classe de Escola Dominical, nesta tarde, queridos amigos, e digam: “Senhor, ponha palavras em minha boca e ensina-me, para que eu possa ensinar aos outros. Capacita-me para o trabalho, e não no poder do meu conhecimento, eloquência, ou experiência, mas sob a orientação do Seu Espírito”. Melhor cinco palavras em Espírito do que uma longa oração sem o Seu próprio poder.

 

Por último, se o Senhor nos deu todas estas coisas gratuitamente, vamos louvá-lO. Eu não me importaria de ouvir nosso irmão ali clamar: “Amém”. Ele pode fazê-lo novamente, se ele quiser. Às vezes é bom deixar a água viva do louvor a Deus estourar os canos e inundar as ruas. Que conjunto mudo nós somos! O Senhor tem que puxar com força a corda antes que nosso sino, enfim, toque. Vamos louvá-lO por aquilo que Ele fez por nós e façamos este voto nesta manhã:

 

“Eu O louvarei na vida, eu O louvarei na morte,

E O louvo enquanto Ele me der fôlego;

E digo que, quando a garra da morte repousar fria em minha testa,

‘Se sempre Te amei, meu Jesus, mesmo agora.’”

 

O próprio Senhor abençoe a todos, de acordo com as riquezas de Sua graça. Amém.

 

 

 

Porções da Escritura lidas antes Sermão: 1 Coríntios 1:18-31; 2

Hinos de “Nossa próprio Hinário” — 386, 491, 236.

 

 

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[1] Unidade de peso igual a um décimo sexto de uma libra ou 16 dracmas ou 28,349 gramas (www.metric-conversions.org).

[2] Hotentotes: Grupo étnico existente no sudoeste de África; foram chamados hotentotes pelos colonizadores europeus. Aparentemente, estes povos têm uma longa história, estimada em vários milhares (talvez dezenas de milhares) de anos, mas agora estão reduzidos a pequenas populações, localizadas principalmente no deserto do Kalahari, na Namíbia, mas também no Botsuana e em Angola (Wikipédia).