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O Capitão de Nossa Salvação, por C. H. Spurgeon

O Capitão de Nossa Salvação, Sermão Nº 2619. Pregado por C. H. Spurgeon, no Tabernáculo Metropolitano, Newington, na quinta-feira, 19 de janeiro de 1882. Destinado para ser lido no Dia do Senhor, 23 de abril de 1899.

“Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e Mediante Quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles.” (Hebreus 2:10)

 

Observem, queridos amigos, quão glorioso é Deus. A descrição dada aqui pelo apóstolo contém apenas poucas palavras, e essas quase todas pequeninas, mas quão plenas de significado elas são! “Aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe”. Aqui vocês têm Deus manifesto como sendo tanto o princípio e o fim de tudo! Todas as coisas são para Ele, para efetuar Seu desígnio, cumprir Seu propósito, operar a Sua glória, e isso porque todas as coisas são por Ele: em sua primeira criação, em sua posterior preservação e em tudo o que ainda está por vir sobre elas! De quem fala isso o apóstolo, senão do Deus Triuno, ao qual seja a glória para todo o sempre? De que “Aquele” fala-se isso, se quisermos ser ainda mais exatos, senão do Pai que fez o Seu Filho perfeito em trazer muitos filhos à glória? É o Pai “para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe”.

E, meus queridos irmãos e irmãs, o apóstolo foi sabiamente guiado pelo Espírito Santo para dar este título ao Pai neste lugar particular. Às vezes, na oração, os homens chamam a Deus por um ou outro de Seus nomes e cada nome pode estar correto, mas pode não ser bem escolhido para aquela ocasião especial. Mas vocês observarão que se o Espírito Santo descreve tanto Deus o Pai ou o Senhor Jesus por qualquer termo além de Seu nome usual, o título é sempre mui sabiamente escolhido e é o mais apropriado para aquela ocasião. Agora, na questão de nossa salvação, precisamos de Alguém, “para quem são todas as coisas”, pois ninguém a não ser o Criador pode nos criar novamente em Cristo Jesus. Ninguém que tem menos poder do que o Divino Preservador dos homens pode nos impedir de cair. E ninguém, senão o Ser Divino, que abrange todas as coisas dentro do alcance de Sua mente infinita, pode nos proteger contra os muitos terríveis perigos no caminho para o Céu. Se alguma vez devemos ser levados para a glória, deve ser por Deus, “para quem são todas as coisas”. E, certamente, se somos levados para lá, como eu oro para que todos nós sejamos, será por Aquele “mediante quem tudo existe”, e para sempre adoraremos este mistério de Sua graça, que nos pousou em segurança na margem celestial!

Cada porção do grande plano de salvação expressa o esplendor da graça do Deus Altíssimo. O que vemos em nossa eleição, senão a Sua graça? O que vemos em nossa redenção, senão a Sua graça? O que vemos em nossa conversão, senão a Sua graça? O que vemos em nossa justificação, santificação, adoção e preservação final, senão a Sua graça? Por Ele, na graça, bem como na criação, são todas as coisas; e para Ele, na graça, bem como na criação, são todas as coisas. A Ele pertence tanto o poder e a glória, os dois devem sempre andar juntos. Ele opera todas as nossas obras em nós e a Ele seja todo o louvor, para todo o sempre!

Começamos, então, com isso como uma espécie de condutor: que o grandioso Pai, que determinou a nossa salvação, é capaz de executar plenamente o que Ele planejou, pois por Ele são todas as coisas. E Ele também tem uma razão admirável para efetuá-la, porque isso Lhe trará glória, e para Ele são todas as coisas. Se a nossa salvação pudesse degradar o Seu nome, em qualquer sentido ou respeito; se a salvação dos pecadores pudesse ainda obscurecer a gravidade de Sua justiça, a questão seria saber se Ele alguma vez a realizaria. Mas, uma vez que não há nada sobre esta obra, senão o que Lhe trará honra e glória, nós descansamos seguros que, tendo posto Sua mão nisto, Ele não recolherá Seu braço até que Ele tenha plenamente cumprido Seu eterno propósito, para o louvor da glória de Sua graça!

Nosso texto coloca diante de nós uma preciosíssima verdade a respeito de nosso Senhor Jesus Cristo e Seu povo. Primeiro, aqui há um elevado empreendimento: o trazer muitos filhos à glória. Em segundo lugar, este empreendimento está sendo realizado por um Capitão ordenado, há um Capitão de nossa salvação, mediante quem muitos filhos devem ser trazidos à glória. E, em terceiro lugar, devemos notar a apropriada obra do Pai sobre Aquele, que é o Príncipe: “Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles”.

I. Primeiro, então, aqui HÁ UM ELEVADO EMPREENDIMENTO: o trazer de muitos filhos à glória.

Eu acho que vocês encontrarão o paralelo histórico deste empreendimento na grande obra do Senhor ao levar as tribos de Israel para fora do Egito, através do Mar Vermelho, ao longo do deserto a Canaã. O Senhor, em Sua libertação de Seu antigo povo, nos concede um tipo do que Ele está fazendo e fará por todos os Seus eleitos. O êxodo não foi apenas a saída do povo do Egito para o deserto, pois, então, eles poderiam realmente ter dito a Moisés: “Não havia sepulcros no Egito, para nos tirar de lá, para que morramos neste deserto?” [Êxodo 14:11]. Mas toda transação não fora concluída, o empreendimento ainda não havia terminado, até que todos aqueles a quem o Senhor pretendia abençoar houvessem realmente atravessado o Jordão e tomado posse da terra prometida. Ele não conduziu os filhos de Israel apenas para fora do Egito, mas Ele os levou para Canaã, e Sua liderança sobre eles através do deserto é uma figura e um emblema da liderança de Cristo sobre os muitos filhos que Ele está trazendo à glória. Eu quero que vocês pensem sobre a salvação dos redimidos à essa luz.

Para começar pelo fim, o Senhor Jesus está trazendo muitos filhos à glória, assim como Deus trouxe Seu antigo povo à Canaã. O destino final de todo crente é a glória eterna. Não há um de nós que será perfeito e completo até que estejamos ao lado direito de Deus, o Pai. Não há posição secundária, aonde alguns dos redimidos possam estar satisfeitos em permanecer, mas os muitos filhos devem todos ser trazidos à “glória”. Essa é a palavra, uma das maiores palavras que podem ser ditas por qualquer boca mortal. Vocês conhecem todo o seu significado? Não, meus irmãos e irmãs, vocês não conhecem, e há outra palavra que vem antes disso: “O Senhor dará graça e glória” [Salmos 84:11]. Vocês conhecem todos os significados, até mesmo, de “graça”? Não, vocês não conhecem; ainda assim, vocês têm provado da graça de Deus, e se vocês não conhecem em absoluto o significado daquilo que vocês participam cotidianamente, eu tenho certeza que vocês não conhecem o significado daquela “glória” que vocês ainda não obtiveram. O Céu é justamente chamado de “glória”. Eu não tenho dúvida de que é um lugar mui glorioso. As pessoas têm escrito livros em que elas procuraram nos oferecer uma ideia do Céu, como a aperfeiçoar todas as alegrias de nossa doméstica vida terrena. E os artistas têm tentado descrever as planícies do Céu, mas os livros e as obras de arte são igualmente dignos de serem queimados, pois eles caem tão infinitamente aquém do que a realidade deve ser, de forma que eles são apenas uma caricatura e uma paródia do que a “glória” deve realmente ser. Não, amados, nenhuma língua pode dizer o que é, e nenhum lápis pode descrever a glória do lugar, em si, da Casa do Pai, onde estão as muitas moradas:

“Olho não viu, meu amável menino,

Ouvido não ouviu suas doces canções de júbilo.”

Nem a sua imaginação será capaz de trazer estas coisas para baixo a vocês, pois há uma glória espiritual que em muito excede todas as glórias, as quais vocês conhecem algo sobre a terra!

Penso, também, que o Céu é chamado “glória”, porque seus habitantes seguem gloriosos afazeres. O que eles estão fazendo lá o dia todo, não tentarei adivinhar, mas é-nos dito que “nela estará o trono de Deus e do Cordeiro, e os seus servos o servirão. E verão o seu rosto, e nas suas testas estará o seu nome” [Apocalipse 22:3-4]. Eles terão o suficiente para fazer de modo a lançar as suas coroas aos queridos pés dAquele que lhes concedeu toda a alegria que eles têm, e para fazer conhecida aos principados e potestades nos lugares celestiais, a multiforme sabedoria de Deus! Disso temos plena certeza, todos os seus afazeres serão gloriosos, não haverá nada baixo, nada humilhante, nada egoísta feito no Céu, certamente, nada cansativo, nada laborioso, que possa trazer suor à testa, novamente, este ocorre aqui por causa da maldição. Não, é um lugar glorioso, onde os moradores felizes estão engajados em gloriosas atividades!

E, eles também têm gloriosos deleites. Eles percebem ao máximo o que Davi disse: “Na tua presença há fartura de alegrias; à tua mão direita há delícias perpetuamente” [Salmos 16:11]. Vocês já pensaram, vocês têm o poder de conceber, o que as delícias de Deus devem ser? O que é a alegria do Senhor, a infinita satisfação do Eterno, a profunda felicidade dAquele que é sempre bendito para sempre? É esta alegria, esta felicidade, esta paz, as quais eles terão uma participação, enquanto o Mestre diz a cada um deles: “Entra no gozo do teu Senhor” [Mateus 25:21]. Tão alto quanto o Céu está acima da terra, tão elevada é a alegria de Deus acima da nossa alegria. Portanto, não podemos tentar descrevê-la, mas apenas podemos dizer que a alegria do Céu é a glória! A bem-aventurança do Céu é “de glória em glória” para todo o sempre!

E, como o Céu é um glorioso lugar para gloriosos afazeres e gloriosos deleites, assim, todos serão pessoas gloriosas. Não há um habitante do Céu inferior ou mediano! Há muitos que foram desprezados na terra, os humildes, sofredores e perseguidos, mas eles não são mais desprezados. Deus colocou honra eterna sobre eles. Eles são todos sacerdotes e reis para Deus! As vestes sacerdotais que eles usam são mais grandiosas do que as vestes de glória e beleza de Arão e em suas vestes reais eles mantêm altos festivos, onde o sol jamais se põe, e os dias de seu luto para sempre findaram. É tudo glorioso e não me maravilho que o Céu seja chamado “glória”, e que temos tão pouco dito sobre o assunto. É apenas esta grandiosa palavra: “glória”, a qual, por si só diz mais do que eu seria capaz de dizer se eu continuasse aqui até que o relógio indicasse a meia-noite!

Este é o elevado empreendimento de Deus: trazer Seus muitos filhos à glória. Eu o chamo de um elevado empreendimento, e assim é, pois Ele os trará à glória, apesar de todas as dificuldades. Onde é que os redimidos começam a sua marcha? Lá em baixo, na fornalha de ferro, onde se deitam entre as panelas, e onde sua escravidão tem sido árdua e cruel. Sua marcha começa com Faraó opondo-se a eles, mas, com uma mão elevada e braço estendido, Deus os conduz para fora do cativeiro da natureza, e para fora do cativeiro da corrupção, para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus! Quão gloriosamente Ele os conduz através do Mar Vermelho e destrói os seus adversários com o precioso sangue de Jesus, até que as profundezas os cobrem, e nenhum deles é deixado! E o restante da passagem de Seu povo, a partir daquele sublime dia no Mar Vermelho em diante até chegarem à glória, o que é, senão uma marcha de milagres, um panorama de maravilhas em constante movimento? Eu apenas falo da experiência do verdadeiro Cristão quando eu digo que ele é contrariado desde o interior e a partir do exterior, e que ele é o seu próprio maior inimigo, e esta não é uma pequena declaração quando eu vos lembro de que o mundo, a carne e o Diabo estão coligados contra ele!

É com o esforço de pique que eu percorro meu caminho para o Céu, pelejando com o meu inimigo feroz a cada centímetro do caminho. No entanto, eu ganharei o dia, pois Ele, “para quem são todas as coisas”, se comprometeu a levar Seus filhos à Glória, e Ele os levará para lá! Se eles tiveram que abrir o seu caminho através de toda uma legião de demônios, como quando os homens ceifam o seu caminho através de um denso campo de milho, ainda assim, eles, todos eles, passarão ilesos! Se houvesse sete mil Infernos entre eles e o Céu, ainda assim eles o alcançariam em segurança, pois Aquele “para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe”, determinou a trazê-los para lá! No entanto, esta não é marcha fácil e não será pouca a glória que redundará Àquele que levará a nós todos através do deserto e nos trará à Canaã que está acima, ou seja, à “glória”.

Eu quero que vocês percebam, a seguir, que este elevado empreendimento da parte de Deus relaciona-se a trazer “muitos filhos à glória”. Na segunda parte de O Peregrino, lemos sobre o Sr. Grande Coração, que tinha uma tarefa difícil de levar as mulheres e as crianças por todo o caminho à Cidade Celestial. Eles causaram-lhe uma grande quantidade de problemas e ele é um retrato de muitos ministros Cristãos. Alguns de nós não temos que ir adiante de alguns peregrinos fracos de coração, mas temos que conduzir centenas, ou mesmo milhares? Toda manhã, antes do café, eu tenho que matar um gigante para um ou outro, e é árdua luta! E tão logo eu o mate, ouço um dos queridos filhos clamando que ele será comido vivo por outro, de modo que eu tenho que manter a minha espada sempre desembainhada! Não é uma tarefa fácil a de estar, sob Cristo, ajudando a trazer alguns desses filhos à glória!

Mas, pensem na obra que Deus tem realizado — trazer muitos filhos à glória — em incontáveis milhões deles! Não tentarei usar números para representar os números dos salvos, pois creio que os remidos de meu Mestre serão como o orvalho da manhã, como as gotas de aspersão, como as areias da praia e de longe excedendo as ordenadas hostes estreladas nas planícies da meia-noite. Muitos filhos serão levados para a glória pelo grandioso Pai. Às vezes, nos velhos tempos de guerra, costumava haver uma série de pequenos navios insuficientes para atravessar o mar, mas os corsários ficavam à espreita, assim, os marinheiros tinham medo de içar a vela e ficar longe do abrigo do litoral, pois em breve poderiam ser capturados por seus inimigos, como pombas pelo falcão. Bem, o que foi feito? Ali eles permaneciam, no porto, até que Sua majestade enviasse um homem de guerra, talvez dois ou três, para formar um comboio. Então, todos os pequenos navios estariam seguros, suas tripulações não precisavam mais temer os franceses ou espanhóis. Assim é com aqueles que estão sob a proteção de Deus. Nós, os frágeis barquinhos nunca poderíamos, por nós mesmos, chegar ao nosso porto desejado, mas eis que o Alto Senhor Almirante dos mares, o grande Imperador da terra veio na majestade de Seu poder para nos conduzir à glória! E chegaremos ali com segurança, mesmo que os nossos inimigos sejam além de toda a conta. Foi uma coisa grande quando esses comboios trouxeram muitos pequenos navios ao porto, mas que frota o Senhor trará para os Bons Portos de felicidade eterna! Lemos que, em certa ocasião, quando o Senhor Jesus estava atravessando o Mar da Galiléia, “havia também com ele outros barquinhos” [Marcos 4:36]. E ainda estão com Ele muitos outros barquinhos, mas Ele os trará todos em segurança para o porto. Deixem que o inimigo o ataque se ele se atreve a fazê-lo, mas o seu Protetor preservará todos eles, pois é o Seu propósito trazer muitos filhos à glória.

Eu ainda não disse tudo o que eu preciso dizer sobre este grande empreendimento, pois, talvez, a principal maravilha de tudo isso é que Aquele “para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe” resolveu trazer à glória muitos filhos. Eles, todos eles, serão Seus filhos! Oh, que maravilha é que eles serão Seus filhos! Quem os terá por filhos? Estou certo de que há muitos homens que poderiam ter vergonha de ter por filhos aqueles a quem Deus toma, o mais depravado, aviltado e caído, a quem os homens desprezaram, como aqueles a quem eles nem mesmo dirigem a palavra. O Senhor, em amor infinito, os tomou para serem Seus filhos e Ele disse sobre eles: “E eu serei para vós Pai, e vós sereis para Mim filhos e filhas” [2 Coríntios 6:18]. Mas, oh, que labor é necessário, a fim de transformar esses rebeldes em filhos! Que maravilha da graça é que eles devem primeiro ser regenerados e assim obtenham a natureza de filhos! E, então, devem ser adotados e por isso têm o status de filhos! E depois eles devem ser santificados e assim expressam, dia após dia, aquelas qualidades que devem ser encontradas em filhos de um santo Deus! Torná-los filhos é, de fato, uma obra maravilhosa!

Deus não fez tanto quanto isto pelo povo no deserto. A esse respeito, o tipo quebrou-se, pois os israelitas não seriam filhos de Deus. Ele agiu como um Pai para eles, mas eles foram rebeldes contra Ele e, por isso, os cadáveres daquela primeira geração caíram no deserto. Que misericórdia é que Deus agora não escreve a Lei em tábuas de pedra, mas nas tábuas de carne de nosso coração! E a Lei de Deus, sendo escrita ali, Ele nos dá a graça para obedecê-la e, principalmente, Ele nos dá graça para crer em Jesus e recebê-lO! João escreveu: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” [João 1:12]. E isto ainda é verdade para todos os que O recebem e creem no Seu nome! Oh, que misericórdia é que pecadores culpados podem assim receber a adoção de filhos! Oh, que abençoada coisa é que Deus não apenas nos levará a glória, mas que seremos filhos quando chegarmos lá! Ele nos levará à glória como filhos, seremos Seus filhos enquanto no caminho e seremos reconhecidos como Seus filhos, na presença de todo o Universo no dia em que os justos “resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai” [Mateus 13:43], pois esse é o Reino glorioso para o qual Ele nos trará!

Bendito seja o Seu nome que Ele eternamente nos torne filhos e resolva nos trazer à glória! Ah, bem, Ele estabeleceu o Seu coração para fazê-lo e Ele pode fazê-lo, por isso novamente bendigamos e louvemos o Seu santo nome!

II. Agora eu me voltarei para o meu segundo ponto, que se relaciona AO CAPITÃO ORDENADO. Deus tem a intenção de trazer “muitos filhos à glória”, mas Ele intenciona fazê-lo pela mão de um Capitão escolhido, maior do que Josué, que lutará por Seu povo e o conduzirá em segurança para a Canaã de “glória”.

A palavra aqui traduzida como “Capitão”, é, em outro lugar, apresentada como “Autor” e, em outra passagem, “Príncipe”. Na verdade, ela é duas vezes traduzida como “Príncipe”. Mas eu me sinto perfeitamente satisfeito ao tomar o termo como a nossa Versão Autorizada o tem, e dizer que o Senhor nosso Deus conduz o Seu povo à glória por meio de um Capitão. Ele poderia ter feito isso, se assim O tivesse agradado, por Sua própria força e poder, à parte de um Mediador, mas Ele não o fez. Ele ordenou tudo pela mão de um Mediador, e é uma parte essencial de Seu concerto de todo o sistema da graça que o Pai trabalharia por meio do Filho para trazer muitos filhos à glória, que o Filho os traria para lá por ser o Capitão em meio a eles, representando-O entre os homens, estando vestido com Seu poder, efetuando o Seu propósito Divino por eles. Deus não trará nenhum filho à glória, exceto através deste Capitão! Ninguém pode ter a esperança de entrar na glória, a não ser por meio de Cristo Jesus! Ele mesmo disse: “Eu sou o caminho”. E Ele é o único caminho. Portanto, ai de quem se recusa a vir a Deus por meio dEle! Deus trará todos os Seus filhos à glória, mas será por meio do Capitão que Ele ordenou. Vamos considerar um pouco que capitão é e o que um capitão tem que fazer, pois isto nos ajudará a entender o ofício e obra do Capitão de nossa salvação.

Primeiro, então, o Senhor Jesus Cristo veio para nos conduzir à glória ao fazer todos os preparativos para a marcha. Há uma grande quantidade de responsabilidade vinculada ao líder de um exército, não somente ao decidir a respeito de onde suas tropas acamparão à noite, mas onde devem marchar no dia seguinte, e em que direção eles provavelmente precisarão estar muitos dias à frente. O comissariado de um exército requer muita reflexão e cuidado por parte do líder e nosso Capitão, o Senhor Jesus Cristo, fez todos os arranjos necessários para o Seu povo entre aqui e o Céu! Tenho certeza de que nunca chegaremos a um lugar de hesitação entre aqui e a glória, em que seremos capazes de dizer que nenhuma provisão foi feita para nós ali. A providência, ou visão de antemão, está sempre a trabalho em favor do povo do Senhor. Deus está sempre olhando adiante e Cristo faz todos os arranjos para a salvação de todo o Seu povo, até mesmo nos mínimos detalhes. Ele é um Capitão mui bendito.

O trabalho de um capitão, depois que ele providenciou para a marcha, é, em seguida, dar a palavra de ordem. “Vão”, diz ele, ou, “Permaneçam”. “Façam isso”, ou “Descansem”. A única ocupação do soldado é obedecer às suas ordens. Ele não tem o direito de escolher o que ele fará. Suas ordens marciais devem ser sua lei. Agora, o Senhor Jesus Cristo levará muitos filhos à glória de Seu Pai, dando os graciosos comandos que sempre trazem uma bênção com eles quando são obedecidos. Capitães, no entanto, fazem mais do que comandos, pois, se eles são sábios, eles conduzem o caminho. Ouvi dizer que um oficial turco diz aos seus homens: “Sigam adiante”, e fica para trás e observa os soldados. Mas, quando um oficial britânico grita: “Vamos!”, ele lidera o caminho! Isso é o que o Senhor tem feito. Na luta severa, Ele é sempre notável, e não há marcha cansativa que Ele nos ordene percorrer em que Ele não a caminhe ao nosso lado. Vocês nunca subirão tão alto que não encontrarão a pegada do Crucificado ali, nem vocês serão chamados para descer até as profundezas do mar, a não ser que vocês encontrem que ali esteve Ele também, pois Ele sempre nos conduz como o Capitão da nossa salvação!

É a atividade de um capitão, também, incentivar os seus homens. Quão frequentemente a presença de um verdadeiro líder efetuou mais o exército do que toda a sua própria força poderia fazer! Quando a base não poderia ser tomada pelas tropas do Parlamento nos dias de Cromwell, “Old Noll” desceu e tomou a base, diretamente, como Ele fez a todos os demais lugares que ele determinou capturar! E infinitamente mais glorioso é o Capitão da nossa salvação, cuja presença garante vitória para a equipe mais desanimada se eles O veem dizem: “É Ele!” A próxima palavra é: “Não temas”, pois aonde Ele vem, os demônios fogem. A terra treme na Presença do Cristo de Deus! É a ação do Capitão o encorajar os Seus homens, e isto o nosso grandioso Capitão faz continuamente!

Às vezes, é o deleite do capitão recompensar seus seguidores. Um líder sábio concede palavras de elogio quando merecidas e, em ocasiões especiais, ele distribui mais coisas boas. Quanto ao nosso bendito Senhor, o Seu gracioso elogio: “Bem está, servo bom e fiel”, mais do que nos pagaria pela labuta de uma vida, mesmo se nossa vida fosse mais longa do que a de Matusalém! Sejamos, então, fiéis e verdadeiros já que temos tal Capitão como o nosso Senhor Jesus Cristo, que pode fazer por nós tudo o que os capitães fariam por seus soldados, e muitíssimo mais.

Agora, vendo que é a vontade do Senhor nos conduzir à glória por meio do Capitão da nossa salvação, eu quero que vocês sejam dignos de seu Líder. Vocês não acham que, às vezes, agimos como se não tivéssemos nenhum Capitão? Imaginamos que temos que lutar em nosso caminho para o Céu pela força de nossa própria mão direita e pela nossa própria habilidade, mas não é assim. Se vocês começarem antes que seu Capitão lhes dê a ordem para marchar, vocês terão que voltar. E se vocês tentarem lutar sem o seu Capitão, vocês se lamentarão do dia. “Oh”, diz alguém, “mas eu pensei hoje no que farei se tal e tal ocorrer”. Meu querido irmão, seria muito melhor que você se lembrasse de que “o Senhor vive”, e deixasse o pensamento e organização em Suas mãos. Há um grande número de ‘ses’ no mundo que são como um enxame de vespas, se vocês ignorarem esses ‘ses’, eles ferroarão vocês da cabeça aos pés! Mas há um glorioso ‘se’ que aniquilará todos eles! É este: se o Senhor Jesus Cristo pudesse falhar, se Ele pudesse nos abandonar, então tudo estaria perdido! Isto mata todos os outros ‘ses’, porque este é um ‘se’ impossível. Ele não pode nos desapontar ou nos abandonar! Ele deve viver, Ele deve conquistar e enquanto este for o caso, os outros ‘ses’ não significam nada para nós. Portanto, lancem-se sobre os cuidados do seu Capitão. Marchem adiante ainda que vocês não vejam o seu caminho! Avancem contra o inimigo embora eles pareçam superar vocês na proporção de 10 por 1, pois maior é Aquele que é por vocês do que tudo o que possa ser contra vocês! Não tenham medo de nada, pois o seu Capitão é suficiente para todas as emergências.

Quando o Senhor nosso Deus escolheu-O como nosso Líder e Comandante, Ele colocou o socorro sobre Alguém que é poderoso. Ele não escolheu um pobre fraco mortal para ser o capitão de tal empreendimento como somos nós! Ele nem mesmo selecionou um anjo para esta grande tarefa. Ele exaltou Um eleito dentre o povo que era mais adequado para a posição, e a sabedoria de Deus seria desonrada se Cristo fosse encontrado incapaz de trazer muitos filhos à glória! Mas Ele é abençoadamente capaz de tudo o que é exigido dEle, e as antigas profecias a respeito dEle serão completamente cumpridas! “Não faltará, nem será quebrantado” [Isaías 42:4]. “E o bom prazer do Senhor prosperará na sua mão” [Isaías 53:10].

III. Até o momento, então, temos visto que o grande Pai trará Seus muitos filhos à glória por meio de um Capitão. Mas a substância do texto reside na porção que temos agora que considerar, e esta é: A APROPRIADA OBRA DO PAI SOBRE O NOSSO CAPITÃO. “Convinha que Aquele […] trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles”.

Deus sempre age apropriadamente e, por isso, era correto que Cristo padecesse. Tenho, por vezes, escutado discussões sobre se o Senhor não poderia ter salvado os pecadores sem um Mediador, ou, se através de um Mediador, nós não poderíamos ser salvos por qualquer outro método, sem a morte de Cristo. Eu não acho que é certo que nós formemos qualquer tipo de julgamento sobre esse assunto, mas, digamos como nosso Senhor ressuscitado disse aos Seus discípulos: “Convinha ao Cristo padecer”. Era apropriado que o Cristo morresse. “Ao Senhor agradou moê-lo”. Isso foi algo correto e adequado, aos olhos dAquele “para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe”, que devíamos ser salvos por meio de um Mediador, e que este Mediador escolhido não nos teria à parte de Seus próprios terríveis sofrimentos.

Foi adequado que o nosso Capitão fosse feito perfeito, completo, totalmente capacitado para nos salvar pelo sofrimento. A agonia não poderia ficar de fora. O cálice não passaria dEle sem que Ele bebesse o seu conteúdo terrível. Foi apropriado que Cristo fosse pobre, assim Ele não tinha onde reclinar a cabeça. Foi adequado que Ele estivesse com fome, assim Ele jejuou por quarenta dias. Foi apropriado que Ele suasse grandes gotas de sangue. Foi algo apropriado, aos olhos de Deus, que deveria haver aflição por parte de Seu Capitão escolhido. Foi apropriado que Ele fosse cuspido; que Ele fosse ridicularizado; que Ele fosse açoitado; que Ele fosse pregado em um madeiro; que Ele estivesse ressequido de febre e, em terrível depressão de espírito, clamasse: “Meu Deus, Meu Deus, por que me desamparaste?”. Foi adequado que tudo isso ocorresse e, assim, isso aconteceu. Que esta seja uma resposta suficiente para nós sempre que formos solicitados por quaisquer perguntas sobre o sofrimento de Cristo: isso foi apropriado aos olhos de Deus.

E deixem que aqueles que negam a expiação, e os críticos afetados que zombam de cada hino que fala das agonias de Cristo, entenderem que foi adequado que Ele suportasse tudo isso e que nós não temos vergonha de cantar sobre o que Deus considera apropriado. Eu, por exemplo, ainda pretendo cantar:

“Sua morte carmesim, como um manto,

Espalha-se sobre o Seu corpo, sobre o madeiro.”

Ainda pretendo cantar:

“Bem pode o sol na escuridão esconder-se,

E cerrar suas glórias,

Quando Deus, o poderoso Criador, morreu

Pelo homem, a criatura pecadora.”

Mesmo que isso pareça para alguns como se conhecêssemos a Cristo segundo a carne, eu preferiria conhecê-lO assim a não conhecê-lO em absoluto. E alguns parecem não desejar conhecê-lO de modo algum. Eles querem, sobretudo, livrarem-se do sangue: “o escândalo da cruz” ainda não cessou, ainda é causa de tropeço para muitos! Mas, oh, rogo a você que está ofendido com a cruz, que não pense que alguma vez chegará ao Céu, pois Deus e você não concordam nisto, pois Ele considera a cruz apropriada, e você a considera loucura, por isso há uma diferença radical de opinião entre vocês dois e um Céu não poderia mantê-los! Você deve concordar com Deus sobre esse assunto, ou então, a depender disso, você nunca entrará dentro dos portões de pérolas! Você deve honrar o Filho assim como você honra o Pai, e honrar o Filho em Seu sangue e feridas e em toda a Sua agonia e morte, ou então você não virá para onde o Pai tem prazer no Bem-Amado.

Além disso, o texto parece dizer que foi apropriado que Cristo fosse consagrado através da aflição. Há muitos pontos em que Cristo não poderia salvar-nos sem sofrimento. Ele não pode ser um Substituto perfeito a menos que Ele carregasse o nosso pecado e vergonha. Ele não poderia ser um simpatizante perfeito a menos que Ele carregasse o nosso sofrimento. Este, talvez, seja o principal ponto em que Cristo é consagrado. Ele se torna capaz de adentrar em todas as tristezas que perturbam os muitos filhos a quem Ele deve conduzir à glória. Em nosso Irmão mais velho, o herdeiro de todas as coisas, há um epítome de todas as tristezas de todo o restante da família. Em Cristo há toda pontada que rasga o coração, toda dor que faz correr lágrimas dos olhos, exceto tais pesares que sejam pecaminosos e não poderiam entrar em Seu santo seio, mas tudo o que é inevitável para a carne e sangue, aos corações quebrantados, espíritos que estão deprimidos e cada tipo deste, Jesus conhece.

Às vezes, eu tenho estado aonde nenhum de vocês nunca foi, mas eu nunca fui aonde eu não poderia encontrar Cristo. E alguns de vocês, meus queridos irmãos e irmãs, têm estado em problemas de partir o coração que eu nunca conheci. Mas o Mestre esteve ali, se o pastor não esteve, e se o querido amigo Cristão não esteve, e assim Ele tornou-se consagrado por meio da aflição. “Conheci as suas dores” [Êxodo 3:7], Ele diz: “Conheci as suas dores, e não por ter lido ou ouvido falar sobre elas, mas por tê-las sofrido”. De todo o remédio amargo na loja do grande químico, Cristo tomou um gole. Ele conhece tudo sobre eles e isso faz com que se “consagrasse pelas aflições”.

Finalmente, foi apropriado, por parte de Deus, “para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe”, que Ele consagrasse Seu Filho como nosso Capitão por meio de aflições. Mas, o original grego nos dá um significado mais amplo do que este: que Deus glorificaria Seu Filho. Foi apropriado da parte de Deus que Ele desse a Cristo tudo o que pode torná-lO glorioso e honrado. Vendo que Ele consentiu em sofrer e morrer, era certo que Deus O ressuscitasse dentre os mortos, para que Ele O estabelecesse à Sua mão direita, para que Ele O coroasse com muitas coroas, para que se Lhe concedesse dominar de “mar a mar, e desde o rio até às extremidades da terra” [Salmos 72:8]. É apropriado que Cristo tenha toda a honra e glória tributada a Ele, para que os homens honrem o Filho, como honram o Pai. Em oração, quando eu preciso de um argumento que eu sei que prevalecerá com Deus, eu Lhe digo: “Pai, glorifica o Teu Filho! Você O ama, olhe para Ele, Ele não é encantador aos Seus olhos como o sofredor, obediente Filho de Seu amor? Você não O admira além de toda concepção? Ouve, pois, a minha súplica e concede a minha petição por causa dEle”.

Eu aprecio, às vezes, afastar, orar e cantar, e permanecer sentado, e apenas olhar para o alto até que o mais íntimo de minha alma tenha visto o meu Senhor. Então eu digo: “Ele é indescritivelmente amável. Sim, Ele é totalmente desejável”. Se Ele é assim aos meus miseráveis olhos, que são tão entorpecidos e obscurecidos que não conseguem discernir a metade de Suas belezas, o que Ele deve ser aos olhos de Deus? Aos olhos de Deus, Ele é tão precioso que, como o meu texto diz: “Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe”, isto foi apropriado mesmo nEle: “trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o Príncipe da salvação deles”, glorificado além de toda a glória que se possa imaginar e tenha homenagem universal prestada a Ele por todo o universo para todo o sempre! Deus concebe isto como apropriado, e, portanto, nos deleitamos nisso. Amém e amém!

Hinos de “Nosso Próprio Hinário” — 289, 336, 294.

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Exposição de Hebreus 2:1-15, por C. H. Spurgeon

Verso 1. Portanto, convém-nos atentar com mais diligência para as coisas que já temos ouvido, para que em tempo algum nos desviemos delas. Nós já as temos ouvido. Não as esqueçamos! Não as deixemos ser como os troncos que seguem boiando no ribeiro. Façamos um esforço violento para mantê-las em nossas memórias e, acima de tudo, para ponderá-las em nossos corações.

2, 3. Porque, se a palavra falada pelos anjos permaneceu firme, e toda a transgressão e desobediência recebeu a justa retribuição, como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação. Eles não podiam brincar com a mensagem dos anjos, sem receber o justo castigo de Deus. Muito menos, então, podemos brincar com o Evangelho de Cristo! Nós não temos um salvador angelical, mas o próprio Deus, na Pessoa de Seu Filho, Se dignou a ser o Mediador da Nova Aliança. Portanto, consideremos isso, para que não brinquemos com essas coisas. Vejam vocês, queridos amigos, que não precisamos ser grandes pecadores deliberados, para que morramos, é apenas uma questão de negligência. Vejam como isso é colocado aqui: “como escaparemos nós, se não atentarmos para uma tão grande salvação?”. Vocês não precisam se dar ao trabalho de desprezá-la, ou resisti-la, ou se opor a ela. Vocês podem com facilidade se perder, simplesmente por negligenciá-la. Na verdade, a grande massa daqueles que perecem são aqueles que negligenciam a grande salvação!

3. A qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos que a ouviram. Os apóstolos e os outros seguidores de nosso Senhor constantemente testemunhavam os Seus milagres e Sua ressurreição.

4. Testificando também Deus com eles, por sinais, e milagres, e várias maravilhas e dons do Espírito Santo, distribuídos por sua vontade. Aqueles que duvidam da verdade do Evangelho, ou os que dizem que o fazem, são frequentemente encontrados acreditando declarações históricas que não são em metade tão bem comprovadas. Um homem se senta e lê um livro das guerras gaulesas e ele acredita no que Júlio César escreveu, ainda que não haja a metade ou um décimo de tanta evidência para provar que ele o escreveu quanto existe para provar que o nosso Senhor Jesus viveu, morreu e ressuscitou dos mortos! O testemunho da verdade destas grandes questões de fato foi confirmado por Deus, Ele mesmo, com sinais, maravilhas e milagres. Homens honestos e verdadeiros, apóstolos e outros, os testemunharam, e eles também foram certificados pela Divindade encarnada, pelo próprio Senhor, que se digna a falar conosco pelo Seu Espírito. Não podemos, portanto, brincar com este Evangelho, sem incorrer na mais grave culpa!

5. Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro, de que falamos. Nós somos os pregadores disso, e não os anjos! E o grande Autor e Consumador de nossa fé é o Homem, Jesus Cristo, e não um anjo. Nós não temos, agora, o ministério dos anjos, mas o ministério dos homens, pela qual o Senhor dos anjos envia Suas mensagens para seus companheiros.

6-8. Mas em certo lugar testificou alguém, dizendo: Que é o homem, para que dele te lembres? Ou o filho do homem, para que o visites? Tu o fizeste um pouco menor do que os anjos, de glória e de honra o coroaste, e o constituíste sobre as obras de tuas mãos; Todas as coisas lhe sujeitaste debaixo dos pés. Este era o estado original do homem. Deus o fez para ser seu vice regente na Terra e Ele ainda manteria essa posição se não fosse que desde que ele se rebelou contra o seu próprio Soberano, até mesmo os animais do campo tomam a liberdade de ser rebeldes contra ele. O homem não está agora em seu estado original e, portanto, ele já não governa. E vemos muitos homens que estão muito longe de serem seres nobres, pois eles são medianos e rastejantes. No entanto, a glória do homem não está totalmente perdida, como veremos.

8, 9. Ora, visto que lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que lhe não esteja sujeito. Mas agora ainda não vemos que todas as coisas lhe estejam sujeitas. Mas, vemos Jesus. Aqui está o Homem representativo, que é supremo sobre tudo. “Nós vemos Jesus”.

9. Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos. Oh, quão glorioso é perceber a nossa posição em Cristo e ver como Ele nos ergueu, não apenas para o lugar de onde o primeiro Adão caiu, mas Ele nos fez ficar tão firmemente ali que não devemos descer novamente em torno das ruínas da Queda! Glória ao Seu santo nome!

10, 11. Porque convinha que aquele, para quem são todas as coisas, e mediante quem tudo existe, trazendo muitos filhos à glória, consagrasse pelas aflições o príncipe da salvação deles. Porque, assim o que santifica, como os que são santificados, são todos de um; por cuja causa não se envergonha de lhes chamar irmãos. O Cristo e os Cristãos são um, o Homem, Cristo Jesus, e os homens a quem Ele redimiu somos um! Ele até mesmo tornou-Se participante da nossa natureza, de modo que agora somos uma família e Ele não se envergonha de chamar-nos irmãos e irmãs. Dirijo-me a alguém que se envergonha de Cristo, ou que têm vergonha do pobre povo de Deus, e que não gostaria de ser conhecido por ser membro de uma Igreja pobre? Ah, como vocês deveriam ter vergonha de cultivarem qualquer orgulho em seus corações, pois Cristo não Se envergonha de chamar o Seu povo de irmãos! Oh, que condescendência maravilhosa! Ele fez isso muitas vezes nos Salmos, onde Ele fala de seus irmãos.

12. Dizendo: Anunciarei o teu nome a meus irmãos, Cantar-te-ei louvores no meio da congregação. Essa é uma citação do Salmo 22.

13. E outra vez: Porei Nele a Minha confiança. Assim adentra na própria fé de Seu povo!

13, 14. E outra vez: Porei nele a minha confiança. E outra vez: Eis-me aqui a mim, e aos filhos que Deus me deu. E, visto como os filhos participam da carne e do sangue. Como vocês conhecem o seu custo, pois talvez tenham dores sobre vocês neste exato momento. Na verdade, vocês “participam da carne e do sangue”. Talvez vocês estejam sofrendo de desânimo e depressão de espírito. Se assim for, lembrem-se que por mais que vocês possam, em espírito, às vezes, subir ao céu, mas vocês ainda “participam da carne e do sangue”.

14, 15. Também Ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão. Ele, assim, tomou sobre Si a carne e sangue como a morrer em nossa natureza, para que, desta forma, Ele pudesse matar a morte, e nos libertasse de todo o medo da morte. Vocês não veem que se o Homem representativo, Cristo Jesus, morreu, Ele também ressuscitou, e de igual forma todos os que estão nEle assim ressuscitarão também? Se vocês estiverem nEle, vocês devem ressurgir novamente! Portanto, não tenham medo de se deitar em seu último sono, porque a trombeta despertará vocês e seus corpos serão moldados de novo à semelhança de Seu corpo glorioso e sua alma e corpo juntos habitarão na infinita bem-aventurança para sempre! “Portanto, consolai uns aos outros com estas palavras”.