[Um Excerto de Uma Jornada no Evangelho, por Paul David Washer]
Ele Ficará Satisfeito
“Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, justificará a muitos; porque as iniquidades deles levará sobre si” (Isaías 53:11).
“Algum de nós já viu o que os anjos viram, quando o Filho de Deus deixou o seio de Seu Pai, e trocou um trono no Céu por uma manjedoura na terra; se O tivéssemos visto despojar-Se de Sua glória, esvaziando-Se da forma Deus, assumindo a forma de servo, e aparecendo na Terra, à semelhança da carne do pecado, com o propósito declarado de viver na pobreza, e morrer uma morte ignominiosa, agonizante, maldita — naturalmente, teríamos sido levados a exclamar: ‘Que justo propósito Ele pode ter em vista? Que motivo pode ser suficientemente poderoso para induzir tal Ser a fazer sacrifícios tão grandes, a encontrar sofrimentos tão extraordinários!?’. Esta questão um apóstolo parcialmente respondeu. Ele nos informou que Jesus Cristo suportou a cruz e desprezou a vergonha por causa da alegria que Lhe fora proposta. No que consistia essa alegria, podemos aprender com o capítulo diante de nós, e especialmente a partir de nosso texto. Aqui é predito, que Ele verá o fruto do trabalho da Sua alma, ou seja, os frutos ou efeitos de Seus sofrimentos, e ficará satisfeito. No contexto, somos informados o que estes frutos serão. Ele, justificará a muitos, Ele verá a Sua posteridade, e o prazer do Senhor prosperará na Sua mão. O gozo proposto a Ele, pelo que Ele suportou a cruz, desprezando a vergonha, foi, então, a alegria, o que resultaria de ver Seu Pai glorificado e os pecadores salvos, em consequência de Sua encarnação, sofrimentos e morte. Isto, nosso texto afirma, Ele verá, e a visão irá satisfazê-lO. Enquanto o contempla Ele sentirá que Ele é amplamente recompensado por todos os Seus sacrifícios, labutas e sofrimentos…”.
“Nosso Redentor já tem visto muito do fruto dos Seus sofrimentos. O nosso mundo uma vez estéril, regado por Suas lágrimas e Seu sangue, já produziu uma grande colheita de justiça e salvação. Sua cruz, como a vara de Arão, brotou e floresceu, e começou a dar precioso fruto incorruptível. A partir de Sua cruz fluiu todo o conhecimento religioso, toda a real bondade, toda a verdadeira felicidade que existe entre os mortais desde a Queda. Na cruz, que, como a escada vista por Jacó na visão, une o Céu e a terra, miríades de seres imortais, que estavam afundando no abismo sem fundo, têm subido às mansões celestiais; outras miríades, agora vivas, estão seguindo-os na subida. Nos patriarcas, profetas e os israelitas piedosos; nos apóstolos e outros pregadores primitivos do Cristianismo; nos inúmeros convertidos, os quais por instrumentalidade deles, foram transportados das trevas para a luz; em todos os indivíduos verdadeiramente piedosos, que, desde então, existiram dentre os homens; em todos os verdadeiros Cristãos, que agora estão na terra, nosso Redentor tem visto os frutos de Seus sofrimentos. Em cada Cristão verdadeiro agora presente Ele vê um desses frutos, vê uma alma que foi redimida da miséria sem fim e desespero por meio de Seu sangue, e feito um herdeiro da glória, honra e imortalidade. Então, quanto, quão muito, Ele já tem visto realizado, no cumprimento da promessa diante de nós! Quantas almas imortais foram arrebatadas como tições do fogo eterno! Quantos indivíduos foram instruídos, santificados, perdoados, consolados e feitos mais do que vencedores, por meio dAquele que os amou! Quantas famílias piedosas se alegraram juntas em Sua bondade; quantas igrejas foram plantadas, regadas e feitas florescer! Quanta felicidade os membros de todas essas igrejas têm na vida, na morte e no Céu! Que imensa, quase inumerável, multidão, de espíritos felizes, redimidos dentre os homens, estão agora ao redor do trono de Deus e do Cordeiro! E mesmo enquanto eu falo, o número desses espíritos felizes, e a colheita que nasce dos sofrimentos do Salvador estão aumentando. Mesmo enquanto eu falo pecadores em diferentes partes do mundo estão vindo para o reino de Deus. Mesmo enquanto eu falo, almas imortais, lavadas no sangue de um Salvador, santificadas pelo Seu Espírito e justamente feitas vitoriosas sobre o último inimigo, a morte, estão entrando Céu, a partir dos quatros cantos da terra, e iniciam a sua canção eterna. Ora, Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, a Ele glória e poder para todo o sempre. Amém”.
“E enquanto o nosso três vezes bendito Redentor tem, assim, visto, e ainda vê a felicidade dos seres humanos aumentando em virtude de Seus sofrimentos, Ele também tem visto, e ainda vê a glória de Deus aumentando igualmente. Ele tem visto milhões, que já foram inimigos de Seu Pai, transformados em amigos; Ele tem visto milhões, que uma vez cegamente adoravam deuses falsos, e que atribuíam a eles a glória da criação, preservação e governo do mundo, convertidos de seus ídolos inúteis para adorarem o único Deus vivo e verdadeiro, que fez o céu e a terra. Ele viu a lei de Seu Pai obedecida e honrada por multidões, os quais, se não fosse por Ele, teriam continuado a pisoteá-la. Ele tem visto dez mil vezes dez mil orações e atribuições de louvor, elevadas a partir do mundo, o que, se não fosse por Sua interposição, nunca teriam haveria uma destas como aceitáveis sacrifícios espirituais agradáveis ao Seu Pai. Ele viu o trono eterno cercado, e Aquele que está sentado sobre ele adorado por quase incontáveis multidões, que uma vez desonraram a Deus na terra, e que estavam prestes a blasfemar dEle no inferno. Em suma, Ele tem visto Sua Religião voando em todo o mundo como nas asas dos anjos, espalhando bênçãos onde ela vai, e proclamando a paz na terra, boa vontade para com os homens e glória a Deus nas alturas. Certamente, a previsão diante de nós já tem sido parcialmente cumprida” (Obras Completas, Vol. 2, p. 152-154).
Por Que Deus Se Alegra Nos Redimidos
“Que o infinito e todo-bendito Senhor, diante do qual todas as nações são como nada e vaidade, deve regozijar-Se no arrependimento de um pecaminoso verme de pó, parece, à primeira vista, estranho, e quase inacreditável. Porém, por mais estranho ou incrível que pareça, é evidente, tanto a partir de Suas declarações e Sua conduta, que tal é o fato… No entanto, é certo, que Deus não Se alegra no arrependimento dos pecadores porque isso pode adicionar qualquer coisa à Sua felicidade ou glória essencial; pois Ele já é infinitamente glorioso e feliz, e assim permaneceria mesmo que todos os homens na terra, e todos os anjos no Céu corressem loucamente para o Inferno. Tem o Todo-Poderoso prazer em que tu sejas justo, ou algum lucro em que tu faças perfeitos os teus caminhos? Não, nossa bondade não o alcança Ele, e quando tivermos feito tudo, nós somos apenas servos inúteis. Por que então Deus Se alegra quando nos arrependemos? Ele Se alegra:
1. Porque os Seus graciosos propósitos eternos e Seus compromissos com Seu Filho, então, são cumpridos. Aprendemos com as Escrituras que todos os que se arrependem, foram eleitos por Ele em Cristo Jesus antes dos tempos eternos, e dados a Ele como Seu povo no Pacto da Redenção. Aprendemos também que Ele disse ao Seu Filho: “O Teu povo será mui voluntário no dia do Teu poder”. Ele, portanto, Se alegra em vê-los se arrependerem, como nos alegramos quando nossas promessas são cumpridas, e os nossos propósitos favoritos realizados.
2. Deus Se alegra quando os pecadores se arrependem, porque trazê-los ao arrependi-mento é a Sua própria obra. Esta é uma consequência do dom de Seu Filho, e é efetuada pelo poder do Seu Espírito. As Escrituras nos informam que Ele Se alegra com todas as Suas obras, e com razão Ele Se alegra nelas; pois elas são todas boas. Mas, se Ele Se alegra em Suas outras obras, muito mais Ele pode alegrar-Se nesta, uma vez que é de todas as Suas obras a maior, a mais gloriosa, e a mais digna dEle mesmo. Nessa obra, a imagem de Satanás é apagada, e a imagem de Deus restaurada a uma alma imortal. Nessa obra, um filho da ira é transformado em um herdeiro da glória. Nesta obra, um tição de fogo é arrebatado do fogo eterno, e plantado entre as estrelas no firmamento do Céu, para que ali brilhe com resplendor crescente para todo o sempre. Essa não é uma obra digna de Deus, uma obra na qual Deus pode devidamente Se alegrar?
3. Deus Se alegra com o arrependimento dos pecadores, porque proporciona-Lhe uma oportunidade de exercer misericórdia e demonstrar o Seu amor a Cristo, perdoando-os por amor a Ele. Cristo é Seu Filho amado, em quem Ele está sempre bem satisfeito. Ele O ama como a Si mesmo, com um amor infinito; um amor que é tão inconcebível por nós, como Seu poder criativo e a duração eterna. Ele O ama não somente por causa da relação próxima e inseparável união que subsiste entre eles, mas pela perfeita santidade e excelência de Seu caráter, e especialmente pela benevolência infinita que Ele demonstrou em realizar e consumar a grande obra da redenção do homem. Como é a natureza do amor manifestar-se em atos de bondade para com o objeto amado, Deus não pode, senão desejar demonstrar o Seu amor por Cristo, e mostrar a todos os seres racionais o quão perfeitamente Ele está satisfeito com o Seu caráter e conduta, como Mediador. A fonte inesgotável de amor a Cristo, que enche Seu coração, está constantemente à procura de novos canais em que possa fluir e mostrar-se às criaturas. Como Davi perguntou: ‘Há ainda alguém que tenha ficado da casa de Saul, para que lhe faça benevolência por amor de Jônatas?’ [2 Samuel 9:1], assim podemos conceber Deus como perguntando: ‘Há ainda algum pecador arrependido, a quem Eu lhe faça benevolência por amor de Cristo?’. E quando um pecador é encontrado, Deus não pode deixar de estar satisfeito, porque isso Lhe proporciona uma oportunidade para mostrar o Seu amor por Cristo, concedendo perdão em virtude de Sua expiação e intercessão…
4. Deus Se alegra quando os pecadores se arrependem, porque Ele Se agrada de vê-los escapar da tirania e das consequências do pecado. Deus é luz; santidade perfeita. Deus é amor; pura benevolência. Tanto a Sua santidade e a Sua benevolência O levam a Se alegrar quando pecadores escapam do pecado. O pecado é aquela coisa abominável que Ele odeia. Ele o odeia como uma coisa má ou maligna, e amarga ou destrutiva. Na verdade, é ambos. É a peste, a lepra, a morte das criaturas racionais. O pecado infecta e envenena todas as suas faculdades; mergulha-os nas mais baixas profundezas da culpa e miséria, e contamina-os com uma mancha, que todas as águas do oceano não podem lavar, que todos os fogos do Inferno não podem remover; a partir do que nada pode purificá-los, senão o sangue de Cristo” (Obras Completas, vol. 3, p. 235-241).