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Os Cinco Pontos do Calvinismo e a Teologia Pactual, por Tom Hicks

Nos últimos anos, houve uma recuperação dos Cinco Pontos do Calvinismo entre muitos evangélicos, mas não houve um ressurgimento concomitante da teologia pactual do Puritanismo do século XVII como o rico solo no qual cresce a soteriologia Calvinista. Esse artigo não tentará defender completamente todas as doutrinas mencionadas, mas mostrar a conexão entre o Calvinismo e os pactos teológicos da teologia pactual. O Sínodo de Dort enumerou os Cinco Pontos do Calvinismo, não na sua ordem contemporânea encontrado no acróstico “TULIP”, mas na ordem de “ULTIP”, que é a ordem que usarei aqui.

 

1. Unconditional Election/Eleição Incondicional. O decreto eterno da eleição incondicional é o fundamento da teologia pactual e da doutrina da salvação. Deus escolhe salvar os pecadores não por causa de qualquer bondade ou condições previstas neles, mas apenas por causa de Sua boa vontade de redimir um povo para Ele mesmo para Lhe trazer glória. Falando de eleição divina incondicional, Paulo escreve: “Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Romanos 9:16). Não há condições para que Deus escolha os indivíduos para a salvação. A escolha de Deus baseia-se inteiramente em Sua vontade soberana: “Logo, pois, compadece-se de quem quer, e endurece a quem quer” (Romanos 9:18).

 

2. Limited Atonement/Expiação Limitada. A expiação limitada pode ser melhor denominada “redenção particular” ou “expiação definitiva”. Significa que a morte de Cristo é absolutamente eficaz para salvar, que a morte de Cristo comprou cada bênção de vida para Seu povo escolhido, incluindo o novo nascimento, a fé, o arrependimento, a justificação e a adoção. Como também uma vida santa duradoura (Romanos 8:31-39). Hebreus 9:12 nos diz que Cristo realizou a salvação pelo Seu povo: “por seu próprio sangue… havendo efetuado uma eterna redenção”. Observe que o sangue de Cristo “efetua” a redenção. Não apenas torna possível a redenção, mas verdadeiramente efetua, realiza a redenção. Seu sangue assegura a redenção “eterna”, não uma redenção temporária. Assegura a “redenção”. Ou seja, o sangue de Cristo realmente redime e não apenas faz uma provisão para a redenção. Como apenas um número limitado de pessoas é resgatado, devemos concluir que Cristo morreu apenas para salvar o Seu povo escolhido. E isso é de fato o que as Escrituras ensinam. Mateus 1:21 diz: “Ele salvará o seu povo dos seus pecados”. Em João 10:15, Jesus diz: “Dou a minha vida pelas ovelhas”. Em João 17:9, Jesus diz: “Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste”. A obra sacerdotal de expiação e de oração de Cristo limita-se apenas aos eleitos.

 

Então, o que isso tem a ver com a teologia pactual? A teologia pactual vê a “expiação limitada” como enraizada na eterna “pacto de redenção” entre o Pai e o Filho para a redenção dos eleitos. Nessa aliança eterna (um aspecto do decreto eterno), o Pai designou o Filho para entrar neste mundo, cumprir a lei de Deus, morrer pelo Seu povo escolhido e ressuscitar dentre os mortos. O Filho concordou em cumprir a vontade do Pai (João 17:4). Um pacto é “um acordo entre duas ou mais pessoas”; portanto, é apropriado ver esse acordo entre o Pai e o Filho do ponto de vista pactual. Com base nesta aliança eterna, ou acordo, entre o Pai e o Filho, o Filho veio ao mundo, guardou a lei de Deus e realizou a redenção dos eleitos no tempo (2 Timóteo 1:9-10). A totalidade de Isaías 53 é sobre a obediência temporal de Cristo a essa aliança eterna de redenção, e Isaías 54:10 explicitamente a chama de “a aliança da minha paz”.

 

3. Total Depravity/Depravação Total. A expressão depravação total se refere ao fato de que os seres humanos nascem depravados em suas mentes, corações e vontades. Os pecadores não são tão depravados quanto podem ser, mas são verdadeiramente depravados em cada aspecto de suas pessoas. O resultado da depravação total é que nenhuma pessoa natural jamais buscará Deus, abraçará o Evangelho ou fará absolutamente qualquer bem. Romanos 3:10-12 explica a depravação total: “Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis”; semelhantemente, Isaías 64:7 diz: “E já ninguém há que invoque o teu nome, que se desperte, e te detenhas”. Portanto, nenhum ser humano pode fazer nada por sua própria salvação. Homens naturais estão completamente perdidos e sem esperança em si mesmos. Eles não escolherão Cristo. Eles não virão a Ele.

 

Em termos de teologia pactual, a “depravação total” da humanidade caída é o resultado da violação de Adão do “Pacto de Obras”. No princípio, Deus criou Adão como portador da imagem divina e como representante da aliança (cabeça federal) de toda a humanidade. Como imagem de Deus, Adão foi criado para amar e desfrutar de Deus. Deus amorosamente escreveu a Sua boa lei no coração de Adão, a qual ensinou a Adão como amar a Deus e aos outros (Romanos 2:14). Deus prometeu a vida eterna a Adão através de sua obediência (Gênesis 3:22), mas também ameaçou a morte eterna de Adão e sua posteridade se ele desobedecesse (Gênesis 2:17). Porque Adão desobedeceu a Deus ao não amá-lO e ao quebrar Sua lei, Deus amaldiçoou Adão e todos os que descendem dele por geração natural com a morte eterna. Paulo escreve: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram” (Romanos 5:12). A maldição da morte significa que os descendentes naturais de Adão herdam naturezas totalmente depravadas que não têm desejo pelo verdadeiro Deus e nenhum desejo de vir a Ele para ter salvação e vida. “Em Adão todos morrem” (1 Coríntios 15:22). Portanto, por causa do fracasso de Adão em manter o “Pacto de Obras”, toda a humanidade é amaldiçoada com uma “depravação total”.

 

4. Irresistible Grace and Perseverance of the Saints/Graça Irresistível e Perseverança dos Santos. Estes dois aspectos dos cinco pontos do Calvinismo seguem juntos.

 

“Graça irresistível” ou “graça eficaz/efetiva”, como às vezes é chamada, significa que Deus efetivamente traz Seu povo eleito para a salvação. Sem essa graça salvífica eficaz, mesmo o povo escolhido de Deus resistiria à salvação de suas mortes porque todos herdaram as naturezas caídas e depravadas de Adão.

 

“Perseverança dos santos” significa que Deus efetivamente faz com que Seu povo escolhido permaneça salvo e viva vidas santas.

 

Graça irresistível e perseverança dos santos são logicamente necessárias à luz das naturezas caídas dos seres humanos. Porque os seres humanos são totalmente depravados e porque são totalmente incapazes de fazer qualquer coisa para conduzirem a si mesmos a Deus, a única maneira para eles serem salvos e permanecerem salvos é que Deus forneça um poderoso e conquistador tipo de graça que vença toda a resistência humana natural do início ao fim da salvação.

 

As Escrituras frequentemente relacionam a “graça irresistível” e a “perseverança dos santos”. Jesus disse: “E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que nenhum de todos aqueles que me deu se perca”, e ainda: “Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou o não trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia” (João 6:39, 44). Além disso, Jesus disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai” (João 10:27-29).

 

Na teologia pactual, as doutrinas da graça irresistível e da perseverança dos santos são bênçãos do “Pacto da Graça”. Deus fez o Pacto da Graça com Seu povo eleito para salvá-los de seus pecados. Todas as bênçãos do Pacto da Graça foram compradas através da obra de Cristo no Pacto da Redenção. No Pacto da Redenção, Cristo realizou a redenção. No Pacto da Graça, o Espírito Santo aplica a redenção que Cristo realizou.

 

E quais são as bênçãos do Pacto da Graça? Jeremias 31:31-34 é citado em Hebreus 8: 10-12, e ensina que Deus atrai irresistivelmente Seu povo para Si mesmo: “Porei as minhas leis no seu entendimento, E em seu coração as escreverei; E eu lhes serei por Deus, E eles me serão por povo” (Hebreus 8:10). Note que Deus é aquele que age para converter os corações de Seu povo. Ele diz: “Porei… escreverei”, ou seja, “Eu vou” fazer essas coisas. No Pacto da Graça, Deus irresistivelmente atrai Seu povo para a salvação.

 

O Pacto da Graça também fornece a bênção da perseverança. Hebreus diz: “E não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior. Porque serei misericordioso para com suas iniquidades, e de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais” (Hebreus 8: 11-12). Deus preserva todos os membros do Pacto da Graça no conhecimento de Si mesmo. Ele também perdoa seus pecados.

 

Portanto, a Pacto da Graça proporciona as bênçãos da graça irresistível e da perseverança dos santos para aqueles que Deus escolheu para a salvação desde a fundação do mundo.

 

Em conclusão, a teologia pactual encontrada na Bíblia demonstra que os Cinco Pontos do Calvinismo não são um ensinamento escasso na Bíblia, limitado a certos textos de prova ou a um aspecto da teologia sistemática. Os Cinco Pontos do Calvinismo estão profundamente enraizados na própria superestrutura da Bíblia, o que significa que toda a Escritura é sobre as gloriosas doutrinas da soberana graça redentiva de Deus.

 

 

 

Para mais informações sobre a Teologia do Pacto ou Teologia Federal dos Batistas do século XVII [Federalismo de 1689], veja:

 

Covenant Theology [Teologia Pactual], editado por Earl Blackburn

 

The Distinctiveness of Baptist Covenant Theology [Os Distintivos Batistas da Teologia da Aliança], por Pascal Denault

 

Covenant Theology: From Adam to Christ [Teologia Pactual: De Adão a Cristo], por Nehemiah Coxe e John Owen.