Teologia Bíblica, Batista Reformada e Pactual

Prefácio

Esta sem dúvida é uma das mais importantes publicações que já fizemos. O seu tema e exposição são do mais alto interesse de todos aqueles Cristãos Reformados que também tomam para si o nome de “Batistas”.

C. H. Spurgeon diz:

A doutrina do Pacto Divino está na raiz de toda a verdadeira teologia. Já foi dito que aquele que entende bem a distinção entre o Pacto de Obras e o Pacto da Graça é um mestre em Teologia. Estou convencido de que a maioria dos erros que os homens cometem sobre as doutrinas da Escritura se derivam de erros fundamentais no que diz respeito aos Pactos da Lei e da Graça.[1]

O entendimento de que o “Pacto Divino”, e a estrutura pactual da revelação e relacionamento de Deus com Seu povo, “está na raiz de toda a verdadeira teologia”, era consenso de todos os Batistas Particulares e Confessionais até os dias de Spurgeon. A Teologia Pactual está para o corpo da teologia bíblica assim como a coluna vertebral está para o corpo humano. A perda desse entendimento acerca da importância e centralidade da Teologia Pactual foi talvez o mais terrível e incalculável dano que Satanás impôs àqueles que deveriam ser os herdeiros da teologia dos Batistas Particulares Puritanos Ingleses, e isso ele fez principalmente ao roubar-lhes a sua Confessionalidade.

É triste ver que tanto a herança bíblica, confessional e pactual dos primeiros Batistas Particulares se perdeu a ponto de que hoje em dia o termo Batista é quase sinônimo de Dispensacionalista e Antinomiano. E os termos Teologia do Pacto, Pactual, Aliancismo, Federalismo são quase sinônimos de Pedobatismo Presbiteriano. Há também alguns outros Batistas que têm flertado com a Teologia da Nova Aliança, com seu velho, confuso e perigoso Antinomianismo e sua visão distorcida dos Pactos da Graça e das Obras. A Teologia da Nova Aliança é uma espécie de Dispensacionalismo modificado e um pouco melhorado, o que na prática é nada mais do que a velha rejeição de alguns dos pontos principais da Teologia Pactual Reformada e Confessional, tanto em sua vertente Pedobatista (Westminster, Savoy) quanto Credobatista (CFB1689).[2]

Para concluir, quero registrar aqui minha intensa oração, anelo e apelo para que todos os Batistas do nosso tempo, que juntamente conosco “se alegram nas doutrinas gloriosas da Livre Graça”,[3] com zelo examinem este documento calmamente, à luz das Escrituras Sagradas e em oração. Pois, acredito piamente que uma compreensão bíblica, doutrinária e piedosa da Teologia Pactual Batista Confessional de 1689 (ou simplesmente Federalismo de 1689), é salutar e indispensável aos Batistas Reformados de nosso tempo que buscam voltar à uma confessionalidade bíblica, e à vida e doutrina que são segundo a piedade. E para esta finalidade, este documento será, segundo a bênção de nosso Deus, de grande auxílio, pois foi escrito de forma precisamente bíblica e extremamente primorosa, expositiva, sistemática e didática, por dois dos mais legítimos representantes de nossa preciosa fé comum no que seja o puro ensino das Escrituras Sagradas, e para defesa da Santíssima Fé que uma vez foi dada aos santos para a glória do nosso Deus — Pai, Filho e Espírito.

Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível,

Ao único Deus sábio, Senhor e Salvador nosso,

Seja glória e majestade, louvor e honra, domínio e poder,

Agora, e para todo o sempre. Amém e Amém!

William Teixeira,

18 de maio de 2016.

 

Teologia Bíblica Batista Reformada Pactual

 

Por Micah Renihan e Samuel Renihan

Este material foi apresentado pelos autores[4] aos alunos do Seminário Westminster Califórnia em resposta às perguntas feitas durante as horas das refeições no campus sobre qual é a visão dos Batistas Reformados a respeito da Teologia do Pacto. Dadas as limitações de tempo de uma apresentação de uma hora, o foco do material foi em áreas de argumento positivo em favor da posição Credobatista onde ela difere da posição Pedobatista. Os pontos-chave da teologia do pacto não são tratados nesta apresentação, não porque eles não fazem parte da Teologia do Pacto dos Batistas Reformados, mas porque não há nenhum desacordo entre a nossa posição e a dos Pedobatistas. Por exemplo, não há nenhuma discussão sobre o Pacto de Obras, plenamente afirmado pelas Confissões Batista de Londres e Westminster, e não há nenhuma discussão sobre a definição de um pacto, uma vez que de acordo com a definição básica formulada por Meredith G. Kline: um compromisso com sanções Divinas entre um senhor e um servo. Outros argumentos e pontos importantes foram omitidos por uma questão de tempo, tais como a relação entre o reino e pacto ou discussões exegéticas de passagens-chave específicas em torno das quais este diálogo normalmente gira. O que segue são afirmações fundamentais defendendo uma visão Batista Reformada da Bíblica Teologia do Pacto, aplicadas especificamente ao Credobatismo.

Fundamentos da Teologia Pactual Batista Reformada

1. A promessa de redenção informa e une toda a história redentora.

O Pactum Salutis estabelece a redenção dos eleitos sobre a encarnação, vida, morte, ressurreição e ascensão de Cristo como aquilo que é o propósito motriz da história. O decreto de Deus é que a partir da humanidade caída, o Filho, pelo poder do Espírito, deva redimir um número específico de Seu próprio povo, a ser concedido a Ele como uma recompensa pela consumação de Sua obra em nome deles.

2. A Nova Aliança é a realização final e completa do Pacto da Redenção na história.

Onde vemos a realização da redenção dos eleitos na história através da encarnação e morte de Cristo? Na Nova Aliança, feita no sangue de Cristo.[5] O que Cristo afirma que Ele veio fazer? Ele afirma que veio para resgatar aqueles que o Pai Lhe deu. [6] Seu propósito é consumar o Pactum Salutis no tempo e na história. A Nova Aliança não vai mais longe do que o Pactum Salutis, não só porque Cristo disse especificamente que Sua missão era redimir os eleitos, mas também porque a Nova Aliança é feita no sangue de Cristo, o sangue da remissão cujos benefícios salvíficos nunca foram e nunca serão aplicados a qualquer outros senão somente aos eleitos. Isto significa que os partes da Nova Aliança não são outros senão Deus e Cristo, e os eleitos nEle.

Embora o Pactum Salutis tenha sido final e totalmente realizado na história através da obra de Cristo, o que resta é o acesso às bênçãos consumadas e recompensas do reino de Cristo. Isso não ocorrerá até que a última pessoa eleita por quem Cristo morreu seja recolhida pelo próprio Cristo através da pregação do Evangelho a todas as nações.

3. O Pacto da Graça irrompe no Pacto de Redenção na história através da revelação progressiva e da aplicação retroativa da Nova Aliança.

Bavinck diz: “O pacto de graça não foi estabelecido pela primeira vez no tempo, antes tem o seu fundamento na eternidade, é fundamentado no pacto de salvação, e é em primeiro lugar um pacto entre as três pessoas do próprio ser Divino”.[7]

Vos diz:

O pacto da redenção é o padrão para o pacto de graça. No entanto, é mais do que isso. É também eficazmente a causa para a realização deste último. À medida em que à sua oferta e aplicação estão em causa, o pacto da graça encontra-se encerrado no conselho de paz, de modo que no que diz respeito a este último ele parece completamente como um dom, como um benefício da aliança.[8]

Há uma união e força motriz na história da redenção, e isto é o Pacto da Redenção. Embora não seja realizado na história até o advento de Cristo, vemos o ajuntamento dos eleitos que creem em Cristo desde a Queda em diante. Onde o vemos na reunião dos eleitos que creem no Evangelho como revelado progressivamente em tipos e sombras, assim nós vemos a ação retroativa da Nova Aliança, e esta é o Pacto da Graça. O que foi exigido de todos os homens em todos os momentos, em todos os lugares é o crer no Evangelho assim como este foi revelado em um momento particular da história da redenção.[9] Porque o Pacto da Graça é a Nova Aliança em sua ação retroativa — e é em última análise fundado no Pacto da Redenção —suas partes são as mesmas que as da Nova Aliança: Deus, Cristo e os eleitos nEste.

Vos diz:

Em outras palavras, o vínculo que liga o Antigo e o Novo Pacto não é puramente evolutivo, na medida em que aquele tem se desenvolvido até chegar no outro; é, se assim podemos chamá-lo, um vínculo transcendental: a Nova Aliança em seu pré-existente estado celestial retroage e estende suas asas sobre a Antiga, e o povo de Deus do Antigo Testamento são um conosco em dignidade religiosa e privilégio; eles eram, para falarmos de acordo com uma figura Paulina, filhos da Jerusalém de cima, que é a mãe de todos.[10]

Bavinck diz:

Este pacto de salvação, no entanto, estabelece ainda mais a ligação entre a obra eterna de Deus para a salvação e o que Ele faz para este efeito no tempo. O pacto da graça revelado no tempo não paira no ar, mas repousa sobre um fundamento eterno, imutável. Ele baseia-se firmemente no conselho e pacto do Deus Triuno, e a aplicação e execução do mesmo infalivelmente se segue… É uma falsa percepção aquela que afirma que Deus fez primeiro Sua aliança com Adão e Noé, com Abraão e Israel, e só finalmente, com Cristo; o pacto da graça já foi feito desde toda a eternidade no pacto de salvação das três Pessoas e foi consumado por Cristo a partir do momento em que a Queda ocorreu… Pois, embora Deus comunique a Sua revelação sucessiva e historicamente tornando-a progressivamente mais rica e completa, e a humanidade avança, portanto, no conhecimento, posse e usufruto dessa revelação, Deus é e permanece o mesmo…. embora Cristo tenha completado Sua obra na terra no decorrer da história e, embora o Espírito Santo não tenha sido derramado até o dia da Pentecostes, Deus, no entanto, foi capaz, já nos dias do Antigo Testamento, de distribuir integralmente os benefícios a serem adquiridos e aplicados por meio do Filho e do Espírito. Os crentes do Antigo Testamento não foram salvos de nenhuma outra forma do que nós. Há uma só fé, um só Mediador, um caminho de salvação, e um pacto de graça.[11]

4. A Antiga Aliança é com o Israel teocrático, definida pelo Pacto Abraâmico, condicionada pelo Pacto Mosaico e concentrada no Pacto Davídico. A Antiga Aliança, assim como cada um desses três pactos, difere da Nova Aliança não apenas na administração, mas também em substância.

A aliança com Abraão, chamada de o Pacto da Circuncisão por Estevão em Atos 7:8, prometeu a Abraão três coisas principalmente. Ela prometeu-lhe uma terra, um povo e um reinado. Em outras palavras, os descendentes físicos de Abraão iriam herdar a terra e crescer em um número incontável de pessoas governadas por seus próprios reis. Isto foi chamado o Pacto da Circuncisão, porque a circuncisão era o sinal dessas bênçãos e separava a descendência de Abraão do resto do mundo como os herdeiros de tais promessas.[12]

Abraão foi o cabeça federal dessa aliança, porque as promessas foram feitas a ele e à sua descendência física. Todos aqueles que foram de Abraão — ou, poderíamos dizer, estavam em Abraão — eram herdeiros das promessas nacionais. Isto definia os membros da aliança.

Uma das características mais distintivas deste pacto foi que Deus imutavelmente prometeu trazer essas bênçãos para além de qualquer mérito por parte de Abraão, e por essa razão o pacto da circuncisão pode ser justamente chamado um pacto de graça. Mas ele pode ser justamente chamado de administração do Pacto da Graça? Se o Pacto da Graça é a consumação do Pacto de Redenção na história, a aplicação retroativa da Nova Aliança, então o que promessas nacionais têm a ver com a redenção e reunião dos eleitos, por Cristo? Deve-se notar que, apesar de todas as promessas abraâmicas tipologicamente revelarem a Nova Aliança, na sua substância e essência, elas são distintas dessa. Abraão sabia que Canaã não era o Céu.

O Pacto Mosaico foi adicionado e anexado ao Pacto Abraâmico, de tal forma que ele condicionou a apreciação das bênçãos abraâmicas. Deus prometeu a Abraão que imutavelmente as bênçãos do pacto seriam realizadas. A medida em que essas bênçãos seriam apreciadas, no entanto, dependia da obediência do povo de Israel. Para colocarmos isto de modo mais claro: no Pacto Abraâmico, Deus prometeu a Abraão uma terra, uma nação e um reino, e no Pacto Mosaico Deus condicionou a apreciação dessas promessas. O Pacto Mosaico controlou a posse na terra, as fronteiras da nação e a regulação do reinado. Estas condições eram fortes o suficiente a ponto de que, embora Deus inevitavelmente realizasse as promessas, elas poderiam ser perdidas pela desobediência. Que o Pacto Mosaico condiciona o Abraâmico é evidente não apenas em virtude do fato de que sua obediência está diretamente ligada ao gozo das promessas abraâmicas, mas também em virtude do fato de que ele foi feito especificamente com o povo abraâmico.

Que o Pacto Mosaico não é um em essência e substância com o Pacto da Graça é ainda reconhecido pelo fato, como Hebreus nos diz, dos sacrifícios não possuírem poder para remover o pecado. “Tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas” (Hebreus 10:1). Hebreus 8:5 chama o sistema Mosaico de “exemplo e sombra das coisas celestiais”. Paulo em Colossenses de ritos Mosaicos tais como luas novas, festas e sábados, diz que estas “são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” [2:17]. Usando a mesma pergunta que foi aplicada ao Pacto Abraâmico, é o condicionamento das promessas nacionais por lei a consumação da redenção dos eleitos na história? Não, o Pacto Mosaico é distinto do Pacto da Graça, em sua essência. No entanto, cada elemento da economia Mosaica tipologicamente revelou e apresentou perante os olhos dos judeus o Pacto da Graça em que a verdadeira justiça, o verdadeiro perdão dos pecados e a verdadeira santidade poderiam ser encontrados. Desde que a posse da terra era o que estava à vista na lei Mosaica, as ofensas contra esse Pacto poderiam ser tratadas dentro desse Pacto e através do sistema de sacrifícios. Mas no que diz respeito às verdadeiras realidades espirituais, em matéria de ofensas cometidas contra um Deus Santo, os sacrifícios não podiam fazer nada, mas somente apontar para a frente para o verdadeiro sacrifício, Jesus Cristo.

Mesmo até hoje, muitos têm se embaraçado no que diz respeito à forma que tornaria possível que o Pacto da Graça estivesse sendo administrado por um princípio rigoroso de obras. Esta dificuldade é simplesmente e com razão evitada quando se reconhece que o Pacto Mosaico não é uma administração do Pacto da Graça, mas um que tipologicamente revela este em sua lei e adoração. Pode ser livremente afirmado o Pacto Mosaico como uma administração graciosa do princípio de obras, controlando a extensão em que as bênçãos Abraâmicas são apreciadas. “O homem, que fizer estas coisas, por elas viverá” (Gálatas 3:12).

Ao Pacto Mosaico faltava uma cabeça federal até que o reinado foi estabelecido. O povo abraâmico como um todo foi julgado em diferentes níveis, às vezes a nível individual, por vezes, a nível familiar, outras, a nível tribal, e ainda outras, a nível nacional. Todo mundo fazia o que era reto aos seus olhos, e naqueles dias não havia rei em Israel [Cf. Juízes 17:6].

O Pacto Davídico leva todas as promessas abraâmicas à consumação e concentra o Pacto Mosaico em uma pessoa. Foi sob a linhagem de Davi, especificamente Salomão, que, finalmente, a nação de Israel atingiu o cumprimento da promessa de que o povo abraâmico dominaria a terra prometida a Abraão, especificamente a Judéia, debaixo do reinado de reis abraâmicos. Os autores bíblicos têm o cuidado de registrar quando estas promessas são cumpridas (Josué 21:43-45 e 1 Reis 4:20). Sob Davi e sua linhagem, o povo nacional de Abraão apreciou as bênçãos e benefícios da terra prometida, na medida em que os reis Davídicos obedeceram à lei Mosaica. Esta é a preocupação dos registros dos reis. Eles faziam o que era reto aos olhos do Senhor, ou eles faziam o que era mau. Israel foi abençoado ou amaldiçoado em conformidade com isso.

Porque o Pacto Mosaico controla os Pactos Abraâmico e Davídico, ele é o referente principal do Novo Testamento quando se fala sobre a Antiga Aliança. No entanto, o Pacto Mosaico não pode ser dividido ou desligado dos Pactos Abraâmico e Davídico, e, assim, todos os três se combinam para formar a Antiga Aliança, em cada aspecto tipológica do Pacto da Graça, mas em cada aspecto eles são substancialmente diferentes do Pacto da Graça.

5. A Antiga Aliança está relacionada com a Nova Aliança histórica e tipologicamente.

A Antiga Aliança é inteiramente alheia ao Pacto da Graça? Temos absolutamente despojado a Antiga Aliança de sua riqueza teológica e significância? Não, estamos apenas fazendo distinções cuidadosas. Há unidade histórica e tipológica entre a Antiga e a Nova. Há unidade histórica em que a Abraão também foi prometido que as nações seriam abençoadas por meio dele. Israel foi designado a mãe do Messias, o guardião do Evangelho em suas formas de sombras. O nascimento de Cristo foi o cumprimento do Pacto Abraâmico.[13] A desobediência de Israel à lei de Moisés não poderia impedir esta promessa imutável de Deus de cumprir-se. Há unidade tipológica em cada parte da Antiga Aliança, isto é, cada parte dos Pactos Abraâmico, Mosaico e Davídico, os quais tipologicamente revelaram a Nova Aliança, quer através do que estava faltando ou do que estava sendo recomendado. Isso nos permite afirmar de coração todos os aspectos de uma hermenêutica e abordagem redentiva-histórica da pregação. Cristo está em toda parte, o Evangelho está em toda parte, o Pacto da Graça está em toda parte, porque são o propósito condutor e unificador de Deus para reunir os eleitos na história. Mas o povo de Abraão em Canaã não é o Evangelho, nem o Pacto da Graça. Ele revela estes, progridem na história para eles, aqueles que olharam para além dos tipos participaram da realidade daqueles, mas o tipo não é o Antítipo. A Nova Aliança cumpre a Antiga; ela não substitui a Antiga.

Portanto, os Pactos Abraâmico, Mosaico e Davídico foram pactos nacionais, temporários e tipológicas que colocaram Israel em um relacionamento exterior com Deus e nos quais a Nova Aliança foi revelada através de tipos e sombras. Por um lado, eles são, na sua substância e essência, diferentes do Pacto da Graça, e, por outro lado, eles estão relacionados a ele através de rica tipologia e progressão histórica.

Kline diz:

Quando Paulo, em Romanos 9-11, defende a fidelidade Deus à Sua aliança em face da queda de Israel, ele baseia seu caso na identificação da semente prometida como a eleição individual, um remanescente-plenitude de judeus e gentios, filhos espirituais de Abraão, todos juntamente com ele justificados pela fé. O apóstolo encontra na revelação do Senhor das promessas feitas a Abraão uma demanda explícita para distinguir esta semente espiritual de Abraão da descendência física. O que é notável é como ele ignora o primeiro nível do significado mais literal da descendência de Abraão e toma como certo o segundo nível espiritual do significado como sendo o significado da promessa.[14]

Quais são esses dois níveis? Eles são a descendência física e a descendência espiritual de Abraão, sendo que a primeira constituía um povo “provisório e protótipo”, e o outro um povo “messiânico e eterno”.[15] De onde eles vêm? Os dois círculos da distinção interna e externa são o resultado de dois pactos diferentes. Como foi mostrado por Vos anteriormente, o paradigma para o Pacto da Graça não é o Pacto Abraâmico, mas o Pacto da Redenção. Não estamos argumentando que o não-regenerado nunca esteve ou nunca pode estar em um relacionamento pactual com Deus. Pelo contrário, estamos argumentando que o Pacto da Graça tem sido sempre um relacionamento de aliança interna com Deus através de Cristo, enquanto os pactos nacionais estabeleceram um relacionamento de aliança externa com Deus por meio de Abraão. Em Gálatas 4, Paulo faz distinção entre dois pactos: Jerusalém de cima e Jerusalém abaixo, contrastando-as, uma como tendo nascido segundo a carne e a outra, segundo o Espírito. Uma delas é claramente uma aliança física, a outra é claramente espiritual. Paulo está contrastando a diferença entre o Israel da Antiga Aliança com o Israel da Nova Aliança. A diferença é o espírito e a carne, o externo e o interno, e elas são duas alianças diferentes. Além disso, a distinção de Paulo não é puramente entre os Pactos Abraâmico e Mosaico, porque, como Kline apontou, quando Paulo fala das promessas abraâmicas ele está ignorando deliberadamente as promessas abraâmicas nacionais e olhando para as promessas messiânicas. Estamos afirmando que essas promessas messiânicas apontam para a Aliança Messiânica, que é a Nova Aliança, o Pacto da Graça, e que, como tal, elas apontam para um pacto distinto do Pacto da Circuncisão com Abraão e sua descendência natural. Isto significa que não somente este típico relacionamento pactual externo foi revogado e abolido, mas também que o relacionamento messiânico e eterno estava sempre ativo, incorporado dentro dessa aliança externa. Os círculos internos e externos, vistos no Antigo Testamento, não são o resultado de dois níveis de pertencimento à aliança, mas são o resultado de dois pactos diferentes, o Pacto da Circuncisão e o Pacto da Graça.

Com a forma triangular de tipologia em mente, usar o Tipo (Abraâmico, Israel da Antiga Aliança) para dar forma ao Antítipo (Pacto da Graça, Israel da Nova Aliança), não só inverte o progresso da história da redenção, mas também não consegue entender o Antítipo da Nova Aliança à medida que este se baseia no Arquétipo (O Pacto da Redenção).

Pacto da Redenção (Arquétipo)

Antiga Aliança (Tipo)                             Nova Aliança (Antítipo)

6. Para estar em um pacto, você deve estar unido à cabeça federal daquele pacto. A relação de cabeça federal é imediata em cada pacto.

Nehemiah Coxe diz:

Isso também é digno de ser observado por nós, a saber, quando Deus fez pactos, nos quais tanto a humanidade em geral ou algum número de eleitos dos homens em particular têm sido envolvidos, aprouve a Ele primeiro relacionar-Se com alguma pessoa pública, cabeça ou representante para todos os outros que devem ser envolvidos nos mesmos.[16]

Ele adiciona:

O direito da geração mais remota foi tanto derivado de Abraão e a aliança feita com ele, como a de sua descendência imediata, e não depende em tudo da fidelidade de seus pais imediatos. Assim, a semente imediata dos israelitas que caíram no deserto sob o desagrado de Deus herdou a terra de Canaã em virtude desta aliança com Abraão. Eles nunca a herdariam em virtude da firmeza de seus pais imediatos no pacto.[17]

Porque participação na aliança e nas bênçãos da aliança dependem da cabeça federal, imediatamente; todos os membros de cada pacto, de acordo com os termos de um determinado pacto, têm direito a todas as bênçãos ou maldições incorridas pela cabeça federal. Todo ser humano está em pé de igualdade no Pacto de Obras, porque eles são descendentes de Adão, não importa em que grau. Cada ser humano é direta e imediatamente federalmente unido a Adão. Estamos em Adão, não por causa de nossos pais, mas por causa da nossa relação federal direta com Adão. O mesmo princípio aplica-se com Cristo como cabeça federal do Pacto da Graça.

7. Jesus Cristo foi e sempre será o cabeça federal do Pacto da Graça/Nova Aliança. Para ser federalmente unido a Ele você deve ser (1) prometido a Ele fora do tempo no Pacto da Redenção e (2) levado à união com Ele no tempo pelo Espírito Santo.

O Filho foi o eleito pelo Pai para adquirir a redenção dos eleitos. Tudo isso é realizado na Nova Aliança, que é o clímax histórico do Pacto da Graça. Para estar no Pacto da Graça/Nova Aliança, você deve estar unido a Cristo, a sua cabeça federal.[18]

Uma vez que o Pacto da Graça é a aplicação retroativa da Nova Aliança, se postulamos que Cristo é o Mediador do Pacto da Graça, então nós somente podemos compreender os termos do seu papel de Mediador, e nossa relação com Ele, como tal, através do modo como Ele é apresentado na Nova Aliança. Que Cristo é o Mediador do Pacto da Graça, da Nova Aliança, nenhum teólogo Reformado nega. Assim, de acordo com a doutrina do Novo Testamento, a única maneira de estar sob representação federal de Cristo é unir-se a Ele pelo Espírito Santo. Esta união encontra suas raízes fora do tempo à medida que nós somos escolhidos em Cristo no Pacto da Redenção e esta escolha é aplicada aos eleitos no tempo pelo Espírito; isso tem início no chamado eficaz e sua consumação na fé do crente. À parte da fé salvífica não pode haver união com Cristo, porque o Espírito não habita em qualquer um exceto nos eleitos, aqueles que foram justificados pela fé.[19] Cristo é o único cabeça federal do Pacto da Graça, da Nova Aliança. O relacionamento com a cabeça federal nunca é mediado, portanto, ninguém pode entrar no Pacto senão aqueles que estão direta ou imediatamente sob sua representação federal pelo Espírito Santo.[20]

Vos diz: “A despeito de quão estreita ou amplamente se estenda os limites do Pacto da Graça, em todos os casos estar dentro dos limites deste Pacto envolve um relacionamento com Cristo, seja externo ou interno, pelo qual se está vinculado ao pacto da redenção”.[21] E acrescenta:

Alguém é primeiramente unido a Cristo, o Mediador do pacto, por uma união mística, que encontra o seu reconhecimento consciente na fé. Por esta união com Cristo tudo o que está em Cristo é simultaneamente dado. A fé abraça tudo isso também; não só apreende a justificação instantânea, mas se apodera de Cristo como Profeta, Sacerdote e Rei, como seu rico e pleno Messias.[22]

Bavinck diz:

Na posição Cristã não pode haver dúvida de que todos os benefícios da graça foram completa e exclusivamente adquiridos por Cristo; Assim, eles estão incluídos em Sua Pessoa e repousam preparados para sua igreja nEle… E desde que estes benefícios são todos os benefícios do pacto, foram adquiridos em forma de pacto, e são distribuídos da mesma forma de pacto, não há participação naqueles benefícios, exceto pela comunhão com a Pessoa de Cristo, que os adquiriu e os aplica como o mediador do pacto.[23]

Fairbairn diz:

Aqui, precisamente como no rasgar do véu para os cerimoniais do judaísmo, o vínculo exclusivo para o povo foi quebrado no centro: mesmo a mãe e os irmãos de Cristo não devem ter precedência sobre os outros, nem qualquer posição de destaque no Seu reino; somente relações espirituais deverão prevalecer ali, e um vínculo de conexão com Ele por todos de igual modo deve ser estabelecido através da fé que recebe o Evangelho e o obedece… Até agora, portanto, no que diz respeito ao caráter típico de Israel, sua posição separada e isolada claramente chegou ao fim: todas as tribos e nações estão no mesmo pé de igualdade para com o reino de Deus — eles são membros e concidadãos se eles são crentes em Cristo, por outro lado, são estrangeiros se eles não creem em Cristo.[24]

Fairbairn acrescenta: “E onde quer que seja encontrada uma alma que esteja em união vital com Cristo, também são encontradas as características essenciais da descendência de Abraão, e o direito à herança de Abraão”.[25]

Romanos 8:9: “Mas, se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele”.

Romanos 10:11-13: “Porque a Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido. 12 Porquanto não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos,[26] rico para com todos os que o invocam. 13 Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo”.

1 Coríntios 12:11-13: “Mas um só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a cada um como quer. 12 Porque, assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. 13 Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito”.

Gálatas 3:26-28: “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus. 27 Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. 28 Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”.

Efésios 1:22-23: “E sujeitou todas as coisas a seus pés, e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, 23 Que é o seu corpo, a plenitude daquele que cumpre tudo em todos”.[27]

Efésios 4:4-6: “Há um só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da vossa vocação; 5 Um só Senhor, uma só fé, um só batismo; 6 Um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos vós”.

O Pacto da Graça é assim chamado porque suas bênçãos são dadas gratuitamente aos seus membros. Essas bênçãos são gratuitas porque elas foram ganhas exclusivamente pela obediência de Cristo, no cumprimento de Sua comissão no Pacto da Redenção. Assim entendido, o Pacto da Graça surge na história em contraposição ao Pacto de Obras. Este Pacto havendo sido quebrado, toda a humanidade nasce imediatamente em união federal com Adão, sob a maldição da lei. Quando o homem é libertado desta condenação, sua libertação vem através da propiciatória satisfação de Cristo em seu nome e a imputação graciosa da justiça de Cristo à sua conta, quando apropriada pela fé. Em outras palavras, como Gênesis 3 mostra, o Pacto da Graça é a solução para as maldições do Pacto de Obras.

O fato de que vemos esta redenção prometida e tipificada a partir da Queda em diante tem levado teólogos Reformados a entender que a graça de Deus se estende através da história antes da encarnação e morte de Cristo. Onde a graça de Deus se estendia para o passado, e isto por meio por meio de pacto, em que o sangue da Nova Aliança de Cristo foi aplicado retroativamente para aqueles que acreditavam na promessa, e que a retroatividade da Nova Aliança foi e continua sendo distinta da Antiga Aliança. Assim, o povo de Cristo sempre foi constituído por aquelas pessoas que foram prometidas a Ele pelo Pai, isto é, daquelas pessoas por quem Ele derramou Seu sangue.

A Escritura ensina que Cristo atrai os que Lhe pertencem para Si mesmo através da obra do Espírito, e que Ele habita nos Seus próprios pelo Espírito. Portanto, sem o Espírito, ninguém pertence a Cristo. Se você pertence a Cristo, você está no Pacto da Graça. Se você não pertence a Cristo, você está no Pacto de Obras. Você não pode estar em ambos.[28] Se é possível nascer no Pacto da Graça através da representação federal mediada de um dos pais, então, a menos que a regeneração seja presumida, alguém pode estar tanto em Adão quanto em Cristo ao mesmo tempo. No entanto, isso é impossível. Um homem pecou e trouxe a morte a toda a humanidade; outro obedeceu e trouxe vida para o Seu povo. Ou você está em Adão ou em Cristo.

Para chegarmos a uma conclusão, uma compreensão correta acerca de quem são os membros do Pacto da Graça é fundamentada sobre o Pacto da Redenção e da Nova Aliança. Aqueles que estão no Pacto da Graça são aqueles que foram prometidos ao Filho pelo Pai no Pacto da Redenção, regatados pela vida, morte e ressurreição do Filho, e selados pelo Espírito Santo, unindo-os à Sua cabeça federal, Jesus Cristo. Reivindicar a Cristo e Seus benefícios é um assunto sério, e como a Escritura mostra, somente aqueles que têm fé salvífica podem realmente fazer essa reivindicação. Não há nenhuma relação federal externa em relação a Jesus Cristo. Em termos de membresia ou qualificação, não existem distinções no corpo de Cristo, isto é, a igreja. Todos são filhos de Deus através da fé, sob uma cabeça, habitados por um Espírito. “Se alguém não tem o Espírito de Cristo, esse tal não é dele” (Romanos 8:9). Apesar das falsas profissões, da incredulidade e das mentiras de apóstatas, Deus conhece os Seus, Cristo conhece as Suas ovelhas, e o Espírito de adoção conhece os filhos de Deus.[29] O povo da aliança de Deus são “a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido” (1 Pedro 2:9). O gloriosa Nova Aliança não olha para a Antiga em busca de seu padrão e povo, mas está no fundamento eterno do Pacto da Redenção e vem aos eleitos como um Pacto de Graça, comprados, mediados, e eternamente guardados pelo nosso “grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo; o qual se deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniquidade, e purificar para si um povo seu especial” (Tito 2:13b-14).

A Base Bíblica-Teológica Para o Credobatismo

1. A história da redenção avança progressivamente dando lugar a uma nova revelação.

É famosa a argumentação de Geerhardus Vos de que temos de ver a revelação como um desdobramento progressivo coincidindo com a própria história da redenção. Em outras palavras, este desdobramento progressivo da história da redenção dá origem a uma nova revelação. Uma das principais aplicações desse ponto é que devemos olhar para as várias partes das Escrituras no contexto específico do seu período da história da redenção. Assim, o crente do Novo Testamento deve ter cuidado com a forma como o Antigo Testamento é lido e até mesmo como os Evangelhos são lidos uma vez que se referem a uma época histórica redentora anterior àquela em que vivemos agora.

2. As diferentes épocas da história da redenção são regidas por seus próprios cânones da aliança.

Meredith Kline continuou esta ideia, relacionando-as mais especificamente aos documentos da aliança. Ele argumentou que o próprio Antigo Testamento, fez-se o documento pactual da Antiga Aliança. Da mesma forma, o Novo Testamento é o documento pactual da Nova Aliança. Kline diz:

O Antigo e o Novo Testamentos, os quais, respectivamente, definem e estabelecem estas duas estruturas, vão ser claramente vistos como dois modelos arquitetônicos distintos e separados para a casa de Deus em duas etapas bastante distintas e separadas de sua história. A distinção das duas organizações da comunidade traz a integridade individual dos dois Testamentos que servem como normas comunitárias para as duas ordens. O Antigo e o Novo Testamentos são dois sistemas políticos da aliança distintos, e visto que o cânon bíblico é um cânon político pactual, eles são dois cânones distintos em séries.[30]

Kline destaca algumas das implicações dessa ideia.

A antiga aliança não é a nova aliança. A forma de governo designado para a antiga aliança não é a mesma política da comunidade para a igreja da nova aliança, a sua legislação ritual não é um diretório para a prática do culto da igreja.[31]

Kline não está dizendo que o Antigo Testamento não possui qualquer utilidade para os Cristãos do Novo Testamento. Em vez disso, ele está dizendo que em se tratando de um documento pactual definindo que inclui todas as sanções pertinentes e estipulações para a aliança, o povo da Nova Aliança de Deus deve olhar para o Novo Testamento e não para o Antigo Testamento.[32]

Como vamos falar em um momento, isso tem implicações óbvias para o Batismo. O Batismo é o sinal da Nova Aliança. Não é um sinal da Antiga Aliança. Para compreender a correta administração do sinal da Nova Aliança, temos de olhar para o seu próprio documento pactual: o Novo Testamento.

3. Os elementos de lei positiva dos diferentes cânones pactuais estão restritos aos seus particulares cânones pactuais.

Richard Muller define a lei natural/moral desta forma: “a lei moral universal, quer impressionada por Deus sobre a mente de todas as pessoas ou imediatamente discernida pela razão, em seu encontro com a ordem da natureza”.[33] A lei moral permanece ao longo de todos os pactos, mas as leis positivas não. Uma lei positiva pode ser geralmente definida como “algo que é dependente da revelação direta para a sua obrigação”.[34] Em outras palavras, sem alguma forma de revelação especial, não saberíamos dessas leis positivas e nós não seríamos obrigados a obedecê-las. Por exemplo, as leis civis e cerimoniais do Antigo Testamento são leis positivas. Não havia nenhuma exigência colocada sobre outras nações para que elas seguissem as mesmas leis civis como Israel. Estas não são leis que são moralmente obrigatórias para todas as pessoas em todos os lugares, em todos os momentos. Elas são obrigatórias somente para um povo em particular e por um tempo particular. Isso é porque são leis positivas.[35]

Quando isso vem a leis positivas, nós não deveríamos assumir que elas estão em vigor sem revogação. Leis positivas, em vez disso, terminam com a conclusão da aliança em que elas foram dadas. Leis positivas são dadas em um cenário particular da história da redenção e em um particular documento pactual. Leis positivas só se aplicam ao contexto pactual em que são dadas. É por isso que já não somos mais obrigados a seguir as leis cerimoniais do Antigo Testamento.[36]

4. A fim de compreender as estipulações e sanções de um particular cânon da aliança só podemos olhar para a mesma aliança particular.

Disto decorre que, se diferentes alianças têm os seus próprios cânones da aliança e esses cânones da aliança contem leis positivas, então devemos olhar apenas para esses particulares documentos do cânon da aliança para entender suas sanções e disposições correspondentes. Como diz Kline: “O tratado canônico que governa a igreja da Nova Aliança como uma comunidade formal é somente o Novo Testamento”.[37]

Este ponto tem o potencial de ser mal interpretado. Ele não diz que o Antigo Testamento não tem qualquer influência sobre o Novo Testamento. Nós certamente não queremos sugerir isto. O Antigo e o Novo Testamentos têm uma ligação muito íntima, mas esta ligação é de promessa e cumprimento. No entanto, enquanto há unidade entre o Antigo e o Novo Testamentos, a verdade é que eles são períodos separados e distintos da história redentora com cânones de aliança separados e distintos. Por esta razão, quando queremos entender as necessidades específicas de uma aliança particular, temos de olhar para o documento pactual desta particular aliança.

Patrick Fairbairn disse:

Está implícito que as revelações por profecia, que diziam respeito à época do evangelho e suas realidades, eram necessariamente defeituosas quanto à clareza e precisão, e não são capazes de fornecer tão exata interpretação, ou produzir um tão explícito significado, no que diz respeito aos assuntos do reino de Cristo, como são transmitidos pelos escritos do Novo Testamento. Mas tal, precisamente, é o resultado que deveria ser esperado, a partir do lugar e chamado dos profetas do Antigo Testamento… Não pode haver um cânone mais seguro de interpretação, tudo o que afeta a constituição e o destino da Igreja do Novo Testamento tem a sua determinação mais clara na Escritura do Novo Testamento.[38]

Para resumir, até agora, a nossa compreensão da história da redenção — como articulada por homens como Vos, Owen e Ridderbos — diz-nos que o contexto histórico redentor em que a Escritura é escrita deve ser levado em conta quando buscamos entender determinada passagem da Escritura. Kline e outros combinaram isso com a ideia de aliança e cânon, mostrando que o Antigo Testamento e o Novo Testamento são documentos pactuais distintos, relativos a alianças distintas. Para compreendermos os elementos essenciais de uma particular aliança temos de olhar para o próprio documento da aliança para compreendermos corretamente os elementos essenciais da mesma.

5. A circuncisão é uma lei positiva do cânon do Antiga Aliança e, portanto, só se aplica a esse pacto, exceto na medida em que ela atua como um tipo.

A circuncisão deve ser uma lei positiva, uma vez que não é nem ordenado no Novo Testamento nem foi ordenado antes a Abraão.[39]

6. O Batismo é uma ordenança da Nova Aliança estabelecida por uma lei positiva de Cristo. Nosso entendimento em razão deste requisito é que o Batismo, portanto, é restrito ao Cânon-Aliança em que foi dado.

O Batismo é uma lei positiva, uma vez que não é ordenado no Antigo Testamento. A Confissão Batista de Londres diz que: “Batismo e a Ceia do Senhor são Ordenanças de positiva e soberana instituição, nomeados pelo Senhor Jesus, o único Legislador, para serem continuadas em Sua igreja até o fim do mundo” (Capítulo XXVIII: Sobre o Batismo e a Ceia do Senhor, parágrafo 1)

Devemos nos lembrar aqui que o Batismo é um componente-chave da Aliança. Na medida em que o Batismo é uma das duas Ordenanças da Nova Aliança, ele não é uma questão menor. É precisamente o tipo de coisa para a qual você precisa olhar para o documento da Nova Aliança para entendê-lo realmente. O documento da Nova Aliança, o Novo Testamento, deve ditar a forma como as suas próprias Ordenanças são administradas.[40]

Além disso, o princípio regulador do culto exige que olhemos apenas para a maneira explicitamente prescrita de administrar o Batismo. A Confissão de Fé Batista de Londres (22:1), em linguagem quase idêntica à Confissão de Fé Westminster (21:1) articula este princípio: “…o modo aceitável de adorar o verdadeiro Deus é instituído por Ele mesmo e tão limitado por Sua própria vontade revelada, de forma que Ele não pode ser adorado segundo as imaginações e invenções dos homens ou sugestões de Satanás, nem sob qualquer representação visível ou qualquer outro modo não prescrito nas Sagradas Escrituras”. Desde que as Ordenanças do Batismo e da Ceia do Senhor são elementos do culto, eles também devem se enquadrar nestes critérios do princípio regulador. A administração do Batismo deve ser limitada pela própria vontade revelada Deus segundo a forma prescrita na Escritura.[41] E visto que o batismo de bebês não é prescrito nas Escrituras, ele não deve ser praticado.

Compare isso com o que B. B. Warfield disse:

É verdade que não existe nenhum comando expresso para batizar bebês no Novo Testamento, não há registro expresso do batismo de bebês, e não há quaisquer passagens que impliquem de modo rigorosamente que devemos inferir a partir delas que bebês foram batizados. Se tal fundamento for necessário para justificar a prática, nós deveríamos deixa-la completamente injustificada. Mas a falta desse comando expresso está muito longe que proibir o rito; e se o costume da Igreja, através de todas as eras passadas, for consultado será visto que o mandado para o batismo infantil não deve ser procurado no Novo Testamento, mas no Antigo Testamento quando a igreja foi instituída, e nada menos do que uma real proibição dele no Novo Testamento implicaria em um comando para abandonarmos o batismo de bebês agora.[42]

Embora certamente não concordemos com as conclusões de Warfield de que o batismo infantil possa ainda ser justificado, agradecemos sua admissão de que o próprio Novo Testamento não justifica adequadamente a prática do batismo infantil. Warfield admite que é necessário levar conta o ensino do Antigo Testamento para chegar à prática do batismo infantil. No entanto, como temos demonstrado, a natureza da história da redenção, bem como o caráter pactual dos cânones do Novo e Antigo Testamentos mostram que precisamos olhar para o cânon do Novo Testamento para entender esta prática.

7. O peso adequado deve ser dado à novidade da Nova Aliança.

Falando da Antiga e da Nova Aliança, Kline diz:

Elas são, naturalmente, indissoluvelmente ligadas uma à outra em uma relação espiritual-histórica orgânica. Ambos desdobram o mesmo princípio da graça redentora, movendo-se avante para um objetivo eterno comum na cidade de Deus. As bênçãos na Antiga e na Nova dispensações derivam das mesmas obras de satisfação realizadas pelo Cristo de Deus, e onde a vida espiritual é encontrada de qualquer modo isso é atribuível à ação criadora de um e mesmo Espírito de Cristo. De acordo com o desígnio Divino a Antiga é provisória e preparatória para a Nova, e por pré-revelação Divina a Nova é profeticamente antecipada em relação à Antiga. O evento e instituição interna da administração da Antiga foram Divinamente concebidos para proporcionar uma representação sistemática das realidades da Nova Dispensação que estava por vir, de modo a produzir uma correlatividade tipo-antítipo entre as duas Alianças em que a sua unidade é instrutivamente articulada.[43]

Ao lidar com tipos devemos reconhecer uma unidade básica e fundamental, contudo não a ponto de ignorar o caráter tipológico e, ainda assim, caráter diferente do tipo. As Alianças do Antigo Testamento, de fato, revelam a Nova Aliança, mas de uma forma progressiva, tipológica. A Nova Aliança é ainda revelada por várias etapas durante todo a época do Antigo Testamento, primeiro no Protoevangelium, em seguida, através de todos os pactos do Antigo Testamento. Assim como o Evangelho foi revelada passo a passo, assim também acontece com a Nova Aliança, pois esta é, em sua essência, o Evangelho.

Isto é basicamente o que a Confissão Batista de Londres de 1689 diz no seu Capítulo VII: Sobre a Aliança de Deus, parágrafo 3: “Esta Aliança é revelada no Evangelho; primeiramente a Adão na promessa de salvação pela semente da mulher [Protoevangelium], e depois por etapas sucessivas, até que a sua plena revelação foi completada no Novo Testamento”.

Isto também não está muito longe do que Vos disse:

As sucessivas etapas da obra redentora e reveladora de Deus na era pré-Cristã são medidas por pactos sucessivos, cada um introduzindo novas forças e princípios, e cada um transmitindo ao período que se seguiu um carácter distintivo do seu próprio. Assim, a ideia-pactual é uma ideia eminentemente histórica, mais intimamente associada com o desenvolvimento gradual da autorrevelação de Deus para Seu povo.[44]

Assim, há uma unidade básica que começa na Queda, bem antes que Abraão haver entrado em cena, assim como há vários pactos no Antigo Testamento que progressiva e tipologicamente revelam a Nova Aliança que foi consumada quando o sangue de Cristo foi derramado na cruz. Mas porque os pactos do Antigo Testamento são tipos da Nova Aliança, devemos reconhecer a descontinuidade que também existe entre eles. Isso explica a linguagem da Jeremias 31[45] ou Joel 2:28-29: “E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. 29 E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito.

O peso adequado deve ser dado à novidade da Nova Aliança por vê-la como algo que não surgiu a partir da perspectiva do Antigo Testamento. Esta não acontece meramente em uma escala em que a Nova Aliança é “mais do mesmo”. A Nova Aliança não é apenas quantitativamente diferente da Antiga Aliança. É algo qualitativamente diferente. Haverá coisas que são verdadeiras na Nova Aliança que não são verdadeiras quando qualquer escritor do Antigo Testamento escreve. Da mesma forma, há coisas que deixaram de ser verdade na Nova Aliança que são verdadeiras na Antiga Aliança.

Quando o Antigo Testamento fala da Nova Aliança, ele fala dela como algo futuro e como algo verdadeiramente diferente do que é atualmente no lugar. A linguagem tanto de Joel e Jeremias indica claramente que as coisas serão diferentes nessa futura Nova Aliança de como eram em seu tempo.

Mais uma vez, Vos diz isso muito bem: “A revelação da Nova Aliança não é apenas melhor em termos de comparação; é final e eterna, porque entregue em um Filho, em relação a Quem Deus não poderia enviar um revelador superior”.[46] As diferenças essenciais entre a Nova Aliança e todas as alianças do Antigo Testamento, é que a Nova Aliança é feita e selada no sangue de Cristo e é revelada em Cristo (Hebreus 9:15-16). Por esta razão, a Nova Aliança é diferente de todas as alianças do Antigo Testamento.

Como Vos continua a dizer, a Nova Aliança está necessariamente ligada a um novo tempo, a consumação. Com a inauguração da Nova Aliança, o Novo Tempo está em curso nos dias atuais. Vos diz: “A Nova Aliança, em seguida, coincide com o tempo por vir; que traz as coisas boas que virão; isto está incorporado no esquema do pensamento escatológico”.[47] Se a Nova Aliança realmente coincide com o Novo Tempo, não devemos olhar para trás para as alianças do Antigo Testamento para entender esta Nova Aliança. Em vez disso, devemos olhar para a frente para a consumação. É verdade que vivemos no “ainda não”. Mas é igualmente verdade que vivemos o “já”. Por estas razões, devemos concluir que teologias que dependem muito das alianças do Antigo Testamento para obterem sua descrição e articulação da Nova Aliança demonstram uma escatologia sub-realizada. Elas não dão peso suficiente para o “já”.

Assim, a disciplina da teologia bíblica, o estudo da história da redenção e a natureza da revelação nos ensinam que devemos tratar a Nova Aliança como substancialmente diferente das alianças do Antigo Testamento.

8. Além disso, o tratamento do Novo Testamento da Escritura do Antigo Testamento como mistério, sombras e tipos indica que o Novo Testamento deve ser a lente através da qual vemos o Antigo Testamento e não vice-versa.

Qualquer teólogo reformado ao falar de hermenêutica concordará que o Novo Testamento é a lente através da qual devemos interpretar o Antigo Testamento. Normalmente, o famoso ditado atribuído a Agostinho é citado: “O Novo está no Antigo, velado; e o Antigo está no Novo, revelado”. Então, se tentarmos entender o antítipo olhando para o tipo, cairemos em dificuldades. É difícil saber quais os aspectos do tipo são transmitidos para o Antítipo e quais são os aspectos que devem ser postos de lado.

O Novo Testamento afirma a dificuldade de compreender os tipos do Antigo Testamento. Paulo tem uma teologia de mistério bem desenvolvida.[48]

Colossenses 1:26-27: “O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos; 27 Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória”.

Efésios 1:9-10: “Descobrindo-nos o mistério da sua vontade, segundo o seu beneplácito, que propusera em si mesmo, 10 De tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as que estão na terra”.

2 Timóteo 1:9-10: “…Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos, 10 E que é manifesta agora pela aparição de nosso Salvador Jesus Cristo, o qual aboliu a morte, e trouxe à luz a vida e a incorrupção pelo evangelho.[49]

Ridderbos aponta que este mistério agora revelado tem tanto “uma conotação noética e quanto uma histórica”.[50] Então, há tanto uma maior compreensão quanto uma nova revelação (especialmente na forma de novos eventos históricos redentores). Se seguirmos Warfield e olharmos para o Antigo Testamento como a base para o modo de como devemos administrar o Batismo, então, nós violaremos este princípio fundamental da hermenêutica.

9. Promessa e cumprimento.

Em nosso último ponto queremos notar alguns elementos de promessa e cumprimento, de tipo e Antítipo, que encontramos no Antigo e Novo Testamentos.

Ridderbos diz:

O povo de Deus são aqueles por quem Cristo derrama o Seu sangue da aliança. Eles compartilham da remissão dos pecados realizada por Ele e da comunhão inquebrável com Deus no novo pacto que Ele tornou possível… A rejeição de Israel como povo de Deus não aniquila a ideia de aliança, mas dá a ela um novo, ou pelo menos um conteúdo mais definitivo. O caráter particular da graça e da comunhão com Deus é totalmente mantido. Mas o círculo em que aquele é concedido e onde o povo de Deus são encontrados, não é mais o círculo do Israel empírico, mas o é daqueles que recebem a remissão dos pecados através da morte de Cristo, e cujos corações foram renovados pelo Espírito Santo.[51]

O ponto que Ridderbos quer defender aqui é que uma mudança fundamental ocorreu a partir da Antiga Aliança para a Nova Aliança. O povo de Deus no Antigo Testamento era composto de um povo empírico. Ridderbos explicitamente fala de uma “nova formação do povo de Deus”.[52] Ele reconhece que há algo muito diferente a respeito do povo de Deus na Nova Aliança em relação ao que havia no povo de Deus na Antiga Aliança. O povo de Deus na Nova Aliança é caracterizado pela fé, pela remissão dos pecados e por regeneração

Ridderbos diz:

A relação especial entre Deus e Israel como Seu povo é um dos fundamentos do Evangelho… Ao mesmo tempo, temos notado uma transição nessa ideia básica, no sentido de que, ao lado de e no lugar do Israel empírico, aqueles que creem no Evangelho são considerados como o rebanho do Senhor, da descendência de Abraão e os filhos do reino.[53]

Fairbairn diz assim:

A semente de Israel, como um povo eleito, colocados sob a aliança com Deus, representou o grupo de uma igreja eleita, resgatada da maldição do pecado, para que pudesse viver para sempre no favor e bênção do Céu: e quando o resgate chegou, a representação deu lugar à realidade.[54]

Ridderbos continua seu argumento dizendo: “Este resultado é da maior importância para a questão em discussão. Pois, esta rejeição de Israel e esta nova formação do povo de Deus não é simplesmente algo que tem a ver com o futuro escatológico, mas já começou a ser realizado com a vinda de Jesus”.[55] Ele continua a dizer:

A ekklesia em tudo isso é o povo que neste grande drama foi separado por Deus em Cristo, em virtude da eleição Divina e pacto. Eles receberam a promessa Divina, foram trazidos à manifestação e reunidos pela pregação do Evangelho, e herdarão a redenção do reino agora e no grande futuro… Então, não haverá nenhuma dúvida a respeito de basileia e ekklesia como sendo idênticas.[56]

Vamos reunir algumas destas posições. No Antigo Testamento, a Antiga Aliança era um tipo e sombra da plenitude que estava por vir. Essa plenitude foi envolta em mistério e tipos que esperavam por serem revelados em Cristo. Com a vinda de Cristo, agora temos essa plenitude. Os elementos externos, tipológicos da Antiga Aliança são abolidos. O mistério e as sombras se foram. Com a Nova Aliança vem o irromper do tempo escatológico em sua forma “já-ainda não”. O povo da Antiga Aliança foi gerado naturalmente e marcado pela circuncisão da carne. O povo da Nova Aliança é gerado espiritualmente, e do mesmo modo circuncidados no coração, o Antítipo da circuncisão. Portanto, o Batismo deve ser administrado apenas para aqueles que estão espiritualmente nascidos na aliança. A única forma prescrita nas Escrituras para avaliar se alguém está na aliança é uma profissão de fé. Após a profissão de fé o Batismo é administrado. Este é precisamente o padrão que vemos no Novo Testamento: o Batismo acontece após uma profissão de fé.[57]

Isso se encaixa exatamente com a nossa compreensão da teologia do pacto. Todos aqueles que estão no pacto têm Cristo como seu cabeça federal. A única maneira de estar “em Cristo” é ter o Espírito Santo (Romanos 8:9), e aqueles que têm o Espírito são aqueles que têm fé. Tudo isso está enraizado e alicerçado na grande promessa de redenção, o Pactum Salutis, onde o Pai fez um pacto com o Filho para dar a Ele um povo eleito. Assim, o Batismo como um sinal da aliança é administrado apenas para aqueles que fazem uma profissão de fé. É um meio eficaz de graça para aqueles que o recebem pela fé. Sem fé, o Batismo nada faz.

Conclusão

Em conclusão queremos considerar uma citação de Charles Hodge.

A dificuldade sobre este assunto é que o batismo, em sua própria natureza, envolve uma profissão de fé; é a maneira em que, pela ordenança a de Cristo, Ele deve ser confessado diante dos homens; mas os infantes são incapazes de fazer tal confissão; portanto, eles não são os objetos apropriados do batismo. Ou, para expressar o assunto em outra forma: os sacramentos pertencem aos membros da Igreja; mas a Igreja é o grupo de crentes; infantes não podem exercer fé, portanto, eles não são membros da Igreja, e, consequentemente, não devem ser batizados. Para justificar o batismo de infantes, temos de atingir e autenticar uma tal ideia de Igreja que venha a incluir os filhos de pais crentes.[58]

Hodge reconhece que a doutrina do Batismo em si mesma exclui a ideia de batizar crianças, e assim ele recorre a uma nova definição da igreja de tal forma que isso proporcione a permissão desta prática. No entanto, como temos demonstrado, o desenrolar da história da redenção, a revelação plena em Cristo, o irromper do tempo escatológico, o princípio regulador, a natureza da aliança, a natureza da lei positiva e os princípios básicos da hermenêutica bíblica, todos mostram que esta jogada de Hodge simplesmente não pode ser feita. Em vez disso, devemos reconhecer a novidade da Nova Aliança no seu cumprimento dos tipos e sombras do Antigo Testamento, bem como em sua conexão com a consumação.

Sola Scriptura!
Sola Gratia!
Sola Fide!
Solus Christus!
Soli Deo Gloria!

Apêndice: Infográficos contendo comparações entre…

A Teologia Confessional do Pacto Batista (Federalismo de 1689) e…

O Dispensacionalismo,

O Federalismo Presbiteriano de Westminster

A Teologia da Nova Aliança, e

O Federalismo Batista Reformado no Século 20.


[1] C. H. Spurgeon. O Maravilhoso Pacto. 1ª Ed. (EC, 2016), 3.

[2] Apêndice: Infográficos contendo comparações entre…

A Teologia Confessional do Pacto Batista (Federalismo de 1689) e…

O Dispensacionalismo,

O Federalismo Presbiteriano de Westminster

A Teologia da Nova Aliança, e

O Federalismo Batista Reformado no Século 20.

Infográficos da autoria de Brandom Adams e traduzidos para o português por Rupert Teixeira.

[3] CFB1689, 7ª Edição por EC. Trecho da Apresentação. Adaptado. [A nossa tradução e edição da Confissão está em sua 7ª edição porque foram feitas muitas pequenas, porém importantes, revisões e melhoramentos em sua tradução desde a publicação de sua 1ª Edição, em agosto de 2014].

[4] Micah e Samuel Renihan são seniors no programa M.Div no Westminster Seminary California [Seminário Westminster Califórnia], Escondido, CA, e do Institute of Reformed Baptist Studies [Instituto de Estudos Batistas Reformados].

[5] Cf. Hebreus 7:20-22.

[6] Cf. João 6:38-40; 10:14-16, 26-28; 17: 6-11, 17-21.

[7] Herman Bavinck, Reformed Dogmatics [Dogmática Reformada] Vol. III (Grand Rapids: Baker, 2006), 405.

[8] Geerhardus Vos, Redemptive History and Biblical Interpretation [A História da Redenção e a Interpretação Bíblica] (Phillipsburg, NJ: P&R, 2001), 252.

[9] Cf. Hebreus 4:2; Gálatas 3:8-9; 1 Pedro 1:10-11; Efésios 3:4-6, 8-12.

[10] Vos, 199.

[11] Bavinck, 215-16.

[12] Isso não quer dizer que a circuncisão não teve um significado ainda maior, mas que as promessas nacionais foram seu referente primário.

[13] Cf. Lucas 1:55,73.

[14] Meredith G. Kline, Kingdom Prologue Genesis Foundations for a Covenantal Worldview [Prólogo da Gênese das Fundações do Reino em busca de uma Cosmovisão Pactual] (Overland Park, KS: Two Ages Press, 2000), 335, ênfase dele. Kline faz o mesmo ponto em relação ao Gálatas 3:16.

[15] Kline, Kingdom Prologue, 334.

[16] Nehemiah Coxe, “A Discourse of the Covenants,” in Covenant Theology: From Adam to Christ [“Um Discurso Sobre o Pactos”, In Teologia Pactual: De Adão até Cristo (Palmdale, CA: Reformed Baptist Academic Press, 2005), 39.

[17] Coxe, 97.

[18] Cf. WLC 57-59.

[19] Cf. Atos 2:38, Efésios 1:13.

[20] Cf. WLC 65-69.

[21] Vos, 252.

[22] Vos, 256.

[23] Bavinck, 591, ênfases adicionadas.

[24] Patrick Fairbairn, The Interpretation of Prophecy [A Interpretação da Profecia] (London: The Banner of Truth, 1964), 261-62.

[25] Fairbairn, 270.

[26] Todos os itálicos nos versos bíblicos são adicionados para dar ênfase.

[27] Cf. Efésios 5:23; Colosensses1:18.

[28] Cf. Romanos 7 4-6.

[29] Cf. 2 Timóteo 2:19; João 10:27; Mateus 7:15-23; Romanos 8:16.

[30] Meredith G. Kline, The Structure of Biblical Authority [A Estrutura da Autoridade Bíblica] (Eugene, OR: Wipf & da, 1997), 98-99.

[31] Ibid., 99.

[32] Michael Horton diz essencialmente a mesma coisa: “A nova aliança é constituída pelo seu próprio cânon… o Novo Testamento… Ele tem suas próprias estipulações (tanto doutrinas quanto comandos) e sanções (vida e morte)”. Cf. The Christian Faith [A Fé Cristã] (Grand Rapids: Zondervan, 2011), 153. Ele continua a dizer: “Não pode haver aliança sem um cânon ou cânon sem uma aliança. Na verdade, a aliança é o cânon e vice-versa”. 155 (itálicos dele).

[33] Richard A. Muller, Dictionary of Latin and Greek Theological Terms [Dicionário de Termos Teológicos em Latim e Grego] (Grand Rapids: Baker, 2003), 174.

[34] Extraído de IRBS PT 600, palestra de James M. Renihan.

[35] Isto pode ser visto no comando do Sabath. O Quarto Mandamento tem tanto um aspecto moral quanto positivo relacionado a ele. Isto foi afirmado pelo Sínodo de Dort em suas resoluções sobre o Sabath:

1. “No Quarto Mandamento da lei Divina, parte foi cerimonial, parte é moral”.

2. “O descanso do sétimo dia após a criação era cerimonial e sua observação rígida peculiarmente prescritos para o povo judeu”.

3. “Moral na verdade, porque o dia fixo e duradouro do culto de Deus é nomeado, pois assim um descanso é necessário para o culto de Deus e para a uma santa meditação santo nEle” (Tradução por R. Scott Clark, http://clark.wscal.edu/dortsabbath.php).

Esses teólogos no Sínodo de Dort afirmaram que a observância de um descanso sabático — a cada sete dias um dia seria separada para cessar de todo o trabalho e adorar a Deus — era exigida por lei moral. No entanto, eles também afirmaram que o dia em particular no qual Deus deve ser adorado é uma questão de lei positiva (ou cerimonial). No Antigo Testamento, este dia era o sétimo dia da semana, mas no Novo Testamento, é o primeiro dia da semana.

[36] Colossenses 2:16-17: “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados. 17 Que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo”.

[37] Kline, Estrutura, 100.

[38] Fairbairn, 157-58, ênfase dele.

[39] 36 Cf. Gálatas 5:6; Atos 7:8; 1 Coríntios 7:19; Romanos 2:25-27.

[40] Este é o mesmo princípio que é exercido na Ceia do Senhor. Embora reconheçamos uma conexão tipológica entre a Páscoa e a Ceia do Senhor, a nossa compreensão da observância da Ceia do Senhor vem do Novo Testamento, não da observância da Páscoa do Antigo Testamento.

[41] Cf. Fred A, The Baptism of Disciples Alone [O Batismo de Discípulos Somente], (Cape Coral, FL: Founders Press, 2003), xv. [Leia o documento de que “deu origem” a este livro, Um Cordão de Pérolas Soltas: Uma Jornada Teológica no Batismo de Crentes, por Fred A. Malone — N.T.]

[42] B. B Warfield, Studies in Theology [Estudos em Teologia] (Grand Rapids: Baker, 2003), 399-400.

[43] Kline, Structure, 98, itálicos adicionados.

[44] Vos, 192.

[45] Jeremias 31:33-34: “Mas esta é a aliança que farei com a casa de Israel depois daqueles dias, diz o SENHOR: Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. 34 E não ensinará mais cada um a seu próximo, nem cada um a seu irmão, dizendo: Conhecei ao SENHOR; porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR; porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados”.

[46] Vos, 194.

[47] Ibid., 195.

[48] Cf. Herman Ridderbos: Paul: An Outline of His Theology [Paul: Um Esboço de Sua Teologia] (Grand Rapids: Eerdmans, 1977), 44-49.

[49] Cf. Tito 1:2-3: “Em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos; 3 Mas a seu tempo manifestou a sua palavra pela pregação que me foi confiada segundo o mandamento de Deus, nosso Salvador”.

[50] Ibid., 46.

[51] Herman Ridderbos, The Coming of the Kingdom [A Vinda do Reino] (Philadelphia: P&R, 1976), 202, itálicos acrescentados.

[52] Ibid., 351.

[53] Ibid., 351-51.

[54] Fairbairn, 267.

[55] Ridderbos, vinda do Reino, 352.

[56] Ibid, 354-55.

[57] Louis Berkhof diz que o Novo Testamento “aponta para a fé como um pré-requisito para o batismo,” Teologia Sistemática (East Peoria, IL: Versa Press Inc., 2005), 637. Cf. Atos 2:41; 10:44-48; 18:8.

[58] Charles Hodge, Teologia Sistemática, vol. 3 (Peabody, MA: Hendrickson, 2003), 546-47.

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