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Óleo na Vasilha, por A. W. Pink

Recentemente um irmão no Senhor escreveu chamando a nossa atenção para as comparações e contrastes entre as virgens prudentes e loucas de Mateus 25. A substância de seu apontamento era como segue. Elas têm sete coisas em comum. Primeiramente, todas as virgens estavam “no reino dos céus”: pelo que nós entendemos a profissão Cristã. Em segundo lugar, todas elas eram “virgens”: não cinco virgens e cinco prostitutas: pelo que entendemos, elas todas afirmavam pertencer a Cristo. Em terceiro lugar, todas elas “saíram ao encontro do esposo”: elas eram um no propósito, tendo um único fim e visão. Em quarto lugar, elas todas tinham “lâmpadas”, o mesmo tipo de lâmpada. Em quinto lugar, elas “tosquenejaram todas, e adormeceram”, Em sexto lugar, todas elas clamaram “Aí vem o esposo”. Em sétimo, todas elas “se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas”.

Há seis pontos de diferença entre elas. Em primeiro lugar, cinco delas eram “prudentes” e cinco delas eram “loucas”. Segundo, as prudentes “levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas” (versículo 4), mas as loucas não o fizeram. Em terceiro lugar, no momento crucial as virgens loucas tiveram que reconhecer “as nossas lâmpadas (lenta, mas certamente) se apagam” (versículo 8, parte final). Em quarto lugar, as virgens loucas “foram comprar” óleo (versículo 10), as prudentes não tinham necessidade de fazê-lo. Em quinto lugar, as prudentes foram fechadas com o Noivo, mas as loucas foram excluídas (versículo 10). Sexto, as virgens loucas foram repudiadas pelo Senhor (vv. 11-12).

Comentando sobre o supracitado, nosso amigo pontuou que: “Há uma certa classe hoje que não difere dos filhos de Deus quanto ao seu testemunho: sua pureza, sua ortodoxia, sua sinceridade. Estes não são Espíritas, Russellitas, ou as filhas da Mãe das Prostituições, mas “virgens”. Doutrinariamente eles são puros. Elas são retratadas como indo adiante “ao encontro do Esposo”, não uma para o “deserto” e outra para o “interior da casa” (Mateus 24:26), em busca de um falso Cristo. O Objeto de seu serviço era a mesma Pessoa com quem as virgens prudentes estavam ocupadas. O ponto vital em sua “loucura” não era que elas “tosquenejaram e adormeceram”, mas que não tinham azeite em suas VASILHAS. O seu óleo estava nas “lâmpadas”, o testemunho ou doutrina, mas nenhum nas suas vasilhas ou almas”.

O [texto] acima impressionou o editor mais uma vez com a grande importância de certificar-se individualmente se há óleo na minha vasilha: a “vasilha” é a alma, o “óleo” é graça Divina nela. Qualquer que seja o significado preciso do “Aí vem o esposo”, se isso se refere à hora da morte, ao “retorno pré-milenial de Cristo”, ou ao Dia do Julgamento, uma coisa é clara: Balaão tinha óleo em sua “lâmpada”, como também teve Judas quando Cristo enviou-o com os outros Apóstolos a “pregar” (Mateus 10:5-7), mas seus corações estavam privados da graça salvadora de Deus! Que terrível descoberta para as virgens loucas fazerem: “as nossas lâmpadas se apagam”, uma descoberta feita tarde demais para fazer-lhes algum bem.

Esta parábola das “virgens” é uma, de fato, profunda e solene. Ela tem profundamente exercitado muitas almas sinceras. Isso tem provocado não poucos santos genuínos a indagar se, afinal, a “raiz da questão” estava neles. Ela tem dado real apontamento à exortação: “Examinai-vos a vós mesmos, se permaneceis na fé; provai-vos a vós mesmos” (2 Coríntios 13:5). Por outro lado, um grande número de cristãos professos é bastante insensível à sua severa mensagem, complacentemente assumindo que eles estão contados entre as virgens “prudentes”, e não tendo nenhuma preocupação para buscar a prova de que o óleo está em suas vasilhas. O mais estranho de tudo, talvez, algumas das pessoas do próprio Senhor mal sabem como definir a averiguação do seu estado, e são tão desconfiados de si mesmos, que eles prontamente concluem que as suas vasilhas estão desprovidas de óleo vital.

A passagem chave para o significado desta figura bíblica é: “o teu Deus, te ungiu com óleo de alegria mais do que a teus companheiros” (Salmos 45:7), onde a referência é ao Mediador, pois Deus “não lhe dá o Espírito por medida” (João 3:34); em consequência, portanto, Ele é “mais formoso do que os filhos dos homens; a graça se derramou em teus lábios” (salmos 45:2). O santo “óleo” foi derramado pela primeira vez sobre o antitípico Arão, e então desce para todas a “orla das suas vestes” (Salmos 133:2), ou seja, para os Cristãos mais medianos e débeis. Assim como o dedinho ou dedo do pé é animado pela mesma vida e vitalidade que atua na cabeça e no coração de uma pessoa, desta forma, cada Cristão é vitalizado pelo mesmo Espírito que foi dado a Cristo, o Cabeça. Como o Espírito santificou a natureza humana de Cristo, suprindo-o e enriquecendo-o com toda a graça, assim a Sua graça é comunicada para todos os Seus membros.

O “óleo”, então, nas vasilhas das virgens prudentes se refere à vida do Espírito na alma de um Cristão. É a presença da Divina graça no coração, em contraste ao conhecimento na cabeça ou exatidão da conduta exterior, que distingue o possuidor real do professante vazio. Quão importante, então, é que não poupemos esforços para averiguar se a graça Divina reside em nós ou não! Ainda neste exato ponto, os Cristãos encontram uma dificuldade real: como eles, honesta e diligentemente, olham para o interior, percebem tal mar de corrupção, sempre lançando lama e sujeira, eles são muito angustiados, e prontos a concluírem que a graça Divina certamente não pode estar presente em corações tais como os deles. Mas isso é um erro grave; como o óleo genuíno é distinto de falsificações por suas propriedades, assim a graça na alma pode ser conhecida por suas características e efeitos.

Entretanto a alma exercitada deve começar sua busca pela graça que habita com ela definitivamente enraizada em sua mente, pois, em cada coração onde reside a graça também há um oceano de pecado, e assim como água e óleo não se misturam, mas continuam a preservar as suas propriedades distintas, mesmo quando colocados juntos na mesma vasilha, assim a carne e o espírito não se misturam no Cristão, mas permanecem em oposição um ao outro até o fim. Admitindo, então, um mar de depravação interior, meu objetivo é descobrir se há algum “óleo” em absoluto, o qual as afluências do pecado não são capazes de destruir. Quando vejo fumaça, devo inferir fogo (não obstante oscilante), e se eu puder discernir em meu coração alguma graça espiritual (não obstante fraca) devo inferir a habitação do Espírito Santo.

Não fique excessivamente desanimado, então, caro amigo Cristão, porque você descobre tanta água suja na sua “vasilha” (o editor descobre o mesmo), mas sim limite a sua atenção em procurar o “óleo” dentro de você, e lembre-se que a presença do mesmo deve ser determinada por suas propriedades e efeitos. Vamos nomear alguns deles. Em primeiro lugar, óleo ilumina, assim, são os cegos Laodicenses convidados para ir a Cristo buscar colírio (óleo de unção) para que eles pudessem ver (Apocalipse 3:18). Agora, onde a graça Divina foi concedida esta alma é iluminada. É verdade, diz um leitor sério, mas o ponto que me preocupa tanto é: É a minha iluminação espiritual e sobrenatural, ou simplesmente uma natural e intelectual, adquirida pela mente sendo instruída através do assentar-se sob a sã doutrina? Aqueles mencionados em Hebreus 6:4 foram “uma vez iluminados”, mas nenhuma obra salvífica de graça havia sido forjada neles!

Alguns dos nossos leitores podem ser totalmente estranhos a todas essas experiências angustiantes, e perguntam por que qualquer Cristão verdadeiro deve pôr em questão o caráter exato da iluminação dele ou dela, preocupando-se não de todo, se a sua iluminação é natural ou sobrenatural. Pobres almas, é muito receoso que um despertamento severo os aguarda de seu sono induzido por Satanás. Mas o que diremos para aqueles que estão despertos e profundamente preocupados com os seus interesses eternos? Como são certos para determinar a questão? Nós respondemos, teste o ponto. Não havia um momento em que você “não viu nenhuma beleza em Cristo para que você pudesse desejá-lO?”. É assim com você agora? Ou será que Ele se tornou aos seus olhos o Único “totalmente dessejável”? Você pode estar com medo de chamá-lO seu, mas se o seu coração realmente anseia por Ele, então você deve ter sido espiritualmente iluminado, o “óleo” está em sua vasilha.

Em segundo lugar, o óleo suaviza. O óleo era muito utilizado pelos antigos para fins medicinais, e nós, os modernos podemos muito seguir o exemplo de seus livros. Ele vai derreter a cera endurecida no ouvido, amacia um joanete calejado. É muito útil para os tumores: repetidas aplicações amolecem, em seguida, fazendo estourar, e depois curam. Assim, é na operação do Espírito Santo. Ele encontra os eleitos duros e obstinados por natureza, e inchados com orgulho e presunção, mas a graça Divina os suaviza, derretendo os seus duros corações, estourando os tumores de justiça própria, e proporcionando um espírito contrito. “E dar-vos-ei um coração novo, e porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei da vossa carne o coração de pedra, e vos darei um coração de carne” (Ezequiel 36:26).

 

Quando a graça Divina tem sido concedida, o coração é sobrenaturalmente suavizado. Mas aqui a alma sincera experimenta maior dificuldade, e está pronta a exclamar enfaticamente: Então eu ainda devo estar em um estado não regenerado, pois meu coração é “tão duro quanto pedra de moinho”. Espere um momento, caro amigo, e teste o assunto. Quais são as marcas de um “coração duro”, como apresentadas na Escritura? Não estão eles em uma total ausência de uma percepção sensível da excessiva malignidade do pecado, uma absoluta despreocupação se Deus está satisfeito ou insatisfeito com a minha conduta, não me entristeço em segredo quando Cristo foi desonrado por mim? Isso é verdade sobre vocês, que são tão prontos para concluir que estão em um estado natural? Se não for, se o pecado é o seu fardo e sua alma se entristece com a sua falta de conformidade com Cristo, então o seu coração deve ter sido espiritualmente suavizado. O “óleo” está na sua vasilha.

Em terceiro lugar, o óleo cura. Assim, encontramos o grande Médico, sob a figura do bom samaritano, tendo compaixão do viajante assaltado, ligando-lhe as feridas e “deitando-lhes azeite e vinho” (Lucas 10: 34); e Ele ainda está cuidando assim do seu povo através do gracioso ministério do Espírito. Quantas vezes o bendito Consolador aplica “o bálsamo de Gileade” no povo de Deus afligido pelo pecado. Que horríveis contusões e podres chagas o pecado e Satanás infligem sobre as almas dos santos, mas quão frequente e ternamente o Espírito os acalma e alivia. Primeiro, Ele opera arrependimento no coração, que é uma graça purgatória, levando embora o imundo e venenoso amor ao pecado, e depois, Ele fortalece a esperança, que é uma graça reconfortante para que a alegria do Senhor, mais uma vez torne-se a sua força. A Divina graça remove a carga de culpa da consciência, aplica o tônico das promessas, e dá ao peregrino cansado um erguer-se pelo caminho, “pondo-o sobre o seu animal” (Lucas 10:34).

Aqui, então, há outra propriedade e efeito da graça Divina: ela cura a alma. Podemos imaginar algum leitor temeroso exclamando: Ai, isto corta a minha esperança, pois não há solidez em mim. Ouça, meu querido amigo, nenhum Cristão está completa e perfeitamente curado da doença do pecado nesta vida, mas ele é liberto dos mais temíveis efeitos fatais dele, e é neste ponto que você deve examinar a si mesmo. Quais são as piores coisas que a Queda produziu no homem? A inimizade contra Deus, o amor ao pecado e a idolatria de si mesmo. Teste-se por essas coisas. Você ainda odeia a Deus? Se assim for, você lamentaria porque O ama tão debilmente!? Você ainda ama o pecado? Se assim for, por que você sofre com as operações dele!? O eu é agora seu ídolo? Se assim for, por que você, às vezes, contraria a si mesmo!? O pecado não foi erradicado, mas suas feridas estão sendo curadas. O “óleo” está em sua vasilha.

O espaço limitado agora à nossa disposição nos impede de fazer mais do que apenas mencionar uma quantidade de outras características. O óleo faz as articulações flexíveis e ágeis, e, portanto, foi muito utilizado por atletas; assim, a graça habilita o Cristão a “servir em novidade de espírito” (Romanos 7:6) e correr a carreira a ele proposta. É uma coisa excelente para aqueles que têm as articulações rígidas, pois penetra até os ossos (Salmos 109:18). Isso torna o rosto fresco e reluzente (Salmos 104:15): o que é mais atrativo ao olho espiritual do que um caráter gracioso. Isto adoça nossas pessoas, a fim de que sejamos para Deus um “bom perfume de Cristo” (2 Coríntios. 2:15), ao passo que os ímpios são uma “fumaça em suas narinas” (Isaías 65:5). Isto alegra, e, assim, lemos sobre “o óleo da alegria” (Isaías 61:3): o coração está alegre quando a graça está ativa. É uma ajuda para a digestão, por isso, apenas enquanto a graça é ativa dentro de nós, podemos assimilar o nosso alimento espiritual.

Óleo e água não se misturarão: o velho homem não é superado pelo novo, nem é o novo corrompido pelo velho. O óleo não pode afundar sob a água, mas sempre flutua em cima, assim a graça no crente é indestrutível, e no final será visto que ela triunfou plenamente sobre o pecado. O óleo é um líquido supereminente, pois não irá incorporar-se com qualquer coisa mais leve; ele terá o lugar mais elevado acima de todos os outros líquidos. Assim, as graças do Espírito são de caráter superior, tão mais acima dos dons naturais como as bênçãos espirituais excedem as coisas terrenas. O óleo acalma as águas turbulentas, dando alívio a um navio em uma tempestade: assim a graça muitas vezes subjuga as operações turbulentas do pecado. Que bendita promessa é aquela no Salmo 92:10: “Porém tu exaltarás o meu poder, como o do boi selvagem. Serei ungido com óleo fresco”: novos suprimentos de graça, benditos reavivamentos são concedidos ao provado povo de Deus. Sim, há “azeite na casa” das virgens “sábias” (Provérbios 21: 20). O Senhor se agrade em acrescentar Suas bênçãos a esta pequena meditação.

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Obs: Este pequeno artigo não é feito para a pesquisa e exposição de mestres vãos, mas para formação e consolo dos “vivos em Jerusalém”. Se estes últimos, em oração, relerem estes parágrafos e honestamente medirem-se pelo seu conteúdo, eles devem ser capazes de “provar” a si mesmos (2 Coríntios. 13:5). Não é a ausência de pecado, nem a diminuição de seu poder interior, o que evidencia a regeneração, mas a presença de um princípio contrário e sagrado, que é conhecido por seus anseios e esforços espirituais.

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Originalmente editado por Emmett O’Donnell pela Mt. Zion Publications, um ministério de Mt. Zion Bible Church, 2603 West Wright St., Pensacola, FL 32505. www.mountzion.org.