Entre ou cadastre-se

Como a Bíblia se Relaciona com Credos Feitos pelo Homem, por Thomas Nettles

A questão central de como alguém concede força autoritativa a uma proposição credal ou confessional tem importância primordial em seu uso de forma pedagógica e disciplinar. Se igrejas, associações ou denominações como um todo devem usar seus credos como instrumentos de ordenação, instrução e disciplina, então algum método de demonstrar o caráter bíblico de suas proposições deve ser claramente concebido. Phillip Schaff lembra corretamente aos Cristãos que “a Bíblia tem, portanto, uma autoridade divina e absoluta, a Confissão apenas uma autoridade eclesiástica e relativa”. Além disso, ele adverte que “qualquer visão mais elevada da autoridade dos símbolos não é protestante, mas é essencialmente romanizante”. Tendo emitido essa advertência, ele propôs: “As confissões, em devida subordinação à Bíblia, são de grande valor e utilidade”. Ele as chamou de “resumos das doutrinas bíblicas, auxílios na sua boa compreensão, vínculo de união entre seus professos, padrões públicos e guardas contra falsas doutrinas e práticas” (Philip Schaff, Creeds of Christendom [Credos da Cristandade], 3 volumes, 1:7-8).

 

A confiança na autenticidade bíblica do conteúdo de um credo vem pela familiaridade com seu contexto histórico e doutrinário em comparação com a forma como cada parte interpretou a Escritura. Os credos e confissões nos ajudam a consolidar as opções exegéticas que caracterizaram desacordos na história do cristianismo. Eles estabelecem proposições que são o resumo do entendimento de um grupo particular sobre o que as Escrituras ensinam. As proposições confessionais possibilitam uma investigação rigorosa quanto à sua fidelidade bíblica e aceitação ou rejeição nessa base. Se a proposição do credo é aceita como uma síntese precisa da verdade bíblica, essa proposição se torna um elemento dos princípios exegéticos de um intérprete.

 

No próprio ato de criar unidade em áreas importantes, no entanto, também descobrimos o efeito da exclusão como um resultado necessário das confissões. The Baptist Faith and Message [A Fé e a Mensagem Batista] adotada em 2000 pela Convenção Batista do Sul deu unidade verbal e conceitual a um grande número de questões; Além disso, certas frases tinham a intenção de excluir aqueles que possuíam determinadas outras opções teológicas. Por exemplo, sobre a doutrina de Deus essa confissão declarou: “Deus é todo poderoso e onisciente; e Seu conhecimento perfeito se estende a todas as coisas, passado, presente e futuro, incluindo as decisões futuras das Suas criaturas livres”. Isso deu um sinal claro de que a adoção da confissão incluiu a rejeição da doutrina da presciência limitada.

 

A conclusão extraída dessa proposição confessional é que qualquer proposta exegética que afirma a presciência limitada de Deus é falsa e resulta de um manejo defeituoso das Escrituras. Os autores concluíram que a presciência absoluta por parte de Deus — seja quanto a decretos absolutos ou de presciência infalível ou de alguma combinação dos dois — é consistente com o significado de todo texto bíblico, tomado em contexto e sintetizado com a totalidade dos dados bíblicos sobre essa questão. Essa doutrina, porque derivada da plenitude da revelação bíblica, serve como um princípio hermenêutico. Nenhum texto pode ser interpretado como envolvendo a ação de Deus através do desenvolvimento de circunstâncias, sendo que Ele não possuía conhecimento prévio disso, desde a eternidade. Várias figuras de linguagem finalmente dão seu significado à luz da síntese doutrinária. O conceito de deidade verdadeira, em oposição à falsa, inextricavelmente entrelaçada na narrativa bíblica é a onisciência absoluta.

 

Deus falou através de Isaías: “Apresentai a vossa demanda, diz o Senhor; trazei as vossas firmes razões [fortes razões, KJV], diz o Rei de Jacó. Tragam e anunciem-nos as coisas que hão de acontecer; anunciai-nos as coisas passadas, para que atentemos para elas, e saibamos o fim delas; ou fazei-nos ouvir as coisas futuras. Anunciai-nos as coisas que ainda hão de vir, para que saibamos que sois deuses” (Isaías 41:21-23). Deus estabelece seu conhecimento do passado e do futuro como a prova de Seu status como o único Deus. De fato, as porções didáticas da Escritura revelam um Deus que não apenas conhece o futuro, mas cujo decreto para a criação inclui todos os eventos que constituem o passado, o presente e o futuro, de modo que nada escapa nem à Sua observação nem à Sua perfeita direção: “Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo, de tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra; nele, digo, em quem também fomos feitos herança, havendo sido predestinados, conforme o propósito daquele que faz todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade” (Efésios 1:9-11).

 

Quando uma passagem da Escritura, portanto, como Gênesis 6:6 surge, a hermenêutica derivada da Confissão não permite concluir que isso significa que aconteceu algo que Deus não tinha conhecimento prévio e à luz do que Ele precisou tomar uma alternativa não planejada. O texto diz: “Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração. E disse o Senhor: Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra” [6:6-7]. Portanto, empregamos uma compreensão do estilo literário usando a linguagem antropomórfica e antropopassiva, a fim de enfatizar como a santidade imutável de Deus é estabelecida contra e certamente levará ao julgamento a pecaminosidade humana. Não propomos uma interpretação que supõe uma clara contradição com uma premissa teológica anterior, na plena consideração da verdade bíblica estabelecida.