O Reino De Cristo Não É Como Os Domínios De Príncipes Seculares, Em Relação Aos Seus Limites E Sua Duração, por Abraham Booth

 [Excerto de Um Ensaio sobre o Reino de Cristo, por Abraham Booth]

 

As monarquias mais amplamente extensas da antiguidade eram confinadas a certas partes do globo habitável, e no curso de alguns séculos chegaram ao fim. O império de Jesus Cristo não é assim, pois, desta forma discorrem os oráculos proféticos sobre Ele e Seu reino: Dominará de mar a mar, e desde o rio até às extremidades da terra… E todos os reis se prostrarão perante ele; todas as nações o servirão. E o reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo; o seu reino será um reino eterno, e todos os domínios o servirão, e lhe obedecerão. E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim¹. Sobre a expansão gradual e extensão universal deste reino, nosso Senhor fala na parábola do grão de mostarda; e naquele fermento, que permeia toda a massa de farinha. Este império santo redundará em glória final; e embora a presente forma de sua administração cessará, quando Deus será tudo em todos; ainda assim os seus súditos glorificados nunca morrerão, nunca serão desunidos, nem alguma vez removerão a sua lealdade de Jesus Cristo; tais são as fundações do Seu domínio, e tal a excelência de Seu governo, que cada um de Seus súditos reais dirá de coração: VIVA O REI! E que Ele reine até que ponha os Seus inimigos por escabelo de Seus pés².

Novamente; o império de Cristo, ou a Igreja Evangélica é chamada o REINO DOS CÉUS. Como nosso Senhor, da maneira mais enfática, é denominado, O REI DOS REIS; nós podemos considerar com propriedade a Sua santa monarquia, como o reino dos reinos. Esta denominação, o reino dos céus, manifestamente estabelece a igreja do Novo Testamento à maior distância de cada monarquia secular, e nos ensina a considerá-la como proximamente aliada ao estado celestial. Os seus súditos são descritos como nascidos de novo, como os herdeiros da glória. Eles são regidos por leis, favorecidos com privilégios e investidos com honras que são inteiramente espirituais e completamente celestes. As verdades que eles creem, as bênçãos que eles fruem, a obediência que desempenham e as esperanças que retém possuem uma relação com o Céu. É a autoridade do soberano Divino sob Quem vivem, e Sua aprovação, a qual eles anelam. Os deleites que eles dispõem, considerados como os súditos de Jesus Cristo, são todos de natureza espiritual, e todo o favor, do mundo celestial.

Como Cristo é um monarca espiritual, o Seu domínio alcança os entendimentos, as consciências e os corações dos homens; e é uma preparação para aquele estado sublime, onde o conhecimento e a retidão, onde a obediência e amor, onde a harmonia e a alegria estão todos em sua plena glória. A fundação deste governo, uma vez que diz respeito a indivíduos, é colocada na regeneração. Ali a preparação para o Céu começa; e todos os genuínos frutos dessa importante mudança que são operados por influência Divina na mente, consciência e coração do pecador, têm uma tendência para o Céu; e muitos deles são antecipações do mesmo. Aquela adoração que é realizada pelos súditos de Cristo, não mais espiritual e agradável para a nova economia do que é vivificada com tais afeições como as que abundam no Céu. Pois é chegado o tempo, quando aqueles que adorarão o Pai, o adorarão em espírito e em verdade. Conhecimento de e reverência a Deus, como revelados pelo Mediador; confiança nEle e amor por Ele; auto-humilhação em Sua presença, e aquiescência em Seu domínio, são as principais ideias incluídas no culto espiritual, seja como realizado pelos súditos de Cristo aqui, ou pelos santos aperfeiçoados na glória.

É manifesto a partir desta característica do reino de nosso Senhor, que uma mera profissão de lealdade a Ele é inteiramente vã, se não estiver acompanhada com uma mentalidade espiritual, porque aquela mera profissão é natural para que os bons súditos busquem a prosperidade daquele reino ao qual pertencem. Agora, os interesses do império de Messias são todos de natureza espiritual. Os interesses e honra deste reino consistem principalmente na propagação da verdade evangélica, e pureza do culto Divino; no exercício do amor e na prática da santidade. Indiferença sobre estes, é uma evidência do coração ser descontente com nosso Soberano Divino; mas fidelidade a Ele, se manifestará por uma habitual estima deles. Seja sobre quem for que este santo Monarca reine, há uma apreciação das riquezas, honras, prazeres espirituais. Desfrutar de Seu favor, carregar a Sua imagem, realizar a Sua vontade e contemplar a Sua glória são coisas da mais alta importância na estima dos verdadeiros santos.

Também não é um mero ditame da compreensão e consciência, que isso deve ser assim. É questão volitiva, porque seus corações estão envolvidos naqueles objetos.

É comum que os súditos imitem um soberano que eles amam e reverenciam; especialmente, se tiverem obtido benefícios de sinal de sua administração. Agora tal é a natureza do governo de nosso Senhor, que é impossível para qualquer um estar sob Ele, sem sinceramente amá-lO e profundamente reverenciá-lO, sem sentir uma excelência em Seu exemplo, que demanda estima e estimula a imitação. Mas se nós gostamos de riqueza ou benefícios de grandeza e espetáculo; caso sigamos a preeminência, e desejemos poder, imitamos os filhos deste mundo, e não Jesus Cristo. Essas coisas são avidamente procuradas e altamente valorizadas pelos súditos de Satanás, porque eles são de uma mente carnal; mas não é digno de ser chamado um discípulo de Cristo, aquele que não está habitualmente se esforçando para imitar o Seu exemplo. Nem pode alguém fingir que Ele alguma vez incentivou, por palavras ou por obras, a busca de distinções seculares, a aquisição de riqueza, ou prazeres da sensualidade, porém, muito pelo contrário. Longe de buscar a honra que vem dos homens, Ele nem cortejou os sorrisos dos ricos, nem o patrocínio dos poderosos; pois, a amizade do mundo é inimiga de Deus. Então, nosso Senhor não estimou as coisas deste mundo e o mesmo o fazem Seus discípulos. Pois, sermos os súditos de um reino espiritual e ao mesmo tempo termos os nossos corações em prazeres temporais são coisas inconsistentes. A inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito, é vida e paz.

Como Cristo é um soberano espiritual, e Sua igreja um reino espiritual, todos os súditos de Seu governo devem ser considerados como em um estado de preparação para o Céu. As disposições prevalecentes de seus corações são a favor de coisas celestiais e da promoção do exercício de afeições espirituais, a nova economia, em todas as suas ramificações, é muito melhor adaptada do que o era o sistema Mosaico. Pois, como esta é a mais perfeita dispensação da graça Divina, que alguma vez houve, ou alguma vez será apreciada na terra; assim, ela promove as abordagens mais próximas do Céu.

Foi corretamente observado por um determinado autor, “que a economia Legal introduziu a da Graça, pelo Evangelho, e, em seguida, desapareceu. A Dispensação da Graça, de igual modo, está agora realizando o seu trabalho, cumprindo o seu tempo, anunciando, desvelando, introduzindo o reino da glória; e quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado”. Sim, a antiga economia e a teocracia judaica, eram manifestamente introdutórias para a Dispensação Cristã, e reino do Messias. Aqueles, sendo típicos e em sombras, conduziram a estes, e neles receberam a sua conclusão final. Mas a Nova Dispensação, e o reino de Cristo, têm não pequena compleição dos Céus. Para lá eles levam, e não terminam. Nenhum culto é agradável ao reino do Messias, que não seja vivificado por afeições celestiais. Todos os serviços externos da religião são apenas tantos meios de estimular aquelas santas afeições, de promover a comunhão com Deus e de cultivar um temperamento celestial. Consequentemente, a adoração daqueles que descansam em serviços exteriores é bastante superficial, e não tem nada de espiritual, nada de celeste nela.

Jeová, sob a Dispensação anterior, tendo escolhido o Santo dos Santos para o lugar da Sua habitação, os judeus foram encaminhados para dirigirem-se a Ele em oração, considerado no Seu trono entre os querubins³. Eles sabiam que, de fato, Ele habitava nas mansões celestiais; e, portanto, ao dobrarem o joelho diante dEle, as suas mãos eram estendidas para os céus4, mas ainda assim, Ele era mais imediatamente considerado por eles, como residindo no santuário terreno. Pois, não obstante, o seu desejo de serem ouvidos no Céu “o clamor de sua oração, e os olhos de sua fé, eram direcionados primeiro para o propiciatório”. Os santos mais eminentes, sob aquela economia, olhavam para Deus em ambos; prestavam homenagem a Ele em ambos; nem poderiam tê-lO negligenciado em relação a qualquer um, sem serem culpados. Ao passo que, quando os Cristãos oram, eles olham diretamente para o seu Pai que está nos Céus, e como em um trono da graça no templo celestial; sem a mínima consideração a qualquer lugar sobre a terra, ou qualquer objeto visível.5

“Deus”, diz o Dr. Erskine, “como marido da igreja do Evangelho, demanda de Seu povo afeição e amor interiores, e aceita apenas aqueles que O adoram em espírito e em verdade. Na aliança mosaica isso era o contrário. Ali, Ele apareceu principalmente como um príncipe temporal, e, portanto, antes, deu leis destinadas a dirigir a conduta exterior, do que para regular os atos do coração. Por isso, cada coisa naquela Dispensação era adaptada para atingir os Seus súditos com temor e reverência. A magnificência de Seu palácio, e todos os seus utensílios; sua numerosa instrução sobre os atendentes; as vestes esplêndidas do sumo sacerdote, que, apesar de ser Seu primeiro-ministro, não era autorizado a entrar no Santo dos Santos, a não ser uma vez por ano, e, em todas as suas ministrações era obrigado a demonstrar a veneração mais humilde ao Rei de Israel; os ritos solenes com que os pais foram consagrados; o rigor com que todas as impunidades e indecências eram proibidas, como coisas que, embora toleráveis em outros, eram impróprias da dignidade do povo de Deus, especialmente quando aproximavam-se dEle, e todos estes tendem a promover e garantir o respeito devido ao seu glorioso Soberano”.

Foi, no entanto, previsto por um dos profetas menores “que nos tempos do Evangelho, os homens não chamariam Deus de Baali. ou seja, o meu Mestre, mas Ishi. ou seja, meu Marido [Oséias 2:16]. A passagem implica, ao menos, que Deus, que na Dispensação judaica tinha exibido principalmente a grandeza, a distância e a severidade de um Mestre, mas, na Dispensação Cristã, principalmente exibiria a afeição e a familiaridade de um marido e amigo”. 6

Sim, sob o sistema Mosaico, somente o sumo sacerdote, e ele, apenas uma vez por ano, era admitido no propiciatório, ou trono de Jeová, em um santuário terreno. Essa aparição do sumo sacerdote judaico perante o Senhor, embora grandiosa e solene, era um mero emblema das coisas espirituais, e daquela relação santa que todos os súditos deste reino têm com Deus, no exercício do culto espiritual. Pois, assim como Jesus entrou no santuário celestial, com Seu próprio sangue; como ele é ali um Sacerdote sobre o Seu trono, unindo o incensário sacerdotal com o cetro régio; Ele vive para sempre, não somente para governar Seu império amplamente estendido, mas semelhantemente para interceder por todos os Seus seguidores, e para ser o Meio de seu acesso ao Pai Divino. Em virtude de Sua expiação feita na cruz, e de Sua aparição no mundo celestial, os súditos mais medianos do Seu domínio, ao executarem o serviço santo, têm ousadia para entrar no santuário. Cada um deles, no exercício da fé, da esperança e do amor, tem acesso à Divina Majestade em um trono da graça; e cada um tem motivos para esperar uma condescendente audiência do Rei Eterno. Assim, nós encontramos, que os santos do Novo Testamento são chamados de família de Deus, os que “podem ??ter alguma relação com aquela peculiar proximidade a Deus, em que os sacerdotes judeus tinham; e refere-se à grande intimidade de conversação ilimitada a que nós, como Cristãos, somos admitidos. No que os nossos privilégios parecem assemelharem-se, não somente ao das pessoas orando no tribunal comum de Israel; mas dos sacerdotes, adorando na própria casa”. 7

As vantagens superiores dos crentes sob a economia Cristã, no que diz respeito à comunhão com Deus, e a influência santificadora que esta santa relação tem em suas mentes, são fortemente expressas nas seguintes notáveis palavras: “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor”8. O Apóstolo aqui claramente alude à glória que apareceu no rosto de Moisés, depois que seu íntimo conversar com o Senhor no monte. Tão deslumbrante era o brilho do seu rosto, que os filhos de Israel tiveram receio de aproximarem-se dele. Ele, portanto, colocou um véu sobre o rosto, para que pudessem ter relação familiar com ele9: aquele véu era um emblema, não somente da cegueira judaica, mas também das trevas daquela Dispensação. Agora, em contraste com essas coisas, Paulo nos informa que a glória das perfeições Divinas aparece e brilha na face descoberto de Jesus Cristo; que esta glória é contemplada pelos crentes do Novo Testamento; e que, ao contemplá-lO, eles são gradualmente transformados na imagem gloriosa de Deus. Que ilustre visão o apóstolo aqui dar-nos da nova economia! Ele não somente representa o estado e privilégios da Igreja Evangélica, como muito superiores aos do povo judeu; mas como quase se aproximando para os serviços e as fruições do mundo celestial. Pois, nós não podemos facilmente formar uma ideia mais exaltado do empreendimento e bem-aventurança do Céu, do que o contemplar a glória de Deus, e fazer avanços contínuos na semelhança com Ele.

Como, na Pessoa do nosso Mediador, a natureza de Deus e a natureza do homem não estavam unidas, até pouco antes do início deste reino; como Deus ainda não havia Se manifestado em carne, senão com uma visão imediata para este império santo e espiritual; então, não há nenhuma razão para maravilhar-se que os favorecidos súditos do governo do Messias têm uma comunhão mais íntima com o Senhor, a qual nunca foi apreciada pela Igreja Judaica. Sob a Antiga Aliança, Israel, em geral, tinha uma espécie de proximidade local para com Deus, para o exercício do culto religioso; e os verdadeiros santos tinham comunhão espiritual com Ele. Mas, então, era por meio de sacerdotes, que tinham fraquezas; de sacrifícios, que eram imperfeitos; e dos serviços que eram meras sombras das coisas celestiais; todos os quais eram limitados a um santuário terreno. Ao passo que, os súditos de Jesus Cristo têm acesso ao Pai das misericórdias, sem consideração de qualquer sacerdote, além de seu Soberano; qualquer sacrifício, além de Sua morte; qualquer incenso, além de Sua intercessão. Todos estes eles consideram como aparecendo, como operando, muitíssimo eficazes em seu nome, no santuário celestial. Sim, o seu Sumo Sacerdote, que é de infinita dignidade; Seu sacrifício, que é de valor infinito, e Seu incenso, que é completamente perfumado, estão para sempre na presença imediata de Deus, para sempre meritórios, e para sempre obtendo a aprovação Divina. Sobre estes, portanto, em todas as suas abordagens à Majestade Eterna, a dependência deles se estabelece. Daí o seu culto é realizado, através dos auxílios da graça, com reverência e com confiança, com amor e com deleite. Nós temos acesso com confiança, pela fé em Cristo.

Agora, devemos cultuar a Deus com profunda reverência, ainda assim, sem um temor servil; com confiança constante, unida com profunda humildade; com submissão à Sua vontade, como o Senhor Altíssimo; com amor por Sua excelência, como beleza infinita; e com alegria em Sua autossuficiência, como o Sumo Bem; é o cumprimento de um serviço espiritual, e adorar de forma celeste. No desempenho de tal adoração, temos comunhão com os espíritos dos justos aperfeiçoados, entramos dentro do véu, temos comunhão com Deus; nós antecipamos o empreendimento do Céu, e provamos os seus deleites refinados. Nestes exercícios santos da mente, consciência e coração, sentimo-nos perto de Deus, como a Fonte de toda a bem-aventurança, e somos exercitados para o mundo celestial. Assim, nós somos habituados a um tipo de serviço celeste, pelo que nossa semelhança a Cristo é promovida, e nossos desejos pelo Céu aumentados. Nestas coisas, a própria vida do culto espiritual e da religião verdadeira são compostas. Portanto, não é digno de ser chamado um súdito do reino de nosso Senhor, aquele que não está habitualmente anelando em seus serviços devocionais, seu deleite e relação solene com Deus. Nem é merecedor dessa característica exaltada, aqueles cujos pensamentos e preocupações, cujas esperanças e medos, cujas alegrias e tristezas, não estão principalmente relacionados ao governo e graça de Cristo, considerados na sua vinculação com o estado celestial.

Deve ser, de fato, admitido que esta comunhão com o Céu é extremamente imperfeita na vida presente. Porque, embora todo o verdadeiro súdito do Rei Messias esteja em um estado muito diferente daquele de um Cristão meramente nominal, e apesar de que ele é grato por essa diferença; no entanto, ele não é, ele não pode ser satisfeito, seja com o que ele sabe, ou com o que ele frui; com o que ele é, ou com o que ele faz. Não com o que ele sabe, porque ele conhece, apenas em parte, e ele sente a deficiência. Sua familiaridade com o mais Grandioso e Melhor dos seres — com o caráter e perfeições, com as obras e caminhos de Deus — é extremamente pequeno. Seu conhecimento sobre o adorável Jesus — Sua Pessoa e ofícios, Sua graça e obra, de Seu reino e glória — é muito limitado. Não, o conhecimento que ele tem de si mesmo e do seu destino final no mundo celestial é extremamente escasso, porque o coração é enganoso acima de todas as coisas; e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Ele não pode, portanto, estar contente com essa ninharia de conhecimento espiritual.

Não com o que ele frui, porque a sua fruição do prazer espiritual é, quando mais alto, comparativamente baixo. Além disso, é frequentemente interrompido pelas insurreições de pecado interior, e pelas incursões de tentação exterior embora ele, às vezes, exulte à luz do semblante de Deus, participando da alegria que é indizível e cheia de glória; no entanto, ele frequentemente lamenta a falta daquele deleite exaltado, e geme sendo sobrecarregado.

Não com o que ele é, porque ele se sente a imensidão de sua depravação, e lamenta sobre isso, como afetando sua mente com trevas; a sua consciência com culpa, ou com estupidez; e suas paixões com carnalidade. Assim, longe de perfeitamente carregar a imagem de Cristo, a sua linguagem frequentemente é: “Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo desta morte!”.

Não com o que ele faz; pois ele sinceramente deseja fazer a vontade de Deus, como revelada em preceitos Divinos, e ilustrada pelo exemplo de Cristo; mas ele percebe que sua obediência é mui imperfeita. Ele, por exemplo, dirige-se a Deus em oração? Neste exercício devoto toda a sua alma deveria estar engajada.

Reverência diante da Majestade Divina, e uma sensação humilhante de sua própria culpa; fé na grande expiação, e a confiança na misericórdia paternal; o ardor da petição, e o consolo de expectativa, deveriam estar todos unidos. Mas com frequência, infelizmente! seus pensamentos vagueiam, e suas afeições piedosas são maçantes, se não dormentes. Sua oração parece pouco além de um conflito com a sua própria corrupção. Ele se levanta de joelhos com tristeza e com suspiros. Envergonha-se da maneira como ele tratou o Objeto onisciente de sua adoração, ele não pode deixar de exclamar: “Deus, sê propício a mim, pecador!”, e essa, talvez, é a única petição sobre a qual ele não lamenta, como destituída de santa vivificação. Ou, se ele desfruta de liberdade em sua conversa com o Pai de todas as misericórdias, quantas vezes ele encontra que orgulho secreto e auto-congratulação surgem em surgem em seu coração? Como se o Santíssimo considerasse as suas confissões, petições e ações de graças por causa da sua própria excelência! Consciente do veneno latente, ele é quase confundido. Pois, ele bem sabe que o Cristianismo é a religião dos pecadores, do depravado, do culpado, de criaturas indignas, e que nada é mais inconsistente com a verdade evangélica, ou mais detestável aos olhos de nosso Criador, do que aplausos a si mesmo com relação à aceitação para com Deus. Sabendo que ele mesmo é um verme contaminado que merece perecer, ele treme ao pensar, em alguma vez supor, que a majestade do Altíssimo, e a pureza do Santíssimo, aceitará os seus serviços imperfeitos devido ao seu próprio bem. Da maneira mais enfática ele, portanto, exclama como Jó: “Eis que sou vil!”, “Por isso me abomino!”. Assim, vários e tão grandes são os defeitos de nossos serviços devocionais, que poderíamos muito bem desesperar-nos, se não fosse por um Sumo Sacerdote que carrega a iniquidade de nossas coisas santas. Pois, nós encontramos uma lei, que quando nós fazer o bem, o mal está conosco.

A tais imperfeições e tais queixas, um sujeito real do domínio de nosso Senhor é passível na vida presente. Mas, olhando para a frente, para o estado separado, quando ele deve estar com Cristo, que é muito melhor, e para a ressurreição dos justos; com alegria ele adota a linguagem de Davi e diz: “eu me satisfarei da tua semelhança quando acordar”. Sim, desde que essa economia final e eterna começa, sua mente sendo toda iluminada com a verdade Divina, ele estará satisfeito com o que ele conhece; perfeitamente possuindo o Sumo Bem, ele estará satisfeito com o que ele frui; consciente da retidão completa, ele estará satisfeito com o que ele é: conhecendo que a sua obediência será consumada, ele estará satisfeito com o que ele faz. Pensamento deleitoso, arrebatador! Ter todos os nossos poderes imortais expandidos e plenos com conhecimento da verdade Suprema, e com amor à Beleza suprema; com reverência ao Senhor Supremo, e deleite no Supremo Bem, deve constituir a felicidade completa. Ainda assim, tal é o grande resultado do domínio de nosso Senhor nos corações dos homens! Para isso, portanto, temos que olhar, sobre isso as nossas afeições devem ser colocadas, se quisermos nos comportar como os súditos de Jesus Cristo, e terminar nossa carreira com honra. Pois, como esta vida é o tempo de semear uma colheita eterna; como ninguém recolhe uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos; e como aquilo que o homem semear, isso também ceifará; assim, não temos nenhuma razão para esperar o Céu como nossa habitação final, se nós não somos habitualmente desejosos de comunhão com Deus em toda a nossa adoração, e de fazer com que a nossa realização seja fazer a Sua vontade.

É um dos serviços mais nobres e mais aprazíveis da mente humana, contemplar a revelação gradual da vontade de Jeová, e a demonstração progressiva de Seu favor eterno, desde a Queda de nossos primeiros pais, até a consumação da economia Divina. É, ao mesmo tempo, agradável e aperfeiçoador refletir sobre a Dispensação Patriarcal Introduzindo o Sistema Mosaico; a Confederação do Sinai fazendo caminho para a Nova Aliança; na teocracia judaica conduzindo ao Reino de Cristo; no governo daquele reino como uma preparação para as mansões celestiais; no desempenho de santa adoração, pelos súditos de Cristo aqui, como o meio de comunhão com os santos na luz; e no presente estado de culto e de bem-aventurança no santuário celeste, como a preparação para a glória final.

Em referência à comunhão dos fiéis com os espíritos dos justos aperfeiçoados, no desempenho de culto espiritual; e com relação à consumação de todas as coisas, Dr. Owen fala o seguinte, com cujas palavras concluirei: “Se todos os que morrem no Senhor fossem imediatamente recebidos naquele estado em que Deus será tudo em todos, sem qualquer uso da mediação de Cristo, ou no culto de louvor e honra a Deus por meio dEle, sem serem exercitados na atribuição de honra, glória, poder e domínio [a Cristo], na consideração do exercício passado e presente exercício dos Seus ofícios; não poderia haver comunhão entre eles e nós. Mas, enquanto eles estão no santuário, no templo de Deus no santo culto de Cristo e de Deus nEle, e nós não estamos apenas empregados no mesmo trabalho de santas ordenanças adaptadas ao nosso estado e condição, mas no desempenho de nossos deveres entramos no véu, e nos aproximamos do mesmo trono da graça no lugar santíssimo; há uma comunhão espiritual entre eles e nós. Assim, o Apóstolo o expressa, no décimo segundo [capítulo] de Hebreus; como estamos aqui, em e pela palavra e outras ordenanças, preparados e feitos adequados para o presente estado de coisas em glória; assim estão eles, os espíritos dos justos aperfeiçoados, pela adoração no templo do Céu, adequados para aquele estado de coisas, quando Cristo dará o reino ao Pai, para que Deus seja TUDO EM TODOS”. 10

___________
Notas:

[1] Salmos 72:8; Daniel 7:14; Lucas 1:33.

[2] Salmos 122:15; 1 Coríntios 15:25.

[3] 1 Reis 8: 27-30, 38, 42, 44, 48; 2 Reis 19:15; Salmos 28:2; 80; 1 Daniel 6:10.

[4] 1 Reis 8:22.

[5] Veja Dr. Goodwin Sobre Cristo, o Mediador, Livro 6, Capítulo 3.

[6] Dissertações Teológicas, p. 4- 6.

[7] Nota do Dr. Doddridge, em Efésios 2:19

[8] 2 Coríntios 3:18. “Em um rosto descoberto”, assim, então, eu humildemente concebo, deve aqui ser traduzido. Compare com 2 Coríntios 4:6, onde o escritor inspirado fala da iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. Que admitirá a preposição suplementar em, bem como com, não pode, eu presumo, ser posto em dúvida; e que todo o âmbito de aplicação do raciocínio de Paulo, no contexto, nos leva a pensar no rosto de […]*** e não no de crentes, sendo descoberto, é, se não me engano, solidamente comprovado pelo erudito Ikenius, em sua Dissertat .. Philolog. ‘Theplog. Dissert. 26. § 4, 5, 6.

[9] Êxodo 34:29-35

***Infelizmente este pequeno trecho estava ilegível no documento que usamos para fazer a tradução.

[10] Sobre a Pessoa de Cristo, Capítulo 20, p. 365-366.

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