Um Comentário da Confissão de Fé Batista de 1689, por Gary Marble: Introdução e Capítulo 1, As Sagradas Escrituras

Prefácio À Edição Em Português

Estamos profundamente gratos ao nosso Deus por nos conceder a graça de, em parceria com o amado irmão Gary Marble, podermos publicar em nossa Língua a introdução e o primeiro capítulo deste excelente e esmerado comentário de nossa comum Confissão de Fé Cristã Bíblica. Esperamos no Senhor que esta seja a primeira de uma série de publicações com os comentários dos demais capítulos da Confissão.

Por volta de dezembro do ano de 2014, fomos conduzidos pela graciosa providência de Deus aos comentários da Confissão de Fé Batista de 1689, pelo irmão Gary Marble. Na ocasião, ficamos cheios de esperança e anelo em ter esses escritos disponíveis em Português. Desde então, a comunhão com este amado irmão, e a sua gentil cooperação e empenho em favorecer a publicação destes escritos em Português têm sido motivos de ações de graças a Deus e consolo por nossa fé mútua.

Os últimos dois ou três anos de nossas vidas têm sido marcados por trabalho árduo, lutas constantes e por dúvidas dolorosíssimas. Deus trouxe a Confissão de Fé Batista de 1689 até nós quando estávamos presos no Castelo da “Dúvida Batismal” habitado pelo Gigante “Desespero Doutrinário”, e oh! como o Senhor, nosso Deus, a usou, juntamente com muitos outros meios de graça, para nos fazer superar o Monte do Erro e chegar às consoladoras Montanhas Deleitáveis! Não cessamos de dar graças ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo por nos haver guiado à preciosíssima Confissão Batista de 1689, a qual tem sido uma fonte de grande instrução, alegria, consolo, esperança e encorajamento para nós. Uma dulcíssima lembrança vem às nossas mentes quando lembramos dos dias em que resolvemos nos dedicar ao estudo diligente, e com oração, dos artigos da Confissão, e como, à medida em que avançávamos, íamos sendo alegremente surpreendidos pela maravilhosa graça e grandeza de Deus, e pela conservação das preciosas verdades encerradas na Confissão.

Considerando que atualmente a Confissão de Fé Batista de 1689 é praticamente desconhecida, mesmo entre os Batistas, exortamos ardentemente a todos que compartilham de nossa santíssima fé, que se esforcem por conhecer a verdade de Deus mapeada nesta Confissão, e cuidadosamente delineada nestes comentários, pois cremos que este esforço será ricamente recompensado, segundo a graça de nosso Deus.

Esperamos no Senhor, que esta série de comentários que agora começam a ser publicados possa contribuir para a edificação, exortação e consolo de muitos amados de Deus, e para o louvor e glória de Sua graça.

William Teixeira e Camila Almeida

EC, 31 de março de 2015.

Este pequeno volume [CFB1689] não é emitido como uma regra autoritativa, ou código de fé, pelo que vocês devem ser constrangidos, mas como uma ajuda para vocês em controvérsia, uma confirmação na fé, e um meio de edificação na justiça. Aqui os membros mais jovens da nossa igreja terão um Corpo de Teologia, que servirá como uma pequena bússola, e por meio de provas bíblicas, estarão prontos para dar a razão da esperança que está neles.

Não se envergonhem de sua fé; lembrem-se que este é o antigo Evangelho dos mártires, confessores, reformadores e santos. Acima de tudo, é a verdade de Deus, contra o qual todas as portas do inferno não prevalecerão. Deixem suas vidas adornarem a sua fé, deixem o seu exemplo enfeitar o seu credo. Acima de tudo, vivam em Cristo Jesus, e andem nEle, não crendo em nenhum ensinamento, senão no que é manifestamente aprovado por Ele, e de propriedade do Espírito Santo. Apeguem-se fortemente à Palavra de Deus que está aqui mapeada para vocês.

— C. H. Spurgeon, escreveu estas palavras quando, no início de seu ministério, prefaciou uma re-edição da CFB1689 e a recomendou à sua congregação.


Um Comentário Da Confissão De Fé Batista De 1689

INTRODUÇÃO

A Confissão de Fé Batista de 1689 tem uma história que deve ser contada; é interessante e necessário entender o seu conteúdo. Tal como acontece com todas as histórias, elas são melhor contadas a partir de seu início, e por isso vamos começar por aí. Desde os primeiros tempos, os crentes têm usado declarações sucintas e sumárias para explicar o que eles creem que Deus falou, e quando tal afirmação é aceita por uma comunidade de crentes, ela pode ser especialmente útil para promover e preservar as verdades da Palavra de Deus. Tais declarações assumem várias formas, mas nos concentraremos nos credos e confissões.

Credos E Confissões

A palavra “credo” vem da palavra latina “credo”, que significa, eu creio. Um credo é uma declaração formal e sucinta sobre o que seu autor acredita que a Bíblia ensina. Credos são usados para ajudar a lembrar e ensinar a verdade Bíblica, que serve como um padrão de doutrina pelo qual devemos julgar os erros, e são úteis na igreja para fins litúrgicos.

A “confissão de fé” é simplesmente um credo expandido que aborda uma abrangência maior da doutrina Bíblica. Os credos antigos tendem a lidar com doutrinas fundamentais da Trindade e da natureza de Cristo, já uma confissão de fé aborda temas doutrinários adicionais, tais como soteriologia (salvação), eclesiologia (a igreja) e escatologia (últimas coisas).

Há aqueles que rejeitam credos e confissões. Você pode ouvir uma pessoa dizer algo como: “Não professo nenhum credo senão a Bíblia”. Entretanto, este é um equívoco, pois tal afirmação é, ironicamente, o seu próprio credo. Esta própria declaração é uma declaração de fé (credo). É quase impossível explicar o significado da Bíblia apenas por citar suas palavras literalmente. Para que se explique o significado de uma passagem da Bíblia deve-se usar palavras adicionais. Isso é essencialmente o que um credo ou confissão é; é uma declaração interpretativa e resumo sobre o significado da Bíblia de uma maneira formalizada que é aceita como verdadeira por uma comunidade de crentes. Nós, obviamente, reconhecemos que credos e confissões são documentos meramente humanos passíveis de erro, e, por isso, não devem ser considerados inerrantes.

Há, no entanto, declarações de credo inspiradas na Bíblia. Por exemplo: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças” (Deuteronômio 6:4-5). Aqui nós temos uma declaração formal e sucinta — as características de um credo. Na verdade, esse mesmo credo inspirado foi usado pelo próprio Cristo. Em Marcos, lemos: “E Jesus respondeu-lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças” (Marcos 12:29-30). Jesus respondeu à pergunta citando o credo inspirado literalmente.

O Novo Testamento também contém tais exemplos de declarações sucintas, formais e resumidas. Paulo escreve em 1 Timóteo 3:16: “Grande, em verdade, nós confessamos, é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto pelos anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória” (tradução literal – ESV). Acredita-se que esta pode ter sido uma estrofe de um hino ou alguma outra declaração formal de crença usada desde cedo na igreja do primeiro século. Você notou as palavras, “nós confessamos” na passagem? Estas são apenas uma pequena amostra dos credos encontrados na Bíblia. Certamente, se a própria Bíblia tem credos, então a igreja é bem justificada ao fazer o mesmo. É a concisão, formalização e precisão de um credo ou confissão que o torna especialmente útil como uma declaração duradoura de verdade. E a história tem mostrado que tais declarações formais, cuidadosamente articuladas têm ajudado a igreja a depor e retirar do meio dela os piores heréticos.

Um dos credos mais antigos da igreja é o Credo Apostólico1. Foi concluído em sua forma atual em torno do ano 200 d. C. Conforme o tempo passava, este credo foi expandido para lidar com várias controvérsias e heresias que surgiram. Como resultado, o Credo Apostólico de 106 palavras (em Português) foi ampliado pelas igrejas ao longo de um período de algumas centenas de anos em um credo de 212 palavras (em Português) chamado o Credo Niceno. Havia um sentimento de reverência e respeito pelo Credo Apostólico, que fez com que as Igrejas fossem edificadas sobre ele, em vez de começarem de novo, do zero. E quando olhamos para A Confissão Batista de 1689, vemos que ela também foi formulada sobre confissões anteriores de fé, como a Confissão Batista de Londres 1646, a Confissão de Fé de Westminster de 1646, e na Declaração de Savoy de 1658.2

A História Da Confissão De 1689

Depois de definir o cenário, nós rapidamente seguimos adiante, mais de 1000 anos depois, e olhamos para as circunstâncias em torno da Confissão Batista de 16893. Uma tremenda tensão havia se desenvolvido na Inglaterra entre o rei Charles I e o Parlamento, e de 1629 a 1640 Charles I governou essencialmente sem Parlamento. Mas em 1640, o rei foi forçado a convocar um Parlamento à sessão para que ele pudesse solicitar fundos do Parlamento para as guerras do rei. O Parlamento aproveitou esta convocação à sessão e fez-se independente do rei Charles. O Parlamento prendeu e executou conselheiros do rei Charles, aboliu todos os tribunais ilegais, se encarregou das finanças do país, e aboliu a política da Igreja da Inglaterra4. Eventualmente o Parlamento decapitou Charles I em 1649. Este Parlamento tornou-se conhecido como o Parlamento Longo porque eles ficaram de 1640 a 1660 sem rei.

A Confissão De Fé De Westminster

Como resultado de tudo isso, a Igreja da Inglaterra precisava ser reorganizada. O Parlamento determinou a convocação de uma assembleia de pastores Puritanos, chamados de “teólogos” com a finalidade de reorganizar a constituição da igreja, litúrgica e doutrinariamente. Essas reuniões são referidas como a Assembleia de Westminster. Em 12 junho de 1643, o Parlamento aprovou uma lei intitulada: “Uma Ordenação dos Lordes e dos Comuns no Parlamento para a convocação de uma Assembleia de Teólogos e outros, para ser consultada pelo Parlamento sobre a definição do Governo e Liturgia da Igreja da Inglaterra, e purificação da Doutrina da referida Igreja da falsas calúnias e interpretações”.

A Assembleia, composta de Puritanos Ingleses e Escoceses, se reuniu pela primeira vez em 1 de julho de 1643. Em 4 de dezembro de 1646, a Confissão de Fé de Westminster foi concluída, embora, curiosamente, o Parlamento a tenha enviado de volta com a solicitação de que referências Bíblicas a serem indicadas indicando que a “Assembleia deveria anexar as suas notas marginais, para comprovar cada parte disso pela Escritura”. Isso foi completado em 29 de abril de 1647.

Em 5 de novembro de 1647, o Catecismo Menor foi concluído e apresentado ao Parlamento, e em 14 de Abril de 1648 o Catecismo Maior também foi concluído e apresentado ao Parlamento. Em 22 de março de 1648, o Parlamento se reuniu para considerar sua resposta à Confissão de Fé de Westminster. Esta foi aceita com algumas mudanças em relação à disciplina. Em última análise, no entanto, ela não foi permanentemente adotada pela Igreja da Inglaterra.

Quando refletimos sobre o fato de que este foi um grande momento de turbulência política e religiosa, é notável que não se pode ver uma prova disso na Confissão de Westminster. Esta Assembleia se reuniu por 5 anos, 6 meses e 22 dias; foram realizadas 1.163 sessões5. A Confissão de Fé de Westminster tem trinta e três capítulos detalhados de doutrina, e juntamente com o seu Catecismo Menor e Maior, é uma maravilhosa obra de Teologia Reformada. Esta confissão é especificamente Presbiteriana na forma de governo da igreja, na teologia do pacto e no batismo (ou seja, pedobatismo). Mas, apesar das diferenças, muito do seu conteúdo é considerado pelas outras igrejas Reformadas.

Os Congregacionais E Batistas Na Inglaterra

Nos anos que vão de 1630 a 1640, Congregacionais e Batistas começaram a surgir a partir da Reforma na Inglaterra. Como resultado, nos anos que vão de 1640 a 1650 vemos confissões de fé por parte dos Congregacionais e dos Batistas.

A Primeira Confissão Batista De Londres De 1646

Em 1644, os Batistas Particulares produziram a Primeira Confissão Londres, que foi produzida, em parte, para distinguir a doutrina dos Batistas Particulares da doutrina dos Batistas Gerais e dos Anabatistas. Em 1646 ela foi publicada. Ela foi preparada por sete igrejas Batistas Particulares em Londres, e contém 52 artigos de Fé Calvinista. O título da Confissão mostra que parte do seu objetivo era mostrar que os Batistas Particulares eram distintos dos Anabatistas: “A confissão de fé das sete congregações ou igrejas de Cristo em Londres, as quais muitas vezes, mas injustamente são chamadas de Anabatistas; publicado para a reivindicação da verdade e para a informação dos ignorantes; e também para refutar as calúnias que são com frequência, tanto no púlpito quanto nas editoras, lançadas injustamente sobre eles. Impresso em Londres, ano de 1646”. Esta confissão foi uma importante fonte usada na Confissão Batista de 1689.

A Declaração Savoy De Fé De 1658

Em 1658, os Congregacionais adaptaram a Confissão de Westminster e a chamaram de Declaração de Savoy. Philip Schaff afirma: “Eles [Congregacionais] concordam substancialmente com a Confissão de Westminster, ou com o sistema Calvinista de doutrina, mas diferem do Presbiterianismo, rejeitando a autoridade legislativa e judicial dos presbitérios e sínodos, e mantendo a independência das igrejas locais”6. Schaff afirma em outro lugar: “a Declaração de Savoy é apenas uma modificação da Confissão de Westminster para se adequar à política Congregacional”7. A Confissão de 1689 parece ter utilizado como fonte principal a Declaração de Savoy, mais do que a Confissão de Westminster. No entanto, a Confissão Batista de1689 ainda difere substancialmente da Declaração de Savoy em algumas áreas.8

O Código Clarendon

Em 1665, a última de uma série de leis chamadas de Código de Clarendon foi aprovada na Inglaterra, que pôs fim à tolerância religiosa para todos, exceto para os Anglicanos. Como resultado, Presbiterianos, Batistas e Congregacionais juntamente sofreram perseguição durante este tempo.

A Segunda Confissão De Fé Batista De Londres De 1677

Em 1677, William Collins e Nehemiah Coxe9 formularam a Segunda Confissão de Fé Batista de Londres. William Collins foi o pastor da Igreja Petty Free, na Inglaterra; ele faleceu em 1702. Nehemiah Coxe foi o co-pastor da Igreja Petty Free, na Inglaterra. Ele possuía uma reputação muito boa, e era hábil em Latim, Hebraico e Grego; ele também era um médico. Ele faleceu em 168810.

Enquanto a Confissão Batista de 1677 foi edificada sobre o trabalho da Confissão Batista de Londres de 1646, sobre a Confissão de Westminster e a Declaração de Savoy, há muitas áreas em que difere destas Confissões. Ao longo destas linhas, Samuel Waldron afirma: “Entretanto, enquanto a admiração dos Batistas pela Declaração de Savoy e Westminster é patente, também há provas suficientes de que não houve dependência escrava desses documentos”.11

Ato De Tolerância

Como mencionado acima, a Segunda Confissão de Fé Batista de Londres foi concluída em 1677, mas não foi amplamente divulgada e distribuída devido à perseguição das igrejas não-Anglicanas — remanescentes por causa do Código de Clarendon. Felizmente, em 24 de maio de 1689, o Ato de Tolerância foi aprovado. Este Ato autorizou aqueles cujas consciências demandavam sua independência dos Anglicanos, a Igreja da Inglaterra, sem enfrentar um processo judicial. Como resultado disso, dentro de alguns meses, uma reunião de pastores Batistas Particulares de Londres e do País de Gales foi convocada. A Assembleia Geral dos Batistas Particulares de Londres adotou a Confissão Batista de Londres de 167712. Aqui está o Termo de Encerramento dos signatários, como foi datada no ano de 1689:

Nós, os Ministros e Mensageiros de, e preocupados com mais de cem IGREJAS BATISTAS, na Inglaterra e no País de Gales (negando o Arminianismo), estando reunidos em Londres, a partir do terceiro dia do sétimo mês ao décimo primeiro do mesmo ano de 1689, para considerarmos algumas questões que podem ser para a glória de Deus, e para o bem dessas congregações, já pensamos encontrar (para a satisfação de todos os demais Cristãos que diferem de nós no ponto do Batismo) a recomendação de sua leitura de Confissão de nossa Fé, Confissão esta feita por nós mesmos, como contendo a doutrina de nossa fé e prática, e anelamos que os próprios membros de nossas igrejas sejam supridos com ela.

Significado Da Confissão De Fé Batista De 1689

William Lumpkin declara a respeito da Confissão de Fé Batista de Londres de 1689: “Concebida como um instrumento apologético e educativo, a Confissão tornou-se uma das mais importantes de todas as Confissões Batistas”13. É a confissão mais popular para os Batistas Calvinistas Ingleses. Estes artigos foram ligeiramente alterados por grupos que o adotaram. Benjamin Keach e outro ministro acrescentaram dois artigos curtos tratando da Imposição de Mãos e do Canto dos Salmos. Eventualmente, a Edição de Keach foi adotada em 1744 pelas Igrejas Batistas Calvinistas da América do Norte, e chamada de Confissão de Fé da Filadélfia — o nome da Confissão nos estados do Norte. Nos estados do Sul foi chamada de Confissão de Charleston. Com pouquíssimas mudanças essenciais, a Confissão Batista de 1689 foi usada durante todo o período colonial e início dos Estados Unidos, em lugares como as associações na Virgínia em 1766; Rhode Island, em 1767; Carolina do Sul, em 1767; Kentucky em 1785 e Tennessee, em 1788. Ela tornou-se conhecida na América como A Confissão Batista.

Em 1855, Charles Spurgeon publicou a Confissão Batista de Londres de 1689 durante seu pastorado em New Park Street Chapel, em Londres. Ele fez isso para fortalecer as bases doutrinais de New Park Street Chapel.

A familiaridade com a Confissão Batista de 1689 diminuiu no período que vai de 1850 a 1950. Mas o interesse, desde então, ressurgiu. Reimpressões da Confissão Batista de 1689 começaram a aumentar em 1950, uma tendência que continua até o presente; há Igrejas Batistas Reformadas em muitos lugares do mundo que adotaram a Confissão Batista de 1689.

Aqueles que defendem a Confissão de Fé Batista de 1689 valorizam sua rica história — a sua história —, mas a razão pela qual eles a confessam é que eles acreditam que elas sumarizam com precisão a Palavra de Deus. Talvez a melhor maneira de celebrar a nossa introdução à confissão seja com as palavras que Charles Spurgeon, que disse sobre a Confissão Batista de 1689: “Apeguem-se fortemente à Palavra de Deus que está aqui mapeada para vocês”.


CAPÍTULO 1, SOBRE AS SAGRADAS ESCRITURAS

1. As Sagradas Escrituras são a única, suficiente, correta e infalível regra de todo conhecimento, fé e obediência salvíficos1, embora a luz da natureza e as obras da criação e da providência manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, a ponto de tornar os homens indesculpáveis; ainda assim, não são suficientes para oferecer aquele conhecimento de Deus e de Sua vontade, que é necessário para a salvação2; portanto aprouve ao Senhor, em diversas ocasiões, e de muitas maneiras, revelar-Se, e declarar a Sua vontade para a Sua Igreja3; e, posteriormente, para melhor preservação e propagação da verdade, e para o mais seguro estabelecimento e consolo da Igreja contra a corrupção da carne e da malícia de Satanás e do mundo, concedeu a mesma completamente por escrito; o que faz da Sagrada Escritura indispensável. Aqueles antigos modos de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo agora cessaram4. (1 2 Timóteo 3:15-17; Isaías 8:20; Lucas 16:29, 31; Efésios 2:20 • 2 Romanos 1:19-21, 2:14-15; Salmos 19:1-3 • 3 Hebreus 1:1 • 4 Provérbios 22:19-21; Romanos 15:4; 2 Pedro 1:19-20).

É de propósito que a Confissão começa com as Escrituras. Pois estas são o alicerce sobre o qual a Confissão foi construída1. A Confissão não deseja promover a mera tradição ou opinião, mas a Palavra de Deus. A Confissão começa com uma declaração que indica sua elevada visão das Escrituras: As Sagradas Escrituras são a única suficiente, certa e infalível regra de toda o conhecimento salvífico, fé e obediência.2

Quando analisamos a frase usando o diagrama acima, somos capazes de ver o significado central: As Escrituras são a regra3. A partir disso, o restante da cláusula é formado. A palavra regra aqui se refere a critérios específicos que este compêndio de escritos apresenta. Quais são estes critérios? Estes critérios são todo conhecimento, fé e obediência salvíficos; analisaremos cada uma dessas palavras mais à frente.

Vemos que as Escrituras são sagradas. Existem vários significados e sentidos que correspondem à palavra “santa”. O Oxford English Dictionary [Dicionário de Inglês Oxford] lista quatro sentidos principais. O contexto indica qual é o sentido correto, e mesmo com alguma sobreposição dos diferentes sentidos, podemos concluir que “santo” significa sagrado, consagrado, ou separado. Assim, quando a Bíblia é chamada de Bíblia Sagrada ou Sagradas Escrituras, este é, de fato, um título adequado. Ela é sagrada porque é separada, assim entendemos a palavra sagrada. A palavra única é apenas uma palavra restritiva e especifica que define (ou seja, descreve ou explica) os adjetivos: suficiente, correta e infalível. As Sagradas Escrituras são a única regra ou norma suficiente, correta e infalível. Assim, pelo uso da palavra “única” nós somos lembrados da doutrina do Sola Scriptura (em latim, ou “Somente a Escritura”, em Português), esta doutrina que, na verdade, foi um princípio da Reforma, é o foco de todo este capítulo. Não devemos perder de vista que a Confissão aqui se submete às Sagradas Escrituras, pois a Escritura é a única regra suficiente, correta e infalível. Obviamente, a cláusula continua a explicar que a Escritura é a própria regra, mas uma vez que estamos buscando observar esta cláusula dando um passo de cada vez, teremos de conter esse pensamento por um momento.

O uso do termo suficiente é muito importante. Suficiente neste contexto significa “de uma qualidade, extensão ou escopo adequado para um determinado fim ou objetivo”4. A Bíblia contém e é o padrão ou regra, e essa regra possui características particulares; posto que a sua regra é suficiente, é, por consequência, plenamente capaz de realizar o seu objetivo. Mas para que esta regra é suficiente? Esta regra ou padrão é suficiente para nos mostrar efetivamente todo conhecimento, fé e obediência salvíficos. Suficiente aqui não significa meramente adequado. Samuel Waldron, nos ajuda a entender isso, quando afirma:

Costuma-se dizer que as Escrituras são suficientes para nos mostrar o caminho da salvação. Este é o risco de ser mal interpretado hoje por causa da mentalidade amplamente minimizadora, que tem a intenção de reduzir o caminho da salvação a seus elementos mais evidentes. Certamente deve ficar claro que tal compreensão da suficiência das Escrituras é um desvio do entendimento histórica da Reforma articulado na Confissão de Westminster. “Todas as coisas necessárias para a Sua própria glória, a salvação do homem, fé e vida” é muito mais do que as “Quatro Leis Espirituais”. Não é nada menos do que a suficiência dela — para a redenção do homem, tanto individualmente como coletivamente em toda a esfera da vida tanto ética quanto religiosa — sendo afirmada.5

Isso levanta a questão: “Se a Bíblia é a única regra suficientede conhecimento, fé e obediência salvíficos, estão lá as coisas para as quais ela é insuficiente?”. Sim. Waldron afirma: “A Bíblia não é ‘onissuficiente’. Ela não é ‘toda-suficiente’ para todos os fins imagináveis. As Escrituras, por exemplo, não são suficientes para servirem como um livro de referência para a matemática, biologia ou espanhol. A suficiência das Escrituras não significa que elas são tudo o que precisamos para o propósito de aprender geometria e álgebra6. A Bíblia é a única regra suficiente, mas também é a única regra correta. A palavra correta é definida como “certa, infalível, não susceptível a falhas, confiável, totalmente fiel e fidedigna”7. De fato, a Bíblia é a regra correta. É certa; é uma fundação firme. É a única regra correta. Podemos e devemos construir nossas vidas sobre a sua segurança. Jesus disse: “Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente, que edificou a sua casa sobre a rocha; 25 E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. 26 E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; 27 E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda” (Mateus 7:24-27). Lembro-me da primeira estrofe do hino, “Que Firme Fundação, ó Santos do Senhor”:

Que firme fundação, vós santos do Senhor,

Edificam por sua fé em Sua Palavra excelente!

O que mais Ele pode dizer, além do que já disse,

Para vocês que, em busca de refúgio, para Jesus fugiram?8

A Bíblia também é a única regra infalível. A palavra infalível é definida como “incapaz de erro”9. Ela é compatível com a nossa palavra moderna inerrância. A crença de que a Bíblia é incapaz de erro tem sido atacada. Na era moderna, esses ataques tornaram-se bastante sofisticados, mas a autoridade da Bíblia não depende do testemunho do homem10; a Palavra de Deus permanece para sempre (Isaías 40:8). Infalibilidade é o que seria esperado de Deus, pois Deus é a verdade. Afinal, é o Espírito que nos convence de sua infalibilidade, mas também a sua razoabilidade. Os ataques do liberalismo não demonstraram que a Bíblia é falível, mas somente têm mostrado a racionalidade da crença em sua infalibilidade (ou seja, inerrância).

Tendo comentado sobre a natureza da regra das Escrituras (ou seja, é suficiente, correta e infalível), agora nós voltamos para o que a regra ou padrão pertence. A Confissão afirma que a regra compreende todo conhecimento salvífico, fé e obediência. Que tipo de conhecimento, fé e obediência? A resposta é o tipo salvífico. Que tipo de conhecimento salvífico, fé e obediência? A resposta é todo. Eu creio que salvífico deve ser aplicado a cada palavra que ele modifica (ou seja, conhecimento salvífico, fé salvífica, e obediência salvífica)11. Salvífico refere-se à salvação, é claro, mas, salvação de quê?

Muitas vezes usamos o termo “salvífico” em relação à redenção, mas podemos esquecer do que somos salvos. Para que sejamos salvos, deve haver um perigo que nos ameaça. É Deus quem nos ameaça, e é dEle que somos salvos. Muitas vezes nos referimos à salvação “do pecado”, ou “do inferno”, mas estes todos são ameaças secundárias para nós. O próprio Deus é a nossa maior ameaça. O que Jesus nos diz? “Mas eu vos mostrarei a quem deveis temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo, a esse temei” (Lucas 12:5). O criminoso não deve temer a prisão, tanto quanto o juiz que pode colocá-lo na cadeia. Deus lançará todos os pecadores que Ele não perdoou no interno, e, portanto, Deus é que é a maior ameaça para o pecador; isso faz sentido desde que é a Deus que nós provocamos — em Sua face — com o nosso pecado12. Ser salvo é ser salvo de Deus, o Juiz de todos. Não nunca podemos esquecer desse fato. Quando pensamos em ser salvos do próprio Deus, percebemos que a glória do Evangelho é esta: nós somos salvos de Deus, por Deus, para Deus. Isso não é algo profundo a se considerar? Evidentemente, a salvação não é apenas ser salvo de algo (a ira de Deus), mas é ser salvo para algo, em última análise, para o próprio Deus.

Quando se trata de todo o conhecimento salvífico, significa que as Escrituras fornecem o conhecimento necessário para a salvação. Considere esta passagem: “E que desde a tua meninice sabes as Sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3:15). O conhecimento é necessário, a fim de ser salvo, mas que tipo de conhecimento? Bem, a resposta é o conhecimento salvífico. O que é isso? O conhecimento que salva é o conhecimento do Evangelho. O conhecimento do Evangelho salvou você? Não, mas quando o conhecimento salvífico é acompanhado de fé salvífica isso ocorre. Somos justificados pela fé, e não pelo conhecimento por si só. O conhecimento ou sabedoria referidas em 2 Timóteo não salvou Timóteo, mas fê-lo “sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus”. Em vez de ampliar em detalhes sobre o que é a fé salvífica, teremos que “salvar” isso (sem trocadilhos) para o capítulo 14, Sobre A Fé Salvífica. A Escritura é o padrão do que constitui a fé salvífica. Eu também poderia encaminhá-lo ao capítulo 11, Sobre a Justificação, onde a fé é explicada em relação especificamente à justificação.

Enquanto chegamos ao último termo, não há necessidade de cambalear sobre… obediência salvífica13, como se a Confissão esteja promovendo uma salvação por obras de obediência. Não é isso, mas a salvação não é apenas da ira de Deus pelo nosso pecado, mas para a obediência. A Bíblia nos diz: “Como também nos elegeu nele antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Efésios 1:4). Sabemos que somos salvos pela fé, mas a fé salvadora não está sozinha (Tiago 2:17). Em outras palavras, a verdadeira fé é seguida por uma obediência salvífica. A obediência não nos salva; mas a obediência indica que algo salvífico existe em nós. O que as Escrituras nos dizem? “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, cria-dos em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2:8-10). Assim, embora nós sejamos salvos pela graça por meio da fé so-mente, nós também crescemos em santificação: “Porque esta é a vontade de Deus, a vossa santificação” (1 Tessalonicenses 4:3a). O objetivo do Evangelho é a salvação do pecado e uma conformidade com a imagem de Cristo; o fim do evangelho não é a graça, a graça é o meio. O fim do Evangelho é que nós seremos feitos como Cristo, para a glória de Deus. Se não estamos nos movendo nessa direção, então a Escritura nos diz que devemos examinar a nós mesmos para ver se estamos na fé (2 Coríntios 13:5; 1 Pedro 1:3-11).

Para resumir esta seção e incluir as elipses14, a Confissão está dizendo: As Sagradas Escrituras são a única suficiente, [única] correta, e [única] infalível regra de todo o conhecimento, [de toda] fé e [de toda] obediência salvíficos. Esta porção estabeleceu o ponto de partida: tudo o que nós precisamos e podemos saber sobre conhecimento, fé e obediência salvíficos é encontrado nas Sagradas Escrituras. Não há nenhuma outra fonte e regra a este respeito.

As Escrituras são muitas vezes referidas como revelação especial. O Dicionário de Baker de Teologia define revelação especial ou revelação particular como “revelação redentora transmitida por prodigiosos atos e palavras”15. Enquanto a revelação especial é suficiente para operar redenção (ou seja, conhecimento salvífico, fé salvífica, obediência salvífica), a revelação geral (ou seja, revelação natural ou universal) não é. A revelação geral é insuficiente para operar redenção. A Confissão agora introduz uma explicação sobre a insuficiência ou incapacidade da revelação geral para redimir os pecadores.

A Confissão afirma: embora a luz da natureza e as obras da criação e da providência, manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, a ponto de tornar os homens indesculpáveis. Existem três fontes de revelação geral mencionados aqui que manifestam (revelam) a bondade, a sabedoria e o poder de Deus. Estas três coisas são tão simples e evidentes que elas tornam todos os homens indesculpáveis.

A primeira fonte de revelação geral é a luz da natureza. Luz aqui deve ser entendida metaforicamente, e refere-se ao conhecimento, não à luz física16. Esta luz (conhecimento) devem vir de algum lugar; a sentença diz-nos que a luz vem da natureza. Mas devemos entender a natureza simplesmente como sinônimo de criação? Eu não penso assim. A luz da natureza é citada em 5 outros lugares17 da Confissão18. Os outros contextos dizem respeito a questões da revelação natural ou geral, mas parecem não fazer referência à evidência externa da criação ou providência, tanto quanto à consciência e percepção. Robert Letham afirma prestativamente: “A luz da natureza” é uma referência à consciência de Deus que Ele imprimiu na mente humana”19. Deus colocou a Sua lei no coração do homem (Romanos 2:15) a qual a consciência testemunha. Deus colocou no homem uma consciência de Deus (Romanos 1:19). O que torna a luz da natureza distinta das obras da criação e providência é que ela é interna, enquanto a criação e a providência de Deus testemunham externamente — ou objetivamente se você preferir.

A revelação geral também vem a nós através das obras da criação. Isso se refere a Deus havendo realizado a criação em seis dias20. O Capítulo 4, Sobre A Criação, tratará em detalhes das obras da criação. Paulo indica: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e claramente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Romanos 1:19-20). A criação testemunha sobre Deus. Vemos isso no Salmo 19: “Os céus declaram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até ao fim do mundo. Neles pôs uma tenda para o sol”. Esta passagem afirma que os céus revelam o conhecimento da glória de Deus, sem dizer uma única palavra.

As obras da providência de Deus são a terceira fonte de revelação geral. Como a providência manifesta a bondade, sabedoria e poder de Deus? A resposta simples é que visto que Deus provê (ou seja, providencia) para a Sua criação, e nós podemos observar isso, isso é evidência de Sua bondade, sabedoria e poder, nesta ação. Discutiremos isso com mais detalhes no capítulo 5, Sobre a Providência de Deus.

A Confissão continua, ainda assim, não são suficientes para oferecer aquele conhecimento de Deus e de Sua vontade, que é necessário para a salvação. R. C. Sproul afirma: “A revelação geral, ao contrário da revelação especial, vem a nós basicamente através da natureza e é chamada de ‘geral’ por duas razões. Primeiro, o público é geral, Deus dá o conhecimento de Si mesmo universalmente, de modo que todo ser humano tem essa revelação, que é edificada na natureza. Em segundo lugar, o conteúdo da revelação geral nos dá um conhecimento geral de Deus. Ele revela que é eterno; revela o Seu poder, divindade e santidade. A revelação geral, no entanto, não anuncia o caminho da salvação de Deus. As estrelas não revelam o ministério de Cristo. Em verdade, a revelação geral revela apenas o conhecimento suficiente de Deus para nos condenar, para nos tornar indesculpáveis”²¹. Isso é preocupante. A revelação geral não apenas é insuficiente para levar ao conhecimento da salvação do Evangelho, mas o que esta revelação traz “é apenas o conhecimento de Deus suficiente para nos condenar”. O pecador perdido não pode deduzir o Evangelho a partir da revelação geral. Este ponto é abordado com mais detalhes na Confissão, no Capítulo 21, Sobre o Evangelho E A Extensão Da Graça Do Mesmo. Posto que o Evangelho não é revelado pela revelação geral, isso faz com que a pregação do Evangelho seja essencial. E isso nos leva para a próxima seção do parágrafo um.

A Confissão afirma: Portanto aprouve ao Senhor, em diversas ocasiões, e de muitas maneiras, revelar-Se, e declarar a Sua vontade para a Sua Igreja. A palavra “portanto” aponta tanto de volta para o fato de que a revelação geral não é suficiente para dar aquele conhecimento de Deus e de Sua vontade que é necessário para a salvação, quanto também aponta para a frente, indicando isso como resultado daquela insuficiência: aprouve ao Senhorrevelar-Se, e declarar a Sua vontade para a Sua Igreja. O Senhor graciosamente, a partir de Seu próprio livre-arbítrio — Deus é sempre mui livre para fazer o que Lhe agrada — revelou as duas coisas. Em primeiro lugar, Ele revelou-seà Sua igreja. Isto não deve ser pouco considerado. Deus, que é infinito, imutável, incompreensível, invisível, que habita em luz inacessível revelou-Se! Isto é notável. E nós também não queremos ignorar isso: Ele Se revelou para a Igreja. Em segundo lugar, o Senhor declarou a Sua vontade para a Igreja. Este é mais um ato surpreendente de Deus. Deus não apenas revelou-Se a nós, mas deixou claro para nós a Sua vontade. Ainda esta declaração é direcionada para a Igreja. A referência à Igreja aqui é a todos os eleitos de Deus, em todas as eras, incluindo o período do Antigo Testamento. Abordaremos isso mais tarde na Confissão, mas não devemos simplesmente pensar sobre a Igreja22 como sendo aqueles que viveram do Novo Testamento para a frente; precisamos também pensar sobre os eleitos antes do Novo Testamento, os nossos primeiros pais.

A Confissão afirma que aprouve ao Senhor em diversas ocasiões, e de muitas maneiras, revelar-Se, e declarar a Sua vontade para a Sua Igreja. Esta frase é uma citação literal de Hebreus 1:1; presumivelmente a partir da Bíblia King James. A Bíblia New American Standard o traduz como: “em muitas partes e de muitas formas”. [A versão ACF, traduz assim: “muitas vezes, e de muitas maneiras” — N. R.]. O termo em diversas ocasiões (ou em muitas partes) significa que Deus falou em vários momentos e épocas, e que a revelação não foi dada de uma só vez; foi dada em porções, cada nova porção adicionada à revelação anterior. Desta forma, a revelação progrediu até a sua plenitude em Cristo e da Nova Aliança (veja Romanos 16:25-27)23. O termo de muitas maneiras (ou, em muitas formas) significa que Deus transmitiu a revelação de Si mesmo e de Sua vontade para a Igreja de várias ou diferentes maneiras (ou seja, em vários métodos, ou modos). Quais são essas maneiras ou modos? No livro de David Dickson, A Vitória da Verdade Sobre o Erro, ele pergunta: “Quais eram as diversas ocasiões e muitas maneiras?”. Ele responde citando seis modos de revelação. Não temos espaço aqui para analisar cada modalidade, mas esta lista é útil, e as referências são fornecidas para um estudo mais aprofundado:

• Por inspiração (2 Crônicas 15:1; 2 Pedro 1:21)

• Por visões (Números 12:6-8)

• Por sonhos (Jó 33:14-16; Gênesis 40:8)

• Urim e Tumim (Números 27:21; 1 Samuel 30:7-8)

• Por sinais (Gênesis 32:24-32; Êxodo 13:21)

• Por voz audível (Êxodo 20:1; Gênesis 22:15)

Dickson, em seguida, acrescenta: “Todos os quais terminam por serem escritos (Êxodo 17:14), o que é uma maneira mui segura e infalível do Senhor revelar a Sua vontade ao Seu povo”24. Esta última afirmação resume muito do presente parágrafo da Confissão.

A Confissão continua: e, posteriormente, para melhor preservação e propagação da verdade, e para o mais seguro estabelecimento e consolo da Igreja contra a corrupção da carne e da malícia de Satanás e do mundo, concedeu a mesma completamente por escrito; o que faz da Sagrada Escritura indispensável. Aqueles antigos modos de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo agora cessaram.

Precisaremos decompor esta sentença para chegarmos a uma maior clareza. Vamos remover algumas das chamadas declarações não-essenciais e ver se isso nos ajuda25. Farei isso por todo o parágrafo para que tenhamos um contexto:

1) As Sagradas Escrituras são a… regra.

2) O conhecimento natural… criação… providência… manifestam… a Deus; [assim] deixam os homens indesculpáveis.

3) No entanto,… [a natureza… criação… providência] não são suficientes para dar… conhecimento da… salvação.

4) Portanto aprouve ao Senhor… revelar-Se, e declarar a Sua vontade… para a Sua igreja;

5) e depois… concedeu a mesma completamente por escrito;

6) …aqueles antigos modos de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo agora cessaram.

Já consideramos os números de 1 a 4 citados acima. O número 5 afirma: e depois… concedeu a mesma completamente por escrito. O termo depois se refere ao tempo posterior a Deus ter revelado a Si mesmo e Sua vontade para a igreja (nas várias épocas e de muitas maneiras); até que isso fosse escrito. Então, por que Deus concedeu a Sua revelação por escrito? A Confissão afirma: para o mais seguro estabelecimento e consolo da Igreja contra a corrupção da carne e da malícia de Satanás e do mundo. Esta afirmação é composta por sete razões pelas quais a revelação foi concedida por escrito: Vamos olhar brevemente para estas, uma de cada vez.

Primeiro, o benefício de ter a revelação escrita é que ela preserva melhor a verdade. A escrita é geralmente mais confiável do que a palavra da boca. Escrever também faz com que a verdade seja desvelada para que qualquer um veja, ao contrário de ser conhecida apenas pelo profeta ou seus seguidores. O segundo benefício é a melhor propagação (promoção) da verdade. Eu penso sobre os muitos manuscritos gregos do Novo Testamento, e as muitas traduções desses manuscritos para outras Línguas. Tudo isso não teria acontecido se a revelação não fosse concedida por escrito, inicialmente, e, assim, em sua pura quantidade a verdade é grandemente preservada e promovida.

As razões de três a sete fornecem cinco benefícios da revelação ser concedida por escrito; esses benefícios são direcionados à Igreja, enquanto as razões anteriores relacionam-se com a própria verdade. O mais seguro estabelecimento… da Igreja refere-se a um fortalecimento ou apoio26. A revelação concedida por escrito é também para o consolo da Igreja (veja Romanos 15:4). Este estabelecimento (fortalecimento) e conforto auxiliam a Igreja contra três inimigos: 1) a corrupção da carne, 2) a malícia de Satanás, e 3) [a malícia]27 do mundo. Spurgeon chama esses três inimigos “a horrível trindade do mundo”28. A maioria dos crentes entenderá imediatamente como a Palavra de Deus ajuda a igreja contra estes três inimigos.

A Confissão indica que a revelação de Deus e de Sua vontade — previamente transmitida em diferentes modos não escritos — foi completamente concedida por escrito. Samuel Waldron afirma: “Não é que tudo o que uma vez foi revelado está escrito, mas que tudo agora revelado é escrito. A revelação redentora contida na Bíblia é um epítome preciso e suficiente de toda a revelação redentora”29. Nós nos contentamos com o conhecimento de que tudo o que precisamos para a salvação e para vivermos em Cristo Jesus está escrito nas Escrituras, como a primeira cláusula do parágrafo deste capítulo afirmou. Quando alguém olha para a amplitude do Antigo Testamento somente, nós não temos a sensação de que está faltando alguma coisa. Quando acrescentamos o Novo Testamento a ele, reconhecemos que temos toda a revelação de Deus e de Sua vontade para a Igreja. Mesmo se não temos por escrito cada coisa que alguma vez foi revelada, nós temos completamente todo o conselho de Deus nas Sagradas Escrituras.

O primeiro parágrafo termina com estas palavras: o que faz da Sagrada Escritura indispensável. Aqueles antigos modos de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo agora cessaram. Porque a forma pela qual o Senhor Se revelou e declarou a Sua vontade para a Igreja, antes de ser concedida por escrito, expirou ou cessou, faz a escrita disto muito mais necessário. Caso contrário, aquela revelação não escrita que cessou poderia desaparecer, e a verdade não seria preservada e propagada; e, a igreja não estaria mui seguramente estabelecida e consolada, porque a revelação, tendo cessado, poderia desaparecer e se perder completamente.

Vamos resumir este parágrafo: As Santas Escrituras são a regra para o conhecimento, fé e obediência salvíficos. A revelação geral é insuficiente para revelar a fé, conhecimento e obediência salvíficos. Como tal, Deus revelou a Si mesmo e a Sua vontade para a Igreja. Mas desde que esta revelação, que a princípio não foi escrita, cessaria, era mui necessário que fosse escrita por causa da verdade e da Igreja.

Pergunta de número seis do Catecismo Batista: O que as santas Escrituras principalmente contêm? A resposta é: As santas Escrituras principalmente contêm o que o homem deve crer acerca de Deus, e quais os deveres que Deus requer do homem1 (1 2 Timóteo 1:13; 3:15-16). O que se segue na Confissão, os capítulos 2 a 32 podem ser resumidos por estas mesmas duas coisas. E, assim, a própria Confissão é um resumo de todo o conselho de Deus (ou seja, aquelas coisas principalmente contidas na Palavra de Deus).

2. Sob o nome de Escrituras Sagradas, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os Livros do Antigo e do Novo Testamento, que são estes:

DO ANTIGO TESTAMENTO: Gênesis; Êxodo; Levítico; Números; Deuteronômio; Josué; Juízes; Rute; 1 Samuel, 2 Samuel; 1 Reis, 2 Reis; 1 Crônicas, 2 Crônicas; Esdras; Neemias; Ester; Jó; Salmos; Provérbios; Eclesiastes; Cantares de Salomão; Isaías; Jeremias, Lamentações; Ezequiel; Daniel; Oséias; Joel; Amós; Obadias; Jonas; Miquéias; Naum; Habacuque; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias.

DO NOVO TESTAMENTO: Os Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e João; Atos dos Apóstolos; as Epístolas de Paulo aos Romanos, 1 Coríntios, 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 Tessalonicenses, 2 Tessalonicenses, 1 Timóteo, 2 Timóteo, Tito, Filemom; a Epístola aos Hebreus; a Epístola de Tiago; a Primeira e Segunda Epístolas de Pedro; a Primeira, Segunda e Terceira Epístolas de João; a Epístola de Judas; Apocalipse.

Todos os quais são dados por inspiração de Deus, para ser a regra de fé e vida5 (5 2 Timóteo 3:16).

Este parágrafo é, antes de tudo, bastante simples; tendo definido a natureza da Palavra de Deus, é importante afirmar especificamente quais são os livros que fazem parte dessa regra (ou seja, o cânon). Esta lista de livros implica que todos os outros livros não mencionados não são uma parte da regra. Desde o início, a Confissão está estabelecendo questões de autoridade; isso é necessário antes que possa prosseguir.

A Confissão estabelece que todos esses livros são dados pela inspiração de Deus, para serem a regra de fé e vida. Isso reflete o texto de 2 Timóteo 3:16-17: Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra. É importante notar nesta passagem as palavras: “divinamente inspirada”. A inspiração de Deus na Confissão refere-se diretamente à palavra grega a partir da qual “divinamente inspirada”, em 2 Timóteo, provém. R. C. Sproul afirma: “Quando Paulo diz que toda a Escritura é inspirada, ou divinamente inspirada, ele está tecnicamente dizendo que a Escritura é soprada da boca de Deus, de onde ela se origina”30. Então, não é simplesmente que esses livros são aceitos pela Igreja como autoridade, é que esses livros são soprados da própria boca de Deus; eles são diretamente de Deus, sem erro, e, assim, pela sua própria característica de inspirados, eles são a regra de fé e vida. Estas palavras são o padrão (ou seja, a regra) para o que nós devemos crer (ou seja, a fé), e como devemos viver (vida). A regra de fé e de vida não é uma nova declaração ou ideia na Confissão, mas, sim, é uma reiteração — abreviada — do primeiro parágrafo: “regra de todo conhecimento, fé e obediência salvíficos”.

3. Os livros comumente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração Divina, não fazem parte do cânon ou regra da Escritura; e, portanto, não são de autoridade para a Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados, senão como escritos humanos6 (6 Lucas 24:27, 44; Romanos 3:2).

A Igreja Romana mantém os livros Apócrifos como sendo inspirados juntamente com os livros do Antigo e Novo Testamentos. Os Apócrifos foram escritos durante o período Intertestamentário (de cerca de 400 antes de Cristo até a Sua chegada). Os livros Apócrifos são: I Esdras, II Esdras, Tobias, Judite, o restante de Ester, A Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, com a Epístola de Jeremias, Cântico das Três Santas Crianças, A História de Susana, Bel e o Dragão, a Oração de Manassés, I Macabeus e II Macabeus.

Os Protestantes não têm esses livros como sendo inspirados por uma boa razão; há imprecisões na história e outras áreas que mostram que eles são falíveis, e, portanto, não inspirados. A Confissão de 1689 estabelece: “Portanto, não são de autoridade para a Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados, senão como escritos humanos”. Não se trata de dizer que os livros Apócrifos não têm valor histórico, cultural ou literal. A Confissão de 1689 não está dizendo que os livros Apócrifos ou quaisquer outros livros humanos não devem ser lidos, ou que eles não têm nenhum valor, mas os livros humanos não são suficientes, certos ou infalíveis como regra de conhecimento, fé e obediência salvíficos.

Escritura é a regra de todo conhecimento, fé e obediência salvíficos. A palavra cânon é usada no mesmo sentido, como uma regra. James White prestativamente aborda o que se entende por cânon: “Cânon refere-se a uma norma ou regra. Neste caso, a regra, norma ou cânon refere-se a quais livros são inspirados ou Deus soprou. Quais escritos são inspirados e quais não são”. White também afirma: “O cânon é uma função da própria Escritura. O cânon não é apenas uma lista de livros; é uma declaração sobre o que é inspirado. O cânon resulta da obra do Autor da Escritura, o próprio Deus. Falar de cânon sem de falar do quê foi “soprado por Deus” é falar tolices. O cânon não é feito pelo homem. O cânon é feito por Deus. É o resultado da ação de Sua inspiração Divina. Aquilo que é inspirado por Deus é cânon; o que não é inspirada por Deus não é cânon. É simples assim. O cânon é uma função da inspiração, e isso diz respeito a um atributo da Escritura”.

White então aplica isto à Igreja Romana: “O erro Romano reside na criação de uma dicotomia entre duas coisas que não podem ser separadas, e depois, usando essa falsa dicotomia, negam o Sola Scriptura”. “Frequentemente duas questões separadas, mas relacionadas, ficam confusas quando este tópico é discutido: (1) a natureza do cânon, e (2) como as pessoas vieram a conhecer o conteúdo do cânon. Uma ilustração pode ajudar. Eu escrevi oito livros. A ação de eu ter escrito aqueles livros cria o cânon das minhas obras. Se um amigo meu não tem um conhecimento exato ou completo de quantos livros escrevi, isso significa que não há cânon dos meus livros? Não, claro que não. Na verdade, se eu fosse o único que soubesse quantos livros eu escrevi, isso significaria que o cânon dos meus livros não existe? O ponto é claro. O cânon é uma questão, e esta advém da ação de Deus ter inspirado as Escrituras; nosso conhecimento do cânon é outra questão. Nosso conhecimento pode crescer e amadurecer, como ocorreu, por vezes, na história. Mas o cânon não é definido por nós nem é afetado pelo nosso conhecimento ou ignorância”.31

Os Apócrifos são declarados pela Igreja Romana como sendo canônicos, juntamente com o restante da Bíblia, mas ela não tem autoridade para fazer essa declaração. A única autoridade do cânon é Deus, que inspirou os documentos particulares; um concílio de igreja ou decreto humano não podem declarar algo como sendo de inspiração — de que seria isto?

A lista Protestante de livros inspirados baseia-se no reconhecimento de que esses livros são inspirados por Deus. No momento em que as igrejas fizeram uma lista formal dos livros canônicos, seu uso já era estabelecido. Por que isso? Porque quando um livro era reconhecido como inspirado, a Igreja o usava. E assim, a lista canônica de livros é uma lista de reconhecimento, em vez de uma lista de pronunciamento.

4. A autoridade das Sagradas Escrituras, razão pela qual devem ser cridas, não depende do testemunho de qualquer homem ou Igreja, mas depende somente de Deus (que é a própria Verdade), o seu Autor; e, portanto, deve ser recebida, porque é a Palavra de Deus7. (7 2 Pedro 1:19-21; 2 Timóteo 3:16; 2 Tessalonicenses 2:13; 1 João 5:9).

A Confissão de 1689 afirma que a autoridade da Bíblia não depende do “testemunho de qualquer homem”. Isso, logicamente, segue a discussão do cânon e a inspiração. Se Deus inspirou, soprou de Sua boca as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, e Ele o fez, então, segue-se que a autoridade, a regra, das Escrituras não dependente de qualquer pessoa quanto à sua autoridade. A autoridade provém somente de Deus. Lembro-me de uma passagem em 1 Tessalonicenses: “Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que crestes” (2:13).

É provável que a Confissão tinha em mente o Papado e sua reivindicação ao direito exclusivo de interpretação. A Confissão de 1689 acrescenta que a autoridade da Bíblia não depende do testemunho de qualquer igreja. É provável que a Igreja Romana estivesse em mente aqui. Como David Dickson escreveu, próximo ao período das Confissões de Westminster e de 1689: “Bem, então, a igreja papista não erra, ao manter a Escritura como sendo uma regra imperfeita e, portanto, necessitam de um suprimento de tradições não es-critas?”32. Se as Escrituras por si só não são a única autoridade, então não são autoridade de modo algum.

A Confissão acrescenta que a autoridade da Bíblia depende somente de Deus. 1 João nos diz: “Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; porque o testemunho de Deus é este, que de seu Filho testificou” (5:9). Temos muitos mandamentos na Escritura que exigem que não acrescentemos às suas palavras, e se acrescentarmos livros não-inspirados à lista, estamos em um sentido real acrescentando às palavras da Escritura. Se atribuímos a autoridade das Escrituras a outro além de Deus, estamos em um sentido retirando, não palavras, mas a autoridade das Escrituras. Considere estas passagens das Escrituras: “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando” (Deuteronômio 4:2). “Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada acrescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Provérbios 30:5-6). “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro” (Apocalipse 22:18-19). A Confissão de 1689 afirma que o autor da Escritura é a própria verdade e, portanto, ela deve ser recebida como a Palavra de Deus. Se não fizermos isto, estamos rejeitando a autoridade de Deus, a Sua palavra, e Sua verdade.

5. Nós podemos ser movidos e compelidos pelo testemunho da Igreja de Deus a um alto e reverente apreço pelas Sagradas Escrituras; e a sublimidade do assunto, a eficácia da sua doutrina, a majestade do estilo, a concordância de todas as partes, o escopo do seu todo (que é dar toda a glória a Deus), a plena revelação que faz do único caminho da salvação do homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e sua completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser a Palavra de Deus; ainda assim, não obstante, a nossa plena persuasão e certeza de sua verdade infalível e autoridade Divina provêm da operação interna do Espírito Santo, testemunhando por meio da e com a Palavra em nossos corações8 (8 João 16:13-14; 1 Coríntios 2:10-12; 1 João 2:20, 27).

Esta seção aponta três caminhos ou meios pelos quais podemos saber que a Bíblia é de Deus, o terceiro sendo o definitivo.

O primeiro declara: Nós podemos ser movidos e compelidos pelo testemunho da Igreja de Deus a um alto e reverente apreço pelas Sagradas Escrituras. Se a Igreja está cumprindo seu papel, nós podemos ser movidos e compelidos a um alto e reverente apreço pelas Sagradas Escrituras pelo testemunho da Igreja. Isso é diferente da Igreja ser o único testemunho da autoridade da Palavra de Deus, ou da Palavra de Deus ser depende do testemunho de uma igreja (veja a seção Capítulo 1, seção 3).

Muitos não estão cumprindo o seu papel, como igreja, de sustentar uma percepção elevada e reverente das Escrituras, seja por negar a inspiração da Bíblia, ou por negligenciar a exposição da Escritura. Outra maneira pela qual a Igreja pode deixar de realizar uma demonstração elevada e reverente da Bíblia é negando a sua plena perspicácia (clareza e escopo). Negar a clareza das Escrituras é negar que determinadas questões são abordadas de forma suficientemente clara, de modo a impedir alguém de crer e praticar alguma coisa. Este argumento é muitas vezes simplesmente um modo racional para que uma igreja conceda à pressão de uma questão social contemporânea. Por exemplo, uma denominação particular determinou que mulheres poderiam ser pastoras, porque, como eles racionalizaram, a clareza das Escrituras não o proíbe. Claro, se você fechar os olhos muitas coisas tornam-se pouco claras. É dever da Igreja ser coluna e firmeza da verdade (1 Timóteo 3:15). A Igreja deve ter uma visão elevada da Palavra de Deus.

O segundo declara: e a sublimidade do assunto, a eficácia da sua doutrina, a majestade do estilo, a concordância de todas as partes, o escopo do seu todo (que é dar toda a glória a Deus), a plena revelação que faz do único caminho da salvação do homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e sua completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser a Palavra de Deus. Além do testemunho da Igreja nos movendo a um alto e reverente apreço pela Bíblia, esta lista oferece argumentos e provas abundantes de que ela é a Palavra de Deus. Esta lista indica as coisas que são intrínsecas à própria Palavra de Deus. É o próprio testemunho da Escritura de si mesma, que dá provas abundantes de que ela é a Palavra de Deus. Michael Kruger afirma: “De todos os atributos de canonicidade, as qualidades Divinas da Escritura são as menos discutidas em estudos canônicos modernos. A maioria dos estudiosos preferem dedicar seus estudos e as suas energias para a recepção coletiva desses livros, ou talvez às suas origens apostólicas, mas raramente atenção é dada às suas qualidades Divinas”33. Kruger continua a apontar como os pais da Igreja Primitiva e outras confissões e escritores reformados também viram evidências dos atributos internos a favor de que as Escrituras sejam a Palavra de Deus. Temos aqui uma lista muito útil de atributos que refletem uma perspectiva histórica da Igreja.

1) A sublimidade do assunto, ou seja, as glórias de que fala. Letham diz que isso significa a Escritura está “falando de realidades que transcendem as nossas percepções munda-nas”34. A eficácia da sua doutrina, refere-se ao poder e capacidade de sua doutrina para produzir efeitos35. 2) A majestade do estilo, ou poderíamos dizer sobre a sua qualidade grandiosa e esplêndida. 3) A concordância de todas as partes, fala sobre como as partes concordam entre si. 4) O escopo do seu todo, fala de como o todo é unificado com as partes. 5) (que é dar toda a glória a Deus), este ponto está conectado com o ponto quatro, e significa que as partes individuais e do todo, ambos dão glória a Deus. 6) A plena revelação que faz do único caminho da salvação do homem, se refere à forma plena e clara do Evangelho ser compreendido. 7) As suas muitas outras excelências incomparáveis e sua completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser a Palavra de Deus.

O terceiro declara: Ainda assim, não obstante, a nossa plena persuasão e certeza de sua verdade infalível e autoridade Divina provêm da operação interna do Espírito Santo, testemunhando por meio da e com a Palavra em nossos corações. Mesmo com a consideração das declarações 1 e 2 feitas acima, em última análise, a nossa plena persuasão e certeza de sua verdade infalível e autoridade Divina (da Palavra de Deus) provêm da operação interna do Espírito Santo, testemunhando com a Palavra em nossos corações. Precisamos reconhecer que a nossa convicção sobre a Palavra de Deus provém da obra interior do Espírito na vida de um crente. Lembro-me de uma vez ouvir John MacArthur Jr. dizer que, em todos os seus anos de ministério no ensino da Palavra de Deus, ele nunca teve que convencer um crente em Cristo que a Bíblia é a Palavra de Deus; ele ou ela já estavam convencidos. A razão para isso é a obra interior do Espírito Santo dando testemunho (confirmação) em nosso coração de que a Escritura é de fato proveniente da boca de Deus.

Pode ser útil mencionar que alguns dos cultos (eu estou pensando no Mormonismo, em particular), muitas vezes, citam que eles sabem que o Livro do Mórmon é um verdadeiro livro de Deus, porque o Espírito Santo testifica ao seu coração que é assim. Eu, pessoalmente, tenho ouvido isso em várias ocasiões, enquanto tentava mostrar a um mórmon a falibilidade, seja do Livro do Mórmon ou de Joseph Smith. Para eles, este testemunho interior é uma tentativa de manobrar para sair da armadilha na qual eles encontraram-se. Certamente esta não é uma apologética eficaz da sua parte. Mas o Cristão não está dizendo que o Espírito Santo lhe deu plena persuasão apesar de todas as evidências em contrário; estamos dizendo que, embora haja evidência externa para além das nossas convicções que dão provas de que a Bíblia é a Palavra de Deus36, mas isso não é a nossa razão última (ou seja, a razão da realidade observável); nossa persuasão final é o Espírito de Deus. Não estou sugerindo que esta concessão de convicção pelo Espírito de Deus é uma apologética, mas é algo que devemos entender para nossa própria fé e crescimento.

6. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a Sua própria glória, a salvação do homem, fé e vida, ou é expressamente declarado ou necessariamente contido nas Sagradas Escrituras, ao que nada, em qualquer tempo, deve ser acrescentado, seja por novas revelações do Espírito, ou por tradições humanas9. No entanto, nós reconhecemos a iluminação interior do Espírito de Deus como sendo necessária para a compreensão salvífica das coisas reveladas na Palavra10; e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto a Deus e ao governo da Igreja, comuns às ações e sociedades humanas, as quais devem ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência Cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que devem sempre ser observadas11 (9 2 Timóteo 3:15-17; Gálatas 1:8-9 • 10 João 6:45; 1 Coríntios 2:9-12 • 11 1 Coríntios 11:13-14; 1 Coríntios 14:26, 40).

A Confissão afirma: Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a Sua própria glória, a salvação do homem, fé e vida, ou é expressamente declarado ou necessariamente contido nas Sagradas Escrituras. Esta declaração ecoa o que já foi mostrado no primeiro parágrafo deste capítulo e o desenvolve. O que já foi estabelecido é que a revelação de Si mesmo e de Sua vontade foi totalmente comprometido à escrita. Então, essa revelação completa foi totalmente dada por escrito, e, portanto, é todo o conselho de Deus, e não apenas uma parte do conselho de Deus. Vemos esta frase nas Escrituras; nas palavras de despedida de Paulo aos anciãos em Mileto, antes dele passar se despedir de Éfeso, ele disse: “Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou limpo do sangue de todos. Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus” (Atos 20:26-27).

Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a sua própria glória, a salvação do homem, fé e vida. A Bíblia não é apenas um livro repleto de literatura antiga. Anos atrás, quando eu era um jovem Cristão, estava participando de uma faculdade comunitária, e me matriculei em uma classe intitulada, A Bíblia Como Literatura. O professor não tinha reverência à Bíblia como contendo todo o conselho de Deus. Para ele, a Bíblia era apenas literatura. Ele não tratava a Bíblia como um documento redentor. A Bíblia é, certamente, literatura, e para interpretá-la corretamente é preciso considerar questões literárias, mas é literária de uma forma redentiva, e ignorar o que ela diz sobre a própria glória de Deus, a salvação do homem, fé e vida é ignorar o objetivo da Bíblia. Certamente um livro não pode ser compreendido corretamente se o seu objetivo for ignorado. As coisas necessárias para a glória de Deus estão na Escritura. Todas as coisas necessárias para a salvação do homem estão na Bíblia. Todas as coisas que são necessárias que nós as creiamos estão na Palavra de Deus. Todas as coisas a respeito de como viver e obter a vida estão na Bíblia.

Todo o conselho de Deus — a respeito destas coisas — ou é expressamente declarado ou necessariamente contido na Sagrada Escritura. Expressamente significa explicitamente ou diretamente afirmado. Por meios, estabelecidos ou explicado. Algumas coisas estão diretamente declaradas (expressamente declarado), como: Não matarás. Outras coisas estão necessariamente contidas na Bíblia, e devem ser compreendidas por implicação. Por exemplo, “Não matarás”, implica que faremos tudo o que estiver ao nosso alcance para salvar e preservar a vida37. Portanto, devemos não somente aceitar o que está diretamente declarado (expressamente declarado), mas aplicar nossos corações e mentes para descobrir o que também está implícito. Se expressamente declarado, ou necessariamente contido, isto é necessário para a glorificação de Deus, para a salvação, fé e vida do homem, está contida nas Sagradas Escrituras. Está tudo lá, mas pode exigir diligência, o uso da razão e da lógica para apreender tudo o que está contido na Bíblia.

Nós deveríamos nos tornar instruídos na disciplina referida como “hermenêutica-sagrada” (a ciência e a arte de interpretar as Escrituras), de modo que estaríamos devidamente preparados para esquadrinhar toda a riqueza da Palavra de Deus. Pouco será adquirido para a compreensão da Bíblia por uma abordagem preguiçosa. Em vez disso, é necessário um esforço. Seja qual for a instrução que tenhamos alcançado, tudo isso e muito mais será exigido, a fim de estudar as Escrituras. Posto que eu não quero subestimar a obra do Espírito em iluminar as Escrituras para nós, devemos perceber que o Espírito não revelará material de referência que possamos necessitar, a fim de esquadrinhar a Palavra de Deus. Por exemplo, o Espírito Santo não vai “instruir-nos” em matéria de, digamos, cultura hitita; ao contexto histórico que levou os judeus a odiarem aos samaritanos; ou a terminações verbais gregas. Nós temos que fazer um esforço para aprender essas coisas, e o Espírito abençoará esse esforço e nos ajudará a aplicar esse conhecimento a fim de melhor interpretar a Bíblia. Às vezes, o Espírito somente concederá iluminação por meio do trabalho árduo.

A Confissão estabelece que desde que nós temos todo o conselho de Deus por escrito, nada a qualquer momento deve ser adicionado. É como a pessoa que diz: “Eu estou comprometido cento e dez por cento!”. Além de seu uso de hipérbole, uma pessoa só pode estar comprometida a cem por cento, matematicamente falando. Temos cem por cento do conselho de Deus; não há nada a acrescentar a esse percentual. Um todo é cem por cento. Não podemos acrescentar nada à Palavra de Deus, e mesmo que tentássemos, isso seria ou uma redundância ou um erro. Temos que aceitar que tudo o que é necessário está revelado, pois não há mais nada. É matematicamente impossível em relação à nossa ilustração adicionar mais à Escritura. A Escritura é completa e suficiente.

Nós não devemos acrescentar nada, a qualquer momento, a todo o conselho de Deus. O conselho de Deus foi dado em diversas ocasiões e entregue por escrito. Esta escrita começou por volta de 1440 a.C., com o próprio escrito de Deus (ou seja, o próprio dedo de Deus, um antropomorfismo em Êxodo 31:18)38 escrevendo os Dez Mandamentos, seguido por Moisés, ao escrever o Pentateuco (ou seja, os cinco primeiros livros da Bíblia, veja Deuteronômio 31:9), e assim por diante, até que a escrita terminou com a conclusão do livro de Apocalipse em torno 95 d.C. Com estes escritos todo o conselho de Deus foi completamente dado; que necessidade há de revelação adicional? Está tudo ali na íntegra, na totalidade. Temo que muitos crentes deixam de apreciar a suficiência das Escrituras, particularmente aqueles que buscam alguma revelação suplementar.

Nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens, não devemos acrescentar qualquer coisa, a qualquer tempo, a todo o conselho de Deus. Durante o tempo da escrita da Confissão, havia vários grupos que reivindicavam contínua revelação, exatamente como em nossos dias. Somente para citar alguns, havia os Quakers que promoviam a crença de que a luz ou revelação interna continuou mesmo após o encerramento do cânon. Os papistas acreditam que as tradições da igreja e os seus próprios papas podem adicionar revelação autoritativa e suplementar. Isso é praticamente acrescentar à Escritura algo além dela. David Dickson afirma sobre a Igreja Romana: “Bem, então, não erram os papistas que sustentam que as coisas necessárias para a salvação são obscuras e sombrias na Escritura; e que, sem a ajuda de tradições não escritas e da exposição infalível da Igreja, as Escrituras não podem ser entendidas? Sim. Porque a Escritura ilumina os olhos, e dá sabedoria aos símplices (Salmos 19:7-8)”.39

No entanto, nós reconhecemos a iluminação interior do Espírito de Deus como sendo necessária para a compreensão salvífica das coisas reveladas na Palavra. Enquanto a Confissão afirma que a Escritura contém tudo que é necessário para a salvação, contudo (no entanto), a obra interior do Espírito (ou seja, iluminação), ainda é necessária para que um pecador entenda essas coisas de uma forma que conduz à salvação40. A Escritura nos diz: “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Coríntios 2:14). Então, o Espírito de Deus em conjunto com a Palavra de Deus deve iluminar um pecador para um entendimento salvífico da Palavra de Deus, de forma que esse seja um chamado eficaz41. Nós vamos falar sobre essa iluminação no Capítulo 10, Sobre O Chamado Eficaz. Por agora, queremos ressaltar que a Palavra de Deus por si só não conduzirá alguém ao entendimento salvífico; o Espírito opera esse quando o Pai chama um pecador para Si mesmo.

A Confissão é bem equilibrada e reconhece uma grande variedade de situações com as quais um Cristão estará buscando aplicar a Palavra de Deus. Se todas as coisas necessárias para a fé e a vida estão contidas na Bíblia, então poderíamos nos encontrar perguntando: “E quanto a…”. A Confissão afirma: há algumas circunstâncias, quanto ao culto a Deus e ao governo da Igreja, comuns às ações e sociedades humanas, as quais devem ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência Cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que devem sempre ser observadas. Deparamo-nos com este termo de novo, pela luz da natureza42. Como discutimos no capítulo 1, parágrafo primeiro, isso refere-se à revelação geral. Portanto, a questão aqui é que existem algumas situações que podem não ser expressamente declaradas na Bíblia que dizem respeito: ao culto a Deus, e ao governo da Igreja. Estas dizem respeito às ações e sociedades humanas (ou seja, às ações dos indivíduos e/ou um grupo de indivíduos) em adoração e ordem da igreja. Nestas situações, a regra da revelação geral (ou seja, a luz da natureza) devem ser aplicadas com prudência Cristã (sabedoria Divina). Ambas (adoração de Deus e ordem da igreja), devem ser guiadas pelas regras gerais da Palavra de Deus. Essas regras gerais da Bíblia devem sempre ser observadas em todas as situações. Quais são as regras gerais da Escritura? Elas são os princípios das Escrituras, que podem ser reunidos a partir de toda a Escritura. Quando eu era um crente mais jovem, frequentemente me perguntavam quando eu estava testemunhando para outros: “Desde que a Bíblia não menciona a maconha, então eu estou livre para fumá-la?”. Minha resposta era: “Não. Pois a Bíblia nos diz para que permaneçamos sóbrios e autocontrolados”. Eu usava as regras ou princípios gerais das Escrituras para responder a uma questão específica que a Bíblia não trata nominalmente.

Os próximos parágrafos deste capítulo nos levam em direção a algumas orientações importantes quanto à hermenêutica (interpretação) que a igreja deve utilizar quando ele procura interpretar e aplicar a Palavra de Deus para os seus próprios dias.

7. Nem todas as coisas em si mesmas são igualmente claras na Escritura, nem igualmente claras a todos12; ainda assim, aquelas coisas que necessitam ser conhecidas, cridas e observadas, para a salvação, são tão claramente propostas e desveladas em algum ou outro lugar da Escritura, de forma que não apenas os doutos, mas os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas13 (12 2 Pedro 3:16 • 13 Salmos 19:7; Salmos 119:130).

A Igreja Romana era contra a ideia de que o homem comum devesse ler e interpretar as Escrituras. A Igreja Romana acreditava que apenas a sua interpretação das Escrituras era autoritária. Se leigos, pessoas sem treinamento da igreja Romana interpretassem a Bíblia, haveria uma quantidade “aberrante” de interpretações que poderiam divergir da Igreja Romana. O sistema do papado visava, em parte, um sistema unificado de interpretação43, do qual a Igreja Romana era a guardiã ou tutora. A Reforma tinha uma crença diferente — a Bíblia deveria estar no idioma comum de doutos e incultos, de modo que a Palavra de Deus fosse acessível a todos. Isso era diametralmente oposto ao pensamento Romano. Do ponto de vista de Roma, você pode entender a oposição dela; se você aceitar que Cristo confiou Seu cargo de Vigário ao papa e que há de fato um compêndio de doutrina ao qual o Espírito confiou à Igreja Romana, então, de fato a interpretação privada faria estragos a um, assim chamado, compêndio de doutrina.

Este parágrafo é, em certo sentido, uma defesa contra as reivindicações e interesses da Igreja Romana. A Confissão afirma que as coisas que são necessárias para serem conhecidas, cridas e observadas para a salvação (ou seja, todo o conhecimento, fé e obediência salvíficos; cf. o primeiro parágrafo) são claras, e podem ser entendidas pelos doutos e indoutos. Mas, de modo a não simplificar sobremaneira a questão, a Confissão reconhece que: Primeiro, Nem todas as coisas em si mesmas são igualmente claras na Escritura, e segundo, nem igualmente claras a todos. Ponto um: Algumas coisas na Bíblia são mais claras ou mais óbvias do que outras, ou poderíamos dizer que algumas coisas são mais fáceis de entender do que outras. Qualquer um que tenha estudado a Bíblia admitirá imediatamente esse ponto. Portanto, esta é uma variável de interpretação da Bíblia que a Confissão reconhece. Mas uma outra variável é ponto dois. Nem todas as pessoas são igualmente capazes de compreender todas as coisas na Bíblia. As pessoas têm diferentes graus de ensino, capacidade mental, e formas de pensar. Quando você adiciona essa variável ao ponto um, a questão da clareza da Bíblia não é exatamente simples. Mas, apesar dessas dificuldades a Confissão afirma: ainda assim, aquelas coisas que necessitam ser conhecidas, cridas e observadas, para a salvação, são tão claramente propostas e desveladas em algum ou outro lugar da Escritura, de forma que não apenas os doutos, mas os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas.

Assim, todas as coisas não são igualmente (semelhantemente) simples, mas todas as coisas que são necessárias para a salvação são simples. Este é o significado central na segunda parte do parágrafo sétimo. As coisas necessárias para serem conhecidas, cridas, e observadas para a salvação são evidentes. Todas essas coisas são tão claramente propostas e desveladas em algum ou outro lugar da Escritura. Meios são propostos para “progredir, confirmar”44. Mais uma vez, de modo a não simplificar sobremaneira a questão, a Confissão admite que as coisas necessárias para a salvação não estão todas em um só lugar, mas são encontradas em várias passagens da Escritura. É por isso que é importante ler a Bíblia inteira, para que possamos saber tudo o que ela ensina (ou seja, todo o conselho de Deus). A implicação é que a Escritura é um todo unificado, e, portanto, devemos interpretar as partes, à luz do todo.45

A Confissão afirma que todas as coisas estão tão claramente propostas em um lugar ou outro, que não somente os doutos, mas também os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas. Entendemos que os doutos (ou seja, os instruídos) têm a capacidade mental de ler e entender. Mas a Confissão estabelece que mesmo os indoutos (iletrados) podem compreendê-la. Nos dias da Confissão havia mais pessoas que não sabiam ler do que em nossos dias, embora haja certamente uma abundância de analfabetos atualmente. Se alguém não pudesse ler as Escrituras para ver o que elas continham, então alguém poderia usar outros meios para obter o conhecimento necessário para a fé e obediência salvíficos. Isso requererá um devido uso, ou uma aplicação dos meios ordinários. A que se refere esses meios ordinários? Parecem referir-se à pregação da Palavra de Deus, em vez de ler como um meio de adquirir conhecimento para a fé e obediência salvíficos. E por isso, se o indouto não pode examinar as Escrituras, lendo, mesmo os indoutos podem conhecer essas coisas por mais meios típicos como a audição. Alguém achará que é interessante o quão pouco a Bíblia fala de leitura em comparação a audição. Devemos considerar a probabilidade de que não somente o douto poderia ler, mas por haver recebido uma formal educação uma pessoa era mais propensa a ter acesso a uma Bíblia; isso coloca o indouto em outra desvantagem, pois mesmo no final dos anos 1600, os livros ainda eram muito caros, e Bíblias não eram tão acessíveis como o são agora. Assim, um meio mais comum de aquisição de conhecimento para a fé e obediência vinha pela pregação e ensino por via oral.46

A Confissão afirma: podem alcançar uma suficiente compreensão delas. Assim, alcançar a salvação não exige um conhecimento pleno e completo de tudo o que a Bíblia ensina, mas o que é proposto em um lugar ou outro, se alguém o descobre que através da leitura e estudo, ou pelos meios mais comuns da pregação, é suficiente para obter o conhecimento necessário para a fé e obediência salvíficos.

8. O Antigo Testamento em Hebraico (que era a Língua nativa do povo de Deus no passado)14, e o Novo Testamento em Grego (que, na época em que foi escrito, era mais comumente conhecido entre as nações), sendo imediatamente inspirados por Deus e pelo Seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são por isso autênticos; assim, em todas as controvérsias sobre a Religião, a Igreja deve apelar para eles15. Mas, porque essas Línguas originais não são conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras, e é ordenado, no temor de Deus, a lê-las16 e a examiná-las17, portanto, elas devem ser traduzidas para a Língua comum de cada povo aonde chegar18, para que, a Palavra de Deus habitando abundante-mente em todos, eles possam adorá-lO de uma maneira aceitável, e pela paciência e consolação das Escrituras, possam ter esperança19. (14 Romanos 3:2 • 15 Isaías 8:20 • 16 Atos 15:15 • 17 João 5:39 • 18 1 Coríntios 14:6, 9, 11, 12, 24, 28 • 19 Colossenses 3:16).

O Antigo Testamento em Hebraico (que era a Língua nativa do povo de Deus no passado), e o Novo Testamento em Grego (que, na época em que foi escrito, era mais comumente conhecido entre as nações). O Antigo Testamento foi escrito em Hebraico. Esta era a Língua comum que o povo de Deus falava naquele tempo — a sua Língua nativa. O Novo Testamento foi escrito em Grego. O Grego era a Língua mais comum das nações helenizadas da época, apesar de não ser a única Língua. Devemos notar que tanto o Antigo Testamento quanto o Novo Testamento foram escritos em uma linguagem comum para aqueles a quem foram endereçados.

Cada Testamento, escritos em hebraico e grego, são “imediatamente inspirados por Deus”. Imediatamente significa: diretamente, sem quaisquer outros meios de intervenção ou de mediação. Somos lembrados de que: “Toda a Escritura é inspirada por Deus” (2 Timóteo 3:16-17). As palavras de Deus vieram — metaforicamente falando — diretamente de Sua boca, Seu próprio sopro. É claro que Deus não tem um corpo ou uma boca, mas este termo é a maneira de Deus comunicar-nos quão direta ou imediatamente Ele esteve envolvido em conservar a revelação Divina de forma escrita. Deus assim o fez usando a linguagem humana comum. Não há nada particularmente Divino em relação ao Hebraico ou o Grego como alguns pensavam47; mas Deus quis colocar por escrito a Sua revelação para a Igreja em Línguas comuns ao povo de Deus48. Entendemos que a Confissão usa o, imediatamente inspirados, intencionando dizer que os manuscritos originais eram ins-pirados.49

Deus não apenas imediatamente inspirou os manuscritos, mas Ele “pelo Seu singular cuidado e providência os conservou puros em todos os séculos”, tanto os manuscritos do Antigo como do Novo Testamentos. Deus o fez por Sua providência especial (ou seja, pelo Seu singular cuidado). Deus providenciou tantos manuscritos especialmente do Novo Testamento que, embora não temos os manuscritos originais, críticos textuais são capazes de verificar o que estava escrito no manuscrito original, com um elevado grau de certeza. Como resultado da providência pessoal e especial de Deus, as Sagradas Escrituras, portanto, são por isso autênticas. Por autênticos entende-se que o que temos hoje representam os manuscritos autênticos, ou originais. Lembramo-nos das palavras de Jesus: “Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido” (Mateus 5:18).

Porque nós temos as autênticas Palavras de Deus, a Confissão afirma: “em todas as controvérsias sobre a Religião, a Igreja deve apelar para eles”. A palavra eles é uma referência ao Antigo e Novo Testamentos, que são imediatamente inspirados. A declaração de Dickson, é precisa: “Bem, então, os papistas não erram ao sustentar que a Igreja de Roma, e o papa são os juízes supremos de todas as controvérsias de fé; e que seus decretos e determinações devem ser cridos, sem exame, e, implicitamente, devem ser cridos por todos os crentes? Sim50. Da mesma forma os Quakers não erram ao sustentar que a luz interior que instrui os eleitos é o único juiz de todas as controvérsias? Sim. A Escritura nos diz: “À lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles” (Isaías 8:20).

A Confissão de 1689 prossegue e afirma: “elas devem ser traduzidas para a Língua comum de cada povo aonde chegar”. Como o Antigo Testamento foi escrito na Língua nativa do povo de Deus, e o Novo Testamento escrito na linguagem comum daquela época, assim a Palavra de Deus deve ser traduzida para a Língua comum de cada nação. A palavra comum refere-se à linguagem comumente utilizada por cada nação. A visão de que a Escritura deve ser traduzida para todos não era a posição da Igreja Romana. Aqueles que traduziram a Bíblia para a Língua comum do povo, tais como Tyndale, foram perseguidos ou executados pelas mãos da Igreja Romana. Como discutimos no parágrafo sete, a Igreja Romana entendeu que não seria capaz de manter facilmente a doutrina Romana, se as pessoas examinassem a Palavra de Deus por si mesmas. Muitos continuam hoje neste labor de traduzir a Palavra de Deus para a Língua comum de todas as tribos e nações; o princípio da Reforma, Sola Scriptura, continua a impulsionar a igreja Protestante a prosseguir neste trabalho.

Por que as nações deveriam ter a Palavra de Deus na sua própria Língua? Para que a Palavra de Deus [esteja] habitando abundantemente em todos. A Escritura afirma: “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente” (Colossenses 3:16a). Por que a Palavra de Deus deveria habitar abundantemente em todos? Para que eles possam adorá-lO de uma maneira aceitável, e pela paciência e consolação das Escrituras, possam ter esperança. A Confissão reflete as palavras da Escritura aqui também: “Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança” (Romanos 15:4).

9. A regra infalível de interpretação da Escritura é a própria Escritura; e, portanto, quando houver uma questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer Escritura (que não é múltiplo, mas único), esse pode ser investigado por meio de outros textos que o expressem mais claramente20 (20 2 Pedro 1:20-21; Atos 15:15-16).

Aqui está a primeira e mais importante regra de interpretação. A Confissão chama-lhe de regra infalível de interpretação. Muitas vezes, esse princípio é referido como “a Escritura interpreta a Escritura”51, ou a analogia da Escritura. Por que é a regra infalível de interpretação? Porque quando a Escritura, que é infalível, interpreta outra passagem, sabemos que ela interpreta a si mesma sem erro52. Porque este é o caso, a Confissão afirma: portanto, quando houver uma questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer Escritura (que não é múltiplo, mas único), esse pode ser investigado por meio de outros textos que o expressem mais claramente. Este princípio provê proteção à interpretação. Ela exige que qualquer passagem que interpretamos seja vista à luz de toda a Escritura, e, portanto, nós procuramos harmonizar qualquer texto com o restante das Escrituras sobre o assunto. Uma vez que a Bíblia é um todo unificado, e suas partes formam esta unidade, podemos harmonizar as partes com o todo.

Há momentos, por exemplo, quando Jesus, na verdade, fornece uma interpretação de um texto do Antigo Testamento; em tais casos, é fácil de compreender que a interpretação de Jesus é infalível. Porém muitas vezes não temos uma explicação tão direta de uma passagem. Nessa situação, buscamos outros textos que falem mais claramente desse tópico particular. A Palavra de Deus é a melhor intérprete de si mesma. Este é, reconhecidamente, um princípio generalizado, e há muitas maneiras de aplicá-lo, algumas das quais estão incorretas53. Há muitos outros princípios interpretativos importantes, mas este é o principal de todos eles.

10. O Juiz supremo, pelo qual todas as controvérsias da Religião devem ser determinadas, e todos os decretos de concílios, opiniões de escritores antigos, doutrinas de homens e espíritos particulares devem ser examinados, e em cuja sentença devemos nos firmar, não pode ser outro senão as Sagradas Escrituras anunciadas pelo Espírito; no que a Escritura assim anuncia, nossa fé é finalmente decidida21 (21 Mateus 22:29, 31, 32; Efésios 2:20; Atos 28:23).

Ao chegarmos ao fim deste capítulo, parece adequado que a Confissão concluísse com o que poderia ser visto como a aplicação da primeira cláusula da Confissão: A Escritura é… a regra. Aqui está escrito: O juiz supremo… não pode ser outro, senão a Santa Escritura. Mas o Juiz supremo de quê? Aqui a regra ou padrão é o juiz de controvérsias religiosas… e todos os decretos de conselhos, opiniões de escritores antigos, doutrinas dos homens e espíritos particulares. Isso abrange toda a gama, desde o indivíduo, os escritores antigos, ao padrão de concílios da Igreja, e todos os assuntos da Religião. As controvérsias na Religião devem ser determinadas (julgadas, decididas) pela Santa Escritura. Todos e outros assuntos listados devem ser examinados (avaliados) pela Sagrada Escritura. Não devemos descansar na sentença (ou seja, nas palavras) de qualquer um, senão nas Sagradas Escrituras. Mas por que isso acontece? É porque a Santa Escritura é anunciada a nós pelo Espírito. Não há autoridade maior do que o próprio Deus; devemos receber a Sagradas Escrituras como proveniente do próprio Deus, dessa forma Deus é em última análise, o Juiz sobre assuntos da Religião.

A confissão é um padrão ou regra de tipos; não há como negar isso, mas a Escritura é o juiz supremo. Enquanto uma confissão pode ter uma certa quantidade de autoridade para uma igreja local (ou seja, talvez um padrão para a adesão, ou subscrição rigorosa para ofícios da igreja), não é a regra única, suficiente, correta e infalível regra — apenas a Escritura o é; credos e confissões são subservientes. É a Escritura que é verdade, e julga se os resumos das Escrituras (como credos, confissões ou catecismos, etc.) são de fato representações precisas da verdade. No campo da teologia, credos e confissões se enquadram na categoria denominada Simbólicos. Então, se você tiver uma classe sobre Simbólicos no seminário, você estudará uma confissão particular, ou vários credos e confissões. A razão pela qual credos e confissões são chamados de símbolos é porque eles são representações da Escritura (ou seja, resumos das Escrituras), não as Sagradas Escrituras, de fato. Por exemplo, um símbolo real ou a bandeira de um país é um símbolo do rei ou do país, não é a realidade mesma que ele representa. E a própria natureza de um símbolo confessional é que ele representa, ou busca representar o que as Escrituras ensinam. Aqueles que rejeitam “qualquer credo, senão a Bíblia”, muitas vezes não reconhecem esta distinção. É justamente esta distinção que permitem um lugar legítimo a credos e confissões em nossa fé.

Jesus manteve a Escritura como sendo o juiz supremo em matéria de controvérsia na Religião. Se Jesus, o próprio Deus, usou a Escritura como o juiz supremo nessas questões, claramente devemos fazer o mesmo. Por exemplo, vemos no Evangelho de Mateus: “Jesus porém respondendo-lhes [aos saduceus], disse: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus. Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas serão como os anjos de Deus no céu. E, acerca da ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos declarou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos. E, as turbas, ouvindo isto, ficaram maravilhadas da sua doutrina” (Mateus 22:29-33). Jesus, aqui, julgou pela Escritura, e nesta passagem vemos o julgamento que Ele fez: “Errais”. Por que ou como eles estavam errados? “Não conhecendo as Escrituras”.

A Confissão de 1689 abordou ao longo de todo este capítulo, o ensino da Reforma, Sola Scriptura (somente a Escritura). A Confissão estabeleceu uma excelente doutrina das Escrituras. Com base neste fundamento, o restante da Confissão apresenta todo o conselho de Deus.


Notas: Introdução

[1] Ele não foi escrito pelos apóstolos, mas contém o ensino apostólico.

[2] Parece que a fonte primária da Confissão de 1689 foi a Declaração de Savoy, no entanto, posto que a Declaração de Savoy foi uma adaptação da Confissão de Fé de Westminster, por causa disso a maior parte do texto da Confissão de Westminster é encontrada na Confissão de 1689.

[3] Pode ser útil mencionar de antemão que não há um título “oficial” da Confissão. O leitor notará que eu uso muitos títulos diferentes nesta introdução porque ela é conhecida por muitos títulos. Nesta introdução eu usualmente a chamei de Confissão Batista de 1689, mas quando eu uso outra nomenclatura ainda estou me referindo à mesma confissão. No decorrer do comentário, eu uso apenas o título “Confissão de 1689”, ou às vezes apenas a “Confissão”.

[4] “Política” refere-se ao governo da igreja.

[5] As atas das reuniões da Assembleia foram recentemente publicadas em dois grandes volumes. A presente ata foi descoberta há alguns anos, escondida atrás de outros livros em uma biblioteca na Inglaterra.

[6] Philip Schaff, The Creeds of Christendom [Os Credos da Cristandade] (Baker Book House), Vol. 1, pág. 829. Colchetes meus. Schaff escreve em 1931: “No decorrer do tempo o rigor do Antigo Calvinismo relaxou, tanto na Inglaterra e na América. A ‘Teologia da Nova Inglaterra’, como é chamada, tenta encontrar uma via média entre o Calvinismo e o Arminianismo na antropologia e na soteriologia. Mas os antigos padrões ainda permanecem não revogados. A primeira e fundamental confissão Congregacional de Fé e governo eclesiástico é a Declaração de Savoy, assim chamada a partir do local onde ela foi composta e adotada”. Disponível em: . Acesso em: 07 dez. 2014.

[7] Ibid, Vol. III, pg. 718.

[8] A Confissão de 1689 é distinta da Declaração de Savoy, especialmente no que diz respeito à Teologia do Pacto e Batismo. A Declaração de Savoy é semelhante à Confissão Presbiteriana em relação à Teologia do Pacto e, como tal, também é uma Confissão pedobatista.

[9] Nehemiah Coxe morreu alguns meses antes da adoção de 1689, da Confissão de 1677, e, assim, o seu nome não está na lista dos que adotaram a Confissão. Minha fonte para esta informação é Aula de História de James Renihan que eu participei em 2011 na Grace Covenant Church, em Gilbert, Arizona.

[10] James Renihan’s Baptist History class [Aula de História Batista, por James Renihan]: 2011, Grace Covenant Church, em Gilbert, Arizona.

[11] Samuel Waldron, A Modern Exposition of the 1689 Baptist Confession of Faith [Uma Exposição Moderna da Confissão de Fé Batista de 1689] (Evangelical Press: 1989), pg. 429.

[12] Por alguma razão, a data da adoção de 1689, permanece associada à Confissão, ao invés de sua data real de autoria.

[13] William L. Lumpkin, Baptist Confessions of Faith [Confissões de Fé Batista] (Judson Press: Edição Revisada 1969), página 239.


Notas: Capitulo 1, As Sagradas Escrituras

[1] Robert Letham afirma: “O primeiro capítulo da Confissão é classificado como a declaração mais completa do clássico Reformado do Protestantismo sobre o tema das Escrituras e, possivelmente, a melhor de todas as fontes até a data”. Robert Letham, The Westminster Assembly: Reading Its Theology in Historical Context [A Assembleia de Westminster: Lendo sua Teologia no Contexto Histórico] (P&R Publishing: 2009), p. 120.

[2] A Confissão de Westminster não começa com essa cláusula. Ela começa com: “Embora a luz da natureza e as obras da criação e da providência, manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, a ponto de tornar os homens indesculpáveis; ainda assim, não são suficientes.

[3] A palavra “regra” está funcionando aqui como um predicado nominal. Um predicado nominal é um substantivo que segue um verbo de ligação e renomeia ou explica o assunto. Por exemplo, “John é um professor”. “Professor” renomeia ou explica o assunto. Então, na Confissão, a palavra “regra”, explica o assunto (Escritura).

[4] Dicionário de Inglês Oxford (Oxford University Press). Robert Martin afirma sobre este dicionário: “O DIO é uma ferramenta indispensável para a determinação do significado das palavras inglesas do século XVII. Este, e não o sentido moderno das palavras da Confissão, é o nosso primeiro interesse. O que está em questão é aquele significado intencionado pelo autor, uma preocupação que desapareceu a um nível alarmante em nosso mundo pós-moderno”. Robert Martin, “A Segunda Confissão de Londres, Sobre a Doutrina das Escrituras. Uma Exposição do Capítulo 1: ‘Sobre as Escrituras Sagradas’ (Parte 1)”, Reformed Baptist Theological Review, Vol. IV No. 1, p. 61. Nós faremos uso deste dicionário, ao longo deste comentário.

[5] Samuel E. Waldron, Uma Exposição Moderna da Confissão de Fé Batista de 1689 (Darlington, Inglaterra, Evangelical Press), p. 43.

[6] Ibid., p. 43.

[7] Dicionário de Inglês Oxford (Oxford University Press).

[8] Trinity Hymnal [Hinário Trindade] (Great Commissions Publishing:1961), Hino 80. “Quão Firme Fundamento, Ó Santos Do Senhor”. O autor é desconhecido, e o tempo de origem é provável ser o século XVIII.

[9] Dicionário de Inglês Oxford (Oxford University Press).

[10] Veja a Confissão de 1689, 1:4.

[11] Parece provável que “salvífico” destina-se a modificar não apenas “conhecimento”, mas as duas palavras depois de “conhecimento”, também (ou seja, fé e obediência). Isso poderia criar uma dificuldade em relação a “obediência salvífica”. Eu não acredito que esta, de alguma maneira, seja uma dificuldade insuperável, como eu explico abaixo. A outra alternativa é a de considerar que “salvífico” apenas se destina a alterar “conhecimento”. Mas, isso também criaria outra dificuldade, pois o “conhecimento” por si só não é capaz de salvar. Portanto, parece melhor tratar “salvífico” como um modificador para cada palavra (conhecimento salvífico, fé [salvífica] e obediência [salvífica]). A Confissão de forma consistente utiliza elipses (ou seja, a omissão de uma palavra usada anteriormente intencionada a estar implícita nas palavras que seguem). O leitor pode fazer o seu próprio julgamento.

[12] Veja Isaías 65:3; Jeremias 25:6; 32:30, para citar apenas alguns exemplos desta escrita nas Escrituras. Isso não quer dizer que Deus tenha “paixões”. A Confissão nega que Deus tenha “paixões” (2:1). Implicar que Deus tem “paixões” seria sugerir que Deus está sujeito a alterações pelas ações externas das Suas criaturas. A Bíblia usa linguagem metafórica quando descreve uma mera criatura a provocá-lO. Especificamente, isso é chamado de antropomorfismo. É a linguagem de acomodação para que o homem possa entender como um Deus imutável imutavelmente odeia o pecado. Veja a Confissão de 1689 2:1 “sem corpo, partes, ou paixões”.

[13] Veja nota 11.

[14] Uma elipse é a omissão de uma palavra implícita afirmada anteriormente. Isso permite reduzir palavras redundantes, mantendo o seu significado implícito. Por exemplo, “O menino foi até a loja e biblioteca”. Está implícito que o mesmo “menino” que foi até a loja também foi até a biblioteca. Ao omitir “menino”, alguém é capaz de conservar o uso da palavra ao deixar de fora a palavra implícita.

[15] Baker’s Dictionary of Theology [Dicionário de Teologia de Baker] (Baker Book House, 13th Printing:1983), p. 456-57.

[16] A metáfora é um artifício literário que utiliza linguagem figurativa, não-literal comparada a algo literal. Às vezes metáforas comuns tornam-se tão associadas com o referente literal que nós nivelamos o significado figurativo e literal, assim, nós apenas associamos a metáfora com o seu significado literal. Isso é bom para manter o discurso figurativo distinto em algum nível, a fim de evitar confusão.

[17] Nós encontramos a frase usada em 1:6, 10:4; 20:2; 22:1.

[18] Artigo trinta e sete do Credo Ortodoxo (não confunda com os antigos credos ortodoxos) afirma: “Nem ain-da acreditamos que as obras de criação, nem a lei escrita no coração, a saber, religião natural, como alguns chamam, ou a luz interior do homem, como tais, são suficientes para informar o homem sobre Cristo, o Media-dor, ou sobre o caminho para a salvação, ou a vida eterna por meio dEle”; Isto foi escrito em 1679, apenas dois anos após a estruturação da Confissão Batista de 1677. Esta declaração certamente parece corres-ponder ao conceito de luz da natureza.

[19] Robert Letham, A Assembleia de Westminster: Lendo Sua Teologia no Contexto Histórico (P&R Publishing:2009), p. 122-23. Letham acrescenta que Calvino escreveu sobre o que ele chamou de um sensus divinitatis (um senso do Divino). Letham cita como apoio Paul Helm, John Calvin’s Ideas [Noções de João Calvino] (Oxford University Press, 2004), 209-245.

[20] A pergunta 12 do Catecismo Batista define muito bem as obras da criação como: “A obra da criação consiste em todas as coisas que Deus fez a partir do nada, pela palavra do Seu poder, em seis dias consecutivos e normais, e tudo muito bom1 (1 Gênesis 1; Hebreus 11:3)”.

[21] R. C. Sproul, Truths We Confess: A Layman’s Guide to the Westminster Confession of Faith [Verdades Que Nós Confessamos: Guia De Um Leigo Para a Confissão de Fé de Westminster] (New Jersey, P&R Publishing), Volume 1, p. 6-7.

[22] A palavra “igreja” é usada 55 vezes na Confissão. Por exemplo, consulte os capítulos 26:1; 7:3; 11:6 para ilustrar o uso da igreja que não se restringe aos santos do Novo Testamento.

[23] A Confissão nos diz no Capítulo 7:3: “Esta Aliança [da graça] é revelada no Evangelho; primeiramente a Adão na promessa de salvação pela semente da mulher, e depois por etapas sucessivas, até que a sua plena revelação foi completada no Novo Testamento”.

[24] David Dickson, Truth’s Victory Over Error: A Commentary on the Westminster Confession of Faith [A Vitória da Verdade Sobre o Erro: Um Comentário Sobre a Confissão de Fé de Westminster] (Edinburgh, The Banner of Truth Trust), p. 4-5. Este livro é especialmente relevante para o nosso estudo da Confissão de 1689, pois este livro é um dos comentários mais antigos sobre a Confissão de Westminster, sendo publicado pela primeira vez em 1684. Isso nos leva para bem próximos ao período de 1646, quando a Confissão de Westminster foi concluída, portanto, nos dá uma lente contemporânea na qual se pode ver o texto da Confissão de Westminster, e da Confissão de 1677, quando este se assemelha à CFW.

[25] Usarei reticências (…) para mostrar onde eu removi algum do termo, colchetes [ ] onde eu adicionei palavras, e adicionei alguns sinais de pontuação, mas eu não alterarei qualquer uma das palavras da Confissão.

[26] Dicionário de Inglês Oxford, “estabelecendo”: “Um meio de estabelecer; algo que fortalece, suporta, ou corrobora”.

[27] A “malícia” anterior está retirada (reticências), mas está claramente implícita sobre “o mundo”.

[28] C. H. Spurgeon, Morning and Evening [Manhã e Noite], 25 de julho, Manhã.

[29] Samuel Waldron, Confissão de Fé Batista de 1689: Uma Exposição Moderna (Evangelical Press, Darlington, Inglaterra:1989), p. 32-33.

[30] R. C. Sproul, Verdades Que Nós Confessamos: Guia De Um Leigo Para a Confissão de Fé de Westmins-ter (New Jersey, P&R Publishing), Volume 1, p. 11.

[31] James White, The Roman Catholic Controversy [A Controvérsia Católica Romana] (Bethany House Publishers: 1996), p. 93-94.

[32] David Dickson, A Vitória da Verdade Sobre o Erro: Um Comentário Sobre a Confissão de Fé de Westminster (Edinburgh, The Banner of Truth Trust), p. 9.

[33] Michael J. Kruger, Canon Revisited: Establishing the Origins and Authority of the New Testament Books [Cânon Revisitado: Estabelecendo as Origens e Autoridade dos Livros do Novo Testamento] (Crossway: 2012), p. 125.

[34] Robert Letham, A Assembleia de Westminster: Lendo Sua Teologia no Contexto Histórico (P&R: 2009), p. 136.

[35] Dicionário de Inglês Oxford (Oxford University Press).

[36] A Bíblia tem evidência externa tal como a evidência arqueológica e bibliográfica (por exemplo, outros documentos históricos que confirmam as declarações na Bíblia, nomes, lugares, eventos), e provas internas (por exemplo, os itens das listas de Confissão). O Livro de Mórmon, por exemplo, tem evidências em cada uma dessas áreas que mostram que é apenas um livro humano.

[37] O Catecismo Batista, pergunta 73: Pergunta: O que é requerido no Sexto Mandamento? Resposta: O Sexto Mandamento requer todos os esforços lícitos para preservarmos a nossa própria vida e a vida de outros¹ (1 Efésios 5:28-29; 1 Reis 18:4).

[38] Brian Lee escreve sobre as ramificações de que Deus foi o primeiro a colocar a Sua revelação por escrito por Seu próprio dedo, como registrado em Êxodo 31:18. Brian Lee, Is Reformation Christianity Just for Eggheads [“A Reforma da Cristandade é Apenas Para Intelectuais?”]. Modern Reformation, 21, Nº 5 (setembro-outubro de 2012): p. 17-20.

[39] David Dickson, A Vitória da Verdade Sobre o Erro: Um Comentário Sobre a Confissão de Fé de Westminster (Edinburgh, The Banner of Truth Trust), p. 11-12.

[40] Veja o Catecismo Batista, Pergunta 34: O que é o chamado eficaz? Resposta: O chamado eficaz é obra do Espírito de Deus1 segundo a qual Ele nos convence de nosso pecado e miséria2, ilumina nossas mentes para o conhecimento de Cristo3 e renova as nossas vontades4, e nos persuade e nos capacita a nos apegarmos a Jesus Cristo que é oferecido gratuitamente a nós no Evangelho5 (1 2 Timóteo 1:9; 2 Tessalonicenses 2:13-14; 2 Atos 2:37; 3 Atos 26:18; 4 Ezequiel 36:26-27; 5 João 6:44, 45; Filipenses 2:13).

[41] Veja Catecismo Batista, Pergunta 27: Como Cristo executa o ofício de Profeta? Resposta: Cristo executa o ofício de Profeta, revelando-nos, pela Sua Palavra e Espírito Santo, a vontade de Deus para a nossa salvação1 (1 João 1:18; 1 Pedro 1:10-12; João 15:15; 20:31).

[42] R. C. Sproul comenta que durante toda a era da Igreja a revelação geral tem sido pensada como tão infalível quanto a revelação especial é infalível. R. C. Sproul, Verdades que Nós Confessamos: Guia de um Leigo para a Confissão de Fé de Westminster (New Jersey, P&R Publishing) Volume 1, p. 22.

[43] Este foi e é o ideal na Igreja Romana, mas na realidade Roma tem muita diversidade de interpretação dentro de suas próprias fileiras. O ideal de uma interpretação infalível é atraente para muitos dos partidários de Roma, mas é perigoso confiar em qualquer ser humano falível como o guardião de uma suposta interpretação infalível; pois daí, segue-se que, o homem tem a suprema autoridade, não a Palavra de Deus. Roma nega o Sola Scriptura (Somente a Escritura); na prática ela exige Sola Ecclesia (Somente a igreja).

[44] Dicionário de Inglês Oxford.

[45] Este princípio hermenêutico se aplica se a pessoa está interpretando palavras individuais à luz de toda a sentença, uma única frase à luz de todo o parágrafo, um parágrafo à luz do capítulo inteiro, ou um livro da Bíblia à luz de todo o cânon das Escrituras. Isso tem a ver com o contexto, e o que é dito em uma parte da Bíblia deve ser interpretada à luz do todo que a Bíblia diz sobre o assunto.

[46] Catecismo Batista, Pergunta 94: Como a Palavra é feita eficaz para a salvação? Resposta: O Espírito de Deus faz da leitura, mas especialmente da pregação da Palavra, meios eficazes para convicção e conversão de pecadores, e os edifica em santidade e consolação, por meio da fé para a salvação1 (1 Neemias 8:8; Atos 26:18; Salmos 19:8; Atos 20:32; Romanos 1:15-16; 10:13-17; 15:4; 1 Coríntios 14:24-25; 1 Timóteo 3:15-17).

[47] Köstenberger e Patterson escrevem: “Ao invés de escrever em seu Hebraico nativo ou Aramaico, estes judeus da Palestina (com a possível exceção de Lucas e o autor de Hebreus) compuseram seus escritos na Língua franca de seus dias, o chamado koinē ou grego “comum”, ou seja, o grego falado por pessoas comuns em todo o Império Romano. Assim, não há “Espírito Santo” Grego especial. Em vez disso, o Grego do Novo Testamento é o mesmo que o falado na linguagem comum e encontrado em documentos cotidianos, tais como papiros relatando registros de negócios, cartas pessoais, e semelhantes”. Andreas J. Köstenberger e Richard D. Patterson, Invitation to Biblical Interpretation: Exploring the Hermeneutical Triad of History, Literature, and Theology [Convite Para Interpretação Bíblica: Explorando a Hermenêutica Tríade da História, Literatura e Teologia] (Kregel Publications Academic and Professional: 2011), p. 580.

[48] Alguns argumentaram que Deus não pode comunicar perfeitamente a Sua Palavra a nós através da linguagem humana imperfeita, mas Deus não Se restringe pela linguagem humana imperfeita; pois o mesmo Deus que decretou falar ao homem também decretou as Línguas da humanidade. Deus não está ausente do desenvolvimento natural da linguagem; Suas providências ordinárias regulam tais coisas. Deus ordenou os fins, assim como os meios.

[49] Em relação à “imediatamente inspirados”, Robert Letham escreve: “Este é um apelo aos manuscritos originais”. A Assembleia de Westminster: Lendo Sua Teologia no Contexto Histórico (P&R Publishing:2009), p. 144. O “autógrafo” é um termo frequentemente usado para descrever o documento original escrito pelo escritor da Escritura. Não temos qualquer um dos manuscritos originais. O termo “manuscrito” é usado para se referir às cópias dos manuscritos originais (cópias de cópias, etc.).

[50] David Dickson, A Vitória da Verdade Sobre o Erro: Um Comentário Sobre a Confissão de Fé de Westminster (Edinburgh, The Banner of Truth Trust), p. 16.

[51] Richard Muller define analogia scripturae como: “A interpretação de passagens obscuras, difíceis, ou ambíguas da Escritura, por comparação com as passagens claras e inequívocas que se referem ao mesmo ensino ou evento”. Richard A. Muller, Dicionário de Termos Teológicos em Latim e Grego (Baker Acade-mic:1985), p. 33.

[52] Existem dois níveis.

[53] Isso não remove a necessidade do trabalho exegético da passagem obscura, por simplesmente citar outras potencialmente como passagens, não constituem exegese da passagem obscura; talvez a passagem clara, não significa o que outras passagens significam. Portanto, se esse princípio é usado incorretamente, pode levar à importação de sentido que não está realmente presente (eisegesis). Nós não queremos ensinar a doutrina correta a partir do texto errado.

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